Na religião de Umbanda, no dia-a-dia, nós conhecemos as entidades que chamamos da Esquerda que são: Exu e Pomba Gira.
Exu trabalha junto com Pomba Gira na esquerda da Umbanda.
O que é a Esquerda? É tudo aquilo que lida com o aspecto emocional, com o nosso negativo, assim como direita é o que lida com o racional, com o nosso positivo.
Todos nós temos uma direita e uma esquerda: a direita são os aspectos positivos e racionais; esquerda: negativos e emocionais – emocionais e não afetivos, que não se confunda a palavra emocional com a palavra afetivo.
Quando temos problemas e desequilíbrios, isso se dá por conta de dificuldades emocionais, como lidar com as situações porque racionalmente nós não teríamos problemas, por exemplo: racionalmente eu entendo que eu não devo nunca ficar nervoso, racionalmente eu entendo que eu devo sempre ter paciência, racionalmente eu entendo que entrar em desequilíbrio prejudica a mim e as outras pessoas, racionalmente eu entendo, por exemplo, que dinheiro não é tudo e não é tão importante quanto a minha saúde, racionalmente eu entendo que mais vale o que eu sou do que o que eu tenho, mas, por dificuldades internas, por questões emocionais, às vezes, a gente age de uma forma que não gostaria, às vezes a gente perde a paciência, fica nervoso, às vezes nós temos dificuldades em lidar com situações que nós consideramos negativas, são dificuldades que vem e são de ordem emocional porque racionalmente nós entendemos o que é bom e o que é ruim, o que é certo e o que é errado, o que faz bem e o que não faz, emocionalmente a gente não consegue lidar com isso.
Exu e Pombagira nos ajudam muito a lidar com essas questões porque eles atuam no campo negativo, descarregando, cortando, encaminhando, por isso se chama Esquerda porque eles trabalham com as energias a nossa esquerda, consideramos que está a nossa esquerda tudo o que é mais denso, mais pesado, negativo, tudo aquilo que está ligado também com as nossas dificuldades, com os nossos traumas, com as nossas fobias, etc.
Este é o campo onde trabalham Exu e Pombagira, no dia-a-dia de Umbanda, desde o início da religião, vemos a presença de Exu e Pombagira. Isso quer dizer que na Tenda Nossa Senhora da Piedade de Zélio de Moraes também havia e há presença e trabalho com Exu e Pombagira.
A entidade Pomba Gira, como nós a conhecemos, é uma entidade de Umbanda, no entanto, está registrado no livro “As Religiões do Rio” de João do Rio, um livro de 1904, escrito antes de a Umbanda ser fundada, a entidade Pomba gira.
A Umbanda não inventou, não criou uma entidade Pombagira, ela se assentou na religião de Umbanda. O nome Pombagira tem algumas origens prováveis acredita-se que seja uma corruptela, uma contração, uma evolução do nome “Pambu Njila”. Pombu Njila é o nome de uma divindade Bantu que quer dizer “O Senhor dos Caminhos”, ali é uma divindade masculina.
Dentro da cultura Gegê, da cultura Bantu de Angola ou Congo e da cultura Nagô Yorubá, nós vemos nomes diferentes para Exu.
Exu é na cultura Bantu, Pambu Njila, Exu também aparece como Aluvaiá na cultura Bantu e aparece como Legbá, Legbara, Elebará, ELeba, Leba, Leguá, todos esses são nomes para identificar o Vodun que é a mesma divindade que o Orixá Exu, há um Trono que é o Trono da Vitalidade e do Vigor na cultura Nagô Yorubá é chamado de Orixá Exu, na cultura Gêge ele é chamado de Elebá, Elegbá, Legua, Leba e também é chamado de Aluvaiá na cultura Bantu e também há Pombu Njila.
