quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O Reino das Almas e a Falange do Povo das Almas do Velório: O Silêncio Sagrado Entre a Vida e a Morte

 O Reino das Almas e a Falange do Povo das Almas do Velório: O Silêncio Sagrado Entre a Vida e a Morte

O Reino das Almas e a Falange do Povo das Almas do Velório: O Silêncio Sagrado Entre a Vida e a Morte

Na profunda cosmologia da Quimbanda, o Reino das Almas é um dos pilares mais sagrados e respeitados — um espaço espiritual onde justiça, compaixão e transição se entrelaçam. Dentro desse reino, existem várias falanges especializadas, cada uma com sua função específica no plano intermediário entre os vivos e os desencarnados. Entre elas, destaca-se com intensidade mística e poder espiritual o Povo das Almas do Velório, uma linha de trabalho que atua nos momentos mais solenes da existência humana: a passagem da alma do corpo físico para o mundo espiritual.

Essa falange tem como chefe direto Exu Marabá, uma entidade de grande magnetismo, ligada ao luto, à proteção das almas em trânsito e à manutenção da ordem espiritual nos ritos fúnebres. No entanto, toda a sua atuação está sob a governança suprema de Exu Rei das Almas — também conhecido como Exu Rei — e de sua consorte espiritual, a Pomba-Gira Rainha das Almas. Juntos, eles constituem a autoridade máxima do Reino das Almas, garantindo que os trabalhos do Povo das Almas do Velório sejam conduzidos com equilíbrio, justiça e misericórdia.


Origem e Fundamento Espiritual

O Povo das Almas do Velório surge da necessidade espiritual de proteger o momento sagrado da desencarnação. Na tradição popular brasileira, o velório não é apenas um rito social, mas um portal entre mundos — um tempo em que o espírito recém-desencarnado ainda está em estado de confusão, vulnerável a influências negativas, obsessões e até aprisionamento por magias ou laços emocionais com os vivos.

É nesse limiar que Exu Marabá atua. Seu nome remete às tradições indígenas e afro-brasileiras ligadas à floresta, aos rios e aos espíritos da natureza, mas em sua forma quimbandeira, Exu Marabá é o guardião dos corredores da morte, o guia silencioso que caminha entre as fileiras de velas, entre os choros e os silêncios dos velórios, assegurando que a alma desencarnada seja respeitada, protegida e encaminhada.

Diferentemente de outras falanges mais ativas ou expansivas, o Povo das Almas do Velório trabalha com discrição, reverência e força contida. Seu poder está no silêncio, na vigília, na presença invisível que impede que energias penadas, invejosas ou maldosas interfiram no processo natural de passagem.

Apesar de sua autonomia operacional, Exu Marabá atua sob a égide direta de Exu Rei das Almas, cuja autoridade é inquestionável no Reino das Almas. Exu Rei é o juiz espiritual que decide o destino das almas conforme suas ações em vida. Ao seu lado, a Pomba-Gira Rainha das Almas traz a sensibilidade feminina para acolher as dores do luto, especialmente as de mães, viúvas e filhos que perderam entes queridos de forma súbita ou traumática.


Quem Foi Exu Marabá?

Antes de se tornar uma entidade da Quimbanda, Exu Marabá foi um homem chamado Manoel, nascido no interior do Pará no final do século XIX. Filho de uma benzedeira e de um pescador, cresceu entre as águas do rio e as cantigas de cura da floresta. Tornou-se caixeiro-viajante e rezador, conhecido por acompanhar enterros em vilarejos distantes, rezando pelos mortos e consolando os vivos.

Seu grande amor foi Isaura, uma costureira que morreu de febre amarela durante um surto na cidade. Desesperado, Manoel prometeu vigiar todos os velórios da região, para que nenhuma alma partisse sem alguém rezando por ela. Durante anos, cumpriu essa promessa com devoção absoluta — até que, numa noite de temporal, ao proteger o caixão de uma criança de uma árvore que caía, foi atingido e morreu no próprio velório que vigiava.

Sua alma foi encontrada por Exu Rei das Almas, que admirou sua fidelidade ao dever espiritual. Assim, foi elevado à condição de Exu — não como um senhor das encruzilhadas comuns, mas como guardião dos velórios, protetor dos mortos e guia dos que partem em silêncio.

Hoje, Exu Marabá veste-se com roupas escuras, carrega um terço enegrecido, uma vela apagada na mão e um lenço branco no bolso — símbolo da paz que leva às almas. Seu olhar é calmo, mas sua presença é imponente. Ele não fala alto, mas todos os espíritos o ouvem.


Atuação e Campos de Ação

O Povo das Almas do Velório atua em diversos níveis espirituais:

  • Proteção espiritual durante velórios e enterros, impedindo que almas penadas ou obsessores interfiram;
  • Acolhimento de almas recém-desencarnadas, especialmente aquelas que morreram de forma súbita, violenta ou solitária;
  • Limpeza de ambientes onde ocorreram mortes, retirando energias densas e sofrimento acumulado;
  • Auxílio em processos de luto complicado, quando os vivos não conseguem se despedir;
  • Encaminhamento de espíritos que se recusam a partir, por apego, vingança ou medo;
  • Vigília espiritual em cemitérios, câmaras mortuárias e casas de velório, especialmente à noite.

Seus pontos de força são cemitérios antigos, capelas fúnebres, cruzes de madeira, encruzilhadas próximas a necrotérios e altares domésticos dedicados ao respeito pelos mortos.


Como São Seus Trabalhos

Os trabalhos com essa falange exigem silêncio, respeito e intenção clara. Não há espaço para demandas levianas ou vinganças. O Povo das Almas do Velório trabalha com sagrado e seriedade.

Elementos comuns nos rituais:

  • Velas brancas e pretas: branca para a alma em passagem, preta para proteção e afastamento de energias negativas;
  • Oferendas simples: café forte, cachaça branca, pão, mel, flores brancas (como crisântemos ou lírios);
  • Cigarro de palha e terço de madeira como símbolos de vigília;
  • Banho de descarrego com guiné, arruda e manjericão, feito após visitar cemitérios ou velórios;
  • Trabalhos realizados em silêncio, sem cantigas altas, apenas sussurros ou orações;
  • Horários: preferencialmente entre o pôr do sol e a meia-noite, ou ao amanhecer, momentos de transição.

É fundamental não perturbar o luto alheio nem usar o nome de Exu Marabá para manipular a dor de outros. Ele responde apenas àqueles que honram os mortos com verdade.


Como Montar um Altar para o Povo das Almas do Velório

O altar deve transmitir serenidade, respeito e proteção:

  • Toalha preta com detalhes brancos (simbolizando o luto e a paz);
  • Imagens ou símbolos: ponto riscado de Exu Marabá, Exu Rei das Almas e Rainha das Almas. Pode-se usar uma imagem de São Miguel Arcanjo (como guerreiro das almas) ou Nossa Senhora das Dores;
  • Elementos simbólicos: vela branca e preta, terço, lenço branco, cruz de madeira, flores secas brancas;
  • Oferendas: café coado, pão caseiro, mel, cachaça branca, cigarro natural;
  • Evitar: objetos brilhantes, cores chamativas, música alta ou qualquer elemento que quebre o clima de recolhimento.

O altar deve ser mantido limpo e em silêncio, com oferendas renovadas nas segundas e sextas-feiras, dias tradicionais de trabalho com Exus e Pombas-Giras ligados ao Reino das Almas.


Entidades que Atuam na Falange

Além dos regentes e do chefe, outras entidades compõem essa falange:

  • Exu Marabá – chefe da falange, guardião dos velórios;
  • Pomba-Gira da Lágrima – consola mães em luto e almas femininas que morreram de tristeza;
  • Exu do Cemitério Velho – protege os túmulos antigos e impede profanações;
  • Alma do Padre Rezador – espírito de sacerdote que ajuda nos ritos de passagem;
  • Exu da Cruz de Madeira – entidade que marca o lugar onde uma alma partiu e precisa ser respeitada;
  • Alma da Veladora – espírito de mulher que, em vida, velou muitos mortos e agora guia outras almas.

Todas essas entidades operam sob a autoridade de Exu Rei das Almas e Pomba-Gira Rainha das Almas, assegurando que o luto seja respeitado e a passagem, justa.


Conclusão: A Dignidade da Passagem

O Povo das Almas do Velório, com Exu Marabá como chefe e Exu Rei das Almas e Pomba-Gira Rainha das Almas como regentes supremos, oferece um caminho espiritual de profundo respeito pela morte — não como fim, mas como transição sagrada.

Em um tempo em que a morte é frequentemente negada ou banalizada, essa falange nos lembra que honrar os mortos é proteger os vivos, e que velar com amor é um ato de grandeza espiritual.

Para quem busca paz nos lutos, proteção nos velórios e justiça para as almas, essa é uma das linhas mais autênticas e poderosas da Quimbanda.


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