domingo, 17 de fevereiro de 2019

Firmeza e Assentamento (Umbanda)



Firmeza e Assentamento


Antes de falar sobre o assunto, a leitura recomendada, trazendo maiores informações é:

 “Rituais de Umbanda” de Rubens Saraceni, editora Madras.

De forma resumida, podemos dizer que firmeza é uma força ou poder firmado e assentamento, a força ou o poder assentado.

Forças são as das entidades e poder é dos Orixás.

Firmamos uma força quando, por exemplo, acendemos uma vela, essa é a maneira mais simples de firmar força.

Ao acender tal vela, porém, há de se ter fé e força mental. Esse ato deve vir com força e convicção do íntimo, do contrário é apenas e tão somente uma vela acesa.

Desse ato então dizemos que ali, naquela vela, uma força está firmada porque firmar significa que tal força vibrará e repercutirá enquanto a vela estiver acesa, finalizando sua tarefa quando se apagar.

A vela é um recurso de ligação nossa com o Orixá ou com o Guia Espiritual.

Potencializamos a firmeza da vela quando, por exemplo, escolhemos cores que correspondem aos Orixás ou Guias Espirituais.

Pontos riscados potencializam ainda mais a firmeza da vela.

Exemplos de firmezas para Orixás:

Para Oxalá -  um prato branco ou transparente, com água,  oferecer a Oxalá e colocar uma vela branca de sete dias, firmeza de Oxalá. A água de fonte pode ser usada, pois é água de Oxalá.

Para Yemanjá - bacia ou um prato, colocar água de mar e oferecer uma vela azul claro a Iemanjá, firmeza de Iemanjá. (água com sal grosso pode substituir a água do mar)

Para Oxossi - folhas verdes e frescas, variadas ou ervas e colocar uma vela verde para Oxóssi, firmeza para Oxóssi.

 Lembrando que apenas a vela já é uma firmeza.

Nos altares dos terreiros, conga, há firmezas e assentamentos.

Podemos fazer firmezas em nossas casas e em auxílio ao nosso próximo.

Podemos fazer ainda, firmezas para as entidades pedindo força, proteção e amparo sempre que assim julguemos necessário.

A partir do momento que está firmada, aquela vela tem um dono, então se aparecer algum espírito – porque o medo do Espírita é acender vela e atrair espíritos – mas, o Umbandista não porque toda vela que o Umbandista acende tem um dono. Então, se a vela é de Ogum, de Oxóssi, de Xangô, do Caboclo, se alguém se aproximar daquela vela vai ser encaminhado.

Podemos acender velas a vontade desde que entre nós e ela, seja estabelecido um vínculo, força, desde que a ofereçamos com fé e foco na mente. Isto é firmeza.

O assentamento é uma força assentada, às vezes, costuma-se dizer: “assentamento é uma força plantada, é uma força enraizada”.

Firmeza é algo provisório, enquanto a vela está acesa está firmada, apagou,  não está mais ali a força, o vínculo.

 A firmeza de Anjo da Guarda é uma das firmezas mais importantes para os médiuns de Umbanda. Algumas pessoas firmam seus anjos de guarda com vela de sete dias substituindo-a assim que termina.

O assentamento é uma estrutura de força para dar sustentação e base a um trabalho espiritual.

A diferença entre “força firmada” e “força assentada” é que a força assentada é  permanente, dá sustentação ao trabalho, inclusive se no assentamento as velas apagarem, o assentamento continua vivo e atuante por meio de outros elementos que existem ali.

Geralmente o assentamento costuma ser a força de sustentação de um Terreiro, assentamento é a força de sustentação de uma Casa, de um Templo que está recebendo pessoas.

Dentro de um Terreiro costuma-se ter no mínimo dois assentamentos que é o “assentamento do altar” e o “assentamento da tronqueira” – o assentamento da Esquerda.