De Pambu Njila a palavra foi se contraindo e Exu, a entidade de Umbanda, desde o começo da religião, se apresentou com uma companheira e essa companheira foi chamada de Bombogira, Pambogira, Pombogira e acabou se estabelecendo com o nome Pombagira. Embora muitas digam que não são pomba e não giram, esse é o nome mais popularmente conhecido, é o nome pelo qual elas se identificaram. Em alguns Terreiros elas são chamadas de Lebará “Vamos trabalhar com as Lebará” – Lebará também é um nome de Exu – então, o nome de Pombagira revela a sua relação com Exu, a sua proximidade com Exu.
Se fosse interpretar isso na Língua Portuguesa ou querer dar uma interpretação simbólica para Pombagira, nós diríamos que ela também é uma mensageira – que a pomba e os pombos são mensageiros, é uma pomba e não um pombo porque é feminino – ela é uma mensageira que faz as coisas acontecerem, faz as coisas girarem, Pombagira, o nome “gira”, de girar, nos faz lembrar uma mulher se movimentando, girando, dançando, isso também está ligado a Pombagira que é uma energia feminina, uma energia forte, uma energia envolvente daquela que faz par perfeito com Exu porque Exu é o vigor, a vitalidade e Pombagira é o estímulo e o desejo.
Não adianta você ter muito vigor e não ter desejo não saber o que fazer com esse vigor; não adianta você ter desejo e não ter vigor, não ter vitalidade pra realizar os seus desejos, por isso eles se completam e se complementam: Exu e Pombagira – vigor e vitalidade / estímulo e desejo – Agora, não caia no erro de dizer que Pombagira é Exu feminino porque dizer que Pombagira é companheira de Exu é uma coisa, agora dizer que é Exu feminino é outra são coisas diferentes.
Assim como Logunan não é o Oxalá feminino é a mãe Logunan que faz par com Oxalá;, Oxum não é o Oxumaré feminino, é mãe Oxum que faz par com Oxumaré; Yansã não é Ogum de saia, não é o Ogum feminino, Yansã é a mãe que faz par com Ogum; Egunitá não é Xangô de saia, não é um Xangô feminino, Egunitá é a mãe que faz par com Xangô; Nanã Buroquê não é o Obaluayê feminino; Yemanjá não é o Omulu feminino, da mesma forma Pombagira não é Exu feminino.
Pombagira é Pombagira e ponto final. Companheira, parceira de Exu porque atua nos mesmos caminhos, nos caminhos a esquerda da Criação, a esquerda dos seres humanos, lida com as questões negativas, mas lida de forma diferente e complementar.
Exu é a força masculina a nossa esquerda, Pombagira é força feminina a nossa esquerda. Eles são guardiões de mistérios, Exu é guardião de mistério, Pombagira é guardiã de mistério.
Se as Pombagiras de Umbanda fazem par com os Exus de Umbanda, a entidade Pombagira faz par com a entidade Exu e a entidade Exu é amparada pelo Orixá Exu, a entidade Pombagira também é amparada por um Trono: o Trono dos Desejos e do Estímulo. Um Trono até então desconhecido quanto a Orixá na Umbanda e por falta de outro nome, para não inventar ou criar um nome, podemos chamar esse Trono, essa divindade de: Orixá Pombagira, nossa amada, querida, adorada, apaixonante Mãe Pombagira.
Tanto Exu, quanto Pombagira são pontos fortes e pontos fracos na Umbanda: ponto forte se a gente conhece; ponto fraco se a gente não conhece. Porque em torno de Exu e Pombagira existe muita polêmica, existe muito preconceito com relação a Exu e muito preconceito com relação a Pombagira porque as pessoas não conhecem, não sabem o que é Exu, não sabem o que é Pombagira e de ouvir falar, julgam que Exu seja o capeta, o tinhoso, o belzebu, que Exu seja ladrão, seja bandido e que Pombagira seja vulgar, seja uma mulher da vida, seja alguém de sexualidade fácil, entregue, isso não é Pombagira.
Confundem Pombagira com obsessor sexual, isso é outra coisa, as pessoas não sabem bem o que é Umbanda e criticam a Umbanda, não sabem o que é Exu e criticam Exu, não sabem o que é Pombagira e criticam, as pessoas acham que Umbanda é magia negra e falam mal da Umbanda como se fosse uma religião que pratica o mal, quando, na realidade, pratica o bem.
