quarta-feira, 12 de julho de 2017

A PALAVRA BORÍ

Da fusão da palavra Bó, que em Ioruba significa oferenda, com Ori,
que quer dizer cabeça, surge o termoBori, que literalmente traduzido significa
“ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual,
Pode-se afirmar que o Bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação,
sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja,
pela iniciação ao sacerdócio. Sendoassim, quem deu Bori é (Iésè órìsà).
Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu Ori, o seu princípio individual, a sua
cabeça. Ele revela que cadaser humano é único, tendo escolhido as suas próprias
potencialidades. Odú é o caminho pelo qual se chega à plena realização de Orí,
portanto não se pode cobiçar as conquistas dos outros. Cada um, como ensina
Orunmilá – Ifá, deve ser grande no seu próprio caminho, pois, embora se escolha o
Orí antes de nascer naTerra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida. Exú,
por exemplo, mostra-nos a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos
a escolher.Ponderar e escolher a trajectória mais adequada é a tarefa que cabe a
cada Orí, por isso, o equilíbrio e aclareza são fundamentais na hora da decisão e
é por intermédio do Bori que tudo é adquirido.Os mais antigos souberam que Ajalá é
o Orixá funfun responsável pela criação de Orí. Desta forma,ensinaram-nos que
Oxalá deve ser sempre evocado na cerimónia de Bori. Iemanjá é a mãe da individua-
lidade, e por essa razão está diretamente relacionada com Orí, sendo imprescindível
a sua participação no ritual.A própria cabeça é a síntese dos caminhos entrecruzados.
A individualidade e a iniciação (que são únicas eacabam, muitas vezes, configurando-se
como sinónimos) começam no Orí, que ao mesmo tempo aponta para as quatro
direções.

OJUORI – A TESTA
ICOCO ORI – A NUCA
OPA OTUM – O LADO DIREITO
OPA OSSI – O LADO ESQUERDO

Desta mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, este
e oeste; o centro é areferencia, logo, todas as pessoas se devem colocar como o
centro do mundo, tendo à sua volta os quatro pontos cardeais: os caminhos a escolher
e a seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e
contradições.Em África, Orí é considerado um Deus, aliás, o primeiro que deve ser
cultuado, mas é também, juntamentecom o sopro da vida (emi) e o organismo (ese),
um conceito fundamental para compreender os rituaisrelacionados com a vida, como
o Axexê (asesé). Nota-se a importância destes elementos, sobretudo o Orí, pelos Orikis
com que são invocados.O Bori prepara a cabeça para que o Orixá se possa manifestar
plenamente. Entre as oferendas que são feitasao Orí algumas merecem menção espe-
cial.É o caso da galinha de Angola, chamada Etun ou Konkém no Candomblé; ela é
o maior símbolo deindividualização e representa a própria iniciação. A Etun é adoxu
(adosú), ou seja, é feita nos mistérios doOrixá. Ela já nasce com Exú, por isso se
relaciona com o começo e com o fim, com a vida e a morte, por isso está no Bori e
no Axexê.O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a
sua casa e a liberdade o seu própriocaminho. As comidas brancas, principalmente
os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam agerminação, e frutas,
os produtos da flor germinada, simbolizam a fartura e a riqueza.

O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz
cola, isto é, o obi ésempre o primeiro alimento oferecido a Ori; é a boa semente que
se planta e se espera que dê bons frutos.Todos os elementos que constituem a
oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz,tranquilidade,
saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao Orí de cada
umeleger as prioridades e, uma vez cultuado como deve ser, proporciona-as aos seus
filhos. Nunca se esqueça: Orixá começa com Orí