A Lei é a quinta linha de Umbanda, o quinto sentido da vida, a quinta vibração e ela representa a ordem do universo, ou seja, cada coisa tem o seu lugar.
Observamos o mundo e descobrimos que há leis como, por exemplo, a lei da gravidade, as leis que regulam o universo físico.
Há leis que dizem respeito ao ser humano, como a lei de causa e efeito, de ação e reação, karma, atração, afinidades, todas são leis que funcionam como regras. As regras servem para nos orientar, como as regras de trânsito, o objetivo das regras de trânsito é fazer com que não vire um caos o tráfego de veículos.
No início, o universo era um caos, é uma maneira de fazer uma leitura do universo no início e depois vem a ordem para que as coisas aconteçam dentro de um universo, de um mundo, é imprescindível que existam leis, ou seja, regras.
O próprio movimento do planeta leva 24 horas para fazer um giro em torno de si mesmo e 365 dias para dar um giro em torno do sol, isso é uma regra, isso é uma lei.
A maneira como as combinações químicas acontecem respeitam regras respeitam leis, é imprescindível que a gente conheça essas leis, essas regras.
No que diz respeito ao sagrado, leis que nem sempre estão escritas, leis acerca do ser humano, do conviver, são leis que estão escritas na nossa consciência e que se aplicam pelo bom senso.
Em nossa consciência está registrada uma lei maior, essas leis que nos regem, que regem a nossa vida, portanto, são imprescindíveis os ensinamentos daqueles que são mestres da humanidade, daqueles que foram além do senso comum, além das pessoas comuns.
Esses ensinamentos como “bem viver” são como “leis” para nos orientar. Um dos papéis da religião é dar um sentido a nossa vida e de alguma maneira nos expor algumas regras que nos facilitem a convivência saudável nesse mundo.
Não fazer ao próximo o que você não quer a si mesmo, deve ser uma lei, uma regra para o bem viver, se eu tenho isso como um princípio norteador da minha vida “não fazer ao outro o que eu não quero para mim”, a partir do momento que isso é um princípio de vida eu posso considerar como uma lei, ou seja, uma regra que seguindo essa lei, seguindo essa regra, o que eu terei para minha vida será um saldo, um resultado positivo porque tudo que eu faço para o outro inevitavelmente volta para mim.
A lei de causa e efeito, a lei de ação e reação, determina que o que você faz para outro volta para você.
É lógico que a palavra dita, a pedra jogada e a flecha lançada não voltam
mais, no entanto, por mais que a gente tenha realizado uma ação negativa, sempre é tempo de uma mudança de comportamento.
As leis existem, as regras existem, mas o ser humano tem caminhos para ele mesmo se limpar se purificar e não ficar a mercê dos seus próprios atos, das suas próprias ações ou não ficar a mercê de regras frias.
O universo possui leis e regras, nós devemos ter leis e regras como princípios norteadores da nossa vida. Por isso é tão forte a afirmação de Cris to “Amar ao próximo como a si mesmo”, essa é a lei, toda lei deve se resumir como “Amar ao próximo como a si mesmo”.
Nas passagens Bíblicas, algo que chama muito a atenção é o quanto Jesus ali, naquelas passagens, se coloca contra a lei Mosaica, ele se coloca contra a própria lei do Velho Testamento, ele se coloca contra as suas leis em favor de uma Lei Maior, ou seja, a Lei Maior que é aquela que está escrita no coração do homem: da ética, do bom senso, do bem viver, de amar ao próximo como a si mesmo, de não fazer com o próximo o que você não quer a você, essa é uma Lei Maior.
Quando Jesus diz: “Atire a primeira pedra quem não tem pecados”, está indo contra a lei por que a lei dizia: “Que adúltera deveria morrer apedrejada”, ele vai, chama uma lei maior: a “lei do amor”. Então ali há “lei do amor”, ou seja, o amor está acima de outra lei fria que venha para punir.
No momento em que ele consegue perdoar aquela mulher, que consegue pedir o perdão àquela mulher, ela também abre um espaço para ela se perdoar porque mais do que pedir o perdão do outro é preciso que a gente aprenda a se perdoar e entender que a lei não é algo frio.
Quantas pessoas acreditam que estão nessa vida sofrendo exclusivamente por conta de coisas que fizeram na outra vida? Como se a lei fosse algo frio, então, o que você faz volta para você, mas, não é como uma conta bancária que você faz saques e depósitos, depósitos e saques.
Se você é uma pessoa que está vivendo uma energia negativa, sendo energia negativa, desempenhando ações negativas, você atrai isso de volta.