O preconceito com relação à Umbanda é projetado em Exu e Pombagira, até porque se Umbanda faz o mal, então justamente Exu e Pombagira devem estar à frente disso. Primeira coisa: Umbanda é religião, pratica única e exclusivamente o bem, Exu e Pombagira trabalham na Umbanda, se Umbanda só pratica o bem, Exu e Pombagira estão na Umbanda para praticar o bem, essa é a questão, estão pra ajudar, pra fazer o bem.
Fazer o bem implica em cortar o mal, desmanchar o mal, encaminhar o mal, anular o mal, desagregar a energia negativa, consumir a energia negativa, purificar a energia negativa, fazer o bem não nos isenta de lidar com o mal, mas com o mal alheio evitando que o mal alheio chegue, destrua, evitando que o mal alheio ataque, evitando a demanda alheia e o nosso mal, a maldade nossa interna porque ninguém é isento de maldade, ninguém é isento de sentimento negativo.
Exu e Pombagira também vão trabalhar os nossos sentimentos internos mal resolvidos. Exu não é trevas, mas ele desce nas trevas pra resolver os nossos problemas, Pombagira não é trevas, mas ela desce nas trevas pra resolver os nossos problemas. Exu e Pombagira formam um par. Há o Orixá Exu que sustenta toda a Esquerda da Umbanda por meio das entidades Exu e há um Orixá Pombagira, há um Trono de Deus chamado Trono Mahor que nas outras religiões tem outros nomes.
Na Umbanda esse Trono é o sustentador da linha de trabalho chamada Pombagira, agora para quem gosta de questionar, para os questionadores da mitologia Nagô Yorubá, também temos algo a dizer por que Orixá é o nome que se dá as divindades na cultura Nagô Yorubá, no Candomblé Ketu, no Candomblé que vem da cultura Nagô Yorubá se cultuam os Orixás, na África o culto de Nação da cultura Nagô cultua os Orixás.
A Umbanda tem liberdade porque a Umbanda é uma religião brasileira, não é uma religião africana, a Umbanda tem liberdade de cultuar Orixá ou de venerar um santo Católico ou um Anjo. A Umbanda tem liberdade de entender que aquilo que nós chamamos de divindades, por meio da linguagem da cultura Nagô Yorubá é identificado com o nome Orixá.
Toda e qualquer divindade que chegar à Umbanda conhecida ou desconhecida pode ser chamada de Orixá, porque esse é o nome que nós identificamos as divindades.
Na cultura Nagô Yorubá costuma-se dizer que há centenas de Orixás conhecidos e centenas de Orixás desconhecidos.
Quando alguém diz: “Olha, este é um Orixá”, quando uma entidade revela um Orixá, como Logunan, se diz: “Ah mas eu não conheço esse Orixá”, o fato de você não conhecer um Orixá, não quer dizer que ele não exista. “Mas esse Orixá não existe no Candomblé?”, o fato dele não existir no Candomblé não quer dizer que ele não existe na África. “Mas não temos nenhuma referência, não existe nenhuma lenda conhecida que esse Orixá tenha sido cultuado na África?”, há Orixás que já foram cultuados na África que seu culto desapareceu porque o culto de Orixá faz parte de uma cultura milenar em que muitos foram cultuados em épocas diferentes, o seu culto foi desaparecendo, a mesma coisa a gente vê no Egito.
No Egito houve épocas em que predominou o culto ao deus Athon, houve época em que predominou o culto ao deus Rah, houve época em que predominou o culto a este ou aquele deus, a mesma coisa na Índia.
Na cultura africana se afirma: existem centenas de Orixás, ninguém conhece todos. E há centenas de Orixás totalmente desconhecidos, Orixás desconhecidos são Orixás que não foram humanizados, Pombagira, o Orixá que nós desconhecemos o nome que é Mãe Mahor – o nome do Trono é Mahor – a sua feição como Orixá que nós desconhecemos o nome pra um Orixá que seja o Trono do desejo e do estímulo, nós desconhecemos.
