Passam pela Umbanda muitas pessoas que questionam:
Por que os nossos Guias bebem?
Por que eles fumam?
Por que eles têm coisas?
Mas, espírito não precisa beber, espírito não precisa fumar, espírito não precisa ter elementos, nem objetos, não precisa ter um cachimbo, não precisa ter um banquinho, pra que essas coisas?
Realmente, eles não precisam, eles não precisam fumar, eles não precisam beber, eles não fumam por vício, não bebem por vício, não tem apego às coisas, mas eles as têm, as usam e as manipulam em nosso favor, então essa é a grande diferença entre um espírito que quer beber e um espírito que bebe manipulando aquele elemento.
Existe uma grande diferença entre um espírito que quer fumar e um espírito que está defumando com seu charuto, defumando com seu cachimbo, defumando com seu cigarro de palha, há uma grande diferença entre dizer que um espírito precisa ter coisas e um espírito usar ou manipular elementos: a diferença é essa.
Realmente os Guias da Umbanda fumam, bebem, utilizam de elementos, de punhal, usam pemba, usam ervas, pedras, velas, mas isso não é apego.
Não é um atraso quando eles usam esses elementos porque eles não têm apego por esses elementos, esses elementos são recursos de trabalho.
E é muito pertinente porque nós vamos falar sobre os Pretos Velhos, a primeira manifestação de um Preto Velho na Umbanda, também por meio de Zélio de Moraes, aconteceu no dia 16 de novembro de 1908, na casa da família de Zélio de Moraes, onde Zélio incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas primeiro, ali o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a dar as orientações de como seria a religião.
Logo depois, ele incorpora Pai Antônio, é lógico que Zélio não inventou a incorporação de Preto Velho, Zélio não criou a incorporação de Preto Velho, mas essa é a primeira manifestação de um Preto Velho dentro do contexto da nova religião que estava sendo anunciada. E é Pai Antônio, o Preto Velho de Zélio de Moraes que pede um cachimbo, é ele que coloca, que inclui o uso das guias, dos colares consagrados que são as nossas guias dentro da religião de Umbanda.
E ali as entidades de Umbanda junto de Zélio de Moraes começam a usar elementos, beber o café, beber pinga, beber vinho, não por apego, jamais por vício, mas porque a nossa religião é mágica, ela se utiliza desses elementos.
Quem é o Preto Velho?
Quando nós falamos de Preto Velho, isso é praticamente sinônimo de negro ancião que foi escravo, Preto Velho é um sinônimo disso. Assim como Caboclo tem sido sinônimo de índio, mas vimos que nem todo Caboclo é índio e ser Caboclo é um grau. Preto Velho é a mesma coisa.
É importante definir que negro é raça, preto é cor, então inclusive o termo Preto Velho é um termo que atualmente não se utilizaria pra identificar um negro ancião, porque preto é cor. No entanto, dentro da Umbanda Preto Velho já é algo aceito e é algo que revela e identifica uma imagem.
O arquétipo do Preto Velho causa uma doutrina de impacto, existe um por que trabalhar com Caboclo, um porque trabalhar com Preto Velho. No caso do Caboclo inspira o respeito pela cultura nativa, pela cultura do índio, pelo homem vermelho, pelo diferente, por aquele que vive na natureza, que cultua a natureza. O Preto Velho há um respeito pelo mais velho, um respeito pelo ancião, pelo mistério ancião, pelos Pretos Velhos e as Pretas Velhas.
A primeira coisa a se compreender: nem todo Preto Velho foi um negro escravo, mas o Preto Velho representa e é uma homenagem àqueles que foram escravos aqui no Brasil, mas não pode se dizer que todo Preto Velho foi um negro escravo no Brasil. E no caso do Preto Velho isso é muito lógico e é muito claro.
Vamos voltar à época da Colonização.
Imagine você na época da Colonização, qual era a expectativa de vida?
Quantos escravos se tornavam anciões?
A expectativa de vida na época da escravidão girava em torno de 45 anos, um escravo adulto durava – porque os escravos eram comprados como mercadoria, comprados e vendidos como animais e o comprador já comprava com uma expectativa de vida – trabalhando em serviço forçado como escravo , um homem adulto não vivia mais do que 10 ou 15 anos, quando muito 20.