A palavra “tronqueira” vem de tronco, antigamente se chamava de tronqueira aqueles troncos que se usavam na entrada das fazendas, quando não havia porteira, havia  o tronco, aquilo é uma tronqueira.

Tronqueira é o que bloqueia a entrada.

Os terreiros têm altar por influência da igreja católica e sua função é colocar na horizontal, a energia que nele penetra verticalmente.

É no altar que se faz assentamento e geralmente é para o Orixá de frente de seu dirigente encarnado.

Na tronqueira se fazem os assentamentos de Exu e Pomba Gira também para o dirigente da casa, ou seja, para os Guardiões que o acompanham.

O assentamento é feito com elementos da natureza na força do Orixá ou na da entidade espiritual chefe da casa que, normalmente, é quem indica como e com o que esse assentamento será feito.

O assentamento não é fundamento, é sustentação ao trabalho da casa. Fundamento é a teoria da religião de Umbanda.

Ao montar um terreiro, normalmente, a primeira coisa que se faz é o assentamento que é o fundamento particular daquela casa específica.

O “Otá” é muito usado, esta palavra significa pedra na língua Nagô Yorubá.

A idéia dos assentamentos, na Umbanda,  é influência do Candomblé.

Uma vez o médium tendo recebido, por missão espiritual, a abertura de um Terreiro, recomenda-se que, de forma alguma pague a alguém para que faça o assentamento de sua casa.

O correto é que o guia espiritual do médium diga como esse assentamento deve ser feito.

A insegurança do médium é comum nesses casos, mas, talvez, tal insegurança revele que o mesmo não esteja devidamente preparado para assumir a missão. Talvez, um pouco mais de tempo e de maturidade, nesses casos, se façam necessários.

A Umbanda é simples, por isso, mais vale um assentamento bem simples, que outro feito a custos altos e com energias alheias às suas.

No Candomblé, os assentamentos costumam ser bem complexos muito diferentes dos de Umbanda.

 “Ninguém assenta fora o que não está assentado dentro”.

É a primeira e grande lição da Umbanda no que se refere a assentamento.

O Templo é uma exteriorização do que está dentro de você, receber pessoas no seu Templo, no seu Terreiro, é recebê-las no seu coração. O altar do seu Templo deve estar no alto, no topo do altar do seu Templo, aquilo que está no topo do altar do seu coração. (Alexandre Cumino)

 Você precisa de um assentamento simples, construído com muito amor. Você não precisa de muitos elementos, você precisa de muito sentimento, amor e verdade no que você está fazendo, ali está a sua verdade.

Montar assentamento com “Otá” é bem simples, só vai exigir de você que busque a pedra, seja dentro ou fora da natureza, no comércio, por exemplo.

Os cristais são bons Otás, basta que sejam correspondentes à força que se queira assentar.

Na pedra você vai construir o seu assentamento.

 O mais simples é:

Pegar a pedra se veio do comércio, deve-se limpar com água e sabão,  defumar, colocar no sal grosso de um dia para o outro, depois enterrar e deixar mais 24 horas enterrada para ter certeza que está totalmente neutra, limpa da energia de qualquer outra pessoa que não seja você.

Passado o procedimento acima, envolva sua pedra, Otá, num tecido, de preferência sem uso e limpo, vá à natureza, no ponto de força de sua preferência, ou de seu Orixá de frente, ofereça a pedra, consagre-a   e assente-a.

Flores, frutas, bebidas e velas podem compor esse ritual. Todas, porém, correspondentes ao Orixá de frente.

Dessa forma será estabelecido um vínculo entre a pedra, Otá, e o sítio vibracional escolhido.

 É comum que, nesse momento, ocorra a incorporação de Orixá ou de Guia/Mentor Espiritual, naquela vibração, que consagrará, imantará e cruzará a pedra, estabelecendo também ele um vinculo com o médium e com a pedra.

Finda a oferenda, espere até que as velas se apaguem.

 O Otá, pedra, é então envolta no tecido e levada ao terreiro. Já em sua morada, será mergulhada num amaci, extrato de ervas correspondentes ao Orixá para o qual foi consagrada, será coberta com pano e, ao seu redor, velas serão acesas.

Ocupará então, ao término de sete dias, quando as velas terminarem de queimar, seu lugar no altar.

Esse assentamento, com Otá, é um vórtice de energia que constantemente estará captando energia da natureza e trazendo para dentro do Terreiro para sustentar o trabalho.

Depois de sete dias o Otá será descoberto, o Orixá ou o Caboclo vem em terra para receber essa pedra, ela é retirada e é colocada embaixo do altar. Ali a pedra pode ficar seca ou pode ficar dentro de um recipiente com água. Ela fica em cima ou embaixo do altar, pode estar à vista ou pode estar coberta.

 Este é o assentamento mais simples que existe, a forma mais simples de fazer um assentamento é com “Otá” e é a base de sustentação de um altar.

 Da mesma maneira, na Tronqueira, também é construído um assentamento onde elementos, escolhidos pelo Exu de trabalho, serão oferecidos para o Exu Guardião e para  a Pombagira Guardiã do Templo.

 Geralmente, no assentamento de Esquerda, se coloca terra porque Exu trabalha muito a energia da terra, mas, essa terra normalmente é colhida na mata, próximo a cachoeira, próximo ao mar, ou seja, terra de vários sítios naturais representando dessa forma, o universo.

Assentamentos normalmente são “alimentados” de sete em sete dias para que permaneçam sempre iluminados.

O propósito do assentamento é dar sustentação energética a todo um trabalho que está acontecendo.

Não se esqueça: melhor um assentamento simples feito por você, com seu amor, com a sua mão do que um assentamento complexo que você pagou que você gastou dinheiro e que não tem o seu amor, não tem o seu carinho, não tem o seu cuidado. Pense nisso. ( Alexandre Cumino)

Além do modelo de assentamento acima citado, existem vários outros, várias outras formas de montá-los e interagir com os mesmos.

Na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, onde Zélio de Moraes fundou a Umbanda, há um altar e embaixo do altar não há assentamento físico, da maneira como se costuma fazer hoje em quase todos os Terreiros de Umbanda.

Na primeira Tenda de Umbanda embaixo do altar há uma firmeza, ou seja,  uma vela branca de sete dias firmada em cima de uma estrela de cinco pontas.

 É uma firmeza coletiva para Anjo da Guarda, o altar é feito com imagens Católicas e há uma vela branca no altar também, não existe uma Tronqueira formal na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, não há uma Tronqueira do jeito como a gente conhece, do lado de fora há um cruzeiro.

Falamos de uma Tenda construída do lado de uma cachoeira, então, aí não precisa de nada porque está dentro da natureza, dentro do ponto de força, mas esse modelo de Tenda é o modelo da Tenda que havia sido construída na cidade da mesma maneira, mas, no início dos trabalhos, quando se abre uma sessão de Umbanda na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, antes de começar o trabalho são riscados os pontos no chão e várias firmezas são feitas.

Existe um documentário chamado “100 anos de Umbanda” da Chama Produções, que mostra uma abertura de trabalho na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

 No momento de abrir o trabalho, o médium risca o ponto do Caboclo das Sete Encruzilhadas - o ponto do Caboclo das Sete Encruzilhadas é um coração atravessado por uma fecha – ali o médium risca o ponto do Caboclo das Sete Encruzilhadas, esse médium se deita no chão, acende uma vela, coloca um copo d’água, põe uma flor e firma um ponteiro – um ponteiro é como um punhal – ele firma um ponteiro que não é jogado, ele é colocado, é estacado com a mão, colocado ali o ponteiro, firma-se o ponteiro e ali se diz: “o ponto está firmado”, o ponto do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

São firmados vários pontos riscados na frente no altar, são feitas várias firmezas em toda sessão antes de começar.

 São feitas várias firmezas, riscados todos esses pontos, eles tem uma apostilinha na qual estão desenhados os pontos, eles são riscados no chão firmados com vela, bebida, flor e um ponteiro em cada um deles, sempre antes de começar um trabalho.

Lá não há assentamento, mas em compensação cada vez que se abre um trabalho tem que firmar todos esses pontos. Por isso é que o Terreiro monta um assentamento, porque toda vez que o trabalho vai começar já está assentado, essa é a questão. Não tem uma Tronqueira assentada, mas se faz uma firmeza.

 A Tenda é um Terreiro que deve permanecer intacto, da maneira como era enquanto Zélio estava encarnado, mas a grande maioria dos Terreiros de Umbanda tem um assentamento de Esquerda e um assentamento de Direita ou o assentamento do altar e o assentamento da Esquerda.

Existe, também, a possibilidade de se fazer um assentamento pessoal, na nossa casa, repetindo: assentamento é algo feito para dar sustentação a um trabalho, então, geralmente assentamento se faz no Terreiro, o que a gente faz em casa é uma firmeza. Quando um médium tem um assentamento pessoal em casa? Quando esse médium é muito ativo, quando esse médium trabalha demais e principalmente quando esse médium atende em casa.

O assentamento feito para o Terreiro é chamado de “assentamento coletivo”.

Existem assentamentos que são chamados de “assentamentos de descarga”, a própria Tronqueira é uma forma de assentamento de descarga, que é o assentamento de uma força, um vórtice - o assentamento se torna um portal - um vórtice de energia e ali, naquele assentamento, que é um vórtice de energia na Tronqueira, especificamente, está ali para absorver toda a energia negativa e encaminhar essa energia para outra realidade, uma dimensão paralela.

Existem assentamentos que são feitos para Orixá, como esse, que a gente comentou e para os Guias e surgem muitas outras idéias de assentamento, por exemplo, embaixo do altar, podemos construir um assentamento que é chamado de “ponto radiante” ou “ponto irradiante” que seria um assentamento simbólico para as sete vibrações de Umbanda, no qual se escolhem sete pedras semipreciosas, consagra-se cada uma delas no seu local da natureza, das sete vibrações ou das sete linhas, então, você escolhe sete Orixás, cada um em um dos sete campos e ali você coloca essas sete pedras em cima de um disco de cobre ou de aço e no centro do disco você põe uma vela, é uma forma de assentamento.

 No assentamento da Esquerda é importante ter elementos voltados para fora, elementos voltados para dentro.

Os elementos que são voltados para fora no assentamento da Esquerda, podem ser tridentes, pregos, punhais, são simbolicamente elementos de defesa e proteção contra energia externa. Então, a construção de um assentamento de Orixá é muito simples, basicamente uma pedra. A construção de um assentamento de Esquerda, de uma Tronqueira envolve o conceito de que aquilo é um ponto de força e proteção.

Existem muitos conceitos de assentamento, porém, na Umbanda há um problema de linguagem, é comum dizer para o médium: você vai fazer um assentamento na sua casa, quando na verdade o que ele está fazendo é uma firmeza.

Se tiver em casa, uma vela firmada para Exu, para Pombagira, para  Anjo da Guarda, para o Orixá, isso é firmeza.

Assentamento é uma construção material e espiritual que tem a função de dar sustentação a todo um trabalho.

Vale lembrar que cada casa tem sua maneira e cada sacerdote, ou dirigente, o seu conhecimento, não cabendo a ninguém o questionamento da fé alheia.

O texto acima não tem a pretensão de ser inquestionável, nem tampouco de ser a verdade absoluta e única, apenas, e tão somente pretende levar um pouco de conhecimento que, pessoalmente, nos satisfaz.
E, se nos satisfaz, temos prazer em compartilhar.

Annapon



(baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)