Isso não quer dizer que esse Orixá nunca existiu na África e se ele nunca houvesse sido cultuado na África, ele existe entre aqueles Orixás desconhecidos, que não haviam sido revelados. Pombagira, esse Orixá que nós estamos chamando de Pombagira, com que direito nós chamamos esse Orixá de Pombagira? Com o mesmo direito que existe o Orixá Exu, nós pegamos o nome do Orixá Exu emprestado e demos o nome Exu para os nossos guardiões, espíritos humanos.
Nós chamamos de Exu espíritos humanos que militam na Umbanda como guardiões de mistério, por quê? Porque eles estão sob a força do Orixá Exu, mas não é o Orixá Exu, são entidades Exu. Com Pombagira nós fizemos o contrário, pegamos o nome das entidades Pombagiras que estão sob a força de um Orixá desconhecido, pegamos o nome Pombagira que é o nome da entidade e nomeamos o Orixá, identificamos o Orixá regente dos mistérios das entidades Pombagira, esse é o procedimento.
Parece que com Exu e Pombagira tudo é assim, quando ele protege o externo, ela protege o interno; quando ele é vigor e vitalidade, ela é estímulo e desejo, então um completa o outro, pegamos o nome do Orixá pra chamar a entidade, pegamos o nome da entidade para identificar o Orixá. Na cultura Nagô Yorubá o que mais se aproxima de Pombagira com relação a trabalhar uma força negativa, um mistério negativo são as temidas Yamin. As Yamin são chamadas de “mães feiticeiras”, elas são em quase tudo o contrário de Pombagira porque onde Pombagira é extrovertida, às vezes, debochada, solta, livre, onde Pombagira é sensual, as mães feiticeiras são fechadas, compenetradas, sérias, são velhas mães feiticeiras chamadas de Yamin.
Esse Orixá é desconhecido, mas está sendo revelado, é o Orixá que sustenta a linha de trabalho das Pombagiras na Umbanda, então de uma forma Umbandista, de uma forma didática, o mais certo, fácil e simples pra nós é identificá-la como Mãe Orixá Pombagira.
Pombagira é o Orixá do desejo, do estímulo, vamos trazendo pra terra essa realidade, esse contexto. É a divindade do desejo, então quando se fala em desejo, a maioria das pessoas pensa no desejo sexual.
Vamos começar a destrinchar, a situar: desejo e estímulo, se preferir, desejo ou estímulo – extremamente importante para nós, desejo não é apenas algo sexual, o desejo é também o desejo pela fé, desejo de amor, desejo de conhecimento, desejo de justiça, desejo de lei, de evolução e de geração. O Trono é o Trono dos desejos, dos estímulos que vai trabalhar o seu desejo, o seu estímulo nos sete sentidos da vida. Se Exu é o vigor nos sete sentidos da vida, Pombagira é o estímulo nos sete sentidos da vida, ela vai estimular, ela também é tripolar.
Exu é representado no tridente quadrado que vitaliza, desvitaliza e neutraliza; Pombagira é representada pelo tridente redondo que estimula, desestimula e neutraliza as ações negativas no campo de todos os Orixás.
Há uma Mãe Maior: Orixá Pombagira, abaixo dela há sete Orixás Pombagiras Guardiãs Planetárias: Orixá Pombagira Guardiã dos Cris tais, Orixá Pombagira Guardiã dos Minerais, Orixá Pombagira Guardiã dos Vegetais, Orixá Pombagira Guardiã do Fogo, do Ar, da Terra e da Água.
Temos sete guardiãs Maiores, sete Orixás Pombagira Guardiã dos sete sentidos da vida e quatorze Pombagiras Guardiãs dos Mistérios dos quatorze Tronos de Deus, ou seja, orixá Pombagira Guardiã dos Mistérios de Oxalá, Orixá Pombagira Guardiã dos Mistérios de Logunan, Orixá Pombagira Guardiã dos Mistérios de: Oxum/ Oxóssi/ Obá/ Oxumaré/ Xangô/ Egunitá/ Yansã/ Ogum/ Obaluayê/ Nanã/ Yemanjá/ Omulu. Mãe Maior, sete Mães, quatorze Mães e abaixo delas as Pombagiras Naturais, Encantadas e as Pombagiras de Umbanda – espíritos humanos.
