segunda-feira, 14 de setembro de 2020

AMULETOS & TALISMÃS

AMULETOS & TALISMÃS

Para os ciganos, os anéis sempre tiveram um significado especial. É o símbolo do amor, da eternidade do casamento e um dos talismãs mais utilizados nas práticas mágicas.
     Esse conhecimento e essa valorização do anel como peça importante de nossa cultura tem suas origens no Velho Egito, por onde passaram os ciganos há milhares de anos atrás.
     No British Museum, da Inglaterra, á um anel de ouro, com um engaste liso e oval, onde consta a seguinte inscrição: "Maãt, a dourada dama de ouro das duas terras". Segundo estudos feitos, o anel foi feito entre 1000 e 1200 A.C., isto é, em torno de três mil anos.
     O círculo sempre foi considerado um símbolo mágico, porque representa a vida, segundo os iniciados, já que não tem princípio nem tem fim, mas é uma constante renovação, algo em que os egípcios acreditavam piamente e no que investiram todo o seu conhecimento, chegando a um nível não mais alcançado por nenhum povo na preservação e mumificação dos corpos, para que um dia retornassem à vida.
     Assim, nos amuletos e talismãs de origem cigana, anel, pulseiras e colares têm um significado especial porque representam o círculo e todo o conceito nele envolvido de eternidade, renovação e crença numa vida futura.
    
PARA ETERNIZAR UM AMOR
     Algumas práticas ciganas são muito pouco divulgadas, já que a literatura, de modo geral, busca retratar aspectos folclóricos estilizados da vida de nosso povo.
     Na verdade, muito do que é mostrado não condiz com a realidade. A velha tradição está se perdendo, pois o sedentarismo é uma realidade e aos poucos está seduzindo todos os nômades, principalmente os da nova geração.
     A de eternizar o amor num juramento secreto, feito apenas pelo casal de enamorados é uma das práticas mais bonitas e pouco divulgadas.
     Muitas vezes o casamento é arranjado pelos pais, mas não significa que será concretizado. Isso é o que tem provocado muitos casos de ciganos que deixam suas tribos, porque, apaixonados por outras pessoas, acabam fugindo para concretizar seu amor.
     Um amor que, numa noite de lua cheia, ao redor de uma fogueira, foi jurado da seguinte forma: a mulher tece um anel com fios de seus cabelos. O homem fez o mesmo. Os anéis são banhados com vinho e depois seguros com a mão direita. O homem coloca o anel no dedo anular da mulher e ela fez o mesmo com ele. Beijam-se e juram amor eterno. Nada mais conseguirá separá-los a partir de então, pois custe o que custar, acabarão juntos para cumprir o juramento.

 PARA CHAMAR A ATENÇÃO DE ALGUÉM
     O flerte é uma prática comum em qualquer cultura, pois antecede ao namoro, que também é uma situação normal. Para um casal de ciganos, porém, na idade de se apaixonar, isso pode não ser tão simples, principalmente se já estiverem prometidos para outras pessoas, dentro do espírito que norteia os casamentos ciganos.
     Tem se tornado muito comum atualmente que esses compromissos acabem sendo quebrados. Em muitas tribos, eles já nem são mais realizados, o que significa um avanço, mas um abandono da antiga tradição.
     Quando um casal de ciganos comprometidos se olhavam e se gostavam, costumavam chamar a atenção um do outro entregando-lhe furtivamente um anel ou uma pulseira feita com uma fita colorida, com alguns nós.
     Tanto as cores da fita quanto a quantidade de nós tinham seus objetivos, a saber:
 Fitas:
     Fita vermelha: Estou apaixonado(a).
     Fita verde: Você me encantou.
     Fita azul: Meu amor só aumenta.
     Fita laranja: Meu coração é todo seu.
 Nós:
     Um nó: Quero conhecê-lo melhor.
     Dois nós: Quero me encontrar com você.
     Três nós: Quero me dar a você.
     Quatro nós: Quero ter você.
     Cinco nós: Não posso mais esperar.
     Seis nós: Estou louco(a) de amor.
     Sete nós: Fujamos!
     Dessa prática antiga restou hoje o hábito dos namorados trocarem pulseiras nas cores e com o número nós que melhor interpreta seus anseios. Segundo os mais jovens, a troca de anéis ou pulseiras dá muita sorte aos enamorados, que sempre acabam ficando juntos.

PARA PROTEÇÃO CONTRA O MAL
     Anéis devidamente preparados foram e são também utilizados como poderosos amuletos para afastar o mal, representado pelos maus espíritos, maus fluídos, mau agouro e outros agentes causadores de males e desgraças em geral.
     Para isso, era preparado um pequeno ritual, numa noite de Lua Cheia, junto a uma fogueira. Um anel de ouro ou de prata era deixado dentro de uma caneca de cobre ou bronze, contendo vinho.
     A caneca era posta junto ao fogo, até que o vinho fervesse. Quando isso acontecia, seu conteúdo era derramado sobre um lenço para se retirar o anel.
     Ainda quente, mas não a ponto de provocar queimaduras, o anel era posto no dedo indicador da mão direita para proteger seu proprietário contra as moléstias e outras manifestações sobrenaturais voltadas para o mal.