Um homem que tivesse já uns 18, 20, 21 anos vivia mais 10, mais 15, quando muito mais 20, então não costumavam passar dos 45, poucos escravos se tornaram - muito poucos escravos - se tornaram anciãos, poucos escravos se tornaram velhos.
Não existiram tantos negros anciãos aqui no Brasil. Desses poucos que se tornaram velhos, menos ainda eram realmente homens iluminados, que tinham culto ao Orixá. Então, a pergunta é: de onde é que sai tanto Preto Velho pra tanto Umbandista? Nós somos, creio eu, milhões de Umbandistas que temos um Preto Velho a nos amparar.
Não tem Preto Velho pra tanta gente, não tem tanto espírito que foi negro escravo aqui no Brasil pra tanta gente. Mas quando você fala: “Eu trabalho com Pai Benedito de Aruanda”, milhares e milhares de pessoas trabalham com o mesmo Benedito de Aruanda, mas não é o mesmo espírito, são vários espíritos que usam o mesmo nome, Benedito de Aruanda foi só um, aí está respondido.
Nós temos alguns negros que foram escravos no Brasil, que fundaram e criaram a linha de Preto Velho e lá está: Pai Jacó, Pai José, Pai Joaquim, Pai Benedito, Vovó Maria, Vovó Maria Conga, Vovó Ana, Vovó Cambinda, lá estão os Pretos Velhos e as Pretas Velhas, alguns poucos que realmente foram escravos. Almas iluminadas que realmente foram escravos e criaram essa linha de Preto Velho no astral porque eles começaram a trabalhar no astral pra ajudar as pessoas e aí começaram a regimentar, a unir, a juntar, espíritos para ajuda-los e que trabalhavam em nome deles, isso é hierarquia.
Pai Benedito começou a trabalhar no astral e muitos começaram a trabalhar junto dele, mas nenhum deles trabalhou em nome de si, trabalharam em nome de Benedito, então se apresenta: “Quem é você?”, “Eu sou aquele que vem em nome de Benedito” e daí “Quem é você?”, “Eu sou o Benedito”, eles assumiram um arquétipo do Benedito, assumiram o arquétipo de João, de Joaquim. Observe, a gente fala muito na Umbanda do valor da raça vermelha, do valor da raça negra.
Nossos Pretos Velhos são: Pai João, Pai José, Vó Maria, Vó Catarina e a gente fala: “Ah o Preto Velho é representante da cultura Africana”, mas observe o seguinte: eles estão se identificando com nomes da língua portuguesa. A maioria dos Pretos Velhos tem nome, se apresentam com nomes Cris tãos, eles não dão nomes Angolanos, eles não dão nomes Yorubanos, eles não dão nomes que venham da cultura Gêge, eles dão nomes Cris tãos, oriundos de uma cultura Judaico-Cris tã, Europeia e no Brasil mais especificamente Portuguesa.
O preto Velho, a figura do Preto Velho, a imagem do Preto Velho, o arquétipo do Preto Velho, representa no imaginário, no inconsciente, evoca a figura do Preto Velho enquanto o negro escravo que foi batizado e trazido para o Brasil, então ele não é apenas a figura de um Africano, o negro velho é a figura do negro escravo.
Há uma diferença entre a figura do Africano e a figura do negro escravo, inclusive por quê? Muitos negros escravos inclusive nasceram no Brasil. Os negros escravos foram trazidos da África, mas houve aqueles que nasceram no Brasil.
O Preto Velho é a figura do negro escravo que traz uma figura Africana, mas que foi batizado pela religião Católica porque os Pretos Velhos tem uma ligação muito forte com Cris to, é muito comum ver um Preto Velho com um terço, usar como guia um rosário – o terço é: um terço de um (1/3) rosário, isso representa o terço. É comum ver o Preto Velho com terço ou com um rosário ou uma guia feita de lágrimas de Nossa Senhora como se fosse um terço ou um rosário. É comum essa ligação dos Pretos Velhos com o mistério Cris tão, com Cris to, com a cruz.
Essa é uma representação do Preto Velho, daquele que foi escravo, daquele que sofreu com a escravidão. A imagem é aquele que apesar de ter o corpo escravizado, a sua alma era livre, isso que dizia a Igreja. Graças ao decreto de Bartolomeu de Las Casas à Igreja Católica, graças ao fato de os Jesuítas terem muito carinho pelos índios, graças ao conceito de que o índio era de um espírito muito livre, não dava pra escravizar o índio pela sua liberdade de espírito, então o índio não aceitava ser escravo por ter essa liberdade de espírito.
Quer dizer que então o negro não tinha liberdade de espírito? Só o índio?
Acontece que o índio estava na sua terra, você faz ele escravo, ele foge, ele cai na mata, ele está na casa dele, ele está na terra dele. Agora, o escravo não, o negro não, o negro já era comprado. A África vivia em guerra, uma nação contra outra, uma nação fazia guerra contra outra e quem perdia a guerra era feito escravo, o Europeu chegava na África e comprava negro que já era escravo lá, então eles já vinham numa condição de escravo, era tirado da sua terra, separado da sua família, já tinha perdido tudo e chegava aqui nessa condição de escravo e na condição de escravo ele ficava.
Muitos iluminados encarnaram no meio desse povo pra dar uma luz, pra dizer “Não se revolte” e a Igreja dizia: “Eles são escravos do corpo, mas agora estão libertos na alma porque foram batizados”, a Igreja dizia que a África era o inferno do mundo, isso é histórico, é fato histórico. E realmente, de fato os Pretos Velhos representam aqueles que apesar de todo sofrimento não perderam a sua fé, não perderam o seu amor pelos Orixás, não perderam a sua espiritualidade, a sua esperança, isso os Pretos Velhos representam.
Quando você olha para o Preto Velho, você vê no arquétipo dele, na imagem, naquilo que o Preto Velho representa, você vê alguém que no seu imaginário, no nosso imaginário foi escravizado, apanhou, perdeu a família, alguém que foi arrancado da sua terra, alguém que sofreu no tronco, na chibata e não perdeu a fé.
Ao olhar o Preto Velho na sua imagem de resignação, humildade, simplicidade e sabedoria, isso cria um impacto. A frase é: pouco com Deus é muito, meu filho. Muito sem Deus é pouco.
Ele é aquele que não perdeu a fé, que diz pra você os valores não são as coisas que você tem, que você compra, os valores são: quem você é. Isso Preto Velho ensina e ele ensina cantando, brincando, contando história, às vezes, contando uma história de quando foi escravo, que pode ser a história do hierarca Benedito, do hierarca Pai Joaquim de Angola, da Vovó Cabinda ou Cambinda – como preferir – existem histórias sim que ele conta como se fosse dele ou ele encarna isso, ele vive isso, ele se apresenta, ele se mostra e você não sabe realmente quem ele é, ele sabe quem você é. Você sabe que ele é um espírito e que se ele foi preto velho ou se ele não foi não interessa, agora ele é: o Preto Velho.
E muitas vidas ele teve, muitas encarnações porque um espírito pode plasmar aparência de Preto Velho, isso é um fato, no entanto, ninguém pode plasmar sabedoria, ninguém plasma sabedoria e aqueles espíritos que trabalham como Preto Velho na Umbanda eles alcançaram um grau.
Preto Velho também é um grau, é um grau e um mistério do nosso Pai Obaluayê e da mãe Nanã Buroquê.
Preto Velho é um grau de ancião, esse grau ancião é alcançado por aqueles que são espíritos velhos, mas, espírito fica velho? Velho não é uma coisa da matéria, do corpo biológico que nasce, cresce, envelhece e morre? Sim. Espírito não fica velho dentro do conceito de encarnado que é um velho, mas, sim, existem espíritos que nós consideramos mais velhos. O que é um espírito mais velho? É um espírito que tem mais maturidade, que encarnou muitas vezes e que aprendeu as lições que a vida dá.
Ele é mais velho porque nas suas encarnações ele se tornou alguém melhor, alguém mais sábio, ele é respeitado como um mais velho, ele alcança o mistério ancião. Tudo isso é relativo e é pertinente aos Pretos Velhos, tudo isso está ligado aos Pretos Velhos.
Com o Preto Velho você aprende a respeitar o mais velho, porque do que adianta você ter amor pelo Preto Velho, pedir a benção para o Preto Velho e não respeitar os seus mais velhos, os seus pais, os seus avós, esse é o respeito que se tem pelo mais velho que se aprende na Umbanda.
Como você trata os seus mais velhos? Assim os seus mais novos lhe tratarão também, Preto Velho ensina o respeito por uma raça negra, ensina o respeito pelo mais velho, ensina humildade, ensina sabedoria, mesmo o soberbo, o arrogante, quando chega no Terreiro de Umbanda pra falar com Preto Velho, ele tem que ajoelhar, tem que bater cabeça, tem que pedir a benção e tem que chegar bem pertinho porque o Preto Velho na maioria das vezes fala baixinho.
A Umbanda estabelece um nivelamento social com relação ao ambiente da espiritualidade. A pessoa que está incorporada não importa qual é a sua condição social porque ali não é mais o médium, é o Preto Velho, o Caboclo, o Baiano, o Boiadeiro. É comum ver o patrão no mundo profano, chegar no mundo sagrado tomar passe com aquele que no mundo profano é o seu empregado e vice-versa.
Dentro da Umbanda, do ambiente de Umbanda, pouco importa de onde você veio, quem você é, qual é a sua condição social, qual é a sua raça, qual é a sua cor. A Umbanda não levanta bandeiras, não é contra isso ou contra aquilo, ou defendendo isso ou aquilo porque pra Umbanda tudo é igual.
Não há diferenças, aceitamos e aprendemos a aceitar os diferentes e as diferenças como algo igual que merece o nosso respeito e com Preto Velho a gente aprende todas essas coisas pertinentes ao mistério ancião manifesto ali no Preto Velho de Umbanda.
Preto Velho e Preta Velha é um grau dentro da Umbanda, eles trazem o mistério ancião, eles trabalham a humildade, a sabedoria, eles nos ensinam isso como uma doutrina de impacto, você aprende a respeitar o mais velho, o Preto Velho, o que ele representa, você aprende a respeitar isso.
E quando nós estamos incorporados do Preto Velho, recebemos um pouco desse mistério, o trabalho de Umbanda é um trabalho muito peculiar, quando a gente incorpora, trabalha incorporado é muito comum que os consulentes tenham problemas muito parecidos com os nossos problemas e nossos guias incorporados parecem ter solução para tudo, com paciência, com tranquilidade, com amor, com uma palavra, com carinho, às vezes, tudo o que o consulente precisa é de um abraço do Preto Velho, então eles tem isso pra oferecer, eles têm essa força.
A gente costuma usar para Preto Velho: vela branca ou vela bicolor, eles usam guias que podem ser: guias pretas e brancas ou guias feitas de lágrimas de Nossa Senhora ou terço ou rosário, são muito rezadores, mandingueiros – mandingueiro no sentido de rezador – trabalham com água, com erva, com pedra. A gente vê muito o sinal da cruz nos seus pontos riscados porque a cruz é um símbolo de Obaluayê e eles trabalham o mistério ancião que é o mistério que está dentro da força de Obaluayê e Nanã.
Assim como o símbolo de Caboclo é a flecha e a flecha está ligada ao mistério de Oxóssi, esse simbolismo enriquece. Nos pontos riscados de Preto Velhos você vai ver cruzes ou cruzeiro e também símbolos dos outros Orixás como estrela, sol, montanha, coração, que vai revelar no campo de quem aquele Preto Velho está trabalhando, um ponto riscado pode ser: o ponto riscado do Preto Velho ou ponto riscado de trabalho.
Temos Pretos Velhos que trabalham na força de todos os Orixás, o mistério ancião, o mistério Preto Velho é de Obaluayê, mas tem Preto Velho de Oxalá, de Oxum, de Oxóssi, de Xangô, de Yemanjá, de Nanã, no entanto não é tão fácil identificar.
Com Caboclo é assim: “Caboclo Sete Montanhas – de Xangô”, “Caboclo do Fogo – de Xangô”, “Caboclo do Sol – de Oxalá e de Xangô”, “Caboclo Tupã – de Oxalá”.
Agora, Preto Velho: Pai João – o nome não revela, Vó Maria – o nome não revela, Pai Joaquim – o nome não revela, só se ele falar “Sou Pai Joaquim do Cruzeiro” – aí sim, cruzeiro é de Obaluayê, “Pai Joaquim das Almas – almas de Obaluayê”, “Pai Joaquim do Mar – é de Yemanjá”, “Pai Joaquim da Cachoeira”, “Pai Joaquim das Matas”, “Pai Joaquim da Montanha”, então às vezes o Preto Velho revela quem é o seu Orixá, mas na maioria das vezes o nome não revela, então só trabalhando com ele durante algum tempo é que a gente vai saber.
Existem aqueles Pretos Velhos chamados Pretos Velhos Quimbandeiros.
O que é um Preto Velho Quimbandeiro?
É um Preto Velho que trabalha bastante com a Esquerda, que tem uma ligação com a Esquerda, é um Preto Velho que trabalha bastante junto com os Exus.
Um Preto Velho muito Quimbandeiro é Pai Cipriano porque aí tem uma relação com São Cipriano que as pessoas dizem: “O livro de São Cipriano é um livro de magia negra”, o livro de São Cipriano é livro que conta a história de São Cipriano e tem um monte de receita que não era de São Cipriano, então essa é a verdade e São Cipriano é um homem que se tornou um santo.
A linha dos Pretos Velhos está ligada a Obaluayê, Nanã Buroquê, está ligada ao Pai Omulu também, a linha dos Pretos Velhos em muitas literaturas aparece como: Obaluayê sincretiza com São Lázaro, Omulu sincretiza com São Roque, Nanã sincretiza com Sant’Ana, mas tem uma ligação forte também com São Cipriano – o santo – pela questão de serem mandingueiros os Pretos Velhos, rezadores, representam uma magia também, são praticantes de magia.
São Cipriano é um santo de fato, ele não é representante da magia negra, ele é um santo e aí Pai Cipriano vai ser um Preto Velho que é bastante quimbandeiro.
Qualquer Preto Velho pode ser quimbandeiro, há Pretos Velhos que trabalham bastante com a Esquerda, aí que a gente fala que é Preto Velho Quimbandeiro, que é aquele que tem essa facilidade de lidar com magia. E há uma linha no astral de Preto Velho Quimbandeiro, então independente de quem seja o seu Preto Velho há trabalhos que é possível chamar os Pretos Velhos Quimbandeiros, que são o quê?
Pretos Velhos que são quebradores de demanda, Pretos Velhos que são mandingueiros, Pretos Velhos que são feiticeiros – da boa feitiçaria, da boa magia. A gente falou sobre Caboclos e é a mesma coisa, dentro da linha de Caboclos a gente também tem Caboclo velho.
Há no astral Caboclos que estão no mistério ancião - um Caboclo velho é um Caboclo que traz o mistério ancião, recapitulando: no mistério Caboclo temos Caboclos anciãos, Caboclos Quimbandeiros. O Caboclo ancião geralmente se apresenta como um pajé, um curador, esses Caboclos velhos muitos deles trabalham com a maracá que é o chocalho, trabalham com o cachimbo, muitos deles trabalham com reza, com erva.
Caboclo velho geralmente é um Caboclo benzedor, um Caboclo curador, um Caboclo pajé. Há a linha de Caboclos Africanos são os Caboclos que tem uma ligação forte com Omulu, geralmente Caboclos Africanos também são Caboclos Quimbandeiros.
Quem é o Caboclo Quimbandeiro?
É um Caboclo que trabalha bastante com a Esquerda, entre os Caboclos Quimbandeiros alguns são muitos conhecidos como Seu Pantera Negra que é considerado Caboclo Quimbandeiro.
Há Caboclos que são quebradores de demanda como Seu Cobra Coral, como Seu Ventania, como Seu Gira Mundo, considerados Quimbandeiros.
As linhas de Umbanda têm ramificações, tem Preto Velho de todos os Orixás porque tem uma parte de Preto Velho Quimbandeiro, tem uma parte de Preto Velho curador, tem Guias que tem especialidades num ou outro campo.