A ação de Pombagira é assim como a ação de Exu, uma ação tripolar, Exu atua com tridente quadrado, vitaliza, desvitaliza e neutraliza. Pombagira trabalha com tridente redondo, estimula, desestimula e neutraliza uma ação negativa, em qual campo? Em qualquer campo.
O desejo é universal, o estímulo é universal. Eu preciso querer, é preciso desejar acordar cedo pra ir trabalhar, é preciso desejar uma vida melhor pra você querer se tornar alguém melhor é preciso ter o desejo de ser alguém melhor, de ser legal, de ser bom, de fazer o bem, o desejo de fazer o bem pelo bem em si mesmo para que a gente seja conduzido a algo melhor, é preciso o desejo de crescer, de evoluir, então em todos os sentidos da vida é necessário que exista o desejo.
E não adianta eu ter o desejo de atravessar uma ponte e não ter força para caminhar, não adianta eu ter o desejo de construir uma casa e não ter força pra virar o cimento, não adianta eu ter o desejo de me tornar alguém melhor e não ter força pra vencer as minhas dificuldades internas, não adianta o desejo pela fé sem a força de concretizar a fé.
Não adianta desejo sem vitalidade, estímulo sem vigor, não adianta você querer fazer muitas coisas e isso não sair do campo das ideias, todo mundo conhece alguém que tem muitas ideias, muitas vontades e não concretiza nada, alguém que é cheio de vontade, cheio de desejo que está sempre falando e contando o que vai fazer e não faz nada, também há pessoas que tem muita força de realização para realizar o desejo dos outros, que não consegue realizar os próprios desejos, que pra trabalhar pra alguém ele é ótimo, mas pra trabalhar pra si mesmo não é bom.
Pombagira trabalha o desejo nos sete sentidos da vida, ela vai nos estimular as nossas virtudes e desestimular os nossos vícios, esse é o campo principal de Pombagira, estimular virtudes, desestimular os vícios, ela vai estimular e desenvolver o desejo pela fé, desestimular e tirar o desejo pelo fanatismo, pela ilusão.
É lógico que isso acontece ou por uma determinação da Lei Maior ou quando se pede, por exemplo, assim: “Pombagira minha Mãe, Pombagira minha querida, Pombagira amada, me ajude, me ampare e me guie, estimulando em mim a fé e a religiosidade, o amor e a alegria, o conhecimento e a expansão, a justiça e o equilíbrio, a ordem e a lei, a evolução e a constante mudança para o meu crescimento, a vida e a criatividade. E desestimule minha Mãe, desestimule leve embora o desejo e o estímulo pela ilusão e o fanatismo, pelo ódio e o ciúmes, pela ignorância e arrogância, pela injustiça e o julgamento alheio, pela desordem e as fraquezas, pela involução e pela paralisia, pela estagnação. Neutralize Pombagira em minha vida, todas as forças negativas no campo da fé, do amor, do conhecimento, justiça, lei, evolução e geração, neutralize em mim, me ajude, me ampare e me guie, neutralizando, cortando os meus vícios, os meus desequilíbrios”.
E se Exu trabalha o lado externo da Criação, se Exu é o Guardião do exterior, Pombagira é a Guardiã dos interiores, ela trabalha o lado interno de tudo na Criação, Pombagira não nos vê a partir do nosso lado externo, ela nos enxerga a partir do nosso lado interno, de quem somos nós além da aparência, além da forma, no nosso interno.
Por isso Pombagira é justamente o contrário daquilo que julgam que ela seja, porque o ser humano é muito julgador, o ser humano olha o lado externo das pessoas e julga que fulano é isso, que ciclano é aquilo, que beltrano é aquilo outro, pelo o que ele está vendo do lado externo. Pombagira nos vê pelo nosso lado interno, para ela o importante é quem você é no seu interno.
Não adianta ser bonitinho, apresentar-se como alguém bacana e lá dentro não ser, então o que importa pra Pombagira é quem você é no seu interno. E é isso que deveria nos importar com relação à Pombagira, quem é ela no interno. Aquela que nos estimula que trabalha em nós os desejos, Pombagira também trabalha em nós tudo aquilo que é interno, os nossos desejos, os nossos estímulos.
Se Oxum é amor, Pombagira é paixão, ela trabalha as nossas paixões. É a paixão que às vezes nos move, mas também a paixão nos leva a cometer erros terríveis porque você é apaixonado por determinada coisa ou pessoa e você não vai abrir mão da sua paixão. Porque a paixão também é apego, o amor é liberdade, o amor liberta a paixão segura, mas às vezes a paixão sempre vem antes do amor e às vezes é necessária a paixão pra te movimentar.
Pombagira trabalha as nossas paixões, os nossos desejos, os nossos estímulos. Pombagira trabalha com os fatores do estímulo e do desejo, trabalha com o fator energia de excitar, de extasiar, do prazer, da sensualidade, do seduzir e isso não é apenas de conotação sexual. Porque há uma excitação quando a gente conhece algo novo, quando estamos fazendo algo novo que nos envolve, que nos dá muito prazer, isso gera uma excitação e é campo de Pombagira.
Porque nós ficamos extasiados ao realizar algo que é bom pra nós em qualquer um dos sete sentidos da vida, este é o campo de Pombagira. Nós somos apaixonados pelo que mexe com o nosso ser, isto está no campo de Pombagira, no aspecto feminino, a sensualidade pertence à Pombagira, a arte de seduzir pertence à Pombagira, isso faz parte da vida, isso é importante pra vida, pedimos à Orixá Pombagira que nos estimule e esse estímulo traz ânimo e confiança pra realizar as coisas em qualquer um dos sete sentidos da vida. Saudamos Pombagira como “Laroyê Pombagira, Pombagira Mojubá” ou “Laroyê Pombagira, Pombagira Saravá”, qualquer uma das duas saudações.
Se eu posso me reportar ao Orixá Exu da mesma maneira que eu me reporto aos outros Orixás, com uma vela e uma reza, para o Orixá Pombagira também posso oferecer uma vela vermelha, uma taça de champanhe, uma rosa vermelha e uma cigarrilha, ofereço isso para Pombagira também do lado de fora ou na entrada porque ela guarda o lado interno, ela é guardiã do lado interno e essa guarda se faz no limiar, na porta, na entrada e ela faz par com Exu.
No mesmo lugar onde se faz firmeza de Exu, se faz firmeza de Pombagira, onde eu acendo uma vela pra Exu, acendo uma vela pra Pombagira. Exu trabalha nas cores vermelho preto e branco, acendo vela pra Exu branca ou acendo vela vermelha ou acendo vela preta ou uma vela preta pra Exu, uma vela vermelha pra Pombagira ou posso ainda acender em triângulo: uma vela branca em cima, uma vela vermelha na direita, uma preta na esquerda, dentro um copo de pinga pra Exu, uma taça de cidra pra Pombagira, um charuto para Exu, uma cigarrilha pra Pombagira, uma firmeza de Esquerda: serve pra Exu e pra Pombagira. Ou ainda uma única vela bicolor – metade preta, metade vermelha – eu ofereço para Exu e Pombagira, posso acender uma vela para o Orixá Exu, uma vela para o Orixá Pombagira.
Posso oferecer essa vela para o Orixá Exu em nome dele para os meus Exus – “meu” não quer dizer da minha propriedade, mas da minha relação, do meu relacionamento.
Acendo uma vela para Orixá Pombagira ofereço para minha Pombagira, pedindo sempre que Exu vitalize minhas virtudes, desvitalize os vícios e neutraliza a ação negativa; que Pombagira estimule as minhas virtudes, desestimule os vícios e neutralize as ações negativas e que eu possa caminhar com o amparo de Exu e Pombagira aqui agora e sempre, em nome de Deus, da Lei Maior, da Justiça Divina sobre o amparo da Umbanda Sagrada.
Annapon
Texto baseado no curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino –