Exu Baiano: O Guardião do Axé que Dança no Fogo da Roça
Escrito com reverência, batuque no peito e o cheiro de fumaça de charuto no ar.
Exu Baiano: O Guardião do Axé que Dança no Fogo da Roça
Escrito com reverência, batuque no peito e o cheiro de fumaça de charuto no ar.
Capítulo I – Nas Terras do Fumo e do Dendê
Nas profundezas do Recôncavo Baiano, onde o canto do sabiá se mistura ao toque do atabaque e o cheiro de fumo de roça impregna a alma, nasceu Manuel de Oxum, mais tarde conhecido como Exu Baiano. Filho de Dona Zezé, uma quituteira de terreiro que vendia acarajés na porta da igreja de São Francisco, e de Seu Tonho, um vaqueiro que jurava ter sido salvo por Ogum numa emboscada de cangaceiros.
Manuel cresceu entre terreiros, feiras livres e rodas de capoeira. Desde criança, tinha um dom: sabia quando alguém mentia. Bastava olhar nos olhos da pessoa e sentir o cheiro do suor — se fosse azedo, era enganação. Sua avó, Mãe Catarina, uma antiga zeladora de Exu, dizia que ele nascera com “o ponto riscado na testa” — marcado para ser ponte entre os mundos.
Seu apelido era “Baiano” — não só por ser da Bahia, mas porque carregava consigo a essência da terra: o dendê, o fumo, o axé, a ginga, a fé que dança e reza ao mesmo tempo.
Capítulo II – O Amor que Virou Ofensa
Aos vinte anos, Baiano apaixonou-se por Luzia, filha de um comerciante português dono de uma loja de secos e molhados no Pelourinho. Ela era católica, educada, mas fascinada pelos segredos dos orixás. Secretamente, ia aos terreiros com ele, bebia água de obi, usava contas de Oxum.
Quando o pai de Luzia descobriu, chamou Baiano de “feiticeiro de encruzilhada” e proibiu a filha de vê-lo. Mas o amor deles era forte como o fogo de Xangô. Juraram casar-se em segredo, na beira do Rio Vermelho, com Iemanjá como testemunha.
Na véspera do encontro, Luzia foi trancada no porão da casa. Desesperada, escreveu um bilhete com carvão e o jogou pela janela, amarrado a uma pedra. O bilhete nunca chegou a Baiano. Um empregado o entregou ao pai dela, que, furioso, queimou o papel e amaldiçoou o nome de Baiano diante de um padre.
Naquela mesma noite, Baiano sentiu um frio na espinha.
— “Alguém amarrou meu nome com espinho,” murmurou.
Foi até a encruzilhada perto do Mercado Modelo, fez uma oferenda a Exu Tranca-Ruas e pediu proteção. Mas já era tarde.
Capítulo III – A Morte na Encruzilhada do Engano
Dias depois, o pai de Luzia espalhou um boato: Baiano havia roubado ouro da igreja. A cidade inteira se voltou contra ele. Sem provas, mas com a fúria da multidão, foi arrastado até a praça. Um grupo de homens o acusou de “bruxaria” e o levou à encruzilhada do Largo do Campo Grande, onde, segundo a tradição popular, “os maus espíritos não voltam”.
Lá, amarraram seus pés com corda de algodão cru, jogaram fumo de roça em seus olhos e disseram:
— “Se és de Exu, que ele te salve.”
Ninguém o salvou.
Foi apedrejado até a morte ao som de ladainhas católicas.
Mas, ao cair, seu sangue não escureceu a terra — floresceu.
No dia seguinte, nasceram sete pés de manjericão no local, mesmo sendo inverno.
Naquela noite, em todos os terreiros da Bahia, os Exus dançaram sem que os médiuns os chamassem. Um deles, com chapéu de couro, lenço vermelho e cheiro de fumo, disse com voz grave:
— “Sou Exu Baiano. Não sou vingança. Sou justiça com dendê. Quem me respeita, tem caminho aberto na roça da vida. Quem me desafia, tropeça na própria sombra.”
Capítulo IV – Linha, Comando e Atuação
Exu Baiano atua na Linha de Exu da Roça, uma das mais antigas e respeitadas vertentes da Umbanda e do Candomblé de raiz. É um Exu terreno, mas sagrado, ligado à natureza, à simplicidade, à sabedoria popular.
