EXU PORTEIRA: O GUERREIRO DAS ENCRUZILHADAS QUE SE TORNOU PORTA ENTRE MUNDOS
EXU PORTEIRA: O GUERREIRO DAS ENCRUZILHADAS QUE SE TORNOU PORTA ENTRE MUNDOS
Num tempo em que as estradas ainda eram feitas de lama e promessas, nasceu um homem cujo destino estava marcado pelas sombras das encruzilhadas. Seu nome era Antônio Ferreira Lima, mas aqueles que escutam os sussurros da noite o conhecem como Exu Porteira.
A infância entre o ferro e a fé
Antônio nasceu em 1876, numa pequena povoação próxima a Sabará, em Minas Gerais. Filho de Francisco Lima, um ferreiro respeitado que consertava arados e forjava portões para as fazendas da região, e de Maria da Conceição, uma mulher devota que rezava o terço todas as noites e ajudava as vizinhas nos partos. Desde criança, Antônio via coisas que os outros não viam: vultos caminhando atrás das cercas ao anoitecer, vozes chamando seu nome nos campos vazios, e sonhos que se cumpriam com precisão quase dolorosa.
Preocupados, seus pais o levaram a uma tia rezadeira chamada Dona Carmem, que, após observá-lo em silêncio por longos minutos, disse com voz baixa:
— “Esse menino não pertence só a este mundo. Ele está no meio do caminho.”
Antônio não entendeu na época. Só mais tarde, quando o amor e a morte o encontrariam no mesmo lugar, é que compreenderia.
O único amor: Joaquina
Aos 20 anos, Antônio trabalhava consertando cercas e portões nas fazendas vizinhas. Foi numa dessas viagens que conheceu Joaquina Alves, filha de um vaqueiro que viera do sertão da Bahia após perder tudo com uma seca. Joaquina era séria, mas tinha um sorriso que acendia o rosto inteiro. Gostava de plantar manjericão no quintal e sabia curar febre com folhas de boldo e orações baixinho.
Os dois se apaixonaram devagar — sem juras altas, mas com olhares que diziam tudo. Planejavam se casar na capela do povoado, quando a colheita terminasse. Mas o ciúme de um homem chamado José Maria, um capataz local que também cobiçava Joaquina, mudaria para sempre o rumo de suas vidas.
A traição e a morte na porteira
José Maria começou a espalhar boatos: dizia que Antônio falava com os mortos, que fazia pactos com o diabo, que encantara Joaquina com ervas. A tensão cresceu como fumaça de queimada no ar seco. Até que, numa noite de inverno, quando todos estavam reunidos na festa de Santo Antônio, José Maria armou uma emboscada na porteira da fazenda São João — um velho portão de ferro forjado pelo próprio pai de Antônio.
Quando Antônio passou por ali, voltando da casa de Joaquina, foi atacado por trás. Levou sete facadas — uma para cada caminho que Exu protege. Morreu caído na lama, com as mãos ainda segurando um lenço que Joaquina lhe dera.
Ao saber da morte, Joaquina não chorou. Ficou muda por dois dias. No terceiro, saiu de casa sem dizer nada. Seu corpo foi encontrado dias depois, boiando no riacho que cortava a fazenda, com o mesmo lenço amarrado no pulso.
Mas a alma de Antônio não partiu.
Os Orixás, testemunhas da injustiça e da lealdade de seu coração, decidiram que ele merecia outro papel. Ogum, o senhor da guerra e da justiça, falou com Iansã, guardiã dos cemitérios e dos ventos, e com Oxalá, pai de todas as almas. Eles concordaram: aquele homem, traído por inveja e morto na soleira de um portão, tornar-se-ia o guardião das entradas.
Assim, Antônio Ferreira Lima renasceu como Exu Porteira — o primeiro a ser chamado em qualquer trabalho espiritual, pois sem ele, nenhuma porta se abre.
Exu Porteira na espiritualidade
Exu Porteira atua na Linha das Almas e é reverenciado na Quimbanda tradicional, especialmente em casas que trabalham com os Exus de Encruzilhada. Ele é comandado por Ogum, seu general direto, e recebe orientações de Iansã, que governa os caminhos dos espíritos.
Sua cor é o vermelho e o preto. Seu dia é segunda-feira, o primeiro dia da semana — símbolo de começo, de escolha, de passagem. É um Exu firme, justo, mas severo com traidores. Ajuda em causas de proteção, justiça, abertura de caminhos materiais e limpeza espiritual.
Como montar um altar para Exu Porteira
O altar pode ficar num canto externo da casa, sob uma árvore (figueira ou gameleira), ou ao lado esquerdo da porta de entrada — nunca dentro do quarto ou da cozinha.
Itens essenciais:
- Estátua ou representação simples de Exu (com tridente ou bastão)
- Vela vermelha e vela preta
- Taça com vinho tinto ou cachaça branca
- Charuto de palha ou cigarro comum (oferecido, não necessariamente aceso diariamente)
- Sete moedas de cobre ou antigas
- Pimenta malagueta seca, alho, e um pouco de azeite de dendê
- Um mini portão de madeira ou ferro (simbólico, pode ser artesanal)
Mantenha limpo, com respeito. Ofereça água nova toda segunda-feira.
Oferendas para situações específicas
✦ Para abrir caminhos (emprego, dinheiro, oportunidades):
Na segunda-feira, ao cair da noite, vá a uma encruzilhada com:
- 7 moedas
- 1 taça de vinho
- 1 vela vermelha
Ofereça dizendo:
“Exu Porteira, você que conhece o peso da traição e o valor da verdade, abra meus caminhos com justiça. Que minha porta se abra e o mal não entre.”
✦ Proteção contra inimigos ou fofocas:
Banho com:
- Folhas de arruda, guiné, alecrim e comigo-ninguém-pode
- 7 pingos de dendê
- Sal grosso
Tome do pescoço para baixo. Depois, acenda uma vela preta para Exu Porteira e diga:“Que meus inimigos se percam onde você vigia. Que a mentira volte para quem a criou.”
✦ Justiça em caso de traição ou injustiça grave:
Na meia-noite de segunda-feira, deixe na beira de um portão ou cerca:
- Um espelho virado para cima
- Pimenta por cima
- Um gole de cachaça derramado no chão
Peça:“Exu Porteira, reflita a verdade nos olhos de quem me traiu. Que a justiça chegue antes que o rancor cresça em mim.”
Palavras finais
Exu Porteira não é demônio. Não é "força das trevas". Ele é a fronteira viva entre o justo e o injusto, entre o que entra e o que deve ficar fora. Ele entende a dor de quem ama e perde, de quem é caluniado, de quem luta com as mãos limpas mas é ferido pelas costas.
Por isso, ao chamá-lo, fale com verdade, não com medo.
Ele não serve a quem não respeita o caminho.
Mas, se você for leal, trabalhador e justo, Exu Porteira será o primeiro a abrir a porta do seu destino.
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