segunda-feira, 2 de julho de 2018

FIOS DE CONTAS: ELEKÉ




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O fio de conta é um objeto carregado de fundamentos e que revela toda a identidade da pessoa, seu odú, seu Vodum, seu grau de iniciação, ligando este mundo e o outro e todos os seres. O fio é ao mesmo tempo Atma (self) e o princípio da vida (sopro). A fim de que seja alcançada a ligação com as divindades, é necessário que o fio seja seguido passo a passo em todas as coisas. Seria como um agente de ligação do retorno à luz, que nos liga a nossa vontade central. Podemos distinguir diversos elementos num fio de conta: o material utilizado, a cor, o número de fios e de contas, as formas das firmas, assim como, em algumas nações, a maneira de usá-los. De uma maneira em geral, ele simboliza o elo entre a pessoa que o traz e àquele que está representado. 





Desfazê-lo equivaleria a uma desintegração da ordem estabelecida e dos elementos reunidos, pois é essencialmente o agente que liga todos os estados de existência entre si ao seu Princípio (Vodum). Existem os fios simples e os de trama. Na verdade, os fios trançados são feitos, em sua maioria, por puro "enfeite", infelizmente, porque a maioria das pessoas desconhece a simbologia da trama. O fio simples liga entre si os mundos e os estados; sendo que o desenvolvimento condicionado e temporal de cada um desses mundos e desses estados é figurado pela trama. Seria algo como: a cada desenvolvimento pessoal, das faculdades intuitivas e discursivas, do aprendizado e amadurecimento, a caminhada mais segura no labirinto da busca espiritual, a trama do fio ficaria mais complexa. Isto é o que representa de fato o trançado dos fios, além de representar a continuidade tradicional. O enfiamento das contas no fio também tem seu simbolismo. Representa a passagem da porta solar, ou seja, da saída do Cosmo. É também o sentido como o da flecha, de transpassar o alvo. Desta forma, representa o vínculo entre os diversos níveis cósmicos, os vários oruns, ou os diversos níveis psicológicos (consciente, inconsciente, subconsciente), etc. 





Na África, para as mulheres o fio e sua trama significam o mesmo que lavrar significa para o homem: associar-se à obra criadora. Nos mitos, a confecção de fios e a lavoura estão sempre juntos, se bem que montar um fio é em si, por tudo que representa, um trabalho de lavoura, um ato de criação de onde saem fixados os símbolos da fecundidade e a representação de campos cultivados. O material usado para a criação do fio de conta está relacionado com o elemento governado pelo Orisá, Vodun ou Inkise, e as funções que lhe competem no panteão. São geralmente feitos de contas de porcelana, de louça ou de cristal, de rodelas de sementes (como as de Omulu), de búzios (como os brajás) além de corais e marfim (como os sègi). Alguns usam o ferro e o aço também. 






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As contas de louça lembram por sua composição a mistura de água e barro com a qual foram "criados o mundo e o homem". O vegetal, mais especificamente a palmeira, está relacionada aos antepassados. O cristal evoca por sua transparência as águas doces e salgadas. O aço lembra o ferro, mineral escuro extraído das profundezas da terra. Os búzios brancos, cor dos mortos além de nos lembrarem dentes. Temos na boca 32 dentes, pertencendo os 16 debaixo à Oxalá e os 16 de cima à Ori, nos conta uma lenda. O coral, com sua cor vermelha (já demos aqui o simbolismo do coral), do fogo, possuem a propriedade de afastar as influências maléficas. Enfim, o marfim, evoca a riqueza e a realeza. 







Não é interessante empregarmos na confecção dos fios materiais sintéticos, plástico ou fios de nylon. Os fios podem ser enfeitados com pequenos berloques colocados entre as firmas e usados na nuca, que se relacionam com as funções dos Orisá, Voduns e Inkises: uma pequena sereia de prata para Yemanjá; um pequeno oxé de bronze para Xangô, etc. Esta prática varia de tradição de casas e nações. 



A cor do fio de conta também tem uma importância fundamental e evoca a natureza da divindade. 





Desta maneira distinguimos três grupos: 



Os Orisá, Voduns que só usam branco, os que só usam cores e os que usam branco e cor. No grupo que usam cores ainda podemos dividi-los em subgrupos onde predominam as tonalidades: azul-claro ou escuro, verde-claro ou escuro, etc. 



Os valores atribuídos a estas cores, bem resumidamente, são: 



Branco - frio, imobilidade, silêncio, criação, morte. 



Preto - associado à terra e aos mortos. 



Vermelho - sangue, guerra, fogo, atividade sexual, geral, movimento 



Marrom - o mesmo que o vermelho 



Amarela - cor benéfica que evoca a riqueza, a fecundidade, a fertilidade 



Azul escuro - é uma cor agressiva, que está associada à terra e ao ferro 



Azul claro - é benéfica e, além de muitos atributos, está associada às águas. 



Verde escuro - evoca a natureza, o mistério da floresta, o poder das folhas. 



Verde claro - ligado à vegetação ou às águas. 



As tonalidades nos permitem distinguir os diversos Orisá, Voduns e em algumas nações, o "caminho" de um Orisá. 


contas de oxumarê



A maneira de usar os fios de contas pode variar de acordo com a nação. Vemos usados no pescoço, a tiracolo, do lado direito ou esquerdo, de acordo com fundamentos tradicionais daquela nação. O número de fios e firmas também é significativo, variando de acordo com seu Orisá e odu e tempo de iniciação. Por vezes, podemos distinguir o Orisá ou pelo menos diferenciá-lo das diversas nações, de acordo com o fio de conta que está usando. 




Devemos observar alguns cuidados com os fios de contas. Devem ser guardados em locais limpos, preferencialmente envoltos em pano branco, de tempos em tempos limpos com ervas que também variam de nação para nação. Devem ser "recolhidos" junto com o iniciado em todas as suas obrigações. Nas cerimônias fúnebres, os fios de contas devem ser protegidos por um pano branco usado na cabeça e no ombro. 



Quanto ao tamanho do fio, particularmente, eu penso que deveriam estar abaixo do umbigo. O umbigo é universalmente o centro do mundo. Um número muito grande de tradições supõe que a origem do mundo tenha partido de um umbigo, de onde a manifestação se irradia nas quatro direções. É dele que se irradia o universo manifestado. Ele não indica apenas o centro da manifestação física, é também o centro espiritual do mundo. Platão, intérprete tradicional de religiões, estabeleceu-se no centro e no umbigo da terra, para guiar o gênero humano. Todo altar ou todo lar representa, por extensão, um centro deste tipo. É o ponto central onde se resolvem as dimensões espaciais e temporais do estado humano, o ponto de retorno à origem, o vestígio do eixo do mundo. Em certas esculturas africanas, portas, placas, estatuetas, etc, observa-se às vezes, um disco central; provavelmente representa também o umbigo do mundo. 



Sobre as estatuetas africanas, o umbigo é muitas vezes alongado, como um cordão esticado ou pendente. Seria nosso elo de ligação com os Orisá? Acredito que sim. O umbigo é o centro das energias transformadoras. Na arte simbólica, o umbigo é em geral uma pedra branca erguida, de topo ovóide; muitos modelos são circundados por uma ou diversas serpentes. Alguns acreditam que ele seja mais que o centro do universo criado; simboliza a via de comunicação entre os três níveis de existência, ou os três mundos: o homem vivo aqui na terra, a morada subterrânea dos mortos e a divindade. Simboliza o poder vital que domina as forças cegas e monstruosas do caos. Hoje em dia seria considerado a ordenação racional da vida. Mas uma ordenação obtida por um domínio interior, por uma vitória sobre si mesmo, e não por auxiliares externos. Assim como há um umbigo da terra, em torno do qual parece girar o firmamento, o nosso umbigo é o ponto central, o eixo do céu.

fonte: http://soberanayemanja.blogspot.com.br/2010/05/fios-de-contas-eleke.html
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