Há sempre oportunidade de mudança, de uma ação, as leis existem, mas, elas estão aí para nos ajudar e não para nos atrapalhar, nós devemos tê-las como algo norteador, como uma lei maior.
A Lei Maior deve ser a “lei do amor”, de querer bem. Na Umbanda se fala muito: “essa entidade trabalha na lei”, “aquela entidade está fora da lei”, “esse foi contra a lei”, o que é ir contra uma lei? Ir contra a Lei Maior é ir contra a lei que diz “Não faça ao próximo o que você não quer para você”.
Qual é a Lei Maior? A lei maior é exatamente essa, é a “regra de ouro” que está presente em todas as religiões.
E onde está escrita esta lei?
Esta lei está escrita na consciência do ser humano, da humanidade, do nosso coração. Essa lei está registrada como algo que, como um conjunto de ética e padrão de comportamento no qual devemos nos nortear para ter uma vida tranquila, uma vida leve, não cobrar do outro aquilo que você mesmo não pode oferecer, essa é a lei.
A lei representa a ordem no universo, a retidão. Aquele que segue uma lei, ou seja, aquele que tem um princípio, que vive por princípios norteadores do seu comportamento que não é moralismo, não confunda princípios de bom senso e ética com moralismo. “Moralismo” é aquele comportamento inquisidor, julgador e cobrador que impõe um moralismo e que na maioria das vezes é um falso moralismo com relação ao outro.
É importante ter “moralidade”, ter uma vida em que você se pauta por padrões daquilo que te faz bem, mas não o moralismo ou o falso moralismo ou ainda saber que existem regras atemporais. As leis ou regras atemporais são exatamente essas regras que dizem respeito à postura ética, correta.
E leis ou regras temporais, temporais têm a ver com a cultura, com a época e com o moralismo, ou seja, o comportamento do jovem de hoje não é o comportamento do jovem de duas gerações atrás.
Comparados os perfis de comportamento de duas gerações atrás, e trazidos seus perfis para hoje, exigindo tal comportamento de um jovem atual, você se torna moralista.
Moralista é aquele que critica a forma como alguém está se vestindo e no fundo gostaria de se vestir igual, isso é um falso moralismo porque ele critica aquilo que ele gostaria de ser, critica aquilo que ele gostaria de ter, às
vezes, critica para poder reprimir quem convive com ele, aí mais uma vez a gente vê o tal do “efeito sombra”, do moralista que critica as pessoas que estão ao seu redor para reprimi-las porque dentro dele os sentimentos e os padrões de convivência estão reprimidos, isso gera um moralismo, um falso moralismo.
Vivemos numa cultura Judaico-cristã, são séculos e séculos de falso moralismo, de peso, por exemplo, em cima da sexualidade com uma repressão sexual feita por uma igreja que tem uma sombra na qual, por traz dessa sombra, estão encobertos o comportamento de pedofilia – só para dar um exemplo – isso é a sombra de uma instituição que tem valores moralistas.
É um valor de moralismo, um valor temporal, por exemplo, afirmar que “não se deve usar camisinha (preservativo/ método contraceptivo)” – por exemplo – é um falso moralismo porque está fechando os olhos para o comportamento das pessoas que hoje se relacionam, tem relação afetiva, tem uma troca afetiva sexual e isso não está relacionado com o casamento.
Mais ainda moralista é querer impor valores da sua religião para todos, há religiões que pedem que a mulher não corte o cabelo, que a mulher use uma saia que vá até o tornozelo, a mulher não pode mostrar o braço, não pode se comportar assim, assado e o homem também, têm que se vestir dessa maneira, tem que falar dessa maneira, se comportar dessa maneira, é pesado. Isso é moralismo, isso nada tem a ver com a lei.
A lei maior, diz respeito à ética. A Lei Maior, Divina, diz respeito a uma postura de bom senso e ela tem como padrão a “regra de ouro”: “NÃO FAZER AO PRÓXIMO O QUE VOCÊ NÃO QUER PARA VOCÊ”, pense nisso.
A lei de Cris to, que é a “lei do amor” – “Amar ao próximo como a si mesmo”, mas, se você não ama a si mesmo como é que você vai amar ao próximo?
E como se faz para amar seu inimigo?
O que é amar ao inimigo como a si mesmo?
Amar ao inimigo como a si mesmo não significa que você deva trazê-lo para dentro de casa, não é você dar beijinho, fazer carinho, afago.
Amar o inimigo como a si mesmo é simplesmente não desejar o mal. Isso é amar o inimigo como a si mesmo. Porque você mesmo, se você tiver a intenção de prejudicar a alguém, o que você acha que deve ser feito para você mesmo? No mínimo não desejar o seu mal, que esse alguém possa não desejar o seu mal, já é amar a você como ele mesmo, portanto, não deseje o mal.
Esse é o significado de amar ao próximo como a si mesmo, “amar o inimigo como a si mesmo” não quer dizer que tem que abraçar trazer pra junto, levar a “cobra” pra dentro de casa, dormir junto com a “cobra”, não é isso. É entender dessa maneira, se você não desejar o mal já é o bastante, porque inclusive, na cultura Grega, existem várias palavras para o amor, entre essas palavras há o “Eros” - que é o amor de homem e mulher - o “Ágape”, o “Caritas” e outras formas e outras palavras para descrever o amor.
“Amar ao próximo como a si mesmo” é praticamente fazer a caridade ao próximo como você gostaria que a caridade fosse feita a você. Se esse próximo é alguém que tem intenção de prejudicar então esse próximo é um ignorante das Leis Divinas.
“Não desejar o mal para o ignorante” porque ele está na ignorância. Agora, a partir do momento que ele ataca, agride, é lhe dado o direito de se defender e deve se defender, não é?
Em alguns momentos, a própria lei maior, trata de devolver tudo que ele deseja a você e tudo volta para ele, a própria lei maior vai cuidar disso.
Se ele chega ao ponto de lhe atingir por pensamentos, palavras e ações religiosas ou mágicas, ele lhe atinge, em algum momento e se você está sendo prejudicado, você pode evocar a Lei Maior e a Justiça Divina pedindo que isso não lhe alcance mais e, dessa forma, para que ele não lhe alcance e que seja cortada a ação mágica, a ação religiosa.
Um dos símbolos de Ogum dentro da Lei são duas espadas cruzadas e uma bandeira ou simplesmente duas espadas cruzadas, fazendo um círculo, riscando duas espadas, você eleva o pensamento a Deus, acende uma vela para Ogum, vermelha ou azul escuro, oferece essa vela, firma dentro do círculo, no centro, no em torno do círculo coloque sete velas para Ogum, ajoelhe, evoque a Deus, Sua Lei Maior, Sua Justiça Divina e peça, ofereça esse círculo mágico a Ogum pedindo que ali dentro, Ogum corte toda e qualquer demanda energia negativa, ação mágica negativa.
Entre dentro do circulo e faça o mesmo procedimento com a vela em cima da sua cabeça, passe a vela pelo corpo, entre e sinta essa presença, essa força de Ogum. Faça isso religiosamente, faça isso na sua fé.
Ogum enquanto Orixá de origem Yorubá, seu nome muitas vezes é traduzido como o “Senhor da guerra”. Ogum é reverenciado e cultuado como aquele que trouxe o ferro e o aço, Ogum é aquele que ensinou o homem a utilizar o ferro.
É como se a presença de Ogum marcasse a mudança da Era da Pedra para a Era do Bronze/ do Ferro, é como se estivesse marcando esse período.
Seria como dizer que os Orixás vêm dessa época da cultura Africana, do tempo e do período em que se aprendeu a utilizar o ferro, Ogum foi quem ensinou o homem a usar o ferro e assim surgiram as ferramentas de agricultura, por exemplo, as ferramentas de um ferreiro, as ferramentas e todos os utensílios usados e forjados em ferro e aço.
Ogum é o padroeiro de todos aqueles que têm um trabalho braçal e principalmente um trabalho braçal ligado ao ferro, a ferramenta, assim ele é visto na cultura Nagô Yorubá, como um ferreiro, como aquele que faz a forja, aquele que faz o aço, que faz também as ferramentas da agricultura, que faz as ferramentas da carpintaria, que faz também a espada, o aço.
Ogum enquanto guerreiro, aquele que vai a frente, abre o caminho, que vai com a espada abrindo o caminho. A espada de Ogum simboliza a retidão de comportamento, a retidão da Lei, a Lei como caminho reto que não tem desvios e nem atalhos, essa retidão de comportamento, uma retidão de caráter é o perfil de Ogum.
Na cultura Nagô Yorubá, Ogum não é apenas um guerreiro, ele é também aquele que traz as ferramentas, ele é também um ferreiro.
Na Umbanda ele é a figura do guerreiro, aquele que representa a ordem, aquele que representa a lei, que toma à frente, aquele que dá energia, aquele que dá impulso.
Ogum é potência, ele gera e traz potência, energia para tomar a frente numa decisão, num negócio, numa empreitada. Por isso Ogum é aquele que abre caminho, apenas tome cuidado para ver se num momento da sua vida você está precisando abrir caminho ou colocar amor no que você está realizando.
Muitas vezes se generaliza problema financeiro com abertura de caminho, às vezes, os caminhos já estão abertos, mas falta colocar amor então a gente pede amparo a Oxum, se você sente que está tudo bloqueado, que está tudo fechado, a gente chama Ogum para que, com sua espada, ele corte todos os bloqueios, todas as barreiras.
Se você está dormindo mal, costuma ter pesadelo, sentir que tem energia estranha na hora de dormir, consagre duas espadas de São Jorge e coloque embaixo do colchão da cama para que a noite, quando você for dormir, peça proteção de Ogum, para que ele corte ali todo o mal.
Não peça amparo de Ogum apenas para o mundo externo, peça amparo de Ogum para o mundo interno, que Ogum com a sua espada corte os nossos vícios, que Ogum com a sua espada corte a desordem que há dentro de nós.
Nosso mundo externo é um reflexo do nosso mundo interno. Se dentro de nós está tudo bagunçado, em desordem, provavelmente a nossa vida está bagunçada, a nossa vida deve estar em desordem.
E alguém que está com a vida bagunçada, realmente não tem caminho aberto, não existe caminho aberto numa vida bagunçada, não existe caminho aberto quando você não tem disciplina, Ogum traz disciplina, ele representa a disciplina, a figura de Ogum é a figura do guerreiro.
Há uma oração que diz: “Que eu estou feliz porque também sou de sua companhia, que meus inimigos tenham olhos e não me vejam, que meus inimigos tenham mãos e não me toquem, tenham pés e não me alcancem, que nem o pensamento eles possam ter para me alcançar. Armas de fogo não me alcançarão. Facas e espadas se quebrem sem me tocar, cordas e correntes se quebrem sem me amarrar porque eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge. Patakori Ogum”.
As roupas e as armas de Jorge, às quais se refere a oração, são as qualidades de Jorge, que cada um de nós possa se vestir com as roupas e as armas de Ogum que são as qualidades de Ogum, são as qualidades de guerreiro, de ordenador, de disciplina, de retidão, de correção, mas, não de moralismo, de caminhar na sua verdade com retidão, são essas qualidades que formam as roupas e as armas de São Jorge guerreiro, de nosso Pai Ogum. Que cada um de nós se vista com as roupas e as armas de Jorge.
Os filhos de Ogum são aqueles que carregam as qualidades de seu Pai, os filhos de Ogum são pessoas fortes, não necessariamente grandes, mas que tem corpo que responde bem as suas necessidades físicas.
O filho de Ogum tem necessidade de se impor, filho de Ogum tem necessidade de se colocar, o filho de Ogum é aquele que vem para liderar, vem para comandar, o filho de Ogum vem para sair na frente, o filho de Ogum nasceu para dar ordem. No negativo ele se torna mandão, se torna briguento.
O filho de Ogum tem uma natureza de guerra, de briga, agora é necessário a ele saber onde colocar essa energia de uma forma positiva, como direcionar, como colocar essa energia, essa é a lição do filho de Ogum porque a razão é de Xangô, Ogum tem a potência, a energia de ir, de fazer a guerra. O filho de Ogum tem prazer em fazer a guerra, assim como a filha de Iansã.
O perigo de um filho de Ogum é que ele no negativo, quando não tem guerra, ele inventa uma guerra para ter onde guerrear, para o filho de Ogum todo dia é uma guerra, todo dia é uma batalha, é importante saber onde colocar essa energia para que essa energia não esteja distante da Lei Maior, do bom senso, da ética.
Conhecemos muitos Caboclos de Ogum, os nomes dos Caboclos de Ogum são muitos populares e esses mesmos nomes também são utilizados para definir Ogum, Oguns que incorporam: “Ogum Matinata”, “Ogum Beira Mar”, “Ogum Marinho”, “Ogum de Ronda”, “Ogum Rompe Mato”, “Ogum Yara”, vários e vários Oguns.
Há também os Caboclos de Ogum: “Caboclo de Ogum Rompe Mato”, “Caboclo de Ogum Matinata”, Caboclo de Ogum Yara”, “Caboclo de Ogum Marinho”, há Caboclos de Ogum que levam os mesmos nomes dos nomes dos Oguns.
A diferença da incorporação de um Caboclo de Ogum para a incorporação de um Ogum é que o Caboclo incorpora e dá consulta, fala; Ogum não, quando Ogum incorpora ele não fala, ele vem incorpora e ele tem um comportamento marcial reto, ele bate a mão no peito, geralmente vem com o dedo em riste, um ou dois dedos em riste, às vezes você vê ele com espadas plasmadas na mão, ele faz uma dança no Terreiro que não é necessariamente a dança do Candomblé, que é uma dança de Umbanda, ou seja, uma dança que não é a dança circular, uma dança que ele vai fazendo os seus passos, a sua dança de frente para o altar, de frente para a consulência e Ogum incorporado no seu médium corta tudo quanto é demanda que tem no Terreiro, as demandas, a força negativa que está na vida do médium.
Do Pai Ogum Maior surgem sete Oguns, ou seja, há um Ogum Maior que não incorpora em ninguém, ninguém incorpora “O” Ogum, abaixo dele existem sete Oguns: Ogum Cris talino, Ogum Mineral, Ogum Vegetal, Ogum Ígneo, Ogum Eólico, Ogum Telúrico e Ogum Aquático, ou seja, Ogum da Fé, Ogum do Amor, Ogum do Conhecimento, da Justiça, da Lei, da Evolução e da Geração, abaixo deste tem vinte e um, tem mais sete para o alto, sete para o meio e sete para o embaixo; abaixo surgem aqueles Oguns intermediadores ou regentes de nível e que já são Oguns que se identificam por nomes conhecidos na Umbanda, como: “Ogum Naruê”, “Ogum Beira Mar”, “Ogum Matinata”.
No campo da Fé: Ogum Matinata; Ogum do Conhecimento: Ogum Rompe Mato; no campo da Geração: Ogum Marinho; no campo da Evolução: Ogum Beira Mar – que é terra e água, que é também da Geração e é da Evolução; no campo da Lei: Ogum de Lei; no campo da Justiça: Ogum do Fogo. E há muitos Oguns que a gente não conhece “Ogum Estrela”, “Ogum Sete Estrelas”, “Ogum da Estrela Dourada”, “Ogum da Estrela de Prata”, “Ogum do Fogo”, “Ogum do Ar”, “Ogum do Raio”, “Ogum das Praias”, “da Mata” e ficamos muito apegados àqueles nomes conhecidos, mas existem muitos outros nomes que a gente desconhece.
O importante é saber que Ogum representa a “Lei”, Ogum representa a Lei Maior, a Lei Divina, quando pedimos ajuda a Ogum, estamos pedindo ajuda para essa Lei. Enquanto Ordem, aquele que traz a ordem para o universo ao pedir ajuda a Ogum eu estou pedindo essa energia de ordem para minha vida.
Eu tenho que estar pré-disposto a ter disciplina, a colocar ordem na minha vida e essa ordem, essa disciplina que ordena tudo dentro de mim que abre o caminho, que faz aparecer um caminho, que corta que arrebenta que quebra os obstáculos, que corta a influência negativa e que nos coloca em um caminho reto.
Ogum tem como símbolo a espada que é a retidão, as suas ondas, as suas vibrações são retas, essa é a energia de Ogum, o seu ponto de força é a estrada, é o caminho que é aquilo que nos leva a algum lugar sem desvio, sem atalho, sem saída, de uma forma reta, essa é a energia de Ogum sincretizado com São Jorge.
Ogum faz par com Iansã, a linha é da Lei. Ogum é eólico, está no elemento do ar, Iansã também é eólica, está no elemento do ar.
Iansã é o nome que na cultura Nagô Yorubá vem de “Iamesan”, ou seja, a “Mãe dos nove filhos” – na cultura Nagô acredita-se que existem nove Oruns, nove céus e para cada um Iansã tem um filho.
Iansã é a parceira de Ogum, Iansã é guerreira, Iansã é “Senhora do movimento”, “Senhora da dança”. Dentro da leitura do livro do Rubens (Saraceni) chamado “Lendas da Criação” diz que Olorum criou o mundo, primeiro existia o nada, que é campo de Exu Mirim, depois surgiu o vazio, que é campo de Exu, Oxalá ocupou o mundo com a sua plenitude, depois vieram os outros Orixás, mas o mundo era estático, não tinha movimento.
Os Orixás saíram do lado interno do Criador para o lado externo para ocupar o mundo, mas o mundo e a Criação eram como um quadro – estático – nada se movia. Então, o Criador trouxe Iansã como “Senhora do movimento”, como “Senhora da dança”, a “Senhora que dá a direção” e pediu a Iansã que desse movimento ao mundo.
Quando Iansã chega ao mundo, dentro dessa Gênese Umbandista, Iansã é quem dá movimento ao mundo. Iansã é quem dá cadência de movimento, Iansã é “Senhora da dança”, ela chega ao mundo dançando, se movimentando e põe o mundo e os universos em movimento e ela faz a sua dança com os Orixás.
E a partir desse movimento de Iansã cada Orixá recebe o seu passo de dança, a sua maneira de dançar, a sua maneira de se movimentar, o seu ritmo, a sua cadência. É assim que existe um ritmo para cada um dos Orixás, há uma forma de dança e de movimento para cada um dos Orixás. A dança, o movimento é uma grande magia.
Quando um Orixá está incorporado, você vê quando Xangô incorpora que ele fecha a mão, quando Iemanjá incorpora, abre as mãos e fica ali como uma matrona de braços abertos, Oxalá incorpora segurando um cajado de forma abaixada, Egunitá incorpora, fecha as mãos como num movimento marcial, Iansã incorpora com os dedos soltos, abertos.
Assim percebemos que cada Orixá incorporado tem uma expressão corporal, a expressão corporal quando é trabalhada, é uma forma de magia. Na cultura Indiana existem movimentos de mãos chamados: “Mudras” em que cada movimento de mão representa uma divindade, uma energia, uma força.
Quando um Orixá incorpora e esse Orixá está fazendo um movimento como Oxum, que incorpora e faz movimentos com as mãos, como se descrevessem corações no ar, como se estivesse, às vezes, segurando uma criança, esse movimento de Oxum desenha, no ar, um ponto riscado, é como se desenhasse símbolos no ar.
O gesto que um Orixá faz como Ogum incorporado, por exemplo, que tem uma postura marcial, uma energia marcial, ele se movimenta com uma espada, ele dança como quem estivesse fazendo uma guerra, ele está despertando essa energia dentro do médium que ele está incorporado de uma forma Divina e sagrada, a energia é dele sendo desperta dentro do médium a partir de um movimento gestual e comportamental e isso é irradiado por todo o ambiente, as pessoas que estão em torno sentem essa energia marcial que vem a partir da dança do Orixá.
A dança e música são magia.
Dança é magia, mexe com o corpo, com a energia, muda a energia do ambiente. Quando você ouve uma música que lhe faz bem, só de ouvir aquela música muda o seu humor, há músicas que perturbam, há músicas que harmonizam, há músicas que tranquilizam, a música tem um poder mágico sobre nós.
A dança tem um poder mágico sobre nós. No momento em que você está incorporado de Ogum, você está sendo Ogum, você está se tornando um pouco aquilo que ele é. Ou incorporado, incorporada de Iansã você está sendo Iansã, você está se tornando um pouco daquilo que é Iansã.
Esse é um grande aprendizado, um grande mistério da Umbanda, o transe, o fenômeno da possessão, o estado alterado de consciência, estar tomado de um poder, de um Orixá ou de um Caboclo ou de um Preto Velho de Umbanda ou de um Boiadeiro que faz uma dança e faz gestos que mexem com o nosso inconsciente, com o nosso consciente. Ogum faz isso com a energia da ordem, da Lei. Iansã também faz com a energia da ordem e da Direção que é o campo de Iansã.
Lembrando que Iansã em algumas lendas é companheira de Xangô, em outras lendas é companheira de Ogum. Iansã é muito vista como uma das esposas de Xangô, mas que já conviveu com Ogum ou que às vezes está também junto de Ogum. A questão é: Iansã faz par com Ogum na Lei e faz par com Xangô na Justiça.
Interpretamos, às vezes, os Orixás como se eles fossem humanos e se diz: “Ah Xangô tem três esposas. Então, isso é uma poligamia?” Não. Xangô ter três esposas quer dizer que ele faz par energético, vibratório com aquelas divindades. Se Iansã faz par com Ogum, Iansã faz par com Xangô é porque a energia dela se complementa tanto com a energia de Xangô quanto com a energia de Ogum.
A mesma coisa Egunitá, Iansã faz par puro na Lei com Ogum e par misto na Justiça com Xangô; Egunitá faz par puro na Justiça com Xangô e faz par misto na Lei com Ogum.
Ogum está na Lei, Xangô está na Justiça, quem faz par Iansã e Egunitá ora Iansã faz par na Lei ora Iansã faz par na Justiça ora Egunitá faz par na Lei ora Egunitá – que é Oro Iná – faz par na Justiça.
Iansã é eólica, Iansã é o ar, é o vento, Iansã representa também a guerreira, também vem com a espada. Iansã tem esse mesmo comportamento que Ogum, ela é alguém que chega e que tem prazer pela guerra.
As filhas de Iansã têm esse mesmo comportamento de guerreira, de tomar a frente, de tomar a decisão, de ser líder. Quando uma filha de Iansã estende a mão para alguém ela vai até o “inferno” para ajudar aquela pessoa, ela te emociona porque ela é todinha emoção, movida pela emoção e obcecada pela justiça, por fazer justiça, fazer a coisa correta.
Há de se tomar cuidado, a filha de Iansã deve tomar cuidado para não pegar a justiça nas próprias mãos no momento em que deve apenas observar, que deve se acalmar, às vezes, é preciso ser um pouquinho mais racional.
As filhas de Iansã, fisicamente, acabam chamando a atenção, e parece que elas gostam de chamar a atenção, é algo inconsciente, gesticular, falar alto e é firme e enérgica, não é incomum uma filha de Iansã gritar, esbravejar e impor a força, a sua força, a sua energia de guerreira para fazer valer o que é correto, o que é certo porque ela é uma filha da Lei, assim como Ogum.
Tanto Iansã quanto Ogum e os filhos de Ogum e Iansã, fazem questão daquilo que é reto, que é correto e convivem com pessoas que eles consideram corretas, retas, de confiança.
Iansã movimentadora é o vento, Iansã quando chega é um turbilhão, Iansã é um vendaval, Iansã quando chega é aquela que não deixa ninguém parado, Iansã faz com que todos se movimentem nada fica estagnado na força de Iansã.
Iansã é “Senhora da direção”, Iansã é “Senhora do vento”, “Senhora da tempestade”, “dos raios” e ela traz essa energia, traz essa força que impulsiona, Ogum abre o caminho, mas esse caminho precisa existir.
Não adianta pedir para Ogum abrir o seu caminho se você não sabe qual é o seu caminho. Primeiro você tem que saber qual é o seu caminho.
Profissionalmente, para onde você vai? Afetivamente, para onde você vai? Perante a vida para onde você está caminhando? Aonde você quer caminhar? – você quer que abram o seu caminho profissional: você sabe qual é a sua profissão? Você definiu uma estratégia? Você tem um objetivo? Você não sabe? Então, você precisa que alguém lhe ajude a encontrar a direção, aí é Iansã quem ajuda.
Se você não sabe nem a direção a ser tomada, peça ajuda a Iansã. Porque você não sabe para onde ir, Iansã vem como o vento, com as suas ondas direcionadoras e te tira de onde você está te dá um giro, se entregue a essa força e peça a ela que te coloque de frente para onde você deve ir. Ali quando já encontrar então a direção, você pede a força e o amparo de Ogum, já tendo a direção, peça para ele abrir o seu caminho.
Ofereça para Iansã uma vela que seja, não precisa muita coisa, uma vela amarela acesa com fé, com amor, com determinação, coloque o teu nome embaixo, acenda essa vela, ofereça a Deus, a Sua Lei Maior, a Sua Justiça Divina, a minha mãe Iansã e peça a ela que te dê direção, te dê direcionamento, te dê movimento, para que você saia dessa posição de estagnação, então Iansã vai lhe movimentar, ela traz uma energia movimentadora que mexe, que é potência, que é emoção então, aproveite, estar na companhia de Iansã, uma companhia que dá a direção e lhe protege, companhia de uma guerreira, dizem que na guerra ninguém é mais companheira do que Iansã.
Todos nós somos um pouquinho Ogum, Iansã, Xangô, Egunitá, Oxóssi, Obá, Oxalá, Logunan, todos nós somos um pouquinho Obaluaiyê, Nanã, Iemanjá, Omulu, não é só o filho de Ogum que tem qualidade de Ogum, o filho de Ogum tem qualidades de Ogum mais marcantes, as filhas de Iansã tem qualidades de Iansã mais marcantes, o filho de Oxalá tem qualidades de Oxalá mais marcantes.
As filhas de Oxum têm qualidades mais marcantes de Oxum por quê? Porque Oxum está de Frente. Mas, quem está no Juntó? Você tem as qualidades de outro Orixá. Você tem Ogum de Frente, ele está lhe regendo pelo seu racional, quem está no Juntó está lhe equilibrando pelo seu emocional. Então, você tem qualidades do Orixá de Frente e do Orixá de Juntó. Mas, quem é o seu Ancestre dominante? Quem é o seu Ancestre recessivo?
Aqui já temos quatro Orixás e não importa qual é o seu Orixá, se você pedir ajuda a Ogum naquele momento você está pedindo para que você mesmo se torne um pouquinho mais Ogum. Se você está pedindo ajuda a Iansã, você está pedindo para que você mesmo se torne um pouquinho mais Iansã. A gente faz isso por meio de uma reza, de uma oração, de uma firmeza, de uma vela, de uma oferenda, de um ponto riscado, de um espaço mágico, de um espaço religioso e da sua entrega mediúnica.
No momento em que você está incorporado de Ogum, no momento em que você está incorporado de Iansã: você e Ogum se confundem/ você e Iansã se confundem. Naquele momento você não sabe mais quem é você, quem é Iansã por isso você precisa se perder na incorporação, de você mesmo, silenciar, aquietar e apenas sentir, se entregar, ficar tranquilo para que a energia de Iansã lhe conduza.
E naquele momento, naquela cadencia de Iansã, enquanto ela está dançando, você e ela misturados naquela energia, você vai se tornando um pouco Iansã, as qualidades dela vêm para você, depois Iansã desincorpora, a energia dela fica em você.
Leve esta energia para sua casa, leve essa energia para sua vida. Você teve a oportunidade única, a graça de incorporar Ogum, leve essa energia para sua casa, para sua vida. Porque inclusive aquele Ogum que incorpora em você é o seu Ogum pessoal, é como um mestre pessoal.
Todos nós temos um Ogum pessoal, uma Iansã pessoal. Todos nós temos um Xangô pessoal, uma Egunitá pessoal. Todos nós temos um Oxóssi, uma Obá pessoal; um Oxalá, uma Logunan que é o nosso Orixá.
Não importa quem é o seu Pai ou sua Mãe de Cabeça. Se você foi apresentado a Ogum formalmente numa Gira de Ogum dentro de um Terreiro onde o dirigente incorpora Ogum e chama o seu Ogum para incorporar, a partir dali ele é o seu Ogum, ninguém te deu esse Ogum de presente. Não é o dirigente do Terreiro que dá ou tira um Ogum, você já nasce com um ser natural da realidade de Ogum, ele lhe conhece, ele lhe acompanha, o seu Ogum é como um familiar, ele lhe ama.
Quando é uma Gira de Ogum, aquele Ogum que incorpora em você, ele lhe ama e ele vai deixar o nome dele na sua cabeça, se ele é “Ogum Matinata”, se ele é “Ogum Rompe Mato”, se ele é “Ogum Beira Mar”, se ele é “Ogum Marinho”, se ele é “Ogum de Lei”, se ele é “Ogum do Ar”, se ele é “Ogum do Fogo”, se ele é “Ogum da Terra”, se ele é “Ogum Sete Estrelas”, se ele é “Ogum Sete Lanças”, ele deixa o nome dele na sua cabeça, guarde esse nome porque esse é o seu Ogum.
Todos conhecem “Iansã do Balê”, a mais conhecida, que é a Iansã do cemitério que faz par com Ogum Megê, os dois guardam a entrada do cemitério: Iansã do Balê e Ogum Megê.
Existem muitas outras Iansãs, no Candomblé há muitos nomes para as qualidades de Iansã. Na Umbanda não necessariamente a gente tem que seguir os nomes do Candomblé, eu sei que tem uma Iansã que é a Iansã que incorpora em mim, então qual o seu nome minha mãe?
Ela não tem que dar um nome conhecido, ela pode dar um nome que você vai sentir no seu coração: “Sou uma Iansã do campo da Fé”, “Sou uma Iansã do campo do Amor”, “Sou uma Iansã do Amor”, “Sou uma Iansã Vegetal”, “Sou uma Iansã Mineral” ou “Sou uma Iansã tal” e dá o nome e você guarda aquele nome que você sabe que é a sua Iansã. Assim é para todos os Orixás, todos eles incorporam e isso é mágico.
Na religião de Umbanda incorporar os Orixás assim como incorporar Caboclo, Preto Velho, Baiano, Boiadeiro é um momento mágico, é místico, você está possuído, tomado daquela energia e essa energia passa a vibrar no seu coração, na sua cabeça, no seu peito. Você se torna ao incorporar Ogum, um pouquinho Ogum; ao incorporar Iansã, você se torna um pouquinho Iansã e assim é com todos os Orixás. E assim nós temos a oportunidade de crescer em cada um dos sentidos da vida e não apenas no campo do “meu” Orixá.
É certo que nos reconhecemos nas qualidades de Nossos Pais/Mães de cabeça, porém, sabemos que somos filhos de todos os Orixás, mesmo porque são vibrações de Deus.
Annapon
(texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)