PARA NEUTRALIZAR UM INIMIGO
     Os ciganos evitavam se envolver em guerras ou lutas, mas isso não os poupava de ter seus inimigos. Essas pendências eram por demais complicadas para eles, pois como viajantes de passagem por um local, eram sempre olhados com reservas e perseguidos, no caso de se envolverem com qualquer habitante do local.
     Usavam, portanto, artes mágicas para neutralizar um inimigo, conseguindo assim tempo para se afastar dali e escapar aos problemas que, certamente, adviriam de qualquer reação.
     O mago da tribo, a pedido do cigano, fazia um boneca e nele incorporava alguma coisa do inimigo em questão: um fio de cabelo, um pedaço da sua roupa ou a poeira do chão onde ele havia pisado. Após isso, um cordão feito de couro, imitando um laço, prendia esse boneco, imobilizando-o como um laço de verdade faria com um ser humano normal.

PARA DEMONSTRAR ADMIRAÇÃO A UM HOMEM
     Além dos círculos coloridos com nós, as ciganas tinham outras formas sutis de demonstrar sua admiração por um homem. Obtinham a medida do seu dedo anular direito, usando de todo e qualquer artifício a sua disposição, porque o anel a ser dado àquele homem tinha de servir perfeitamente e ser sob medida.
     Feito isso, mandavam fazer um anel de ferro, com uma chapa que continha uma inscrição. O anel indicava sua admiração, mas a inscrição tinha o seguinte significado atrevido, com poder mágico:
     Rosa: quero o seu amor.
     Cravo: quero conhecer sua força.
     Trevo de quatro folhas: quero sentir sua masculinidade.
     Observação: Um homem pode mandar um anel de ferro para uma mulher, com uma inscrição mais ou menos com o mesmo significado. Ao recebê-lo, a mulher pode guardá-lo, sem dar resposta, devolvê-lo, significando que recusa a atenção do homem ou, finalmente, usá-lo no dedo anular da mão esquerda, simbolizando sua submissão e sua aceitação.

PARA PREPARAR UM ANEL MÁGICO
     Mistura-se a lenda com a realidade hoje em dia, pois o conhecimento da preparação do famoso anel mágico dos ciganos foi, segundo uns, irremediavelmente perdido durante o período da Segunda Guerra Mundial.
     Para outros magos ciganos, no entanto, alguns registros esparsos foram compilados, permitindo-se chegar de novo à velha fórmula do anel mágico, que tinha o poder de ser amuleto para expulsar qualquer malefício e talismã para realizar qualquer sonho ou desejo.
     Para sua elaboração, era preciso que, de posse de todos os materiais, se esperasse a noite em que a Lua Nova ou a Lua Cheia subisse ao céu, alinhando-se com quatro estrelas, formando ela o centro de uma cruz.
     Quando isso ocorresse, um punhado de terra e um punhado de vegetação eram apanhados, seguindo-se a linha que descia do pé da cruz até os pés do mago. Era feito um montinho no chão e sobre ele posto uma pedra preciosa da cor do signo da pessoa para quem era destinado o anel.
     Ao redor espalhava-se gravetos e ateava-se fogo neles. Esperava-se até que eles se apagassem. A pedra era retirada e engastada no anel. Depois de pronto ele era lavado em água corrente e esfregado com pétalas de rosa branca, posto num estojo de madeira e entregue ao seu proprietário, que lhe daria o uso que desejasse.

PARA ENFEITIÇAR UM HOMEM
     Diversos são os encantamentos preparados pelas ciganas para encantar um homem e deixá-lo a sua mercê. Um dos mais freqüentes ainda hoje é o do anel perfumado, muito simples e fácil de ser feito.
     Numa sexta-feira de Lua Cheia, a mulher deve tomar um banho de corpo inteiro, usando apenas um anel de ouro com uma pedra vermelha. Após o banho, perfumar apenas o local do dedo sob a pedra do anel.
     Ir ao encontro do homem que deseja enfeitiçar e, usando de algum subterfúgio, fazer com que ele cheire a pedra do anel. Feito isso estará preso a ela, até o próximo período da Lua Cheia, quando a simpatia deverá ser repetida ou feita com outro, a critério da cigana.

PARA COMBATER MAU OLHADO
     Por sua beleza misteriosa e seus encantos já lendários, as ciganas não são olhadas com muita admiração pelas mulheres dos "gadjos", principalmente se ameaçam seduzir-lhes seus homens.
     A inveja e o mau olhado são temidos pelas ciganas que usam de um amuleto muito eficaz para mantê-los longe delas. Um anel de bronze ou cobre, com um olho aberto gravado numa chapa oval.
     Toda primeira noite da Lua Minguante elas usam limpar esse anel, esfregando pimenta moída e sal, depois lavando em água corrente.
     Observação:
     Por outro lado, há um tipo de anel também usado com freqüência pelas ciganos, principalmente as mais bonitas e temperamentais, que além de um olho aberto traz também uma boca de lobo igualmente aberta.
     O objetivo desse anel é rebater o mau olhado, devolvendo o mau olhado com sua força aumentada pelo poder das presas do lobo.