Exu 7 Montanhas: A Lenda do Guardião das Encruzilhadas
Exu 7 Montanhas: A Lenda do Guardião das Encruzilhadas
Antes de se tornar um dos Exus mais venerados nos caminhos do povo de santo, Exu 7 Montanhas foi um homem de carne, osso, desejo e dor. Seu nome humano era Manuel das Sete Serras, nascido no coração do interior da Bahia, em uma pequena fazenda cercada por montanhas que pareciam rezar ao céu. Filho de Dona Eulália, uma benzedeira respeitada da região, e de Seu Zé do Ouro, um tropeiro que percorria os sertões levando notícias, sal e esperança de um lugar a outro.
Manuel cresceu entre cantigas de trabalho, histórias de encantados e o cheiro de fumo de roça queimando ao entardecer. Desde cedo, demonstrava um dom singular: sabia ouvir o vento, sentia os segredos das pedras e lia o futuro nas chamas da fogueira. Sua mãe lhe ensinava os caminhos da esquerda e da direita, do visível e do invisível. Seu pai, por sua vez, lhe ensinava a andar com firmeza nas estradas do mundo — lição que, ironicamente, definiria seu destino.
Na juventude, Manuel apaixonou-se por Isaura, uma moça de olhos cor de mel e voz suave como o canto do sabiá. Ela era filha do coronel da cidade, homem de pouca fé e muita soberba. O amor entre os dois floresceu à sombra das mangueiras, mas foi proibido pelo pai de Isaura, que via em Manuel apenas um “menino de mandinga” — alguém que não merecia tocar na filha de sua casa.
Apesar das ameaças, os amantes continuaram a se encontrar em segredo. Até que, certa noite de lua cheia, enquanto caminhavam por uma trilha que ligava duas fazendas, foram surpreendidos por pistoleiros a mando do coronel. Manuel, com seu facão e coragem, tentou proteger Isaura — mas uma bala o atingiu no peito. Caiu entre as pedras, segurando a mão da amada até perder a consciência.
Isaura foi arrastada de volta para casa. Dias depois, ao saber que Manuel havia morrido, jogou-se do alto da sétima montanha daquela região — o mesmo lugar onde juraram amor eterno. Dizem que, ao bater no chão, seu corpo virou raiz e flor, e sua alma voou para o outro lado da encruzilhada.
A Ascensão de Exu 7 Montanhas
Manuel não foi recebido como um simples morto. Seu espírito era forte demais, cheio de justiça, desejo, coragem e dor. Oxalá, o Pai de todos os Orixás, olhou para sua trajetória e viu que ali havia um guardião em potencial. Mas não era Oxalá quem decidiria seu caminho final.
Foi Ogum, o Senhor das Guerras e dos Caminhos, quem o chamou para ser o elo entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Ogum o conduziu até Exu Rei, o chefe de todos os Exus, que o batizou com o nome de Exu 7 Montanhas — em homenagem às sete elevações que testemunharam seu amor, sua luta e sua morte. Assim, nascia não um espírito qualquer, mas um Exu de Linha de Frente, trabalhador da esquerda sagrada, vinculado à justiça, à abertura de caminhos e à proteção contra inveja, traição e maldade.
Exu 7 Montanhas atua na Linha de Ogum, mas também possui forte ligação com Oxóssi, o caçador, pois como humano, era um andarilho dos matos. Ele é chefiado diretamente por Exu Rei e, em alguns terreiros, é sincretizado com São Jorge, não pelo martírio, mas pela bravura.
Como Trabalha Exu 7 Montanhas
Exu 7 Montanhas é firme, justo e direto. Não gosta de meias-verdades. Ele abre caminhos bloqueados por inveja, ciúmes ou magia negra. Protege os amantes que lutam por amor verdadeiro. Ajuda nos negócios que exigem coragem e negociação. E jamais abandona quem o respeita.
Seu ponto riscado é feito com sete montanhas e uma cruz no centro. Usa-se azeite de dendê, pimenta malagueta, charutos, cachaça branca, velas pretas e vermelhas, moedas antigas e farofa de dendê como oferendas. Ele não gosta de oferendas vazias — cada item deve ser ofertado com intenção clara, olho no olho, palavra no coração.
Como Montar o Altar de Exu 7 Montanhas
- Local: Prefira um canto da casa, de frente para a porta de entrada, ou ao pé de uma árvore antiga (como a gameleira ou a embaúba).
- Base: Um pano vermelho ou preto, ou os dois juntos. Pode-se usar uma tábua de madeira rústica.
- Itens essenciais:
- Imagem ou estatueta de Exu 7 Montanhas (com sete montanhas aos pés).
- Taça com cachaça branca.
- Pires com farofa de dendê e pimenta.
- Sete moedas antigas (ou moedas comuns viradas ao avesso).
- Charuto inteiro e outro meio queimado.
- Vela preta e vermelha (acendidas juntas).
- Um pequeno facão ou adaga simbólica.
- Flores vermelhas (como hibisco ou flamboyant).
- Respeito: Nunca deixe o altar sujo. Renove as oferendas semanalmente ou quando sentir que a energia está fraca.
Oferendas para Situações Específicas
Para abrir caminhos profissionais:
Ofereça uma taça de cachaça, sete moedas e um charuto. Peça com firmeza:
“Exu 7 Montanhas, abra meus caminhos como abriu os seus na serra. Que ninguém me barre, que o trabalho me encontre.”Para proteção contra inveja:
Ofereça pimenta malagueta moída, dendê e uma vela preta. Diga:
“Que o fogo da sua montanha queime toda mira ruim que vier contra mim.”Para reconciliação amorosa:
Use duas velas vermelhas, uma taça com mel misturado a cachaça, e uma rosa vermelha. Peça:
“Exu das Sete Montanhas, faça com que o coração [nome da pessoa] se lembre do meu com carinho e verdade. Que o amor volte sem ilusão.”
Magias Simples com Exu 7 Montanhas
1. Magia para afastar inimigos:
Na segunda-feira à meia-noite, acenda uma vela preta diante do altar. Pegue sete cravos-da-índia, embrulhe em um pano preto e enterre na encruzilhada mais próxima, dizendo:
“Exu 7 Montanhas, leva com você quem me faz sombra. Que meu caminho fique limpo, minha casa protegida, meu nome em paz.”
2. Magia para prosperidade rápida:
Na quarta-feira (dia de Ogum), coloque sete moedas em um pires com mel e dendê. Deixe no altar por 7 horas. Depois, leve as moedas na carteira por 7 dias. Ao fim, ofereça-as a Exu com uma taça de cachaça.
A história de Exu 7 Montanhas não é apenas de dor — é de transformação. É um lembrete de que até os mais feridos podem se tornar guardiões. Que até os amores perdidos ecoam na eternidade. E que, nas encruzilhadas da vida, sempre há um Exu disposto a caminhar ao seu lado — desde que você o trate com respeito, verdade e gratidão.
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