Gigi nasceu rechonchuda, cabelos negros, fartos e encaracolados. Linda e rosada, pulmões tão saudáveis que quando estava com fome, todo andar destinado a maternidade ficava sabendo. Após a saída do hospital, necessitou cuidados
redobrados apesar de ser saudável, entretanto berrava noite e dia o que deixava sua mãe enlouquecida . Médicos foram consultados e a criaturinha não tinha nada demais, a não ser coisinhas comuns na vida de um bebê como dor de barriga, adaptação a alimentação, fome, mais todos os “ites”, que afetam todas as criancinhas. Ninguém descobria porque a danada da garota berrava tanto. Algumas vezes estava tranquila e faceira e repentinamente abria o berro sem causa aparente. A mãe tinha umas olheiras de dar inveja a qualquer um. Quando limpava a casa, a fofa estava no colo. Quando cozinhava eram as mãos nas panelas e o pé balançando o carrinho, porque se não lá vinha berreiro. Nossa Senhora dos Desesperados e das mães estribuchadas, nem benzendo com a Sinhá Mariquinha, levando na casa de religião dos compadres, entregando o causo para o Padre Tibira, que já queria fazer um exorcismo, porque na missa do domingo a criatura berrava o tempo todo, atrapalhando a concentração dos fiéis.
Mas o tempo passou, entre benzeduras, passes, água benta jogada na cabeça, ramos de arruda debaixo da cama, misturados com camomila e uma enorme figa pendurada no berço. Tesoura aberta para cortar os maus sonhos e energias negativas. E a danada se criou esperta e faceira, porém de vez em quando sem mais nem menos botava os pulmões pra fora de tanto berrar, ficando cor de beringela. Soluços e lágrimas sentidas. A mãe chorava junto porque não sabia o que fazer. A irmã mais velha, com 8 (oito) anos ajudava como podia para distrair a pequena, que tomada de gana, enchia a coitada de dentadas, quando não batia a cabeça na guarda do berço, no chão, na parede, onde fosse mais acessível no momento.
Um belo dia, véspera do aniversário de 6(seis) anos da menina, estavam reunidas as tias e primas ajudando a preparar os quitutes, quando ela que brincava distraída olhou para a avó, que cuidava das crianças e disse tranquila : – Vovó o Tio Lico chegou! A avó levou um baita susto e ficou branca, perguntando: – Tem certeza? Como sabe que é ele? Porque o Tio Lico, havia desencarnado num acidente antes da menina nascer, portanto ela não o conhecia. Repetiu a pergunta tremendo: – Gigi, como sabe que é ele? E ela com naturalidade respondeu : -Porque ele está dizendo. E veio me desejar feliz aniversário Pânico instalado, as mulheres apavoradas. O que fazer com esta criança? E depois do fato Gigi não mais parou. Via o que não queria, ouvia o que não gostaria de ouvir. Gritava feito doida e deixava os pais mais doidos ainda. A menina cresceu e aos 11(onze) anos acompanhava a mãe em uma casa de caridade para estudar e aprender a lidar com o fato. Era a mascote da casa e quando estavam em trabalho a pequena ajudava na biblioteca acompanhada pela pessoa responsável. De tanto ouvir falar sobre espíritos, reencarnação, a danadinha passou a pedir explicações para os pais que muitas vezes se viam encurralados para explicar de acordo com as necessidades dela. A família passou a se empenhar e os acontecimentos tomaram um rumo mais tranquilo para a casa. Eventualmente ela acordava aos gritos, deixando todos em polvorosa.
Ao atingir 18(dezoito) anos foi convidada a participar como aspirante de um grupo que fazia atendimento com apometria, nos moldes do trabalho desenvolvido pelo Dr.Lacerda, onde a irmã mais velha já trabalhava. Ela se empenhou, deu conta do recado e num dia de trabalho, estando todos com alguma tarefa, Gigi levantou e se dirigiu a um médium que dera passagem a um espírito sofredor, e com a maior naturalidade iniciou um processo de doutrinação dizendo: – Disso eu entendo! Muita emoção tomou conta de todos que ao final a abraçaram com amor. Mas como nem tudo é perfeito, no atendimento seguinte estava a dirigente concentrada e trocando através da intuição alternativas com os guias e mentores para ajudar da melhor maneira, quando de repente ouviu-se um grito de pavor, que ecoou por todo o prédio, assustando ao grupo que estava concentrado. E mais ainda as pessoas que estavam na sala de espera. Um deles saiu disparado e nunca mais voltou E a dirigente? Levou um susto tão grande que caiu da cadeira se estatelando no chão, sem entender nada. Uma situação completamente inusitada e fora de controle. Mas afinal o que aconteceu ? Explica daqui, explica dali e Gigi falou, consternada: – Gente me desculpe, mas um espírito horrível apareceu na janela e começou a fazer caretas pra mim. Era tão feio que não aguentei e gritei. Dadas as explicações os médiuns não sabiam se riam ou se choravam, porque o susto foi grande.
Para lidar com a espiritualidade é necessário estudo, conhecimento das potencialidades dos médiuns e principalmente crer que temos uma equipe espiritual de gabarito nos apoiando e protegendo. E isto se aplica a qualquer tipo de trabalho que queiramos desenvolver na área da espiritualidade. Estudo, empenho, comprometimento, disciplina, fazem parte da rotina dos trabalhadores das casas de caridade. Existem casos em que é necessário que os médicos ou trabalhadores do além, repassem cuidados especializados, e se os médiuns nunca ouviram falar no assunto, o que poderá acontecer? Cada vez mais é preciso estar atualizado e saber o que está acontecendo no mundo, para podermos corresponder as necessidades das lidas mediúnicas. Sem naturalmente esquecer de colocar Jesus, o medico divino em nossos corações, praticando e divulgando os seus ensinamentos.