EXU REI DAS SETE CALUNGAS: O SENHOR DOS SETE CAMINHOS DA MORTE QUE SE TORNOU REI DAS ALMAS
EXU REI DAS SETE CALUNGAS: O SENHOR DOS SETE CAMINHOS DA MORTE QUE SE TORNOU REI DAS ALMAS
Antes de ser temido, antes de ser invocado nas encruzilhadas à meia-noite, antes mesmo de seu nome ecoar entre os zeladores dos terreiros, Exu Rei das Sete Calungas foi um homem de carne, suor e dor. Chamava-se Manuel Oliveira, e sua vida — breve, intensa e marcada pela lealdade até a morte — é a chave para entender por que ele hoje comanda os sete reinos dos espíritos e abre ou fecha os portões do além com a mesma mão que um dia segurou uma enxada e depois uma faca de defesa.
Infância entre os mortos e os vivos
Manuel nasceu em 1863, numa pequena comunidade rural próxima a Salvador, na Bahia. Filho de Joaquim Oliveira, um ex-escravizado que comprara sua liberdade trabalhando como coveiro, e de Rosa Maria da Conceição, uma benzedeira que preparava banhos com folhas colhidas sob a lua cheia, Manuel cresceu entre túmulos e rezas. Ainda criança, ajudava o pai a cavar sepulturas no cemitério do povoado, e era comum vê-lo sentado à sombra de uma árvore, conversando — segundo os mais velhos — com "alguém que não estava ali".
Naquela época, a morte não era tabu, mas presença constante. E Manuel parecia ter nascido para mediá-la.
Sua mãe, percebendo sua sensibilidade, levou-o a uma Casa de Nação Jejê, onde foi recebido por Mãe Luísa de Omulu, uma sacerdotisa severa e sábia. Ao vê-lo, ela disse apenas:
— “Esse menino é filho do ventre da terra e da sombra do cipó. Não pertence só aos vivos.”
Manuel nunca se filiou formalmente ao Candomblé, mas aprendeu os fundamentos dos Orixás, das Almas e dos Exus. Sabia que nada começa nem termina sem que Exu seja chamado primeiro.
O amor que o fez homem — e depois lenda
Aos 22 anos, Manuel trabalhava como ajudante de pedreiro e fazia pequenos serviços para as famílias da região. Foi num enterro que conheceu Dona Isaura, viúva jovem que perdera o marido e o filho único numa epidemia de febre amarela. Ela vinha toda semana levar flores ao túmulo e ficava horas em silêncio, de joelhos.
Manuel, comovido, começou a deixar um copo d’água fresca sobre a lápide antes dela chegar. Um dia, ela o viu. Em vez de estranhar, agradeceu com os olhos cheios d’água. Nas semanas seguintes, passaram a caminhar juntos após os enterros. Não havia pressa. Havia compreensão.
Casaram-se dois anos depois, numa cerimônia simples na igreja do povoado. Não tiveram filhos, mas adotaram dois órfãos — Pedrinho e Luiza — filhos de uma prima de Isaura que morrera no parto. Manuel, agora pai, trabalhava dobrado para sustentar a família. Construía casas, consertava telhados, e à noite contava histórias às crianças sobre “os guardiões das encruzilhadas”.
Mas a paz durou pouco.
A morte que o transformou em Rei
Em 1898, um surto de varíola atingiu a região. Muitos morreram. Entre eles, Pedrinho. Luiza sobreviveu, mas ficou com marcas no rosto. Isaura, despedaçada, adoeceu de tristeza. Manuel, desesperado, procurou todos os curandeiros, rezadores e mães-de-santo. Nada adiantou.
Foi então que um velho Exu de uma encruzilhada — segundo contam os mais antigos — apareceu em sonho a Manuel e lhe disse:
“Há um caminho que cruza os sete reinos da morte. Se você atravessar e voltar com o remédio da alma de sua mulher, poderá salvá-la. Mas se duvidar uma vez, não voltará.”
Naquela mesma noite, Manuel saiu de casa com uma vela preta, um punhado de sal e o terço de sua mãe. Nunca mais foi visto com vida.
Dias depois, seu corpo foi encontrado deitado sobre sete túmulos diferentes, como se tivesse caminhado entre eles em transe. Nas mãos, segurava sete chaves de ferro — uma para cada reino dos mortos. Seu rosto estava em paz, como se tivesse cumprido uma missão.
Isaura faleceu três dias depois, abraçando os órfãos e chamando o nome de Manuel em voz baixa.
Mas suas almas não descansaram.
Os Orixás, testemunhas de sua coragem e amor inabalável, decidiram elevar Manuel a um posto único. Oxalá deu-lhe a coroa da dignidade. Ogum entregou-lhe a espada da justiça. Iansã emprestou-lhe os sete ventos que sopram sobre os cemitérios. E Omolu, senhor das enfermidades e curas, deu-lhe domínio sobre os sete caminhos da morte.
Assim nasceu Exu Rei das Sete Calungas — Rei das Sete Encruzilhadas da Morte, Senhor das Sete Chaves, Guardião dos que partiram sem justiça.
Quem é Exu Rei das Sete Calungas hoje?
Exu Rei das Sete Calungas pertence à Linha das Almas, mas é reverenciado de forma especial na Quimbanda de Nação Jejê e Angola. Ele não é um Exu comum: é Rei, título raro e poderoso. Sua autoridade se estende sobre sete planos espirituais, cada um ligado a um tipo de alma:
- Almas penadas (sem sepultura)
- Almas vingativas (mortas com rancor)
- Almas suicidas
- Almas de crianças
- Almas de guerreiros
- Almas traidas
- Almas redimidas
Ele é comandado diretamente por Omolu (Obaluaiê), Orixá da cura e da morte, e recebe apoio de Iansã, que comanda os Eguns (espíritos dos mortos). Sua cor é o preto, vermelho e branco — o branco representa a pureza de sua missão, mesmo na escuridão.
Seu dia é sexta-feira, dia de Omolu, e também segunda-feira, dia de Exu.
Seu ponto de força é o cemitério, mas também atua em encruzilhadas com sete caminhos, cruzes de ferrovelho e portões antigos.
Como montar um altar para Exu Rei das Sete Calungas
O altar deve ser montado com profundo respeito, preferencialmente fora de casa, num local isolado — como um jardim, sob uma gameleira, ou mesmo próximo a um cemitério (se for permitido e seguro).
Elementos essenciais:
- Coroa de ferro ou de palha trançada (símbolo de seu reinado)
- Sete velas pretas (ou pretas e vermelhas)
- Sete taças com oferendas diferentes:
- Vinho tinto
- Cachaça branca
- Água de coco
- Mel
- Azeite de dendê
- Leite
- Sangue simbólico (pode ser suco de beterraba ou vinho)
- Sete chaves antigas (ou réplicas)
- Mini coroa de espinhos (feito com galhos secos)
- Imagem ou representação de um rei negro com cetro e tridente
- Pano preto com bordas vermelhas cobrindo o altar
Nunca use plástico, isopor ou objetos descartáveis. Tudo deve ser natural, durável e limpo.
Oferendas e magias para situações específicas
✦ Para trazer justiça em caso de morte injusta ou desaparecimento
Na sexta-feira à meia-noite, vá a um cemitério (ou encruzilhada) com:
- 7 velas pretas
- 7 moedas
- 1 taça de vinho
- 1 coroa de folhas de louro
Deixe tudo com a seguinte prece:“Exu Rei das Sete Calungas, Senhor dos que partiram sem nome, traga justiça para a alma de [nome]. Que a verdade suba da terra como raiz. Que os responsáveis não durmam em paz até que o equilíbrio retorne.”
✦ Para proteger uma casa contra energias de morte ou obsessão
Monte um banho de proteção com:
- Folhas de alecrim, guiné, espelho-de-vênus, arruda e manjericão-roxo
- 7 pingos de dendê
- 1 colher de sal grosso
Tome do pescoço para baixo após o banho comum. Depois, pendure sete chaves (mesmo que simbólicas) na porta de entrada da casa e diga:“Exu Rei, feche as portas da morte falsa. Que só entre quem traz paz.”
✦ Para comunicação com um ente querido falecido
Na segunda-feira, acenda 7 velas pretas em frente ao altar. Ofereça:
- Um copo com água e mel
- Um charuto aceso
- Uma foto da pessoa (se tiver)
Peça em voz baixa:“Rei das Sete Calungas, você que caminha entre os sete reinos dos mortos, leve minha saudade até [nome]. E se for possível, traga um sinal de que ele(a) está em paz.”
Uma palavra de respeito
Exu Rei das Sete Calungas não é para ser chamado por curiosidade. Ele é um Rei da Justiça Espiritual, um juiz das almas, um guardião da ordem entre os mundos. Trabalha com seriedade, equilíbrio e profundidade.
Não espere milagres fáceis. Mas se você tiver um coração verdadeiro, uma causa justa e respeitar os caminhos, ele não apenas ouvirá — ele agirá.
Porque antes de ser Rei, ele foi um homem que amou até a morte… e além dela.
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