O Entrar e Sair de um Terreiro.
Parece um tema simples mas acreditem não é não, estou já a algum tempo presenciando algumas posturas tanto de dirigentes (pais e mães no santo) quanto dos adeptos (filhos de santo), que realmente não tem sido no meu entendimento posturas adequadas de Umbandistas.
Eu costumo sempre dizer que o lidar com o SER HUMANO, de uma forma geral nunca será uma tarefa fácil, imaginem lidar com um agrupamento que tem várias mentes pensando uma diferente da outra.
Em algumas casas o ato de ENTRAR para dentro de uma gira, simplesmente basta, chegar e pedir para entrar, as vezes o dirigente nem conhece bem a pessoa, ou a pessoa está indo a primeira vez dentro da sua casa e deu ali uma bambeada um “suposto” sinal de incorporação, e o dirigente já vem e diz: “… oh você precisa colocar branco, desenvolver sua mediunidade…”, vejam como é interessante isso, será que só porque uma pessoa apresentou um sinal mediúnico, necessariamente ela teria que ser um médium ostensivo? já foi comprovado e evidenciado que uma pessoa pode sim apresentar um sintoma de acoplamento mediúnico, simplesmente em apenas algumas situações especificas, como num caso de obsessão, ou até pelo próprio magnetismo tanto dos médiuns como dos guias que podem utilizar daquela pessoa para um único propósito em uma sessão mediúnica e nada mais.
Mas voltando, alguns dirigentes devido a suas despesas do mês, aluguel, água, luz, imposto, manutenção da casa, então vendo nas pessoas da assistência, uma fonte de lucro, são os famosos CATADORES DE MÉDIUM A LAÇO , mas por que isso acontece? porque são terreiros que tem mensalidade, que é um dinheiro que é cobrado dos médiuns para manutenção da casa, nada contra, algumas casas tem suas despesas, mas não se pode olhar para um médium e ver ele como uma fonte de lucro. Porque vejam bem, o que anda acontecendo por ai, é que quando esse médium acontece de ficar desempregado, onde ele não pode fornecer mais o “dimdim” do mês, alguns dirigentes passam a tratá-lo com indiferença, humilhação, forçam tanto a barra, que aquele médium se vê obrigado em um determinado ponto a se retirar da casa, e ceder espaço para outra pessoa que contribua, porque é óbvio que a pessoa chega em um ponto que não tem saída, evidentemente. Nenhuma pessoa gosta de ser tripudiada, precisa-se ter mais sensibilidade a vida não anda fácil para ninguém.
Bem, vou falar de como é o ingressar no TEMPLO DE UMBANDA OGUM 7 ONDAS E CABOCLA JUPIRA, o lar de Mãe Cristina e Pai Anisio, nossa casa é chefiada por Oxossi e Ogum, uma casa humilde e simples, mas temos disciplina, dentro da tradição que praticamos o ingressar de um médium na corrente é algo muito sério, e cobramos sim, disciplina, comprometimento e seriedade do adepto. Na nossa casa não há mensalidades e sim rateios quando é necessário, graças a Deus temos o nosso espaço próprio do terreiro.
Na nossa casa, o médium ele tem que no mínimo assistir a todas as linhas de trabalho, conhecer a forma de trabalho e atuação de todos os guias e linhas. Após isso, se a pessoa quiser ingressar no terreiro, deverá pedir autorização para os guias chefes da casa, os quais irão passar seus pareceres e se é o momento mais adequado para aquele médium estar entrando para dentro da corrente. Explico: alguns médiuns muitas vezes chegam num terreiro extremamente adoentados, com cargas espirituais densas, e devem antes de ingressar na gira, estarem passando por um tratamento espiritual. Porque vejam bem, se você coloca um médium assim dentro da gira, ele além de provocar um desequilíbrio na corrente ele toma uma carga energética muito forte, que pode fazer mais mal do que bem a ele. Nenhum médium em nossa casa entra para dentro da gira sem passar por essa avaliação criteriosa.