Quem são as crianças na Umbanda?
As crianças representam o mistério infantil, diferente de Caboclo e Preto Velho, criança não é exatamente um espírito plasmado de criança porque as crianças são entidades realmente infantis, não é alguém se comportando de maneira infantil, as crianças são entidades realmente infantis, então as crianças na Umbanda, boa parte delas são seres encantados que nunca encarnaram.
Todos nós, humanos, somos seres naturais da dimensão humana, antes de ser um natural, nós fomos encantados. Então, os encantados são infantis em relação a nós, as crianças de Umbanda são encantados que estão entrando na realidade humana.
Algumas crianças já encarnaram, uma ou outra vez, mas não foram adultos, muito raramente você tem uma criança – criança de Umbanda: êre – que já foi um adulto. Inclusive, êre é uma palavra que vem do Candomblé, do culto de Nação, êre é um estado de infantilidade.
Quem é o êre?
Na origem da palavra quando no Candomblé alguém faz uma camarinha, essa pessoa vai ser iniciada no Candomblé - morrer e nascer outra vez simbolicamente - então, no momento em que ela está morrendo para o profano e nascendo para o sagrado começa a se comportar de maneira infantil, isso é chamado de estado de êre, é diferente de incorporar uma criança.
Se o Orixá daquele adepto é Ogum, ele vai entrar em estado de êre na força de Ogum. A gente não, a gente recebe uma criança, a criança pode ser chamada de êre por dizer: é um espírito que está naquele estado infantil. Ibeji ou Ibejí são os Orixás gêmeos considerados infantis e crianças na África, então Ibeji é o Orixá.
Nós não incorporamos o Orixá, incorporamos uma criança, um espírito, uma entidade infantil, mas também é chamado de Ibeji pela relação com o Orixá Ibeji que não é um dos quatorze, mas é um Orixá que existe, um par de Orixás.
Ibeji quer dizer gêmeos na língua Yorubá, então Ibeji é uma força representante do mistério encantado, dos encantados, não da encantaria Gêge, não dos encantados do Candomblé Gêge, mas encantados de seres encantados que são anteriores a nós, são infantis em relação a nós assim são as crianças que nós incorporamos.
Cosme e Damião são dois santos Católicos, Doun não é santo Católico, Doun não existe na Igreja Católica, Doun foi adicionado a Cosme e Damião dentro da religião de Umbanda.
Ibeji tem um irmão, um terceiro irmão de Ibeji na cultura Yorubá chamado Dou, daí surgiu Doun – Cosme, Damião e Doun.
Diz o pai Ronaldo Linares que tem uma história no Rio de Janeiro que perto da Tenda Nossa Senhora da Piedade havia uma lojinha de artigos de Umbanda e santos populares e tinha lá Cosme e Damião e um rapaz que trabalhava na loja quebrou uma estátua de Cosme e Damião e sobrou um pequeninho e ele colocou na frente de outra estátua de Cosme e Damião grande. E todo mundo perguntava: “Quem é esse pequeninho?”, todos sabiam que Cosme e Damião são considerados padroeiros das crianças e que guarda a linha das crianças na Umbanda e aí colocaram o pequeninho e aí ficou parecendo Cosme e Damião e uma criancinha, representando as crianças da Umbanda – criancinha por ser pequeno, mas é igual aos outros dois grandes.
No Rio de Janeiro Cosme e Damião eram chamados de Dois Dois e dizem que um menino chamou de Dois Um e aí de Dois Um pra Doun, de Doun pra Dou - e mais ou menos ninguém sabe muito bem como é essa história e é contada por pai Ronaldo que é merecedor de todos os nossos créditos pela sua integridade, verdade - então, Cosme, Damião e Doun, Doun representa as crianças, tem êre que tem o nome de Doun, tem êre que é chamado de cosminho.
Quem são nossos êres, nossos Ibejis, nossos cosminhos, nossos douns?
São crianças. Crianças encarnadas? Um ou outro encarnou, mas não necessariamente eles precisam ter encarnado, eles são aqueles que trazem o mistério infantil, o mistério criança.
De quem é esse mistério infantil?
