A Bíblia e a Mediunidade na visão de uma Umbandista
A Bíblia é um Livro Sagrado, todos entendemos e respeitamos tal fato.
Um livro, mesmo sendo Sagrado, como no caso da Bíblia, não deve simplesmente ser aceito, mas sim estudado, analisado para que se possa entender a mensagem nele contida levando em consideração a época na qual foi escrito e em quais condições o ser humano vivia.
Fundamentalismo significa aceitar sem questionar. Tal postura não combina com os dias atuais e com o ser que busca constantemente o aprendizado.
A Bíblia é um Livro Sagrado, Teológico, com fundamentos religiosos e muitos conceitos, além de contar a história de um povo que viveu há muito tempo.
O Novo Testamento surge a partir de Jesus e o Velho Testamento é o conhecimento que existia antes de Jesus.
Compreender a mediunidade baseado na Bíblia requer conhecimento, não profundo, mas algum conhecimento sobre o Livro Sagrado dos Católicos e Evangélicos.
O Velho Testamento traz o conhecimento Judaico e Jesus, nascido neste meio, sendo Judeu, era considerado Rabi, que significa professor dentro dessa cultura.
O Novo Testamento traz o conhecimento transmito por Jesus que é diferente do Velho, por esta mesma razão o termo Novo Testamento é empregado.
O Velho Testamento é a base do Judaísmo tanto que, os cinco primeiros livros da Bíblia são chamados de “Pentateuco”.
O Pentateuco, primeiros cinco livros da Bíblia, consistem num livro chamado “Torá”, ou seja, o Pentateuco é em si a Torá que é o livro sagrado dos Judeus.
O Cris tianismo nasce do Judaísmo.
Jesus foi Judeu com ideias novas, com ideias revolucionárias, foi um revolucionário e médium.
Encontramos a presença da mediunidade na Bíblia desde o Velho Testamento, quando “pessoas especiais” (médiuns) falavam com Deus e Ele os orientava, depois vieram os que se comunicavam com anjos, os profetas (visionários do futuro), etc.
A Bíblia é um conjunto de crenças de várias culturas e cada cultura a interpreta a seu modo, de acordo com seu tempo, espaço físico e momento evolutivo.
Existe um conceito, na Cabala Hebraica, que diz:
“Deus se manifesta através de Anjos”.
Diante de tal afirmação podemos concluir que, através da mediunidade, guias, mentores espirituais e anjos, seres mais elevados espiritualmente, se comunicavam com os homens e esses homens, desconhecendo o fenômeno mediúnico, diziam que falavam com Deus.
Existem muitas passagens na Bíblia que confirmam o pensamento acima.
Na verdade, as grandes religiões castraram os dons mediúnicos como forma de manter sob controle seus fiéis porque alguém que tem contato direto com a espiritualidade, por meio da mediunidade, não precisa mais de religião teoricamente, mas sentimentalmente pode sim se ligar a uma religião por amor e por sentir necessidade de ajudar outros a conquistarem sua paz de espírito. Esses médiuns são aqueles já desenvolvidos e desapegados de muitos dos valores materiais.
Assim como as grandes religiões, Sacerdotes egoístas também não ensinam seus discípulos a fim de retê-los em seu convívio por medo, insegurança e orgulho tornando-se assim, de certa forma, obsessores vivos daqueles que o seguem.
Quando o médium, desenvolvido, atinge o estágio de maturidade, na verdade não necessita mais da religião em si permanecendo nela por amor, vocação, por vontade de ser útil ao próximo auxiliando-o a encontrar seu caminho, permanece por amar o ritual, por entender que a egrégora formada por um grupo é diferente da formada por ele sozinho, nesse estágio a religião se torna opção e não mais necessidade.
Voltando à Bíblia e à mediunidade nela inserida, percebemos que o contato mediúnico estabelecido pela maioria dos profetas com Deus, ou anjos a seu comando, foi muito forte.
Em várias passagens as orientações passadas aos médiuns como Abraão, Moisés, entre outros, foi tão forte que modificou a vida da população.
A mediunidade desses homens permitiu que a palavra de Deus viesse ao mundo dando roteiro seguro às pessoas que viviam naquela época.
Seguramente Moisés foi um dos médiuns de maior destaque na Bíblia, estudioso, Moisés conhecia magia e sacerdócio. Uma das mais conhecidas magias de Moisés são as sete pragas soltas no Egito, fenômeno claro de manipulação de energia e força mental.
Há ainda o caso da morte dos primogênitos, ocasião na qual Moisés ensina o povo a se proteger do “Anjo da Morte” através de um símbolo grafado na porta de seus lares, símbolo esse que afastava daquele lar a morte. Isso é magia.
Talvez a primeira psicografia que se tem notícia seja a de Moisés quando Deus lhe revelou os dez mandamentos e ele os escreveu numa pedra, ou psicografou numa pedra.
Em determinado momento, Moisés, a fim de organizar e ordenar seu povo proíbe oráculos e a necromancia (conversa com espíritos) sendo permitido só a Ele praticar magia e mediunidade.
Existe outra passagem Bíblica na qual Saul pede a uma médium que incorpore o espírito de Samuel a fim de estabelecer contato mesmo ele tendo proibido a prática mediúnica pelo seu povo e tendo levado à morte pessoas que a praticavam.
A mediunidade sempre existiu, sempre foi praticada, principalmente entre os profetas.
Existem na Bíblia muitas passagens de clarividência e é importante saber que a Bíblia é constituída de livros que foram escolhidos.
Como a mediunidade é algo proibido, esses livros foram escolhidos de maneira que não houvesse entre eles nada que instigasse as pessoas a praticar mediunidade.
Na verdade não é algo tão fácil encontrar os fenômenos mediúnicos ou identificá-los na Bíblia porque ao longo dos milênios eles foram trabalhados para dar a ideia de que isso só poderia acontecer com algumas poucas escolhidas pessoas e também há um cuidado de não mostrar como a mediunidade se manifesta, como trabalhar mediunidade.
No caso de mediunidade de vidência, Ezequiel, no “Livro de Ezequiel” vê o carro de Deus e diz:
“Que olhou e havia um vento tempestuoso que soprava do norte uma grande nuvem e um fogo chamejante, em torno, uma grande claridade, no centro algo que aparecia no meio do fogo. No centro algo com forma semelhante a quatro seres vivos”.
São visões impressionantes e bastante fortes em sua simbologia e aparência.
No Novo Testamento temos uma nova ordem, uma nova visão, uma nova orientação, surge Jesus, Jesus diz: “Eu e Deus somos um”.
Jesus cura com a imposição das mãos e Jesus expulsa demônios que em grego significa espíritos.
Jesus deu autoridade a seus discípulos para expulsar os espíritos impuros e curar toda sorte de males e enfermidades e os preparou para que multiplicassem sua missão como se tivesse, Ele próprio, preparado sacerdotes como se faz nos dias atuais.
Toda a trajetória de Jesus e de seus discípulos está pautada na mais pura mediunidade.
Jesus deu aos discípulos o dom de fazer aquilo que é feito na Umbanda, ou seja, desobsessão e cura, não só na Umbanda, mas em outras religiões praticantes da mediunidade.
Jesus ensinou os seus discípulos e esse era o grupo de trabalho e o povo todo era a sua consulência.
Os 12 discípulos formavam a corrente mediúnica de Jesus e o seu povo, os beneficiados com a boa nova, com a doutrina, a cura e o encaminhamento dos espíritos em sofrimento.
Existe uma passagem em Mateus bem interessante:
Mateus capítulo 17, versículo 1: “Seis dias depois, Jesus tomou Pedro, Tiago e seu irmão João e os levou a um lugar a parte sobre uma alta montanha e ali foi transfigurado diante deles, seu rosto (de Jesus) resplandeceu como um sol, as suas vestes tornaram-se alvas como a luz e eis que lhes apareceram Moisés e Elias conversando com ele”.
Este é o fenômeno de materialização extremamente natural para Jesus que deveria possuir ectoplasma da mais alta qualidade e em abundância.
O contato mediúnico é Bíblico, ancestral, milenar.
O fenômeno mediúnico é intrínseco ao ser humano.
A mediunidade é inseparável do ser humano, uns tem mais outros tem menos mediunidade. Por isso não dá pra escrever a história da humanidade sem falar de mediunidade, não existe nenhuma cultura sem religião, nenhum povo em nenhum lugar do mundo, nenhuma sociedade organizada que não tenha religião, religião no sentido de fé, espiritualidade, ritual.
Não existe religião sem mediunidade.
Existem organizações religiosas castradoras da mediunidade, mas essas religiões, que castram a mediunidade, nasceram da mediunidade de pessoas que tinham dons mediúnicos.
As organizações religiosas podam os dons mediúnicos, mas em todas as religiões surge ou nasce o seguimento paralelo chamado: “a mística daquela religião”.
Na Umbanda não existe “mística da Umbanda”, porque a Umbanda já é mística.
Falava-se antigamente sobre a “Umbanda Esotérica” ou o “Esoterismo da Umbanda”, qual é o lado oculto da Umbanda?
A Umbanda não é uma religião de segredos, não é preciso esconder, nem ocultar nada. Tudo o que se pratica a magia, a mediunidade, a ciência e a arte de lidar com tudo isso, não é algo oculto na Umbanda, é algo que eu não preciso esconder, não preciso guardar. Tudo isso é aberto, está aí pra quem quiser estudar.
A Umbanda é uma religião que não oculta, não temos o Ocultismo na Umbanda, temos a Umbanda como a reveladora de tudo aquilo que era oculto nas outras religiões porque não estamos mais no tempo da Inquisição.
Não precisamos mais nos esconder, as coisas não precisam mais ser ocultas e nem esotéricas, no sentido de “o que está por trás do véu”.
A Umbanda não tem véu encobrindo as coisas, está tudo aberto, todo mundo pode acessar esse conhecimento. Só é preciso ter amor, querer, se dedicar, se entregar. A Umbanda é uma religião reveladora, libertadora e é como diz Rubens Saraceni:
“A Umbanda é a religião dos mistérios”.
A Umbanda nos inicia nesses mistérios e quando dizemos:
“Quando o mestre está pronto o discípulo aparece” ou ainda:
“Quando o médium está pronto a Umbanda lhe revela”.
Ela lhe revela e lhe ensina a encontrar os seus mestres pessoais que são os seus Guias, que vão nos ensinar a nos tornarmos mestres de nós mesmos no momento em que nós começamos a aprender com a vida.
Annapon
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)