quarta-feira, 16 de setembro de 2020

POLARIDADE

POLARIDADE

De todos os veículos para a satisfação de nossas necessidades mais primordialmente humanas (principalmente a de amor & conexão), nenhum é mais completo (e complexo) em sua capacidade, tanto de satisfação quanto de frustração, do que um relacionamento íntimo. Funcionando bem, nada (N-A-D-A) pode dar mais prazer e satisfação. Funcionando mal, nada pode causar maior dor. E, mais do que a indústria da dieta, da boa forma, da auto-ajuda, do sucesso e da superação, nada rende mais estória (livro, cinema, música) e receitas do que fazer para conseguir “ser feliz com alguém” que tenha vontade própria e, tal como nós mesmos, suas próprias necessidades para satisfazer. Nossa facilidade em negligenciar nossos relacionamentos sob a justificativa de termos de focar em nossos trabalhos, carreiras, ganhar dinheiro e deixar nossa marca no mundo, talvez comece justamente no fato de que trabalho e dinheiro, por exemplo, são dois veículos também excepcionais para satisfação de nossas necessidades. Com uma diferença (“vantagem”): trabalho e dinheiro são coisas sobre a quais PODEMOS TER CONTROLE. Relacionamentos (que valem a pena com pessoas que valem a pena) não é algo sobre o quê podemos simplesmente impor nossa vontade.
Nesta série de artigos minha ênfase será naquilo que, pelo menos no Brasil, não tem sido falado ou escrito pelos “especialistas”. Boa parte das idéias que serão apresentadas aqui não são originalmente minhas, mas fruto da combinação dos fundamentos da Psicologia Evolucionista das Necessidades Humanas (da qual sou uma voz orgulhosamente solitária neste hemisfério) com a abordagem nada ortodoxa do americano David Deida sobre sexualidade, energia e polaridade.
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AMOR, ROMANCE E POLARIDADE: AS TRÊS FORMAS DE AMAR
A primeira coisa que deveríamos saber para maximizarmos nossa satisfação e minimizarmos nossa frustração é a diferença entre amor, romance e polaridade sexual. Você pode amar qualquer um ou qualquer coisa. Amor é “simplesmente” a ausência de separação; é quando você se torna UM com a pessoa ou com a coisa que está contemplando. Amor é UNIDADE e TOTALIDADE levadas ao ponto máximo e, por isso, não existe limite para o número de pessoas, coisas ou lugares que você pode amar. Amor é um sentimento inclusivo (que i-n-c-l-u-i). Amor é a maior das coisas e, por isso, o maior dos assuntos. Mas, paradoxalmente, pode ser condensado assim: amor é tornar-se UM com o OUTRO, UM com TUDO, UM com o TODO, UM com o SEMPRE. O resto, deixo para o Djavan explicar na canção Faltando Um Pedaço e para o Renato Russo encerrar com sua Monte Castelo.
Romance é um sentimento exclusivo (que e-x-c-l-u-i), significando que quando começamos isso com alguém, nossa tendência é excluir todas as outras pessoas dessa esfera específica de nossa atenção. A situação clássica é: “finalmente, esta é A PESSOA, aquele ou aquela por quem sempre procurei”. Você sente uma profunda familiaridade por essa pessoa em especial e, uma das muitas possíveis razões para isso é que a pessoa atende (ou parece atender) todas as suas regras e critérios sobre o que a pessoa ideal deve ser, ter ou fazer. A criatura em questão tem o poder (ou o encanto) de fazer você sentir-se “em casa” de uma forma irresistível. Isso é romance, ou “se apaixonar”. Começa com um sentimento forte de TOTALIDADE (vocês parecem ter e ser tudo um para o outro) e UNIDADE e SIMILARIDADE (você e o outro se acham tão parecidos como se conhecessem um ao outro “a vida toda”.) Parece coisa do destino, karma, “vidas passadas”, alma gêmea.
Mas, inevitavelmente, enquanto que, com o passar do tempo um relacionamento baseado em amor apenas cresce e se fortalece, romance, na grande maioria das vezes, termina em frustração. Quando, inevitavelmente, a novidade se torna certeza, a certeza se torna se torna castigo: seu “par perfeito” se torna perfeitamente equipado para causar-lhe frustração e irritação. Essa pessoa que em um momento foi tão especial, mágica e perfeita, que lhe daria tudo o que você sempre quis, que traria amor e preenchimento sem fim para sua vida, parece tornar-se precisamente a pessoa que não lhe dá aquilo que você quer. A pessoa que antes tinha a capacidade de despertar o melhor em você agora tem a habilidade de despertar o pior, apenas por ser quem ele ou ela é. E você faz o mesmo para ele ou para ela.
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POLARIDADE SEXUAL
A força sutil da polaridade sexual permeia e contorna tudo em nossas vidas. Influencia nossas escolhas mais precoces na infância, determina com quais brinquedos iremos brincar, se iremos preferir a companhia de meninos ou de meninas, se teremos mais encanto pelo microscópio e pela enciclopédia ou pelas cores e pela música, se gostaremos mais dos números, da abstração e da filosofia ou se nos renderemos ao apelo da dança, do drama e dos (muitos) sapatos coloridos. Se seremos conduzidos mais pela inteligência do corpo e pelas sensações ou pela direcionalidade da cabeça e sua transcendência. Se buscaremos mais por amor ou por liberdade, se nos sentiremos mais atraídos pela vida ou mais seduzidos pela morte.
Polaridade sexual é a atração ou a repulsão magnética entre a energia Masculina e Feminina presente (ambas) nos homens e nas mulheres. É o que está por trás (ou por dentro, na frente, em cima ou em baixo) do fato de algumas pessoas terem o poder de provocar em você o aumento da temperatura do seu corpo, enrubescer seu rosto, disparar a batida do seu coração, levar caos ao seu padrão normal de respiração, fazer você transpirar ou hidratar partes bem específicas do seu corpo. É o que nos deixa desconfortáveis (fisiologicamente abalados) com a presença da melhor amiga ou do melhor amigo de nosso cônjuge ou da pessoa com quem temos um compromisso. É o que desafia a consciência, testa os valores e pode por em xeque a identidade dos pais quando suas filhas deixam de ser garotinhas, tornam-se mulheres e começam a transpirar sensualidade, exercendo uma atração muitas vezes maior do que suas mães agora conseguem. É o que deixa um casamento cheio de vida e que, quando vai embora, leva junto a vida e o tempero da relação. Somos afetados pela polaridade dos pés a cabeça, da superfície da pele ao fluxo sanguíneo. Até nós a entendermos e descobrirmos que essa força pode ser conscientemente acionada ou desativada, nós a chamamos e a limitamos à idéia de “química”.
Polaridade sexual é um campo de energia que flui entre duas pessoas. Quando essa atração magnética deixa de existir em nosso relacionamento íntimo começamos a sentir que está “faltando alguma coisa” e geralmente culpamos nosso parceiro ou parceira ou a nós mesmos, sem entender exatamente o que está acontecendo (ou deixando de acontecer). Para entender nossas oscilações (cíclicas) da atração para a repulsa (ou da paixão para o desgosto), temos de entender como a polaridade sexual funciona. Como a eletricidade e o magnetismo, a polaridade sexual requer dois pólos. Assim como para a eletricidade fluir é necessário um pólo positivo e um negativo e, no magnetismo, um pólo norte e um pólo sul, para que a energia sexual flua é necessário também dois pólos: Masculino e Feminino.
Uma força magnética natural flui entre os pólos masculinos e femininos das pessoas e é por isso que, por exemplo, se você e um grupo de amigos ou amigas estão envolvidos em uma conversa e uma pessoa do sexo oposto extremamente atraente entra na sala, uma força quebra automaticamente a “harmonia” ou a concentração do grupo. É a força da atração automática entre a energia Masculina e Feminina que faz com que seu corpo, sua mente e suas emoções respondam automaticamente, como a agulha de uma bússola reage a aproximação de qualquer objeto magnetizado. Quando dois magnetos estão orientados de forma que seus pólos opostos (norte e sul) se aproximem, esses dois pólos se atrairão. Mas quando a aproximação é feita pelos dois pólos similares (de força igual), esses dois pólos irão repelir um ao outro.
A mesma coisa acontece com a polaridade sexual. Em um relacionamento intimo, quando o pólo da energia Masculina de uma pessoa se aproxima do pólo da energia Feminina da outra, a força resultante atrai um ao outro. Mas quando os dois pólos Masculinos, por exemplo, são sistematicamente ativados pelas duas pessoas, a paixão ou atração entre elas é neutralizada, podendo essas duas pessoas sentirem até mesmo repulsa uma pela outra, como se uma força invisível estivesse agindo entre elas.
Se queremos passar mais tempo aproveitando do que consertando nosso relacionamento íntimo (ou procurando um novo a cada a três meses), temos que saber e entender que, a menos que pratiquemos conscientemente a arte de cultivar a polaridade sexual, a atração ou a paixão em nossos relacionamentos sempre tenderá a minguar e a morrer ao longo do tempo, porque continuaremos inadvertidamente a neutralizar a polaridade através de comportamentos equivocados e mal-entendidos sobre nossas necessidades e as de nosso par.