O mistério infantil pertence à Oxumaré.
Não é o mistério de Ibeji?
Também é o mistério de Ibeji, mas dentro dos quatorze Orixás identificando a partir dos quatorze Orixás está no mistério de Oxumaré.
As crianças na Umbanda não são necessariamente espíritos humanos, ou seja, se você tem uma entidade que nunca encarnou, não pode ser considerada humana, então elas são encantadas, algumas já encarnaram.
O que a criança representa?
Qual é o arquétipo da criança?
É o arquétipo da pureza, da inocência, então a criança representa aquela pureza que a gente já perdeu. Há uma passagem Cris tã Bíblica que diz que o reino dos céus pertence às crianças, a criança está reservado o reino dos céus, alguma coisa nesse sentido.
Qual o sentido dessa afirmação?
Até porque hoje em dia na igreja Católica, se a criança é Católica e não for batizada ela vai para o purgatório. Mas, o que Jesus quis dizer com essa afirmação?
Que as crianças são puras, que as crianças são inocentes. Aquele que não morrer e não nascer de novo não vai para o céu, é uma referência à reencarnação?
Sim, mas é uma referência no sentido de você morrer e nascer de novo muitas vezes, tornar-se criança - não criança no sentido de falta de informação, de não ter conhecimento, não ter despertar, ser infantil, mas que a gente possa crescer e continuar sendo criança (puro de coração).
As crianças da Umbanda ensinam a não perder a nossa pureza, tentar manter a integridade de certa inocência. O trabalho com criança dentro da Umbanda é um trabalho que nos convida a brincar e a vida quando é muito séria fica pesada.
As crianças trazem a arte de brincar com a nossa vida e te acorda pra você lembrar como foi a sua infância que criança foi você, que além da criança que eu incorporo existe outra criança que é a minha criança interior.
Quem é a minha criança interior? Como viveu a minha criança? Quais foram as minhas experiências de criança?
Isso tudo está guardado no peito, está guardado no consciente e no inconsciente. Esta criança incorporada Mariazinha, Joãozinho, Jorginho, Paulinho, Paulinha, Aninha, Ritinha. Mariazinha, essas crianças estão trabalhando com a minha criança interior, se está incorporado em mim mais ainda, essas crianças estão trabalhando as dificuldades que a minha criança, que eu enquanto criança, tive nesse mundo.
Não é algo que Freud explica?
Freud não traz da infância tudo quanto é problema que o adulto tem hoje?
Então, as nossas crianças estão trabalhando essa nossa criança, para eu me beneficiar de um trabalho de criança na Umbanda ao me sentar de frente para uma criança eu não vou falar pra ela de questões complicadas pertinentes a minha vida, questões judiciais, questões delicadas de um relacionamento mal vivido, não.
Ao me sentar de frente com uma criança eu vou brincar com ela, eu vou conversar com ela, ela vai me chamar de tio, ela vai pedir a minha benção, ela vai me oferecer doce, chocolate e vai falar para eu relaxar, tranquilizar, para eu brincar com ela e no momento que eu esquecer que eu sou um adulto, velho, chato, rabugento, complicado, cheio de complicações, que não para de pensar em problemas, em coisa para resolver, em conta para pagar, em tudo isso, no momento em que eu esquecer tudo isso e que ali naquele momento eu voltar a ser criança junto com aquela criança, então ela conseguiu algo, ela conseguiu mudar o meu padrão vibratório.
Quando eu esqueço quem eu sou, qual é o meu papel social, qual é o meu papel familiar, qual é a minha identidade, minha responsabilidade, minha imagem, o meu ego – Por que tem coisa mais forte do que ver um adulto se comportando como criança? Pra um adulto se comportar como criança, ele tem que deixar o ego dele totalmente de lado porque senão, a partir do ego é ridículo ver um adulto se comportar como criança, chupando pirulito, comendo chocolate, brincando de carrinho, brincando como se fosse uma criança, é ridículo, ridículo para o ego – então, brincar é abandonar o ego, a criança lhe convida a abandonar o ego.
