Quem são os nossos Guias?
De onde eles vêm?
Para onde eles vão?
Quais são as linhas de trabalho na Umbanda?
Como essas linhas se formaram?
Quem são os meus mentores, os meus Guias, os meus mestres, os meus orientadores, os meus amparadores?.
Quem são os espíritos que trabalham comigo, que me amparam, que me guiam, que me orientam, que incorporam, que entram em contato comigo por meio do processo mediúnico, da clariaudiência, da clarividência, do transe, da possessão, quem são eles na religião de Umbanda?
Quem são os espíritos segundo o Espiritismo?
A obra de Ka rdec explica, a obra de Chico Xavier complementa.
Quem são os espíritos que se manifestam na Umbanda?
São espíritos da mesma forma como explica a obra de Ka rdec, como explica Chico Xavier e outros, os espíritos são gente como a gente, já viveram, já choraram, tiveram família, evoluiram ou não, mas que agora estão no mundo espiritual.
Existem na realidade humana, nós temos o lado material e o lado espiritual, nós somos espíritos passando por uma experiência material, eles são espíritos que já passaram pela experiência material. Alguns desses espíritos ainda vão encarnar outras vezes, outros não vão encarnar mais porque já alcançaram uma condição elevada de ascensão, de evolução.
O que seria evolução?
Desapego, a pessoa desapegada já não sofre as dores desse mundo, a pessoa desapegada, evoluída, ascencionada já não tem mais os nossos traumas, os nossos vícios, os nossos apegos, já não tem tanta necessidade de nascer nesse mundo pra aprender algo. Entre os espíritos que nos acompanham, que nós chamamos de Guias, são os nossos mentores?
No Espiritismo se utiliza muito essa denominação: mentor, o meu mentor, o mentor que incorpora em mim, o mentor que deu a mensagem, no meio espírita é sinônimo de espírito e Guia, aqui nós vamos chamar de Guias espirituais.
E há aquele que é o meu mentor, mas aqui a palavra mentor tem um sentido, nós vamos explicar qual é o sentido dessa palavra: mentor, para nós. Todos os espíritos que nos acompanham de forma ativa ou passiva, ou seja: forma ativa: são os espíritos que me acompanham e incorporam em mim para realizar um trabalho espiritual / forma passiva: os espíritos que me acompanham fazem parte do meu trabalho espiritual, mas não costumam incorporar.
Eles são meus Guias espirituais que tem uma atuação ativa, esses que incorporam; os meus Guias espirituais que tem uma atuação passiva, esses que não incorporam, mas que me acompanham.
São muitos os espíritos que nos acompanham, que nos amparam, que nos guiam, eles formam uma família espiritual, nós temos uma família astral. De onde vem essa família?
Para nós, que cremos que estamos no ciclo reencarnacionista, quer dizer: encarna e desencarna; pra aprender alguma coisa porque o objetivo de encarnar é aprender alguma coisa na matéria.
Eu não podia aprender em espírito?
Para que eu preciso encarnar para aprender?
Porque o corpo biológico, a relação entre o espaço e o tempo que existe no mundo material, nos propicia viver situações que nos obrigam a passar por
experiências fundamentais no nosso processo de aprendizado.
De forma inconsciente, nós somos conduzidos a situações onde vamos viver experiências necessárias para o nosso crescimento de acordo com as nossas necessidades.
Isto quer dizer que você nasceu no planeta necessário para sua evolução, no país necessário para sua evolução, na cidade necessária para sua evolução, na casa, na família, você nasceu com uma condição cultural, social, financeira ideal para o seu crescimento, para sua evolução, para o aprendizado, mas não nasceu para ficar estagnado.
Não fique preso a ideia de que “Essa família é meu karma, essa condição social é o meu karma, essa falta de cultura é o meu karma, essa dificuldade financeira é o meu...”, você nasceu para vencer essas dificuldades, elas foram colocadas para serem vencidas, nós, com as nossas dificuldades interiores, colocamos obstáculos às vezes maiores do que realmente são.
Um corpo biológico me obriga a passar pela experiência de: nascimento, crescimento, envelhecimento e morte, são experiências únicas, você não vive esta experiência no astral, a experiência de nascer e ficar preso no corpo biológico de um bebezinho que depende de todos, de uma criança que depende da vontade do adulto, e um adolescente cheio de hormônios que não sabe o que fazer com isto, de um adulto cheio de insegurança que quer se afirmar, de alguém que quer criar uma identidade e que depois a velhice vai lhe dar a experiência de ser responsável pelos mais novos, de ser aquele que já viveu a experiência e isso é a carne que dá, é a matéria que dá, a gente só vive essa experiência encarnando, a experiência de amar ao próximo como a si mesmo a gente vive principalmente quando tem filhos porque você não consegue amar o próximo como a si mesmo, você não ama o seu vizinho, você não ama o cobrador, de ônibus como si mesmo, você não ama seu professor como a si mesmo, você não ama o conhecido, muito menos um desconhecido, mas o seu filho, carne da sua carne, sangue do seu sangue, olhos dos seus olhos, vida da sua vida, você ama como a si mesmo, é a carne que te dá essa experiência, é encarnando que você tem essa experiência e a primeira experiência é amar a ele como a si mesmo, o ideal é conseguir amar outras pessoas mais.
Na carne temos a experiência de viver e nos relacionar como homem e mulher ou de que forma for desde que duas pessoas se amem e vivenciem a experiência do amor com as dificuldades da matéria.
Isso nos leva a situações que são encruzilhadas na vida e essas encruzilhadas propiciam o crescimento do ser, o seu crescimento como pessoa é um crescimento espiritual porque quando você desencarna isso vai com você..
De onde nós viemos antes de encarnar aqui pra viver essa experiência?
Viemos do astral espiritual, lá nós não estávamos sozinhos, nós fazemos parte de uma família maior, uma família que geralmente vive em grupos que encarnam juntos.
A sua família espiritual quer saber onde você nasceu, como você nasceu, em que condições você nasceu, como fazer para lhe ajudar, entre os nossos parentes espirituais, da nossa família espiritual, algumas pessoas – que são espíritos como nós, mas que não estão encarnados – alguns deles conseguem autorização pra nos acompanhar, pra nos ajudar, pra nos guiar, eles tem autorização pra nos acompanhar.
Quem tem essa autorização?
Aqueles que têm um gabarito maior, uma estatura espiritual, aqueles que têm condição, eles tem outorga, licença, autorização pra vir aqui nos amparar, esses são os nossos Guias espirituais, eles são nossa família espiritual.
É comum que eles tenham afinidade com esse ou aquele seguimento religioso, principalmente com seguimentos – no nosso caso –, os nossos Guias espirituais têm afinidade com seguimentos que deem a oportunidade de comunicação com eles, no caso, a Umbanda.
A Umbanda é uma religião como tantas outras religiões que não é melhor nem pior do que nenhuma outra, mas é uma religião que nos dá a oportunidade de por meio da mediunidade entrar em contato com a nossa família espiritual, com nossos Guias.
Nossos familiares espirituais, antes de a gente encarnar, eles já estavam, boa parte deles, adequados às linhas de trabalho da Umbanda: de Caboclo, Preto Velho, Baiano, Boiadeiro, Marinheiro, então eles já vem nos orientando e se apresentando na forma de um Preto Velho, na forma de Caboclo, na forma de um Baiano, de um Boiadeiro.
Quem são eles? O meu Caboclo, o meu Preto Velho, o meu Baiano, a minha criança, meu, de minha propriedade? Não. Meu, por que é minha posse? Não. Porque você não pode dizer que é seu, ele não é sua propriedade.
Mas, ele é meu Caboclo, o meu Baiano, minha criança, assim como eu tenho o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, o meu filho. O “meu” Caboclo é no sentido: meu querido, meu parente, meu amigo. Quem são eles? São aqueles que me amam, que tem muito amor por mim.
Por isso mesmo eu estando aqui, numa outra realidade, eles param o que eles têm pra fazer no mundo deles, na outra realidade que também é minha, pra vir aqui me orientar, me acompanhar, me conduzir e se possível por meio de mim enquanto médium ajudar o próximo também, esses são os nossos Guias espirituais.
Entendemos que eles são nossos amigos, nossos irmãos, nossos mestres, nossos mentores, nossos amados, nossos queridos, eles são aqueles que nos amam e às vezes não é porque me ama que “passa a mão” em minha cabeça, por quê?
O pai ama o filho e nesse amor está a arte de ensinar.
Às vezes é triste a relação dos pais com os filhos, mas muitas vezes o pai está ali na tentativa de dar o seu melhor, nessa tentativa o pai tem que chamar a atenção, o pai tem que, simbolicamente, “puxar a orelha”, não é?
O pai tem que metaforicamente “dar umas palmadas”.
Às vezes, a postura dura, rígida, aquela postura de um Exu, de um Caboclo, sério, é a postura do pai que está lhe chamando a atenção no momento bem pontual em que ele está ali para dizer: “Não faça besteira, não se entregue a esse vício, não perca seu tempo com essa dor, não sofra de forma desnecessária, não vá por aí, não pule, não procure um atalho, meu filho, vem cá”, com amor e às vezes esse amor se traduz numa postura mais firme, mais rígida que pode ser postura de pai, pode ser postura de mãe, geralmente o pai é a figura forte e a mãe a figura amorosa, mas há mãe que é firme e há pai que é mais amoroso.
Dentro da Umbanda verificamos as linhas de trabalho, por exemplo: Um Caboclo de Oxum é mais doce, já o de Ogum, a postura dele é mais dura, mais rígida e um Caboclo de Xangô vai explicar, vai fundamentar, vai fazer considerações, racionalizar as coisas.
A força que rege a entidade já ajuda a entender o comportamento dela, independente de quem eles são: Caboclo, Preto Velho, Baiano, Boiadeiro, todos são nossa família espiritual que tem autorização de nos orientar, de nos conduzir, de nos acompanhar, de nos amparar e em relação a nós eles assumem posturas e posicionamentos diferentes com relação a nossa missão.
Todos nós temos um Guia, todos nós médiuns de Umbanda temos um Guia que é um Guia chefe, temos uma entidade que é aquela que está de frente e temos um mentor. Então aqui a palavra – todos eles são Guias – mas, a palavra mentor: diz respeito à postura de uma entidade em relação a nós, a forma que uma entidade tem de nos conduzir.
Quem é o meu Guia de frente?
É aquele que em quase todas as situações, na maioria das questões e dos problemas está à frente.
O Guia de frente é a entidade mais presente no meu trabalho mediúnico, na minha vida mediúnica, este que está mais presente eu chamo de: Guia de frente. Isso fica mais visível – dentro de um Terreiro de Umbanda quando a gente observa o dirigente do Terreiro.
Quando nós temos um Terreiro de Umbanda e naquele Terreiro o dirigente espiritual trabalha bastante com Baiano pode ser porque ele tenha Baiano de frente, a entidade que está de frente é aquela que incorpora mais. Então, se esse dirigente trabalha muito com Boiadeiro, o Boiadeiro pode ser a entidade de frente.
Se ele trabalha muito com Caboclo, Caboclo pode ser a entidade de frente porque é comum a pessoa ter a tendência de trabalhar muito mais vezes incorporado com o seu Guia de frente.
E quando não, há médiuns de umbanda que trabalham sozinhos que praticamente trabalham apenas com uma entidade, há médiuns que atendem somente com Preto Velho, apenas com Caboclo, geralmente esse é o Guia de frente, aquele que é mais presente, que mais incorpora.
Esta é uma explicação simples porque isso é uma coisa simples, não se deve complicar. O que quer dizer Guia de frente? É esse que está sempre à sua frente, que é mais presente. Quando as pessoas olham pra você, o Guia de frente é a primeira entidade que ela vê. Mas, observação – olhe lá: Isso não tem nada a ver com quem é a primeira entidade que incorpora no seu desenvolvimento mediúnico.
As pessoas questionam muito isso: “Ah, o meu Guia de frente é o primeiro a incorporar no desenvolvimento mediúnico?”. Não. Quem é a primeira entidade que incorpora no desenvolvimento mediúnico? É aquela que consegue, não tem nada a ver se ele está de frente, se ele é chefe, se ele é isso ou se ele é aquilo.
Quem é o primeiro a incorporar no meu desenvolvimento? O primeiro que conseguir, aquele que você conseguir relaxar, ficar tranquilo e dar passividade.
As pessoas dizem: “Ah é ruim durante o desenvolvimento mediúnico, a primeira incorporação ser uma incorporação de Exu?”. Não. Não é ruim, não tem problema nenhum, é até algo muito comum.
E se a minha primeira incorporação for de Exu Mirim, Pombagira, a minha primeira incorporação for de Caboclo, quer dizer que o Caboclo é o mais forte, o mais atuante? Não. Quer dizer apenas que naquele momento você se sentiu mais a vontade, mais tranquilo, mais relaxado, aquela entidade conseguiu, naquele momento, se manifestar e ponto final.
Então, o que está de frente é aquele que depois que você já desenvolvido, depois que você já se descobre médium atuante, é aquele que vai se manifestar mais do que os outros. O chefe: Guia chefe, quem é? Chefe é quem manda, não é assim?
Chefe é quem manda, mais uma vez é mais fácil de identificar quem é o Guia chefe observando o comportamento do dirigente. Então, quando você está dentro do Terreiro e lá naquele Terreiro, quando tem que dar uma palavra final, quando tem que resolver uma situação, de quem é a palavra final? É do Caboclo.
Geralmente é do Caboclo ou do Preto Velho, mas pode ser de outra entidade.
Essa entidade que manda, que entre todas as entidades que incorpora é aquela que tem maior poder de decisão, de mandar, que quando você
pergunta para o Baiano: “Baiano, nós vamos fazer festa de Yemanjá esse ano?” daí o Baiano fala: “Vamos, perguntar para o Caboclo porque é ele quem manda aqui”, quem manda, quem dá ordem, quem manda abrir, quem manda fechar, quem manda buscar, quem manda trazer, quem resolve as coisas é o Caboclo, então ele é o Guia chefe. Há Terreiro que o Guia chefe é o Baiano.
O Guia de frente pode ser Guia chefe? Pode. Então, pode acontecer do Guia de frente ser também o Guia chefe? Sim, pode acontecer, não tem problema nenhum.
Quem é o mentor?
O mentor é uma entidade que raramente incorpora, a palavra vem de mente – mente, cabeça, cérebro – mentor – lembre-se da palavra: o mentor intelectual, aquele que coordena, aquele que organiza, aquele que está comandando, esse é o mentor.
O trabalho de incorporação mediúnica é um trabalho braçal, é um trabalho operativo, não é fácil incorporar porque várias vezes você não tomou banho de erva, não acendeu vela para o Anjo da Guarda, você às vezes não está com uma energia boa, às vezes você não comeu, não tem uma alimentação adequada e há de se incorporar o Caboclo, há de se incorporar o Preto Velho, Exu, Baiano, Boiadeiro, é um trabalho operativo, é um trabalho braçal, a incorporação é operacional.
O trabalho do mentor é intelectual, é mental, ele está mentalmente comandando. Agora, é possível saber quem é o meu mentor? É possível saber se você fizer um trabalho para isso ou ele se apresentar espontaneamente a você.
O mentor é uma entidade que nunca ou quase nunca incorpora, geralmente ele costuma se apresentar como Caboclo, ele pode se apresentar como Caboclo de Ogum, de Oxóssi, de Oxalá, de Xangô, de Yemanjá, de qualquer Orixá, é um mentor e ele dá nome como Caboclo de Ogum Rompe Mato, Caboclo Pena Branca, Caboclo... e tem médium que o Caboclo Pena Branca é mentor, que o Caboclo Cobra Coral é o Guia de frente, é o Guia chefe e o outro tem o Caboclo Pena Branca como Guia de frente, então, não tem nada a ver com nome, não tem uma classe de nomes de espíritos mentores, uma classe de nomes de espíritos que são Guias chefes.
Qualquer entidade com qualquer nome pode ser chefe, pode ser mentor, é assim. Mas, o mentor é aquele que coordena o trabalho do astral, é uma entidade de Umbanda também, é um Guia.
Quais são as linhas de trabalho na Umbanda?
São as linhas de: Caboclo, Preto Velho, criança, Exu, Pombagira, Exu Mirim, Baiano, Boiadeiro, Marinheiro, Cigano, Povo do Oriente e outras linhas mais que vão surgindo ao longo do tempo, como está surgindo aí uma linha de Malandro, há umas linhas paralelas, como linhas paralelas são entidades que tem um perfil como na linha de Marinheiro.
Dentro da linha de Marinheiro tem também uma linhagem de Pescador, tem uma linhagem de Pirata; dentro da linha de Baiano - em paralelo com a linha de Baiano – tem uma linha de Cangaceiro ou um povo Cangaceiro que vem na linha de Baiano ou que vem por uma chamada de Cangaceiro e outros estão chegando como a linha de Malandro e outras mais.
Na Umbanda os espíritos se manifestam a partir de arquétipos.
O que é um arquétipo?
Arqué: vem de modelo, de forma, ou seja, são espíritos que assumem um modelo, um jeito de ser, assumem arquétipos.
Arquétipo é aquilo que lhe dá um perfil, que lhe dá uma identidade, que lhe dá uma forma de apresentação, lhe dá uma qualidade então, você tem o arquétipo do Caboclo.
Qual é o arquétipo do Caboclo?
É o arquétipo do índio, do guerreiro, do forte.
Qual é o arquétipo do Preto Velho?
É o arquétipo do ancião, do negro escravo.
Qual o arquétipo da criança?
É aquele arquétipo infantil, da pureza, da docilidade.
Qual o arquétipo do Exu?
Daquele forte, que lida com a nossa negatividade, com a nossa sombra, são arquétipos.
A gente tem o arquétipo de Oxalá, qual é o arquétipo de Pai Oxalá?
Ele se manifesta nos filhos de Oxalá, é aquele arquétipo da fé, da esperança, da compaixão, o arquétipo de quem lida com isso.
Qual o arquétipo de Ogum?
É o arquétipo do guerreiro.
De Yansã? Da guerreira. O arquétipo de Xangô? Do homem racional, da racionalização, da justiça, são arquétipos. Então, na Umbanda nós não trabalhamos apenas com espíritos.
Na Umbanda, nós trabalhamos com Guias espirituais que se manifestam por meio de arquétipos, Guias espirituais que assumem papel, assumem um arquétipo, que assumem uma forma de se apresentar, inclusive que adotam uma forma plasmada, uma linguagem corporal, emocional, física, espiritual, psicológica, que traz um arquétipo. Então, por isso eles se apresentam como Caboclo, Preto Velho, Baiano, Boiadeiro, são arquétipos.
No momento em que um espírito se apresenta como Caboclo, e se pergunta a ele: “Qual o seu nome, meu pai?”, “Eu sou o Caboclo da Mata Virgem”, “Qual o seu nome, meu pai?”, “Caboclo Sete Montanhas”, “Caboclos das Matas”, “Caboclo da Fecha Dourada”, “Caboclo da Fecha Ligeira”, “Caboclo da Fecha Vermelha”, “Caboclo da Fecha Roxa”, “da Pena Roxa”, “da Pedra Roxa”, “da Pedra Branca”, “da Pena Branca”, “da Pena Dourada”, isso não é nome.
Isso não é um nome de batismo, ele não teve esse nome em alguma encarnação, veja bem, isso não é nome pessoal como: Alexandre, Pedro, Paulo, Maria, José - “Ah mas tem os Pretos Velhos”, nós vamos chegar lá, estamos falando agora do Caboclo – então, não é um nome pessoal, é um nome simbólico.
Por que é que ele é um Caboclo Sete Montanhas?
Porque ele é um Caboclo de Xangô.
Por que ele é um Caboclo das Matas? Porque ele é um Caboclo de Oxóssi. Por que ele é um Caboclo Ventania? Porque ele é um Caboclo de Yansã. Por que ele é um Caboclo Tupã? Porque ele é Caboclo de Oxalá. Por que é que ele é um Caboclo da Pedra Preta? Porque ele é um Caboclo de Oxum com Omulu ou Pedra Preta de Xangô porque ele é um Caboclo de Xangô.
O nome é simbólico, no momento que um Caboclo deu o nome simbólico, isso não é um nome pessoal, é um nome hierárquico, é um nome que revela a força que ele trabalha, mas não revela personalidade. Então, não existe na Umbanda um culto a personalidade, você não cultua a personalidade de quem é aquele Caboclo.
Você não está cultuando a identidade como, por exemplo, no caso de um santo Católico, você está ali louvando quem foi em vida São Sebastião. No caso do Caboclo, não importa quem ele foi, não importa a sua identidade pessoal, não há culto, nem louvor a personalidade, isso é a morte do ego.
Nossos Caboclos são anônimos, você não sabe quem é o seu Caboclo, você só sabe que ele deu o nome de Pantera Negra, ele deu o nome de Araribóia, de Aymoré, de Urubatão, de Ubirajara, de Icaraí, ele deu o nome de Sete Fechas, ele deu o nome de Rompe Mato, ele deu o nome de Caboclo Urutu, ele deu o nome simbólico e você não sabe quem é ele, nesse momento ele é um anônimo e isso é lindo, isso é encantador.
São milhares de Caboclos Urubatão, Ubirajara, milhares de Pena Branca, Pena Amarela, Pena Roxa, Pena Vermelha, Sete Penas, milhares de anônimos trabalhando em nome de uma força, de uma hierarquia.
Quando todos respondem pelo mesmo nome quer dizer que eles trabalham juntos, fazem parte de um mesmo grupo, de uma mesma hierarquia. Assim como na polícia, no exército, no corpo de bombeiro e em muitos outros setores em que não importa quem é a pessoa, mas o que ela está realizando naquele momento, é isso que fazem os Guias de Umbanda.
Nós não recebemos apenas espíritos, recebemos e trabalhamos com espíritos que se apresentam em hierarquias, nas quais o seu nome é um nome simbólico, não é o nome de uma identidade, por isso muitas vezes é sem sentido ficar querendo saber qual é a história desse Caboclo, quem foi o meu Caboclo, onde ele viveu, muitas vezes isso é sem sentido, saiba: ele é da sua família espiritual, ele lhe ama, ele tem uma história com você, mas não necessariamente como índio.
E isso fica muito claro desde a primeira manifestação de uma entidade dentro do contexto de Umbanda que veio para anunciar uma nova religião no dia 15 de novembro de 1908 Zélio de Moraes incorporou um espírito e alguém perguntou para aquele espírito: “Qual é o seu nome?”, ele respondeu “Se eu preciso ter um nome...”, ou seja, já que você precisa de um nome pra me chamar, já que você quer que eu tenha um nome pra me identificar, já que é tão importante eu dar o meu nome, “... chame-me Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”, ali ele já deu a letra, sete são os caminhos de Umbanda, cada caminho uma encruzilhada “...chame-me Caboclo das Sete Encruzilhadas” e alguém disse “Mas, eu estou lhe vendo. Você diz que é um Caboclo – Caboclo quer dizer que é um simples – você diz que é um Caboclo, mas eu estou lhe vendo em vestes clericais – vestes da igreja Católica, como um europeu – ele diz: “É porque eu fui Frei Gabriel de Malagrida” - ou de Malágrida – “Mas, quero me apresentar como um Caboclo”, como um simples, “E numa encarnação eu fui índio nessa Terra e como índio eu quero vir”, mesmo que ele tenha vivido como índio, se ele desse nome de índio, esse nome viria na língua Tupi, na língua Guarani, na língua do Macro-jê, em alguma língua indígena, não ele deu nome em português: Caboclo das Sete Encruzilhadas, um nome simbólico, então ali nasce a ideia de falange, de hierarquia.
Embora hoje em dia ninguém quase trabalhe com Caboclo que dê nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas porque para nós Caboclo das Sete Encruzilhadas é aquele que fundou a Umbanda.
Antes dele não tinha incorporação de índio, de Caboclo? Sim, tinha. Mas, não pra fundar uma religião com estrutura, dentro de uma hierarquia Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Nossos Guias têm uma forma de apresentação simbólica, hierárquica, na qual eles são anônimos da própria identidade e que apresentam um nome de trabalho, um nome simbólico que revela ou oculta.
Às vezes o nome revela, geralmente os nomes de Caboclo e de Exu são nomes que revelam o mistério, os nomes de Preto Velho, de Baiano, de Marinheiro, de Boiadeiro às vezes ocultam o mistério: “Eu sou Pai João”, você não sabe, a não ser que ele diga “Eu sou Pai João do Cruzeiro”, cruzeiro é de Obaluayê; “Eu sou Pai João das Almas”, também é de Obaluayê; “Sou Pai João da Cachoeira”, cachoeira é de Oxum; “Sou Pai João do Mar”, mar é de Yemanjá; mas se fala “Sou Pai João” você não sabe muito bem, o nome não é um nome revelador.
Mas, também não é o nome dele, mesmo assim é um nome que oculta, porque não há culto a personalidade, não adianta ficar buscando em livros quem foi o seu Caboclo, o seu Preto Velho, poucos Caboclos tem nome de alguma entidade, mas de algum índio que foi conhecido.
Annapon
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino -)