quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

UMA LENDA DA POMBA GIRA CIGANA DA ESTRADA



Contada por ela mesma, em verso e prosa:

Sou filha do céu e da terra; irmã da água e do ar.
Sou o fogo na floresta e a branca espuma do mar.
Sou a loba; sou a selva; sou a carícia da relva; e a carroça atrelada.
Sou a beira e o caminho; sou um pássaro sem ninho e do galho mais fraquinho, todos me escutam cantar!
Sou a menina do dia e a amante louca da noite;
sou o alívio e o açoite, e a carne esfacelada.
Sou a abelha rainha, venha provar do meu mel, pois dentro do meu casulo, você estará no céu!
Se quer que eu lhe deixe louco entre um beijo e uma dentada,
me chame de tudo um pouco, mas meu nome é estrada.
Na sombra, eu sou vaga-lume; na luz eu sou mariposa;
sou o inseto que pousa e a lâmpada que é apagada.
Nasci para passar o tempo e ficar um tempo parada,
mesmo que a vida insista, em me deixar estafada, vou seguindo, sempre em frente,
pois topo qualquer jogada, todos sabem que existo,
pois meu nome é estrada.
Realizo a caminhada; sem precisar me cansar;
percorro vários caminhos; importante é caminhar.
Estou aqui, ali e acolá; o que não posso é parar.
Sou casada com o poder de sempre ser encontrada,
aceito qualquer roteiro, me chamam de caminheiro,
mas meu nome é estrada.
Sou a primeira e a última, de todas as desgraçadas.
Honrada ou desprezada; vil ou simplesmente sagrada;
sou o som e o silêncio; sou o choro e a risada.
Sou a eterna abundancia; pois sempre dou importância, para a semente lançada,
num solo de doce fragrância,  pois meu nome é estrada.
Sou o Rei e a Rainha; sou o súdito e o reinado;
sou a coroa e a forca, o algoz e o enforcado.
Uso a máscara da vida, mas me confundem com a morte.
Sou o azar e a sorte, e, aquela que foi dispensada.
Sou a bandeira da paz mas me trocam pela guerra,
na tirania da terra, me vejo desapontada,
porém, quem me ama não erra, pois o meu nome é estrada.
Saindo de um turbilhão; alçando a torre encantada;
me vejo como uma estrela, de lua e sol enfeitada.
Com certeza amanhã, estarei acompanhada, do Anjo que é puro élan,
de uma mulher coroada.
Sou a roca, sou o fio, sou tecelã afamada, na teia eu desafio quem faça a melhor laçada,
pois entre a chama e o pavio, eu tramo a trama esperada, mesmo que seja apenas,
por uma curta jornada.
Me coloque em sua vida, como uma moça querida, que precisa ser amada;
em troca posso lhe dar, o bem maior deste mundo numa bandeja dourada.
Me traga no coração pra me deixar encantada.
Não me esqueça e me honre com sua gentil chamada;
grite bem alto o meu nome!
Me chame, me chame, eu sou a sua " Cigana da Estrada ".