Quando você brinca com ela como se você fosse criança, você entra na energia dela ou ela entra na sua energia e aí começa um equilíbrio energético muito forte, às vezes realizando coisas que o Caboclo não realizaria, o Preto Velho não realizaria, não daquele jeito, então você se deixa envolver pela força, pela energia da criança e naquele momento um monte de energia ruim que está com você é quebrada, desagregada, “cai por terra”.
Quando você se vê criança, você esquece de muitos dos seus problemas, quando você se vê criança e a criança diz pra você “Tio seja criança também, brinca”, você se envolve, você ganha uma nova força, um novo olhar, ali convida a brincar um pouco mais, a descontrair um pouco mais e isso é linha de criança na Umbanda, elas nos convidam, é um convite. Um arquétipo, o arquétipo da pureza, da inocência, busque reencontrar onde isso ficou perdido dentro de você, busque curar os seus traumas e suas dores de infância que a criança da Umbanda lhe convida a isso e muito mais.
Nós temos uma linha de Umbanda chamada: linha das crianças. E por que é que nós não estamos aproveitando isso para os médiuns trazerem seus filhos ao Terreiro, então o trabalho de criança é no mínimo um convite pra você trazer as suas crianças ao Terreiro, pra trabalhar a sua criança interior, pra trabalhar a sua pureza, a sua inocência, pra trazer essa força pra sua vida.
Do que é que adianta pedir a benção para o Preto Velho e não respeitar o seu mais velho?
Do que é que adianta bater cabeça para o Caboclo e não respeitar o índio?
Do que é que adianta você buscar força com as crianças de Umbanda e não se relacionar com as suas crianças, com seus filhos, com seus netos?
E perder a oportunidade única de viver, experienciar aquele momento que você, que o seu já passou mas, você revive a experiência de criança como adulto acompanhando uma criança e a Umbanda traz a importância do reviver esse momento.
A linha das crianças é um convite, entre outras coisas, para trazer as crianças para o Terreiro, dizem que é de novo (mais novo) que se desentorta o ser. E a gente costuma dizer: “Ah vou esperar meu filho crescer, quando ele crescer ele escolhe a religião”. Como é que ele vai escolher a religião se você não apresentou escolhas? Você tem uma religião? É Umbanda.
Apresente a sua religião a ele, leve-o pra religião, construa dentro do Terreiro de Umbanda um ambiente saudável para que a criança possa frequentar na Gira de criança, na Gira de Preto Velho, de Caboclo e na Gira de Esquerda, que as crianças possam frequentar, que seja saudável esse ambiente, que os Guias sintam, que os Guias possam passar a importância que é receber as crianças no Terreiro, que elas se sintam bem.
Quem sabe ter também um pouco de bala, um pouco de doce, algum brinquedo, alguma coisa pra essa criança quando chegar no Terreiro saber que ali tem uma atenção pra ela também, ela não está só acompanhando os pais, então a linha de criança abre isso. A gente já falou sobre o mistério de Exu Mirim, Exu Mirim também é infantil, mas não é uma criança.
As nossas crianças também são infantis, mas não necessariamente é uma criança que encarnou, temos: as crianças da Direita, Exu Mirim as crianças da Esquerda, eles formam uma polaridade também, há muita criança que trabalha junto com Exu Mirim.
Não subestime o poder de realização que uma criança tem, ao mudar sua energia, se você se permitir brincar com ela e entrar nesse clima, nessa energia da criança, tem muito trabalho de magia negra pesado que se desfaz com a força e a presença da criança. Muita criança trabalha com Exu Mirim, a criança está ajudando, conversando, brincando, Exu Mirim vai lá e quebra e corta o que tem que cortar e você nem imagina.
E há consulente que não gosta, não quer consultar com criança porque quer conversar só com um Exu ou uma Pombagira ou um Caboclo. Vamos entender o que cada linha tem a oferecer, todas as linhas são importantes e cada linha tem algo a oferecer.
A linha das crianças é importantíssima, tem muito a oferecer, esteja aberto, atento, perceba que força é essa que tem na linha das crianças, que trabalha em nome de Cosme e Damião, com velas cor-de-rosa, azul claro, às vezes duas velas: uma rosa e uma azul claro ofereçam para as crianças na Umbanda, doce, suco, refrigerante.
Annapon
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino -)