Quando dei por mim já estava em frente a uma queda d’água ainda mais bela da que eu imaginara. Estava dentro do rio e em frente dela, que era muito linda e bastante caudalosa.
O tempo foi passando e eu percebi que não conseguia sair de onde estava. Olhei ao redor para verificar se via alguém, mas sem sucesso.
Procurei pensar como tudo começara e tive uma idéia: só havia parado ali porque firmara meu pensamento como pedira o amigo espiritual, assim se continuasse a firmar, talvez fosse possível sair daquela situação.
Fechei os olhos e firmei meu pensamento por tempo indefinido, mas quando descerrei os olhos minhas pernas ainda se encontravam imóveis.
Comecei a ficar preocupado não devido à imobilidade, pois confio nos amigos espirituais servos de Deus, mas por não estar entendendo àquela situação.
Procurei recordar as lições que os amigos espirituais sempre procuram me passar a respeito de tudo que se refere às cachoeiras e assim, lembrei que as águas deste sítio de forças da natureza têm propriedades altamente renovadoras, que renovam tudo aquilo que já não tem mais razão de ser.
Procurei refletir sobre esta minha recordação e entendi que, se ali estava, era por que precisava de renovação em um ou mais aspectos de minha vida. Sem conseguir buscar explicação racional, o que me angustiou muito, senti vontade irrefreável de por as duas mãos nas pedras sob a queda d’água e assim o fiz.
Senti meu corpo astral vibrar com uma energia muito forte, as batidas do meu coração aceleraram e lágrimas incessantes e inexplicáveis passaram a escorrer de meus olhos.
Passei a sentir o meu corpo a pulsar uma energia multicolorida como se eu fosse apenas luz. Intui que deveria permanecer de olhos fechados e em prece e não procurei questionar.
Então senti que meu corpo permanecera na cachoeira do jeito que estava, mas também senti que já não estava mais lá, estava muito, muito leve. Olhei para minha esquerda e vi um arco-íris como a indicar uma direção e procurei segui-la.
Fui parar de frente a outra cachoeira onde várias crianças brincavam silenciosamente. Foi interessante porque lá eu conseguia movimentar-me livremente.
Uma alegria enorme, incomensurável inundou todo o meu ser e, de tão feliz que estava, também me deu vontade de brincar igual uma criança, mas antes que assim eu fizesse uma delas chamou-me.
Aparentava ter uns três anos de idade. Tinha o cabelo todo encaracolado de um castanho-claro, a pele branca e as bochechas eram, por falta de um melhor vocabulário, muito proeminentes, fofas e rosadas.
Não sei como explicar, mas sentia como se estivesse diante de um saudoso amigo e devo confessar que, se no plano físico ele existisse, eu tudo faria para adotá-lo.
- Obrigado tio!!!
Foi o que ela disse a mim.
- Obrigado pelo que?
- Pelo afeto tio! Pelo carinho!
- Você pode escutar meus pensamentos?
- Só aquilo que for importante!
- Importante para que?
- Pra ajudar você titio!
-Você? Ajudar a mim? Como assim? Você não é uma criança?
- Tio, se hoje sou criança, então um dia eu serei adulto, não é?
- Isto!
- E se hoje você é adulto, um dia tornará a ser criança, não é?
- Isto! Suas observações são muito sábias, você nem parece uma criança!
- Mas você sim tio!
- Eu o que?
- Meu tio tá parecendo uma criança, e daquelas bem birrentas!
- Acho que começo a entender: você é uma criança espiritual!
- Puxa! Demorou, hein tio!?!?!?
Ri bastante daquela observação e senti uma alegria quase incontida. Nisto, algumas lágrimas que julguei inoportunas desprenderam-se dos meus olhos. Procurei disfarçá-las e perguntei:
- De que teimosia você está falando?
- Por quê? São tantas assim meu tio? Credo!!!!
Não tive como conter as gargalhadas outra vez! E observei que novas lágrimas deslizaram, mas só desta vez notei que um peso saía de dentro de mim enquanto escorriam. Tentei disfarçá-las novamente e a escutei dizer:
- Eu tô brincando com você meu tio! Eu to falando só da teimosia que meu tio tem de não querer deixar a vida correr.
- Como assim?
- Tio, o que passou é passado. O que passou só tem utilidade se servir para uma coisa: renovar seu presente de esperanças num futuro melhor!!! Se não for assim, meu tio, o passado só vai paralisar você!!! Como já tem feito!!!
- A vida meu tio é um presente! As experiências, difíceis ou não, são para fazer você mais forte moral, consciencial e emocionalmente. Deixe as águas da renovação banharem você meu tio, pois é sua melhor chance de desempacar e seguir a vida com mais liberdade. Liberte-se meu tio! Deixe o passado para trás!
- Da mesma forma que um dia uma criança vira adulto e este se torna uma criança, um dia seus pais renascerão e você desencarnará.
- Mas é que muitas vezes ainda dói!
- A dor provoca sofrimento, mas quando se busca a força em Papai-do-céu e na força interior que cada um possui, a dor passa e torna-se esperança, mas se isto não ocorre o meu tio entra num ciclo vicioso em que o sofrimento provoca a dor que vai causar mais sofrimento.
- Como assim?
- Meu tio o que acontece se você sofrer um corte profundo na pele?
- Eu vou sangrar!
- Vai ficar sangrando pra sempre!
- Não se eu buscar socorro!
- Meu tio busca o socorro e o que acontece depois?
- Um profissional vai suturar o corte.
- Com o tempo não vai parar de sangrar? Não vai parar de doer?
- Sim
- Mas a cicatriz permanece, não é assim, meu tio?
- Isto. Exatamente!
- E se você ficar cutucando a ferida antes dela sarar?
- Ai ela não vai sarar nunca!
- Então tio! O corte provoca dor na pele e esta dor leva ao sofrimento, mas se você não ficar cutucando a pereba o sofrimento passa e a dor vai embora. Se você cutucar a ferida o sofrimento vai alimentar sua dor, que lhe causará mais sofrimento. Nada vai sarar, entende tio???
- Estou entendo sim, tudo está ficando mais claro!
- A vida do meu tio tá paralisada no passado, é preciso renovação tio! Renovação verdadeira, sem aprisionar-se ao passado. Vem tio, deixe a gente ajudar você!!! Tudo na sua vida será renovado, menos a falta de cabelos na sua careca, isto aí só na próxima encarnação!!
Não pude mais conter meu riso ao escutar a última observação! Gargalhava sem parar e nem me faltava o fôlego! Lágrimas abundantes deslizavam pelo meu rosto enquanto gargalhava, mas desta vez não tive a mínima vontade de contê-las. Enquanto tudo isto acontecia àquelas crianças, que já formavam um círculo ao meu redor, batiam palmas e cantavam louvores em uma língua desconhecida para mim.
A criança que conversara comigo acenou pedindo que eu fechasse os meus olhos e eu assim o fiz.
Os louvores e palmas continuaram. Por dentro eu explodia de felicidade e gratidão a Deus por toda àquela oportunidade. Os risos que vinham das lágrimas ( ou lágrimas que vinham dos risos ) continuaram insofreáveis, mas observei que àquele canto tinha o poder de provocar nova disposição em mim, novos pensamentos, sentimentos, possibilidades.
A criança com quem dialogara tocou em direção ao chacra cardíaco e olhou-me como quem dissesse:
- Pratique o que conversamos!
E eu, ainda gargalhando com lágrimas incontidas nos olhos, respondi-lhe com todo respeito que aprendi a lhe dedicar:
- Muito obrigado!
Ele gesticulou pedindo que eu tornasse a fechar os olhos.
Com olhos fechados senti novamente toda aquela vibração em meu corpo e voltei numa velocidade inimaginável para àquela cachoeira em que, anteriormente, não conseguia mover as pernas. Era como se minha consciência tivesse retomado meu corpo espiritual.
As lágrimas cessaram de jorrar, mas a alegria incontida ainda permanecia imutável dentro de mim.
Recebi mentalmente a orientação daquela criança espiritual que em outro plano se encontrava:
- Tio esta alegria é um presente que Papai-do-céu mandou que entregássemos a você. Foi nosso dever entregá-la e é seu dever conservá-la! Vá com Deus titio!!!
Quando abri os olhos pude observar que já havia sido transportado para o corpo físico! Olhei para o lado e vi minha esposa que dormia! A cama era a mesma, o colchão era o mesmo e até a coberta era a mesma, quanto a mim, que naquele momento não lembrava nada que vivenciara no plano astral, acordei “inexplicavelmente” com um enorme sentimento de gratidão a Deus, sentia e pensava como se fosse uma nova pessoa.
Somente hoje pude recordar de todo o ocorrido e, com um sorriso de alegria nos lábios e lágrimas de gratidão nos olhos, é que assim digo:
Muito obrigado meu Deus!!! Muito obrigado pela Cachoeira divina, pelo Arco-íris sagrado, pela falange das Crianças espirituais e por minha vida!!!
Muito obrigado pela Umbanda sagrada!
Saravá!!!!!!
Mensagem recebida por Pedro Rangel