Entre Flores Silvestres e Raízes Sagradas: A História Terrena da Pomba Gira Sete Saias da Campina
Antes de ser invocada com pétalas de margarida e cheiro de terra molhada, antes de ter seu nome sussurrado sob pé de ipê ou à sombra de uma gameleira, ela foi mulher de raiz, flor e silêncio. Chamavam-na Dona Florzinha, mas os antigos da roça a chamavam de “a Senhora dos Sete Campos” — não por título, mas por respeito à sua ligação com as forças da terra.
Nascida numa clareira entre morros, nos confins do interior, Florzinha veio ao mundo numa manhã de primavera, com o canto do sabiá e o cheiro de alecrim no ar. Dizem que, ao nascer, sete flores silvestres desabrocharam ao redor da casa de barro — mesmo fora de estação. Sua mãe, parteira de aldeia, soube na hora: aquela menina não era só do mundo — era do encantado.
Desde cedo, Florzinha falava com as plantas. Enquanto outras crianças corriam atrás de bolas, ela sentava-se debaixo de árvores centenárias, ouvindo o que o vento trazia das encruzilhadas campestres. Aprendeu com as benzedeiras a curar com manjericão, arruda, guiné e folha-de-costa. Com as parteiras, aprendeu o mistério do nascimento. Com os velhos do terreiro, aprendeu que a terra também reza.
Com o tempo, tornou-se curandeira, conselheira e guardiã dos segredos da campina. Mulheres iam até sua casa de taipa para pedir ajuda com:
- Amores distantes (os que iam trabalhar nas cidades e nunca voltavam)
- Crianças com “quebranto”
- Homens com inveja no coração
- Famílias em luto por colheitas perdidas
Ela nunca cobrava — só pedia uma flor colhida com respeito, um punhado de milho ou um copo d’água da nascente deixado sob a gameleira.
Foi numa noite de São João, durante uma fogueira apagada pela chuva, que a Pomba Gira Sete Saias da Campina se revelou a ela. Não com trovões, mas com sete vaga-lumes que formaram um círculo ao seu redor, cada um carregando uma pétala de flor diferente. Naquela noite, Florzinha viu sete saias esvoaçando entre as árvores:
- Verde-musgo pela cura da terra
- Amarela pela alegria simples
- Vermelha pela paixão verdadeira
- Branca pela pureza do propósito
- Roxa pela sabedoria ancestral
- Marrom pela força das raízes
- Dourada pela abundância dos campos
E ouviu uma voz suave, como o farfalhar das folhas:
"Tu és minha voz na campina. Quando tua hora chegar, não morrerás — florescerás."
A partir de então, Florzinha soube que sua missão era ligar o céu à terra, o visível ao invisível, o coração humano à sabedoria da natureza.
Dizia sempre:
"Assim como a semente precisa da escuridão para brotar, a alma precisa da dor para florescer. Não tema o inverno — ele prepara a primavera."
🌼 O Último Amanhecer de Dona Florzinha
Nos últimos meses de vida, Florzinha sentiu o chamado das raízes. Sabia que sua hora se aproximava. Começou a se despedir em silêncio: plantou mudas para os vizinhos, ensinou receitas de banho de folhas às mais jovens e deixou oferendas diárias sob a gameleira — flores silvestres, mel de abelha nativa, milho e sete grãos de feijão preto.
Na véspera de seu desencarne, numa manhã de lua minguante, vestiu sete saias leves, todas em tons da terra e das flores. Caminhou até a clareira onde nascera, levando consigo:
- Um cálice com água de nascente e mel
- Um espelho de madeira entalhada
- Sete velas brancas
- Um ramo de alecrim e um punhado de sementes
Sentou-se sob a gameleira, de frente para o nascente. Acendeu as velas, derramou o cálice na terra e sussurrou:
"Mãe Oxum, Pai Ogum, e tu, minha irmã Sete Saias da Campina… recebei-me. Já curei, plantei, amei. Agora, quero ser raiz, flor e vento."
Naquela tarde, os vizinhos a encontraram deitada sob a árvore, com as mãos cruzadas sobre o colo, os cabelos espalhados como folhas ao vento e um sorriso sereno nos lábios. Não havia sinal de doença, nem sofrimento. Parecia dormir, embalada pelo canto dos pássaros.
Dizem que, naquela noite, sete sabiás cantaram juntos ao luar.
Que as flores do campo desabrocharam fora de época.
E que, até hoje, quem deixa uma flor silvestre sob a gameleira ao amanhecer, sente um cheiro doce de alecrim no ar — como um abraço.
Florzinha não morreu.
Tornou-se a Pomba Gira Sete Saias da Campina — guardiã das curas naturais, protetora das mulheres do campo, justiceira dos que exploram a terra e os corações simples.
🌿 Como Montar seu Altar para a Pomba Gira Sete Saias da Campina
Seu altar é um pedaço de mata trazido para dentro de casa — um espaço de simplicidade, cura e conexão com a natureza.
Passo a passo:
Local: Próximo a uma janela com luz natural, ou em local arejado. Pode ser sobre uma mesa de madeira ou mesmo no chão, sobre esteira de palha.
Itens essenciais:
- Velas brancas, verdes e amarelas
- Água de nascente ou de chuva
- Flores silvestres frescas ou secas (margarida, hibisco, alecrim, manjericão)
- Terra da campina ou de árvore frondosa
- Espelho de madeira ou com moldura rústica
- Cálice com água e mel
- Sementes, milho, feijão ou grãos
- Imagem ou ponto riscado da Pomba Gira Sete Saias da Campina
Oferecimentos típicos:
- Mel de abelha
- Pão caseiro
- Frutas do campo (banana, laranja, goiaba)
- Flores colhidas com respeito (nunca arranque raízes)
Evite plástico, objetos artificiais ou flores de plástico. A Gira da Campina adora simplicidade, mas exige respeito à vida vegetal.
🌾 Linhas de Trabalho da Sete Saias da Campina
Ela atua em três frentes principais:
- Linha da Cura Natural: trata males do corpo e da alma com ervas, banhos de folhas e energias da terra.
- Linha da Proteção Campestre: protege famílias do campo, agricultores, benzedeiras e parteiras.
- Linha do Amor Verdadeiro: atrai relações simples, honestas e profundas — longe de ilusões urbanas.
"Ela não promete luxo — promete raiz. E quem tem raiz, não cai com qualquer vento."
🌸 Magias e Oferendas para Invocar Sua Graça
1. Banho de Flores da Campina
Para limpeza suave e abertura de caminhos naturais.
Ingredientes:
- 7 flores silvestres (margarida, hibisco, alecrim)
- 1 punhado de folhas de manjericão
- 1 colher de mel
- Água de nascente
Modo:
Ferva as flores e folhas por 5 minutos. Coe, misture ao mel e à água. Tome um banho comum e, no final, jogue a mistura do pescoço para baixo, pedindo:
"Sete Saias da Campina, lava minhas mágoas como a chuva lava as folhas. Que eu cresça com raiz e floresça com graça."
2. Oferenda para Proteção da Casa
Coloque sob a soleira da porta:
- 7 grãos de milho
- 1 flor branca
- 1 punhado de sal grosso
Diga:
"Rainha dos Sete Campos, guarda este lar com tua saia verde. Que nele só entre paz, amor e colheita."
3. Oferenda Semanal na Natureza
Toda sexta-feira ao amanhecer:
- Deixe sob uma árvore frondosa:
- 1 pão caseiro partido ao meio
- 1 cálice com água e mel
- 7 flores silvestres
- Agradeça:
"Obrigada, Rainha, por me ensinar que até a erva daninha tem seu lugar no jardim da vida."
🌻 Ela Vive em Cada Flor que Nasce sem Dono
A Pomba Gira Sete Saias da Campina não habita só os campos — habita os corações que sabem esperar.
Ela está na mulher que planta mesmo sem saber se colherá.
No velho que reza com as mãos calejadas.
Na criança que dá nome às flores.
Porque sua história não terminou.
Ela se repete em cada “sim” dado à simplicidade, em cada mão que toca a terra com respeito, em cada coração que escolhe florescer, mesmo em solo árido.
E quem a invoca com humildade, nunca estará só.
Pois a campina sempre responde… basta saber ouvir o silêncio entre as folhas.
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