O Reino das Almas e a Falange Povo das Almas da Lomba:
Origem, Atuação, Trabalhos e Montagem do Altar
O Reino das Almas e a Falange Povo das Almas da Lomba:
Origem, Atuação, Trabalhos e Montagem do Altar
Na vasta e ancestral cosmologia da Quimbanda, uma das linhas mais profundas, misteriosas e respeitadas é aquela que se conecta diretamente com os espíritos dos mortos: o Reino das Almas. Esse reino espiritual é regido por duas entidades majestosas e complementares — Exu Rei das Almas e Pomba-gira Rainha das Almas — e abriga diversas falanges que atuam como guardiãs, juízas, mensageiras e guias das almas em trânsito entre os planos material e espiritual.
Uma dessas falanges de grande poder é o Povo das Almas da Lomba, liderada pelo temido e reverenciado Exu 7 Lombas. Este artigo busca aprofundar-se na origem, simbologia, campo de atuação, formas de trabalho e estrutura ritualística dessa falange, oferecendo um guia respeitoso e embasado para devotos e estudiosos da Quimbanda autêntica.
1. Origem do Reino das Almas e da Falange Povo das Almas da Lomba
O Reino das Almas nasce da intersecção entre tradições afro-brasileiras, influências indígenas e elementos do espiritismo popular. Ele representa o limiar entre os vivos e os mortos, um espaço sagrado onde as almas penadas, justiçadas, suicidas, guerreiras ou esquecidas encontram representação e voz.
Exu Rei das Almas é considerado o Senhor dos Cemitérios, o Guardião dos Portais entre os mundos, aquele que abre e fecha os caminhos das almas. Sua contraparte feminina, Pomba-gira Rainha das Almas, é a soberana que acolhe, julga e encaminha essas almas, muitas vezes intercedendo por elas junto às forças divinas.
Dentro desse reino, Exu 7 Lombas surge como um general espiritual que comanda a Falange Povo das Almas da Lomba. O nome “Lomba” refere-se a lombos, costas ou colinas — simbolicamente, locais elevados onde as energias se acumulam e onde os espíritos encontram pontos de ancoragem. São sete “lombas” simbólicas, cada uma representando um tipo de alma ou caminho kármico:
- Lomba dos Guerreiros – Almas de soldados, lutadores e defensores.
- Lomba dos Enforcados – Almas que morreram por enforcamento ou justiça sumária.
- Lomba dos Afogados – Almas que partiram nas águas.
- Lomba dos Abortados/Não Nascidos – Almas que não chegaram à vida plena.
- Lomba dos Suicidas – Almas em desespero espiritual.
- Lomba dos Esquecidos – Almas sem oferendas, sem lembrança.
- Lomba dos Justos – Almas que, apesar do sofrimento, mantiveram a dignidade.
Exu 7 Lombas, portanto, é o condutor e guardião desses sete caminhos espirituais, atuando com justiça implacável, mas também com profunda compaixão.
2. Campo de Atuação da Falange
O Povo das Almas da Lomba atua em múltiplos níveis:
- Justiça espiritual: cobram débitos kármicos, resolvem pendências antigas e punem traições ou quebras de palavra.
- Proteção contra energias negativas: formam um escudo contra inveja, magia negra e ataques espirituais.
- Encaminhamento de almas: ajudam espíritos perdidos a encontrar seu caminho na luz ou na sombra, conforme sua necessidade evolutiva.
- Revelação de verdades ocultas: trazem à tona segredos escondidos, especialmente os ligados a mortes, traições ou heranças.
- Apoio em processos judiciais e conflitos humanos: são invocados para vencer batalhas legais, romper injustiças e trazer equilíbrio.
Essa falange é especialmente poderosa em encruzilhadas, cemitérios antigos, sob árvores centenárias e locais onde houve derramamento de sangue ou grande sofrimento coletivo.
3. Como Atuam Essas Entidades
As entidades do Povo das Almas da Lomba não atuam de forma suave. Sua energia é densa, direta e muitas vezes assustadora para os desprevenidos. Elas exigem respeito absoluto, clareza de intenção e responsabilidade moral por parte de quem as invoca.
Seu trabalho é feito com fogo, cinzas, ossos simbólicos, velas pretas e vermelhas, uísque, charutos e oferendas de pão e sal. Não aceitam promessas vazias. Quando chamadas com sinceridade, oferecem proteção inabalável; quando desrespeitadas, podem trazer consequências severas.
Exu 7 Lombas, em particular, é uma entidade de poder soberano, que não se submete a manipulações. Ele exige que seus filhos e devotos caminhem com dignidade, coragem e verdade — mesmo quando isso custa caro.
4. Entidades da Falange Povo das Almas da Lomba
Além do comandante Exu 7 Lombas, a falange é composta por diversas entidades, entre elas:
- Alma da Lomba Encruzilhada – mediadora entre os vivos e os mortos.
- Alma da Lomba Cemitério – guardiã dos ossos e das memórias.
- Alma da Lomba do Fogo – executora de justiça espiritual.
- Alma da Lomba do Rio – senhora das almas afogadas.
- Alma da Lomba da Forca – juíza das traições e juramentos quebrados.
Essas entidades podem se manifestar em giras, incorporações ou em sonhos, sempre trazendo mensagens profundas, muitas vezes enigmáticas, que exigem reflexão e maturidade espiritual.
5. Como Montar o Altar do Povo das Almas da Lomba
O altar dedicado a essa falange deve ser montado com extremo respeito, discrição e intenção clara. Recomenda-se:
- Local: canto esquerdo do terreiro ou casa, em local isolado, limpo e protegido. Pode ser ao ar livre, sob uma árvore, ou em um espaço interno reservado.
- Cores: preto, vermelho e branco (este último em pequenos toques, simbolizando a luz nas trevas).
- Itens essenciais:
- Caveira de osso ou cerâmica (representando o Senhor da Morte)
- Sete velas pretas (para as sete lombas) + 1 vela vermelha (para Exu 7 Lombas)
- Copo com uísque ou cachaça envelhecida
- Charutos ou fumo de rolo
- Pão preto ou francês com sal grosso
- Moedas antigas ou sete moedas (simbolizando o pagamento do barqueiro)
- Tecido preto ou vermelho como toalha
- Ferramentas simbólicas: punhal, corrente, caveira com sete chagas
Oferendas devem ser feitas sempre à meia-noite ou em dias de Lua Minguante, especialmente nas sextas-feiras. Não se oferece carne vermelha sangrenta, mas pode-se oferecer frango assado sem sal, ovos cozidos ou pipoca doce com pimenta — combinações que simbolizam a dualidade entre doçura e dor.
A limpeza energética do altar deve ser feita com água de coco com sal grosso, defumação de mirra, benjoim e arruda, e nunca com perfumes artificiais.
6. Respeito e Responsabilidade
Trabalhar com o Reino das Almas não é para quem busca poder sem consciência. É uma linha de profunda transformação espiritual, que exige humildade, ética e coragem. Exu Rei das Almas e Pomba-gira Rainha das Almas não toleram futilidade. Mas, para aqueles que caminham com o coração aberto e os pés firmes na verdade, eles se tornam aliados invencíveis.
Se você sente o chamado dessa falange, escute com atenção. Não corra. Estude. Respeite. E, acima de tudo, honre a palavra dada.
“Quem chama as Almas, deve estar pronto para ouvir os sussurros do além — e agir com justiça no mundo dos vivos.”
Para mais informações, ensinamentos e vivências com essa sagrada falange, acompanhe nosso trabalho: