quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Oxalá, Orixalá, Obatalá - Jesus Cristo - Mecanismos da Fé

Existe apenas um único Deus que é pai e mãe, criador e criadora de tudo e de todos: “Olorum”.

O nome  “Olorum” – Olo/ Orum quer dizer “O senhor do Orum”, Orum é todo o mundo que não é material.

 “Olodumare” é o “Senhor supremo dos nossos destinos”, “Zambi” é “O Poderoso”.

Na mitologia Nagô Yorubá: Olorum é o criador dos Orixás ou o pai dos Orixás.

Oxalá é um Orixá criador, mas ele não é o criador dos mundos que é Olorum.

 Oxalá é criador dentro da sua posição, do seu status de co-criador com relação a Deus tanto que Oxalá, é o Orixá modelador, é ele quem modela os seres, os mundos, as dimensões e as realidades, ele é também modelador.

 No momento em que Oxalá cria o homem a partir do barro, no mito Oxalá cria, mas quem dá a vida é Olorum – não fazer confusão entre “Oxalá” e “Olorum – como todos os outros Orixás, Oxalá tem origem cultural Nagô Yorubá.

O nome Oxalá está na língua Yorubá e a origem desse nome vem de “Orixá N’ti Alá”, que quer dizer o “Orixá que se veste de branco” – “Alá” quer dizer branco - Depois, o nome foi se contraindo pra “Orixá N’lá”, depois se tornou “Orixalá” quer dizer o “Orixá que se veste de branco”.

 Algumas pessoas traduzem “Orixalá” como o “Maior dos Orixás”. Oxalá, é considerado o maior dos Orixás, mas o nome “Oxalá” quer dizer: o Orixá que se veste de branco. Oxalá também é conhecido como “Obatalá” – “Obá” quer dizer o rei, “talá” também vem de “N’Alá” – então, Obatalá quer dizer: o rei que se veste de branco.

Tanto Oxalá quanto Obatalá são nomes para o mesmo Orixá que é o “Trono Masculino da Fé” – nosso Pai Oxalá – que tem sincretismo com Jesus Cristo. Oxalá é o maior dos Orixás e Jesus Cristo está acima de todos os Santos, porque Oxalá é o Orixá do branco que se veste de branco e Jesus sempre aparece de branco.

 Oxalá é o Orixá do sentido da fé e Jesus é o próprio sentido de fé para a vida dos cristãos, no entanto, no Catolicismo, Jesus Cristo é a segunda pessoa da Trindade: Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, então, o “Pai”, o “Filho” e o “Espírito Santo” são ao mesmo tempo uma única pessoa que é: Deus. No sincretismo de Jesus com Oxalá não devemos trazer o conceito de que Jesus é Deus porque esse conceito é Católico. Por exemplo, os Espíritas crêem em Jesus como um grande mestre da humanidade, um espírito mais velho, coordenador do Planeta, etc., mas, não vêem Jesus como Deus.

 O Mulçumano vê Jesus como um profeta. As pessoas que seguem a linhagem dos mestres ascensionados vêem Jesus como mestre ascencionado,  aqueles que chegam à Umbanda, cada um vem de um seguimento, mas as pessoas que vem do Catolicismo pra Umbanda costumam associar Oxalá a Deus porque no momento que faz sincretismo de Oxalá com Jesus, eles trazem o conceito da sua religião anterior, o Catolicismo, de que Jesus é Deus, então, se Oxalá é Jesus logo Oxalá deve ser Deus. Esse é o ponto: Deus é Olorum. Oxalá é o maior dos Orixás, é um Orixá, é o Orixá da “fé”, do “branco”.

Oxalá é um Orixá que tem peculiaridades incríveis, Oxalá é um Orixá que traz em si não apenas a individualização da fé, mas uma individualização do criador em todos os seus sentidos, o que o faz como o Orixá do elemento cristalino que é a pureza de tudo que existe.

 Oxalá é o magnetismo, ele é o magnetizador.

Oxalá é cristalino, simbolizado por um cristal. Mas, o cristal também é um mineral. Então, como fica Oxalá cristalino e Oxum mineral? É porque o cristalino de Oxalá que é simbolizado pelos cristais é a pureza de tudo que existe. Oxum tem ponto de força na cachoeira, Oxóssi nas matas, Xangô nas montanhas, Ogum nos caminhos, Iansã nas pedreiras, Nanã nos lagos, Obaluaiyê no campo santo, Iemanjá no mar, o ponto de força de “Oxalá” é o “mundo”, todo o mundo pertence a Oxalá.

Oxalá não tem um lugar que seja o seu ponto de força. No entanto, quando se faz oferenda a Oxalá às vezes se escolhe ir a um mirante, não porque ali é seu ponto de força. É porque de cima de um mirante, assim como Cristo Redentor acima da cidade do Rio de Janeiro e lá está um Cristo que representa Oxalá para nós, desse ponto que é o ponto mais alto de uma cidade, você pode ver o globo, você pode ver o “mundo”. Quando a gente se coloca nesse lugar, no alto de um mirante, você olha para o mundo lá embaixo e, se naquele lugar você silenciar sua mente, você vai ser levado a um estado de contemplação, a um estado de interiorização, de introspecção.

Oxalá e o Orixá que traz a paz, a harmonia, a tranquilidade, serenidade e é também o Orixá do perdão. Então, pra todas essas qualidades, pra todos esses atributos e atribuições a gente busca Oxalá.

Essas são razões para se ir ao encontro de Oxalá, pedir a presença de Oxalá na sua vida. Oxalá é o próprio espaço, não apenas o Planeta, mas Oxalá é o próprio espaço onde tudo existe.

No sincretismo a gente observa que se Oxalá sincretiza com Jesus não é à toa, é porque Jesus Cristo e Oxalá possuem as mesmas qualidades. Jesus está no campo de Oxalá, costumamos dizer que Jesus Cristo é um Oxalá intermediário, portador da “fé” e do “amor”.

Assim como Buda, ele é um Oxalá intermediário, portador da “fé” e do “conhecimento”. Assim como Mohamed é um Oxalá intermediário, portador da “fé” e da “lei”. Moisés foi um Oxalá intermediário, portador da “fé” e da “justiça”.

Intermediários são seres humanos que alcançaram um nível, um grau que a gente chama de Orixá intermediário ou de intermediador, são seres que chegam ao mesmo nível daquele Orixá de segundo ou terceiro nível. Mas, o Pai Oxalá maior está acima de qualquer concepção humana, está acima de qualquer comparação com aquele que pode encarnar.

Jesus pode ser visto como um avatar dependendo da cultura e da religião. Mas, aqui a nossa interpretação é Umbandista, é a partir da Umbanda. Qual é o olhar que a Umbanda tem para Jesus?

O olhar da Umbanda é: de ver Jesus como um mestre, ver Jesus como um ascencionado, ver Jesus como aquele que traz e representa as qualidades de Oxalá. Por estar no sentido da “fé”, a “fé” é o primeiro e o mais importante dos sete sentidos, então, num altar Oxalá sincretizado na imagem de Jesus Cristo fica no topo, no alto do altar porque é lá, no topo, que nós devemos colocar a nossa “fé” para logo embaixo colocar o “amor” e na sequencia os outros cinco sentidos.

Existe uma Gênese Nagô Yorubá que serve pra gente também em alguns aspectos, desde que se faça uma leitura Umbandista do mito Nagô – leitura Umbandista é o que nós fizemos quando falamos de Oxalá, da criação, de Olorum.

Existe um livro do Rubens chamado “Lendas da Criação”, nesse título o Rubens psicografou algumas lendas sobre o ponto de vista estritamente Umbandista pra interpretar e entender um pouco melhor os Orixás.

Ali existem lendas da gênese, da origem dos Orixás e de Oxalá, bem interessante. A abordagem fala que no início dos tempos quando não havia tempo, quando não existia o espaço, nada, a única coisa que existia era Deus/ Olorum.

 Então, Olorum imaginou a criação, Olorum realizou a criação no seu íntimo, no seu âmago e a partir do momento em que Ele começou a idealizar, a pensar, a criação, surgiu uma separação entre o interno de Olorum e externo de Olorum.

Nesse momento, no âmago de Olorum antes mesmo de que o externo fosse criado, existe algo como uma matriz geradora. E essa matriz gera tudo e todos a partir do pensamento de Olorum. Então, na matriz geradora, no interno de Olorum, ali naquela matriz foi gerado o Orixá Oxalá e ele foi gerado na matriz geradora das matrizes geradoras.

Numa matriz primeira, Olorum gerou as matrizes geradoras dos outros Orixás.

Na matriz geradora do amor surgiu Oxum, na matriz geradora do conhecimento surgiu Oxóssi, na matriz geradora da justiça, surgiu Xangô. É uma maneira de colocar em palavras o que não dá para ser explicado de outra forma. Mas, na matriz geradora de todas as matrizes surgiu Oxalá, então, ela é uma individualização, Oxalá é uma individualização do criador de todos os seus sentidos e “senhor do sentido primeiro” que é o “sentido da fé”.

 Oxalá é o primeiro Orixá criado no âmago mais profundo e interno do próprio Olorum: Oxalá primeiro Orixá criado. Depois do surgimento de Oxalá, essa matriz que gerou Oxalá gerou as outras matrizes que geraram os outros Orixás. Isso é uma linguagem, isso não é um fato histórico, isso é uma lenda, é uma linguagem, uma forma de fazer com que a gente pense sobre essas questões.

Oxalá é criado a partir do próprio ato de pensar do Criador, o Criador pensa a geração e as coisas se criam, surgem e Sua primeira criação é Oxalá. Depois, Ele idealiza e pensa os mundos, a criação para além Dele mesmo, então, surge essa separação da realidade interna de Olorum e da realidade externa, essa realidade externa que naquele momento se torna um vazio.

Nota: A espiritualidade sempre nos diz que nosso pensamento cria, assim como descrito acima. Se formos à imagem e semelhança de Deus, nosso pensamento cria a nossa realidade interna e externa. Nossos pensamentos têm forma, tornam-se reais. Por isso todo o cuidado é pouco no pensar.

 No interno de Olorum estavam todos os Orixás sendo criados e no lado externo o que existia era um vazio. E para tomar conta do vazio, para ser o Orixá regente do vazio Olorum externou o “Orixá Exu”.

O Orixá Exu é o primeiro dos Orixás na criação. Oxalá é o primeiro Orixá criado por Olorum na sua realidade interna. Mas, o primeiro a ser exteriorizado é Exu.

 Por isso tudo começa com Exu que é o “senhor do vazio”, aquele que é o guardião do vazio, o regente do vazio.

Logo depois que Exu assume o vazio, Oxalá será o primeiro Orixá a ocupar o vazio, depois da saída de Exu.

Diz a lenda que Oxalá sai do lado interno de Olorum para o externo dando sete passos e a cada passo que Oxalá dá, ele se ajoelha, abaixa, faz o sinal da cruz no chão e se levanta.

Ele fez isso no primeiro passo, no segundo passo ele cruzou o chão se levantou e já não conseguiu ficar tão ereto quanto estava antes, no segundo, no terceiro, no quarto, no quinto, no sexto, no sétimo passo Oxalá já não se levantava tanto, já apresentava uma aparência, uma forma curvada de velho, de ser o mais velho, o primeiro Orixá criado.

Logo atrás de Oxalá vem Ogum seguindo os passos de Oxalá. Ogum viu Oxalá saindo e ele segue os passos de Oxalá e logo que Ogum sai, Exu aparece do lado de Ogum quando Ogum cruza o chão na frente, na direita e na esquerda ele encontra Exu. Exu lhe cumprimenta e lhe pergunta: “Onde você está indo?”, ele diz: “Eu estou na direção de Oxalá, seguindo os passos de Oxalá”. Oxalá é o primeiro Orixá a ocupar o vazio, então, ele é o Orixá da plenitude, ele é senhor do espaço, antes dele tudo era vazio e Oxalá leva plenitude pra que as realidades possam existir pra que os mundos existam.

Essa é uma forma de dizer que “Oxalá é o senhor do espaço”, por isso ele faz par com uma mãe Orixá feminina que se chama Logunan - Logunan é o tempo e Oxalá é o espaço, por isso ele está em todos os lugares, por isso também ele está em todos os lugares e o seu cajado, o “Pachoro” ou “Opachoro” é como se fosse o eixo dos mundos, Oxalá anda carregando esse “Opachoro”.

A partir de Oxalá surgem muitos outros “Oxalás”, nós dizemos assim: “Orixás intermediários”, então, nós temos: Pai Oxalá Maior e sete intermediários, ou seja, aqueles que representam Oxalá para o domínio dos outros Orixás.

Temos “Oxalá Maior” que é uma consciência universal que ocupa todo universo, todo o cosmos, é uma presença que envolve o Planeta como uma tela planetária com suas vibrações, com suas irradiações, é uma força, um poder e é um ser, um ser multiplanetário, um ser supremo no mistério da fé, ele é Oxalá o Orixá Maior e abaixo dele vem sete Orixás intermediários que são: Oxalá da fé, Oxalá do amor, Oxalá do conhecimento, Oxalá da justiça, Oxalá da lei, Oxalá da evolução e Oxalá da geração.

 “Oxalá da fé” é aquele que trata as questões da fé ou da crença, da esperança. Atributos de Oxalá: congregador, ele congrega as pessoas. O que é congregar? Congregar é juntar, é unir por um ideal – diferente de “agregar”, agregar é apenas juntar – “congregar” é juntar por um ideal. “Pai Oxalá Maior” é congregador, “Oxalá da fé” é congregador para o campo da fé, “Oxalá do amor” é congregador para o campo do amor, ele congrega, ele une, ele magnetiza, ele envolve.

Depois temos “Oxalá do conhecimento” congregador para o conhecimento, “Oxalá da justiça” congregador da justiça, “Oxalá da lei” congregador para a lei, ele também é magnetizador, envolve as pessoas, essa energia magnetizadora se faz presente nos filhos de Oxalá. E aqui a gente deve se lembrar de dois Oxalás que são muito conhecidos na cultura Nagô Yorubá que é “Oxaguian” e “Oxalufan”. Oxaguian é um dos sete Oxalás, Oxalufan é um dos sete Oxalás, ou melhor, são chamados de “Oxaguian” todos aqueles Oxalás que são jovens, é chamado de “Oxalufan” todos os Oxalás que são velhos.

Existem muitos outros Oxalás além de Oxaguian e Oxalufan, pra cada um dos sete intermediários existem mais sete intermediadores, então, só aí nós temos sete intermediários e quarenta e nove intermediadores.

É importante que se faça leitura sobre esse assunto, que se reflita pra entender o que é um Orixá Maior, o que é um Orixá intermediário, o que é um Orixá intermediador porque na religião de Umbanda, em alguns Terreiros, nós incorporamos os Orixás, mas ninguém incorpora o Orixá Maior, o Orixá Maior não incorpora em ninguém e aí tem livros e títulos que dizem “Orixá não incorpora em ninguém”, realmente não incorpora o Orixá Maior.

Pai Oxalá não abandona a criação para incorporar em alguém, mas existem bilhões e bilhões de seres que são naturais ou encantados de Oxalá que vivem em realidades paralelas e esses sim incorporam. Em alguns Terreiros se incorpora Oxum, se incorpora Iemanjá, Ogum, Xangô, mas Oxalá não incorpora.

 Oxalá é Orixá assim como todos os outros, então, se os outros Orixás têm os seus encantados, os seus naturais que incorporam os encantados, os naturais de Oxalá também incorporam e são diferentes de Caboclo de Oxalá porque o Orixá quando incorpora ele não fala, não dá consulta, nem nada, só vem trazer o seu axé, esta é a incorporação de Oxalá que se vê na Umbanda, que se vê no Candomblé, mas a incorporação na Umbanda é diferente da incorporação do Candomblé porque são religiões diferentes.

Por que incorporar um Orixá?

Porque quando o Orixá está incorporado você e ele passam a ser um. No momento da incorporação, do transe, existe uma união mística do filho com o seu Orixá, é uma união, uma força, um encontro de energias, o mais perto que você chega de um Orixá é incorporá-lo.

A incorporação de Orixá é um fundamento da religião que nem todos Terreiros realizam, há Terreiros que não se incorpora Orixá. E é algo que deve ser explicado porque incorporação de um Caboclo de Ogum é diferente da incorporação de Ogum. A incorporação de Oxalá é diferente da incorporação de uma entidade na força de Oxalá.

O mais velho é Oxalá que foi o primeiro a ser criado, o primeiro a ser gerado, mas o primeiro a ser exteriorizado foi Exu. Então, Exu sempre está adiantado com relação a todos os outros Orixás e Oxalá é quem preenche o vazio, o vazio da criação e o vazio existencial.

O vazio existencial se dá quando a pessoa não vê sentido para sua vida, então, pra isso foi criado essa palavra chamada “vazio existencial” que é o que existe na vida de algumas pessoas que não vêem porque continuarem vivas, não entende pra quê que estão encarnadas, é um vazio de sentido e esse vazio de sentido é preenchido quando existe a presença de Oxalá que é o Orixá da plenitude, Oxalá nos faz sentir plenos em relação a vida, a criação, aos questionamentos, as dúvidas, ao sofrimento, as nossas dores porque ele é o Orixá da fé, da esperança, da paz, da harmonia, é isso que a gente busca em Oxalá.

A sua cor é branca, toda e qualquer pessoa, não importa qual a religião, não importa qual a cultura, não importa qual a língua, não importa nada, qualquer ser humano pode pegar uma vela branca e oferecer a Oxalá, pedir que ele lhe ajude e lhe ampare em qualquer lugar: acenda uma vela branca, ofereça a Deus, a Sua lei maior, a Sua justiça divina, ofereça essa vela pra Oxalá, você está acendendo essa vela pra você mesmo ou pra alguém que você conhece, se a pessoa precisa de muita ajuda, acenda uma vela de sete dias e coloque o nome embaixo da vela e sinta a ligação que se dá com o Orixá e a força, o poder dele envolvendo sua vida.

Onde existe “fé” existe “Oxalá”, não importa qual a religião, não importa qual o seguimento, ele é a própria fé, a manifestação da fé, ele é o Pai e Senhor da fé a fé que transforma a fé que cura, a fé que nos muda, a fé que salva, a fé que perdoa.

A gente falou de sincretismo de Oxalá com Jesus e dentro do Cristianismo existe um conceito de que Jesus foi para a cruz para perdoar os nossos pecados, é um conceito Cristão, esse conceito fala que “O sangue de Jesus é que perdoa todos os pecados da humanidade.

 Isso é um conceito Teológico do Judaísmo, segundo o Velho Testamento, está em “Levíticos”, em “Êxodo”, você pode conferir que ali naquela cultura Judaica, quando alguém cometia um erro ou pecado, essa pessoa realizava o sacrifício do animal, dava a vida de um animal, cortava esse animal, depois fazia uma oferenda com esse animal para espiar os seus pecados, daí vem o termo de “bode expiatório” – “espiar” os pecados, assim era perdoado pelo fato de estar fazendo uma oferenda animal.

No Cristianismo não se faz oferenda animal é por isso que se diz que a Umbanda é muito Cristã por não fazer oferenda animal. No Cristianismo não há o sacrifício animal porque o fundamento Teológico pra isso é: não se faz sacrifício animal porque o último sacrificado, auto sacrificado que se entregou e que foi pra cruz, é o último cordeiro sacrificado por isso ele é o “cordeiro de Deus”, porque ele se sacrificou em nome da humanidade: Jesus Cristo.

O ponto crucial do Cristianismo é a “Paixão de Cristo”, o momento em que ele “ressuscita”, ali está o mistério maior do Cristianismo que é sempre evocado, durante as missas, é o mistério maior do Cristianismo no qual, o Católico faz um encontro místico com a carne, com Cristo, por meio da carne e do sangue de Jesus.

 Não se derrama mais sangue animal, por quê?

Porque por meio da missa, o mistério maior se transforma numa operação mágica religiosa “o pão se transforma em carne”, “o vinho se transforma em sangue”, você tem a “carne” e o “sangue” de Jesus na missa onde come a “carne” e bebe o “sangue” de Jesus.
Metaforicamente, uma antropofagia sagrada, metaforicamente falando para promover o encontro, a união mística do adepto consagrado, o objeto do sagrado que é Jesus Cristo.

A Umbanda é Cristã, ela não faz sacrifício animal, mas também não realiza a missa porque isso é um fundamento Católico. No entanto, a Umbanda crê e tem como fato de que Oxalá enquanto Orixá deste mistério da fé é o Orixá que perdoa.

Assim como no Cristianismo, por meio de Cristo, os pecados são perdoados, na Umbanda nós não acreditamos em pecado no sentido Teológico da palavra em que “pecado” é algo que ofende a Deus, machuca a Deus, que desagrada a Deus. Nós acreditamos que os nossos erros, as nossas falhas encontram o perdão no mistério de Oxalá, mas esse perdão não é exatamente o perdão por algo que eu fiz que ofendesse a Deus porque Deus e os Orixás nos vêem como um adulto olha para uma criança, todos os nossos erros, todas as nossas falhas perante os Orixás são “comportamentos infantis”.

Quando eu faço algo errado que me pesa na consciência, isso foi um ato infantil e de imaturidade, mas é justamente por isso que a gente nasce nesse mundo porque se nós já fôssemos maduros o suficiente pra não errar mais, ou
seja, se a gente já soubesse lidar com o livre arbítrio não precisava nascer nesse mundo.

Se a gente nasce nesse mundo é pra errar e a gente vai errar.
Que peso tem os nossos erros se basta pedir perdão pra ser perdoado? A questão é: o perdão só acontece de fato quando existe arrependimento sincero, quando não há arrependimento, quando o perdão acontece só da boca pra fora, nada se altera.

 O perdão de fato é a transformação do ser, é tirar de dentro de você aquele sentimento negativo que o levou a cometer algo ruim ou algo errado pra você ou para o seu semelhante, algo que machuca que engana que dói e etc.

Às vezes, se diz que “Oxalá perdoa castigando, castiga perdoando”.

Isso não quer dizer que Deus castiga ou que o Orixá castiga, mas, vamos supor que eu chego ao Terreiro de Umbanda e estou extremamente arrependido porque fiz algo que machucou alguém ou machucou a mim mesmo, por exemplo: que estou arrependido por ter usado muita droga, ter perdido boa parte da minha vida me drogando e isso gerou um atraso de vida em mim e às vezes por causa da droga a pessoa acabou cometendo outras coisas que machucaram os seus familiares, as pessoas mais próximas, em algum momento ela se arrepende profundamente, nesse momento, em que chega ao Terreiro de Umbanda, a pessoa está no ponto do arrependimento em que dá pra acontecer uma transformação interior nela, então, uma entidade fala: “Meu filho, vá até o altar bate cabeça pra Oxalá pede perdão e pede força pra você não cometer mais esse erro contra você ou contra o próximo.

 No momento em que Oxalá abençoa a pessoa verdadeiramente arrependida, essa pessoa está perdoada porque ela não é mais a mesma pessoa, aconteceu uma transformação interior, quando isso acontece essa pessoa que foi perdoada sente que, no lugar daquele sentimento negativo, nasce dentro dela um virtuosismo e um sentimento enorme de ajudar outras pessoas assim como ela recebeu ajuda.

Esse é o mistério de Oxalá. Quando se diz que “castiga” é quase que uma brincadeira porque daí pra frente essa pessoa vai conseguir trabalhar ajudando o próximo, mas ela não está fazendo isso obrigada, ela está fazendo porque nasce dentro dela a vontade de ajudar. Essa vontade de ajudar o próximo está diretamente ligada ao Orixá Oxalá porque é ajudar por meio da sua fé, da crença, do poder que as religiões têm de transformar o ser humano.

As religiões são transformadoras, o poder de Oxalá também é transformador. Enquanto divindade, Oxalá é o Orixá que está no Trono Masculino da Fé, ele tem enquanto Trono: na Umbanda ele é Orixá Oxalá, no Cristianismo esse Trono Masculino da Fé se manifesta por meio de Jesus Cristo. Em outras culturas a gente também vê divindades que são muito semelhantes a Oxalá, ou seja, divindades de outras culturas que tem as qualidades de Oxalá.

A imagem de Cristo é muito forte pra gente, um Orixá sincretizado com Cristo é algo que mexe demais com a gente, chegar num Terreiro de Umbanda e ver pelo menos uma imagem de Cristo é algo que conforta o coração das pessoas que, queira ou não, já tem uma impressão boa sobre quem é Cristo porque no mínimo já ouviu algo sobre Cristo e o maior dos mandamentos que é “Amar ao próximo como a si mesmo”, essa é uma grande verdade, a gente chama de “regra de ouro”.

Todas as religiões possuem uma regra de ouro, a regra de ouro é: “não fazer para o outro o que você não quer para você”, é um padrão de ética para a sua vida, todas as religiões têm essa mesma regra de ouro expressada de uma forma diferente porque são culturas diferentes. Jesus fala: “O maior dos mandamentos é esse: “Amar ao próximo como a si mesmo”, essa é a regra de ouro e não importa qual a sua religião, se você tem ou não tem religião todo mundo sabe que o mandamento maior de Cristo é: Fé e Amor.

Ver uma imagem de Cristo no Terreiro de Umbanda conforta os corações.

Alguns Terreiros de Candomblé fazem movimentos contra o sincretismo, é compreensível, pois, algumas lendas contam que na época da escravidão como não podia cultuar Orixá, os escravos rezavam para os santos, pensando nos Orixás, mas isso não é verdade na Umbanda.

A Umbanda foi criada em 1908 quando o Brasil já era República, já tinha acabado a escravatura. O nosso sincretismo foi pensado, o sincretismo de Umbanda foi adotado na primeira Tenda de Umbanda que é a Tenda de Zélio de Moraes.

Esse sincretismo me permite rezar pra Oxalá e Jesus Cristo, eu rezo para os dois e às vezes há uma simbiose em que as qualidades de Oxalá se misturam com as qualidades de Jesus Cristo e um explica o outro, as qualidades de um ajudam a explicar as qualidades do outro.

Há Tendas de Umbanda que não adotam o sincretismo com todos os santos.

Raramente se vê um Cristo crucificado num Terreiro de Umbanda porque o que interessa pra nós é a imagem de Cristo feliz, de braços abertos sorrindo, são os braços de Cristo para a Umbanda, para os filhos de Umbanda.

Todos nós somos filhos de Oxalá, assim como todos nós somos filhos de todos os Orixás, mas, há aqueles que têm Oxalá de Frente, que tem Xangô de Frente, tem Ogum de Frente, a quem é dito ser seu Pai de Cabeça e nós os chamamos de “Filhos de Oxalá”, aqueles que têm Oxalá de Frente.

São filhos de Oxalá aqueles que têm as qualidades de Oxalá, você pode jogar búzios com alguém para saber qual é o teu Orixá, você pode perguntar para o Caboclo, Baiano, Preto Velho, mas a melhor forma de saber quem é o seu Orixá é você conhecendo o Orixá, sabendo quais são as qualidades desse Orixá e reconhecer as qualidades desse Orixá em você, as qualidades de Oxalá são a paz, tranquilidade, harmonia e ele é um magnetizador, um congregador.

Os filhos de Oxalá possuem essas qualidades, eles têm uma grande capacidade de congregar pessoas para um ideal, os filhos de Oxalá têm uma grande capacidade de trazer harmonia para as pessoas e tranquilidade, os filhos de Oxalá costumam ser pessoas tranquilas, às vezes até introspectivas que passam essa harmonia e que magnetizam que envolvem.

Por isso é comum que os filhos de Oxalá sejam líderes religiosos porque os filhos de Oxalá envolvem as pessoas com seu magnetismo, esse fator magnetizador e congregador de Oxalá se fazem presentes na vida deles que se tornam grandes líderes religiosos. Isso quando o filho de Oxalá está no positivo porque o Orixá é apenas positivo.

O filho de Oxalá pode estar vibrando no positivo ou vibrando no negativo. Se no positivo o filho de Oxalá possui todas as virtudes da fé, o vício no sentido da fé é o fanatismo e o sentido oposto é a ilusão.

Assim como no positivo, o filho de Oxalá congrega muitas pessoas em nome da virtude, no negativo ele pode congregar pessoas em nome de uma ilusão.

 Se o filho de Oxalá traz a paz e a tranquilidade quando está no positivo, no negativo ele é perigoso. É isso que a gente vai observando, as qualidades do Orixá que você tem em você podem ser usadas de uma forma positiva ou de uma forma negativa.

Oxalá não faz de ninguém uma pessoa perigosa, perversa, mas, Oxalá dá a capacidade de magnetizar, de congregar, de envolver, então, vamos dar um exemplo: congregar pessoas por um ideal: Hitler congregou milhares e milhares de pessoas por um ideal, ele congregou, ali tem uma qualidade da fé junto com uma qualidade da lei – “lei” no sentido de ordenar, de milícia – e fé por quê? Porque ele levou muita gente a acreditar nele. Anos atrás um fanático religioso nos Estados Unidos levou várias pessoas a acreditarem que se elas se matassem iam voar junto ao rabo de um cometa.

Há muitos anos atrás vimos religiosos como Rex Hambart, e outros religiosos que congregavam pessoas criando seitas, fanáticos com comportamento à margem da sociedade e que em alguns casos culminou com a morte coletiva dessas pessoas.

Congregar pessoas mesmo de forma negativa é qualidade de Oxalá porque está congregando, magnetizando, envolvendo.

Oxalá não faz isso, mas, o filho, aqueles que trazem Oxalá de Frente ou no Ancestre tem essa qualidade que pode ser usada de forma negativa como tudo na vida.

No alto está a divindade Oxalá, no embaixo existe um Trono oposto ao Trono da Fé que é o Trono da Ilusão, o Trono Masculino da Ilusão e o Trono Feminino da Ilusão.

Não cremos em demônios, não cremos em entidades ou deuses capetas, seres diabólicos, mas cremos que há divindades de Deus que tomam conta do alto e divindades de Deus que tomam conta do embaixo.

No embaixo há um Trono da ilusão e a função desse Trono é atrair para baixo todos aqueles que estão iludidos.

Pedimos a Oxalá, que é o Orixá da fé, que nos dê a paz, a harmonia, a tranquilidade, mas não apenas isso. Um dos objetivos das religiões é nos dar uma consciência maior sobre a vida, esse também é um aspecto de Oxalá, nos dotar de uma consciência, de uma vida mais consciente, de uma realidade maior.

Estar consciente de uma realidade maior é estar desperto, é estar acordado.

A maioria das pessoas hoje vive suas vidas de forma autômata, é como se estivessem dormindo, como se a sua consciência estivesse adormecida e as pessoas passam os seus dias ocupadas em bater o cartão no trabalho, comer, dormir e ter alguma diversão, tudo isso condicionado, feito em comportamentos condicionados onde a pessoa não para pra pensar sua vida, não para pra pensar as questões existenciais e não se dá conta de que existe uma realidade maior, não se dá conta e não tem consciência, ou seja, a vida não é consciente, a vida é autômata.

A vida é algo feito de comportamentos condicionados que tem início na sua infância. Esses comportamentos condicionados estão fundamentados nos papéis que as pessoas vestem: o papel de filho, estudante, profissional, o papel de pai, de mãe e cada um vai vestindo um papel, vai vestindo uma fantasia, vai vestindo uma máscara sem tomar consciência do que está acontecendo na sua vida, sem ter consciência de quem é.

O mistério de Oxalá também entra pra nos acordar, a fé também entra pra nos acordar para a vida, é uma das funções e papéis que as religiões têm ou deveriam ter, nos acordar, despertar a nossa consciência, ou seja, transcender o ego pra uma realidade maior.

Viva a sua essência. Permita que a sua alma se manifeste.

 Até que ponto você é alguém apenas repetindo o comportamento do seu pai, da sua mãe? Até que ponto você é alguém fazendo o que a sociedade diz que é bonito? Você é um produto de consumo? E até que ponto você é um ser que consegue manifestar a sua essência, a sua verdade? Até que ponto a sua alma se exterioriza nesse mundo?

Oxalá por meio do seu mistério nos permita viver com consciência, que nos dê consciência e que por meio dessa consciência a gente consiga ocupar o nosso espaço de alma na criação que é viver a nossa verdade, a única coisa que pode nos dar a real plenitude nessa vida: “Viver a nossa verdade, a verdade da nossa alma, a nossa consciência”.

Que Oxalá permita que cada um de nós por meio da Umbanda alcance essaconsciência sobre si mesmo e sobre a vida.
Oxalá é nosso Pai, que ele nos abençoe aqui, agora e sempre.

Que assim seja.

Annapon


 (baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)