É comandado por Ogum Megê, o orixá da justiça guerreira, mas também tem forte ligação com Oxum, que o protege com seu ouro líquido, e com Oxalá, que lhe ensina a misericórdia mesmo na fúria.
Sua missão?
— Proteger os humildes,
— Desmanchar demandas feitas com inveja,
— Abrir caminhos na burocracia, no trabalho e no amor,
— E guardar os segredos dos terreiros.
Exu Baiano não gosta de ostentação. Prefere oferendas simples, feitas com o coração, não com luxo.
Capítulo V – Como Montar o Altar de Exu Baiano
O altar de Exu Baiano deve ser rústico, simples, próximo à terra. Pode ser montado em um canto do quintal, sob uma árvore (preferencialmente de manga, jurema ou aroeira), ou em uma encruzilhada limpa e respeitosa.
Itens essenciais:
- Vela vermelha e preta (sempre acesas juntas)
- Copo de cachaça branca (de garrafa de barro, se possível)
- Fumo de roça ou charuto artesanal
- Pimenta malagueta seca
- Moedas antigas ou de cobre
- Um prato com dendê e mel
- Miniatura de facão ou enxada (símbolo do trabalho na roça)
- Lenço vermelho amarrado em um galho
- Imagem ou estatueta simples (pode ser um boneco de pano com chapéu)
Nunca use plástico, vidro colorido ou objetos industrializados. Exu Baiano odeia falsidade.
Capítulo VI – Oferendas para Situações Específicas
Para resolver problemas burocráticos (documentos, processos, emprego):
Ofereça 7 moedas, um copo de cachaça e um charuto na encruzilhada, ao amanhecer de quarta-feira. Diga:
“Exu Baiano, meu pai da roça, abre meus caminhos na papelada da vida. Que nada me prenda, que nada me atrase. Axé!”Para afastar inveja de vizinhos ou colegas de trabalho:
Pegue 7 folhas de comigo-ninguém-pode e 7 pimentas. Amasse com sal grosso e enterre na frente da sua casa, pedindo:
“Exu Baiano, guarda minha casa como guardas teu terreiro. Que a inveja tropece antes de chegar à minha porta.”Para atrair prosperidade simples (comida na mesa, paz no lar):
Cozinhe feijão preto com dendê (sem carne). Ofereça em uma cuia de barro na beira do quintal. Agradeça com um copo de água de coco.
Capítulo VII – Magias com o Axé de Exu Baiano
Magia do Caminho Aberto na Roça da Vida:
Pegue um coco seco, risque com giz vermelho o ponto de Exu Baiano (um X com um círculo e um chapéu em cima). Dentro, coloque seu nome escrito em papel, uma moeda e um grão de feijão. Enterre na raiz de uma árvore frutífera. Volte em 7 dias com cachaça para agradecer.
Magia para Proteção contra Falsos Amigos:
Use um lenço vermelho amarrado no pulso esquerdo por 3 dias. Ao terceiro dia, ao pôr do sol, vá a uma encruzilhada, acenda um charuto e diga:
“Exu Baiano, mostra-me quem finge amor. Que a verdade apareça como o sol na roça.”
Enterre o lenço ali. Não olhe para trás.
Epílogo – O Axé que Não se Vende
Exu Baiano não é Exu de shopping, nem de promessas vazias.
É o Exu do cafuné na alma, do conselho sábio na varanda, do fumo compartilhado em silêncio.
Ele não pede ouro.
Pede respeito.
Não quer luxo.
Quer verdade.
E, acima de tudo, lembra a todos:
“Na roça da vida, quem planta com amor colhe axé. Quem planta com maldade… colhe espinho.”
#ExuBaiano #GuardiãoDaRoça #UmbandaDeRaiz #ExuDaBahia #AxéVerdadeiro #RespeitoAoExu #OferendasSimples #MagiaComCoração #FilhoDeOgum #ExuNãoÉDemônio #EncruzilhadaSagrada #ForçaDaTerra #CaminhoAberto #EspiritualidadeAfroBrasileira #TradiçãoViva #ExuDaJustiça #DendêEFumo #UmbandaComRespeito #ExuQueProtege #RoçaDoAxé