Se ele for liberado, ai ele irá sentar com os dirigentes, os quais vamos estar passando a ele as normas da casa, quanto a conduta e postura daquele filho dentro do terreiro. Uma conversa franca e verdadeira, onde damos o espaço para que aquele médium fale sobre suas expectativas e nós também falamos do que esperamos dele em nossa egregora espiritual.
Dentre algumas regras as quais temos e que acho oportuno estar citando neste texto é que não gostamos de MÉDIUNS TURISTAS, que são médiuns que tem péssimas posturas só vem no terreiro quando querem, mais faltam do que vem, ou quando tem festa na casa, ou ao contrário são os SOVINAS são aqueles que quando vai passar um rateio o cidadão simplesmente some. Então temos sim uma regra bem específica para isso, médium faltou 3 trabalhos consecutivos será convidado a se retirar do terreiro, a não ser que seja por motivos justificados de trabalho e doença comprovados.
Uma outra questão importante a ser mencionada, o médium se ele saiu do terreiro por duas vezes, ele não poderá ingressar mais na casa. Colocamos essa regra que a princípio poderá parecer rígida mais não é, pelo fato que alguns médiuns fazem de seus terreiros a verdadeira casa da Maria Joana, onde fazem e agem como bem entendem, uma casa idônea deve se dar ao respeito. Os únicos que poderão quebrar essa regra são os guias chefes do terreiro. Sabemos perfeitamente que as pessoas erram, é claro, mas quando esse erro é uma constante passa-se a ser um ato de ignorância e imprudência, os quais entregamos nas mãos dos guias e mentores para direcionar.
Alguns dirigentes já deixam correr solto, eles em suas concepções acreditam que não se deva exigir isso, RESPEITO, cada um sabe de si, só que não é bom, porque um terreiro precisa ter uma egregora sustentável, o dirigente deve saber com quem contar na sua casa, fora que fica feio o que temos vistos por ai, numa gira de PRETO VELHO ninguém vai, agora numa festa ou trabalho de EXÚ E POMBOGIRA meus irmãos e irmãs aparecerem médiuns que o dirigente nem lembra mais seus nomes. O mais triste é que há dirigentes que aceitam isso, justamente porque querem a casa lotada, para eles situações assim lhes dá STATUS E IBOPE, mas será que dá mesmo? ou é um presente de GREGO BEM GRANDE. Pensemos.
Um médium passando pela avaliação dos guias chefes e dirigentes, deverá ser orientado a estar comparecendo ao terreiro para estar passando por ritos de iniciação, esse médium terá que tomar pelo menos um AMACI, uma boa limpeza, para estar colocando seu branco.
Estamos vendo em algumas casas que o médium está entrando sem passar por nenhuma limpeza, é complicado certas posturas, porque isso prejudica em muito o médium, não lhe dá o mínimo de equilíbrio energético.
A impressão que nos passa que o negócio é ANGARIAR FILHOS e o resto que si dane, me perdoem a sinceridade. Precisamos ter mais cautela e seriedade ao estar lidando com a mediunidade alheia, o lidar com os espíritos é algo muito sério e exige cuidado. Alguns espíritos não aceitam e não perdoam certas posturas erradas ao lidar com eles. E a cobrança é inevitável.
Agora vamos falar do ATO DE SAIR DE UMA CASA, pessoal estamos vendo posturas muito tristes, desagradáveis mesmo, tanto de dirigentes quanto de médiuns nessa questão. Vejam bem é uma via de mão dupla.
Não podemos esquecer que devemos ter o mesmo RESPEITO tanto para entrar quanto para sair, o ato de sair ou ser tirado de um terreiro sempre é algo mais difícil e melindroso de ser realizado, mas devemos sempre priorizar a dignidade de ambos os lados, priorizando a VERDADE E O DIÁLOGO.
As vezes um médium entra dentro da gira, entra com todo o pique possível, cheio de vontades e fantasias, e quando ele percebe que o trabalho mediúnico é um trabalho que exige comprometimento, seriedade, que tem seus resguardos e preceitos, que tem seus direitos mas terá seus deveres, o parque de diversão perde a graça se é que me entendem. E começa ai a surgir os problemas de posturas e condutas. Porque parque de diversão? porque infelizmente alguns médiuns estão levando questões referentes a mediunidade e espiritualidade muito na brincadeira e fantasia.
Na minha opinião um dirigente ele não pode simplesmente na primeira falha, tirar o médium da corrente, não é assim também. A função de um dirigente é orientar, disciplinar, doutrinar esse médium. Estamos lidando com sentimentos e magoar uma pessoa é terrível.
A postura adequada é o médium ser advertido e orientado, caso essas advertências e orientações virem rotina, e esse médium não esteja se corrigindo, não esteja sendo evidenciado comprometimento de sua parte, e já esteja causando um desconforto no grupo de médiuns da casa, neste caso esse médium deverá ser chamado para uma conversa verdadeira e franca e convidado a se retirar do agrupamento.
Mas vejam bem, sem pragas, sem ofensas, sem feitiços. O dirigente deve ABENÇOAR aquele filho e tirar sua mão sobre sua cabeça e ENTREGAR para o ORIXÁ E SEUS GUIAS tomarem conta. Sem julgamentos, o deixar na mãos dos guias e mentores é a ação mais sensata a ser tomada.
Mas infelizmente nem tudo é flores, e tem casos que o filho de santo comete faltas graves, obrigando o dirigente a tomar uma decisão de imediato, mas deve-se sempre evitar confrontos que denigram tanto o médium quanto o terreiro envolvido. Já tivemos casos em outros terreiros de chegarem aos extremos de agressão onde médium agride o dirigente e vice versa é muito triste, fora é claro agressões de uma entidade para com a outra, oriundas de desavenças de seus médiuns.
Tem dirigentes por exemplo que não deixam seus filhos pegarem seus pertences, soube de um caso que o dirigente cortou as guias de anos de um médium, quebrou suas quartinhas, pessoal estamos falando de um dirigente espiritual é uma postura lamentável que não cabe a um papel de um dirigente idôneo. A raiva nunca foi boa conselheira, e devemos lembrar que aqueles pertences são do filho de santo e seus guias, tem espíritos envolvidos, a cobrança vem.
De fato a RAIVA NUNCA É BOA CONSELHEIRA EM NENHUMA SITUAÇÃO. Tomar atitudes com raiva, decisões, fatalmente terá grandes chances de erros nem sempre irremediáveis.
Mas por outro lado tem médiuns que são extremamente INGRATOS, eles literalmente cospem no prato que comeram.
Além de sair da casa, a denigrem, a profanam, despeitados saem falando da casa que um dia lhes ajudou e agregou, são sempre os vitimados e nunca os culpados.
O mais triste das posturas de alguns médiuns é que eles não percebem que denigrindo a casa que um dia frequentou anos por exemplo estão denigrindo sua própria dignidade.
O pior que chegam em outras casas com tantas e tantas histórias, e sempre são os enfeitiçados, e nunca os feiticeiros: porque minha mãe e meu pai de santo me mandaram feitiços, o pior é ver casos em que nunca ouve feitiço nenhum e supostos guias e dirigentes quebrando DEMANDAS FANTASMAS É TRÁGICO, CHEGA A SER CRIMINOSO NAS QUESTÕES ESPIRITUAIS. O FALSO TESTEMUNHO.
Infelizmente há sim dirigentes não idôneos como há também médiuns do pior caráter possível.
Em ambos os casos lhes falta ética espiritual e mediúnica.
Um dirigente que esteja agregando um novo filho na sua casa, primeiramente ele tem que impulsionar a esse filho a continuar sua trajetória da melhor forma possível para superar o que ele passou na outra. Trabalhando o PERDÃO, DESAPEGO E SEGUIR.
Tem médiuns que saem das casas feito ladrões, covardes, saem fugidos, simplesmente somem, mas se esquecem que a vida pode lhes colocar em situações que voltem a pegar o mesmo prato sujinho ali empoeirado que um dia comeram antes. E são obrigados a baterem na mesma porta que um dia saíram sem se despedir.
Existe algo no meio disso tudo CHAMADO FORÇA DE PEMBA, OU LEI DE PEMBA, a pior ofensa não é a humana, mas a espiritual, se o filho faz algo na casa que o seu guia e Orixá querem que ele frequente, porque sabem que ali é seu lugar, ele pode despertar uma ofensa espiritual, onde seus próprios guias e Orixás, vão lhe ensinar sobre humildade, dignidade, comprometimento e respeito da pior forma. Esse médium sai do terreiro, abandona tudo, e acha que está certo na grande maioria das vezes, só que o tempo passa, e ele percebe que não consegue se adaptar em lugar nenhum, que as coisas não estão dando certo, que tudo está travando no seu caminho. Ele se enverga, se ajoelha e reza para seus guias e Orixás lhes ajudar, não obtém resposta, e cada dia ele como uma planta sem água vai secando e secando, até que um dia, seus guias e Orixás lhe mandam sinais, muitas vezes vindo até pela boca dos demais, tipo: SERÁ QUE NÃO ERA MELHOR VOCÊ SE RECONCILIAR COM SEU PAI E MÃE NO SANTO? SERÁ QUE SEUS GUIAS ACEITARAM SUA ATITUDE? Os levando a refletir ao bom entendimento. O ato de fazer envergar não é um ato de crueldade e sim ensinar questões referentes a humildade, a quebra do ego e do orgulho. A dor é a mais dura das professoras.
Pois é, ai aquele filho do nada aparece no terreiro, cabisbaixo, envergonhado aos pés de preto velho por exemplo, lhe pedindo ajuda e perdão.
E como saber se agiu certo? basta observar se você ficou pior ou melhor depois que saiu.
Uma questão óbvia, tem bagagens que precisam ser pegas e que foram esquecidas, no meio do caminho e o filho e mesmo o pai só conseguem seguir depois de pegá-las porque algumas bagagens são cruciais para uma boa viagem.
Já vi médiuns que simplesmente se destruíram como pessoas por causa de suas próprias escolhas e erros, porque para um arrogante, vaidoso, o admitir ter errado, o pedir desculpas e perdão pode ser um ato muito difícil. Mas todo médium muito arrogante aprende da pior forma o que é humildade, e quem lhes ensina são seus próprios guias e mentores.
Uma outra questão importantíssima médiuns que sempre foram comprometidos, sérios, que do nada começam a tomar posturas não condizentes, podem estar sendo vitimas de obsessão e perseguições espirituais que acabam por influenciar-lhes direcionando a caminhos não muito dignos. Por isso que o médium deve sempre ficar atento e se conhecer bem. Orai e Vigiai.
Mas tem um outro lado da questão, que muitas vezes a missão daquele filho naquela casa terminou, e os seus próprios guias estão a lhe direcionar para outros caminhos, mas quando é os guias que estão agindo essas despedidas são costumeiramente de Paz e não de Guerra.
Tanto o dirigente quanto o médium devem priorizar o que é certo e honroso de se fazer, se errou peça perdão. Se tentou o diálogo e não deu certo, saia com dignidade e respeito, mesmo que um dos lados não saiba o que é isso. Eu costumo dizer que muitas vezes Deus não nos tira, ele nos LIVRA isso vale para ambos os lados.
Nenhuma despedida é fácil de se realizar, sempre engloba o desapegar e deixar a tristeza para trás.
Uma coisa que vale para ambos os lados é saber ter o bom entendimento os guias e mentores avisam sobre determinadas atitudes e escolhas, cabe a nós, saber calar, e ter a sabedoria de acatar um bom conselho. Para que a teimosia o orgulho não lhe custe mais que possa pagar.
Acredito que com esses toques sutis meus irmãos e irmãs possam perceber o quanto é sério certas atitudes, aparentemente humanas e falhas, mas que estão englobando questões que envolvem nossos guias e mentores e nossos Orixás.
Vamos agir e tomar decisões pesando e acatando as orientações dos nossos guias e mentores para que dessa forma evitemos sofrimentos e desapontamentos desnecessários.
Paz e Luz a todos.
Cristina Alves
Templo de Umbanda Ogum 7 Ondas e Cabocla Jupira
Santo André/SP