HISTORIA DA POMBA GIRA MENINA RAINHA DO CABARÉ
Eu era muito criança, morava nas terras baixas do lugar onde vocês chamam hoje de Espanha, minha família se viu na oportunidade de ir para o "novo mundo" a tal América nova, fomos para lá, viviamos na miséria, minha família nunca gostou de mim, era a menina mais velha, tinha uma irmã mais nova e dois irmãos mais velhos, então quando chegamos a podreza extrema!
Não tendo o que comer, mesmo não sendo culpa minha eu era castigada o tempo todo e maltradada principalmente por meu pai, um dia ele com sua perversidade cometeu o ato mais cruel e inescrupuloso que um pai poderia fazer com a própria filha, vendeu minha pureza, eu só tinha 10 luas de idade.
Eu era só uma criança e ele me vendeu como se vende um trapo velho, naquela noite só me lembro da porta abrindo e uma luz de lampião adentrando meu quarto, ali toda e completa inocência se perdeu.
No outro dia não queria sair da cama, só sabia chorar e olhar para o teto fixamente com amargura e raiva, aquele homem que devia me proteger me pegou pelo punho e gritou:
Meretriz na minha casa não fica! Ponha-se na rua!
Eu não acreditei, ele que me vendeu, pegou todo o dinheiro e me botou pra fora de casa, eu fui chutada na rua da amargura!
Chorava na beirada da calçada de uma rua escura, uma mulher muito formosa passou, me viu e veio me socorrer, quando olhei a reconheci, seu nome era Maria Padilha, era conhecida com a rainha do cabaré daquela colônia, me convidou para seu cabaré para que ficasse como empregada e atendente dos clientes do bar, e lá fui eu, com apenas 10 luas de idade
Noites se passando, muita bebida e atos libidinosos, quando se passou uma lua começaram a se interessarar pelo meu corpo e minha aparência, dona Padilha sempre me arrumava a mais linda da noite, então minha vida de trabalho como uma de suas meninas começou, minha família ficou sabendo
Logo o maldito apareceu na porta ameaçando atear fogo e tudo, dizendo que eu estava amaldiçoando o nome da família, afinal, não foi ele mesmo que me jogou na rua? Eu morri sem entender, mas hoje procuro perdoar.
Dona padilha e as outras já estavam se armando para matar todos, mas eu disse que iria fugir, Padilha queria que eu ficasse, mas sabia que não teria paz, então peguei o barco que iria para os países baixos, estavam sendo descobertos a pouco tempo, mas em alguns falavam minha língua, fui descendo
Conheci os cabarés de muitos lugares, trabalhei em todos, matei muitos homens que queriam machucar moças, matei quem me traía e quem me roubava, na terra que vocês chamam hoje de Argentina foi onde eu fui dona de um cabaré, quando completei 15 luas, era a cafetina de muitas meninas, não gostavam muito de mim
Mas as defendia quando um cliente não seguia as normas da cada ou não queria pagar, porém um dia fui defender uma delas de um cliente que estava bêbado e mais homens vieram para me agredir, fiquei cheia de machucados, fraca, com muitas partes do corpo sangrando e me levaram para um quarto e me largaram lá, não tinha forças para me levantar
Então as feridas do meu corpo foram apodrecendo, eu morri de uma doença que vocês chama hoje de gangrena, minha alma abandonou meu corpo que antes tão belo, agora num estado deploravél, eu fui parar num local escuro com muita dor.
Acreditem se quiser, lá estava uma moça linda, que me deu a mão, perguntei seu nome, ela me disse: sou Maria, minha filha, Maria Padilha rainha do cabaré, e agora tu serás minha aprendiz.
Eu conheci a falange das pomba giras meninas, as moças mais novas com a vida tão sofrida quanto as mais velhas, aprendi a trabalhar ao lado dos exus mais velhos, Seu caveira, Capa preta e Lucifér
Com o passar dos meus trabalhos eles todos me deram o maior presente de todos, minha própria falange e um reinado, cheguei como uma kiumba, fui menina do cabaré, hoje, como Padilha me prometeu, sou menina rainha do cabaré.
Moça, sempre que precisar eu estarei ao seu lado.
"Eu sou menina;
Eu sou mulher;
Eu sou rainha do meu cabaré."
Laroyê Pombogira Menina