quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

SÃO CIPRIANO E OS PRETOS VELHOS



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SÃO CIPRIANO

Venerado pela igreja, adorado pelos feiticeiros, respeitado pelos magos…


São Cipriano, bispo de Antioquia, passou para a história como um mártir e ganhou a fama co­mo o mago mais conhe­cido do mundo.


Nascido no século III d.C., segundo a lenda, ele logo entrou para a irmandade dos magos depois de uma estada entre os persas.


Na sagrada terra do culto do fogo, ele aprendeu as ar­tes adivinhatórias e in­vocatórias.


Os ances­trais espíritos e gênios eram conhecidos por Ci­priano, que mantinha con­tato fre­qüente com o Mundo Invisível.


Voltando para sua cidade natal, Ci­priano começou a exercer sua rentável profissão.


Logo adquiriu fama e era pro­cu­ra­do por nobres, comerciantes e guer­rei­ros.


Certo dia um cavalheiro apaixo­nado pe­diu um feitiço amoroso, um “filtrum”, co­mo chamamos em magia natural.

O al­vo era a bela e jovem Justina, nobre vir­­gem cobiçada por muitos ricos senho­res.


Justina havia sido recentemente con­ver­tida a uma nova e estranha religião…


Seus seguidores adoravam um judeu cru­cificado da Palestina que tinha feito muitas curas e profecias.


Aos olhos dos antioquenos isso era até engraçado.


Por que adorar um homem, se existiam tantos deu­ses e gênios?


Cipriano preparou um filtrum e nada acon­­teceu.


O cavalheiro apaixonado re­cla­­mou e exigiu o dinheiro de volta.


Nosso mago, muito contrariado e não acostu­ma­­do a falhar, refez a poção e adicionou um conjuro especial.


Nada!


Agora a coisa era para valer!


O Mestre Cipriano convocou o Rei dos Gênios em pes­­soa.


Dentro do círculo mágico ele or­de­­nou e o terrível Jinn se fez presente.


O gênio explicou que Justina era serva de uma entidade de maior magnitude e nada poderia fazer…


Dito e feito.


Movido pela curiosidade Cipriano vai até Justina.


Estabelece uma rica conversa com ela e percebe na garota uma luz espe­cial.


Dias depois, o poderoso Cipriano se con­vertia ao Cristianismo primi­tivo,
que nesta época era uma re­ligião cheia de magia, sa­be­doria e simplicidade.


Afinal, o Cristianismo nas­cente era o her­deiro da religião dos velhos ma­gos da Pérsia.


Não esta­vam os três grandes ma­gos persas diante do me­nino Jesus na noite de Na­tal?


Cipriano e Justina mor­rem juntos durante a perseguição aos cristãos.


Séculos depois, curan­dei­ros e benzedores eu­ro­pe­us vão pedir a Cipria­no, que virou santo, fa­vo­res e saberes.


O culto de São Cipriano chegou ao Brasil com os degredados portugueses perseguidos pela Inquisição.


Na memória eles traziam as fórmulas, orações e magias ciprianas.


Bem mais tarde os primeiros “livros de São Cipriano” chegaram aqui.


Com a chegada dos negros escravos, os Mulojis (xamãs) bantus tomaram conhe­cimento da tradição do mago de Antioquia.


Boa coisa!


Na Kimbanda Cipriano era con­siderado um Makungu (ancestral divi­ni­zado) e digno de culto.


Em Angola os Mu­lojis já cultuavam Santo Antonio, que se encarnou numa profetisa bantu cha­ma­­da Kimpa Vita.


Por isso, dentro do cul­­to de Cipriano os xamãs botaram muitas mirongas e mandingas.


O tempo passou e a Kimbanda virou Quimbanda.


Elementos da feitiçaria ocultis­ta e mesmo da magia negra penetraram nos ensinamentos dos sábios Tios e Tias africanos.


São Cipriano entrou nos mistérios da noite.


O respeito virou medo e assombro.


O santo ganhou Ponto Cantado, Riscado e Dançado.


Pulou do altar para o chão de terra, virou chefe de Linha e Falange, vestiu toga negra e até adquiriu um gato preto!


Na Lua Cheia de agosto ele tem festa à meia-noite, junto com a Comadre Salomé e os Compadres Bode Preto e Ferrabrás.


Até uma Fraternidade Mágica ele ganhou, quando Dom Fausto, um cu­randeiro,
encontrou um frade agonizando perto de um local desértico.


Examinando o doente, ele notou que o religioso fora mordido por uma vene­nosa serpente e estava à beira da morte.


Dom Fausto o carregou até sua casa e o curou com a ajuda de preciosas ervas.


Como agradecimento, o frade presenteou o curandeiro com uma velha cruz de ma­deira.


Noites depois, na pobre casinha de Dom Fausto, ocorreu um fato sobre­na­tural.


Uma estranha e misteriosa luz ema­nou da cruz, preenchendo todo o am­biente.


O curandeiro acordou e viu, ao la­­do da cruz iluminada, a figura de um velhinho barbado com mitra na cabeça.


O personagem que segurava um cajado, sorriu para ele e disse:


-“ Venho até você e peço…


Crie uma fraternidade de bons homens e mulheres, façam a caridade e curem em nome de Deus.”


O curandeiro, admirado, perguntou:


- “Quem é você?”


O espírito respondeu:


- “Sou Cipriano!”


Dias depois, Dom Fausto reuniu seus tios, alguns primos e contou o ocorrido.


Nasceu assim uma Fraternidade de cura sob a proteção de São Cipriano.


Isto acon­teceu no século XVIII, em Dezembro de 1771.


Durante algum tempo o piedoso gru­po só admitiu parentes.


Porém, se­gundo orientações espirituais, foram sendo convidadas pessoas de boa índole de ou­tras famílias e procedências.


Por tradição uma cidade mágica era escolhida para sediar a Fraternidade.


O critério da escolha sempre foi motivado por estranhas leis estudadas na Radiestesia.


Paraty (RJ) foi a cidade escolhida, pois, além das condições telúricas excelentes,
ela é toda construída com sólido simbo­lismo maçônico.


Coincidentemente, a re­gião também tinha forte presença kimban­deira e quimbandeira,
que com o tempo chegou até a receber os místicos cultos da Cabula e da Linha das Almas.


Hoje a cida­de não fica por menos, já que conhecemos algumas irmandades de iniciados caba­listas, templários e yogues que se estabe­leceram por lá.


Na Quimbanda os espíritos de alguns pretos velhos de origem bantu se filiam na Linha de São Cipriano.


Estas são almas de antigos mandingueiros, feiticeiros (aqui com o sentido de xamã) e kalungueiros.


Todos mestres nas artes da cura e da magia.


Muitos até adotam o nome do Pa­­trono:


Pai Cipriano das Almas, Pai Ci­priano Quimbandeiro, Pai Cipriano de Angola…


Estas entidades recebem ofe­rendas na kalunga pequena, perto do Cruzeiro.


Também são ofertadas nas por­tas das igrejas e capelas.


Oferendas: Velas brancas ou brancas e pretas, marafo, café preto e tabaco.


Uma Linha pouco conhecida, mas também ligada a São Cipriano, se chama Linha dos Protetores.


Neste grupo tra­ba­lham espíritos de velhos magos europeus, ciganos curandeiros e misteriosas entida­des do fundo do mar.


São Cipriano está vivo e é do bem.


As receitas exóticas dos Livros de São Ci­priano
(Capa de Aço, Capa Preta, Capa Vermelha, etc…) jamais foram praticadas ou escritas por ele.


Elas são uma triste con­­tribuição da magia negra européia.


Os segredos de São Cipriano passa­ram para os Mulojis da Kimbanda e foram repartidos com alguns adeptos da Quim­banda.


Contudo, ainda existe o mistério.


Quais seriam estes segredos?


Como diz um velho Ponto Cantado de São Cipriano:


“Santo Antonio é mandingueiro,
Santo Onofre é mirongueiro.
Ai, ai, ai, meu São Cipriano…
Negro que sabe fazer bom feitiço,
Faz em silêncio, fala pouco e é quimbandeiro!”


Algumas fontes registram que houve outro Cipriano mago.


O Feiticeiro. 


Algumas fontes registram que os livros foram escritos pelo mago outras que foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.

No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas. Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.


Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.

Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.


Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

Outros ainda o ligam as linhas de pretos velhos vejam a seguinte explicação:


Cipriano desiludiu-se profundamente com as suas artes místicas que até então tinham funcionado tão forte e infalivelmente, para agora serem derrotadas por uma mera donzela com fé no Deus de Cristo. Aconselhado por Eusébio, um amigo seu, e observando o poder da fé de Justine, Cipriano converteu-se ao Cristianismo. Assim fazendo-o, o feiticeiro destruiu todas as suas obras esotéricas e tratados de magia negra, assim como ofereceu e distribuiu todos os seus bens materiais e riquezas aos pobres.

Depois de se converter, Cipriano ainda foi fortemente atormentado pelos espíritos de bruxas que o perseguiam, mas teve fé e assim afastou de si tais aparições que apenas pretendiam reconduzi-lo aos caminhos da feitiçaria. A fama de Cipriano era contudo grande e as noticias da sua conversão ao cristianismo chegaram à corte do Imperador Diocleciano que tinha fixado residencia na Nicomédia.

Cipriano e Justine foram perseguidos, aprisionados e levados ao imperador, diante do qual foram forçados a negar a sua fé. Justine foi despida e chicoteada, ao passo que Cipriano foi martirizado com um açoite de dentes de ferro. Mesmo com a carne arrancada do corpo a cada flagelação do chicote com dentes de ferro, Cipriano não negou a sua fé e Justine manteve-se sofredoramente fiel a Deus.

Perante a recusa de Cipriano e Justine em renunciar à sua fé, o imperador os condenou à morte sendo decapitados em 26 de Setembro de 304 d.e.c., juntamente com um outro mártir de nome Teotiso. Aceitaram a sua execução com grande fé e serenidade, tendo falecido com coragem e dignidade. Os seus corpos nem sequer foram sepultados, e ficaram expostos por 6 dias. Foi um grupo de cristãos que, comovidos pela barbaridade, recolheu-os.

Mais tarde, o imperador cristão Constantino (272 – 337 d.e.c. ) ordenou que os restos mortais de Cipriano fossem sepultados na Basílica de São João Latrão, localizada em Roma, que é a catedral do Bispo de Roma, ou seja: o papa. Foi na “Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput” (mãe e cabeça de todas as igrejas do mundo) que São Cipriano, o santo e mártir, encontrou o seu eterno repouso.

Todo percurso de São Cipriano é um verdadeiro hino à vida no esplendor da sua existência: do diabo a Deus, dos demônios aos anjos, da feitiçaria à fé crista, da magia negra à magia branca, em tudo São Cipriano mergulhou, estudou e viveu. Do pecado à virtude, da luxúria à santidade, da riqueza à pobreza, do poder à martirização, se alguém é digno de um percurso de existência completo, rico e enriquecedor, eis que este santo assim o representa.

Controverso e polêmico, São Cipriano é a própria noção de evolução espiritual através da profunda vivência das mais diversas realidades espirituais (do mais profano excesso, à mais sacrificada ascese) encontra corpo na vida e obra deste feiticeiro e mártir.


Os Preto-Velhos da Umbanda representam a força, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade. São um ponto de referência para todos aqueles que necessitam pois curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz. Eles representam a humildade, não têm raiva ou ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no passado. Com seus cachimbos, fala pausada, tranquilidade nos gestos, eles escutam e ajudam aqueles que necessitam, independentes de sua cor, idade, sexo e religião.

Não se pode dizer que em sua totalidade esses espíritos são diretamente os mesmos pretos-velhos da escravidão. Pois, no processo cíclico da reencarnação passaram por muitas vidas anteriores onde foram negros escravos, filósofos, médicos, ricos, pobres, iluminados e outros. Mas, para ajudar aqueles que necessitam, escolheram ou foram escolhidos para voltar à Terra em forma incorporada de preto-velho.

Por isso, se você for falar com um preto-velho, tenha humildade e saiba escutar, não queira milagres ou que ele resolva seus problemas, como em um passe de mágica, entenda que qualquer solução tem o princípio dentro de você mesmo, tenha fé, acredite em você, tenha amor, Amor a Deus e a Você mesmo.

Tenha certeza, assim como a transformação que ocorreu na vida de São Cipriano, os Pretos Velhos transformam a nossa vida se houver Amor.

É incrível o poder que o Amor, e consequentemente nossos queridos Pretos Velhos, tem de transformar as pessoas.

É absolutamente incrível a transformação que os Pretos Velhos são capazes de fazer na vida, no íntimo e no entorno das pessoas. É absurdamente incrível como o amor, simples e puro, é capaz de transformar.

Triste daquele que ainda não sabe amar. Triste daquele que ainda não conhece esse poder. Triste daquele que ainda não foi tocado pelo Amor de um Preto Velho!

“Cada um colherá aquilo que plantou. Se tu plantaste vento colherás tempestade, mas se tu entenderes que com luta o sofrimento pode tornar-se alegria vereis que deveis tomar consciência do que foste teu passado aprendendo com teus erros e visando o crescimento e a felicidade do futuro. Não sejais egoísta, aquilo que te fores ensinado passai aos outros e aquilo que recebeste de graça, de graça tu darás. Porque só no amor, na caridade e na fé é que tu podeis encontrar o teu caminho interior, a luz e DEUS”

Mãe Mônica Caraccio, do blog Minha Umbanda.