domingo, 12 de maio de 2019

Funcionamento da Magia na Umbanda

No momento em que uma religião, como a Católica, assume o poder, e ela assumiu durante um bom tempo, essa religião começa a perseguir as outras e uma forma de perseguir é afirmar que a magia do outro é uma coisa demoníaca, isso é uma receita antiga.

Historicamente, quando o Catolicismo se torna uma grande religião, de poder, uma religião do estado, que tem o poder de perseguir, de castigar, naquele momento foi, por exemplo, criada a inquisição.

E por meio da inquisição essa organização persegue as outras religiões, os praticantes de outra religião. No olhar preconceituoso, a prática de outra religião é sempre de feitiçaria, de magia.

Nomearam de bruxos e bruxas todos que tivessem alguma prática religiosa de outra religião, uma rezadeira da cultura Celta era considerada uma bruxa, uma benzedora de outra cultura era considerada uma bruxa, alguém que soubesse trabalhar com ervas, com algum elemento da natureza, era considerado bruxo ou bruxa.

A Inquisição levou à fogueira os praticantes de magia de outras religiões e mesmo as religiões que insistiram em praticar a religiosidade que não fosse a  Católica.

Esta é uma página da história da humanidade que a Inquisição “escreveu” e é um momento em que a religião instituída assume uma guerra contra a magia e o que a magia representa, lançaram guerra contra a magia impedindo as pessoas de praticá-la, referindo-se à magia como algo que não presta, não serve, essa ideia foi incutida na cabeça das pessoas durante séculos e foi sendo trabalhada essa ideia de que magia não presta e de que qualquer magia é algo enganoso, embusteiro, que toda forma de magia, toda e qualquer forma de magia não é algo sagrado porque não pertence àquela religião e isso ficou no inconsciente coletivo.

Até hoje é muito difícil para muitas pessoas entenderem o benefício que traz a prática de magia, pra muitas pessoas ainda qualquer forma de magia tem uma conotação negativa, pejorativa, se você tem que fazer uma receita mágica, parece, para algumas pessoas, que se sentem como se estivessem fazendo algo errado por estar praticando magia. E a diferença do certo e do errado é a intenção.

Fala-se na magia branca e na magia negra, existem muitas formas de magia – e negra aqui não diz respeito à raça – mas, diz respeito à magia positiva e magia negativa, magia negativa há muito tempo foi e é chamada de magia negra.

Qual a grande diferença? A intenção.

A magia branca ou magia divina é feita com boa intenção, com a intenção de ajudar e a magia negativa é feita com a intenção de prejudicar.

 Dentro de muitas culturas, a grande diferença é a maneira de trabalhar.

Dentro do que nós chamamos de magia existem as magias naturais, ou seja, as magias ligadas à natureza que são as práticas de magia das religiões ligadas à natureza e aí nós temos: magia branca e magia negativa/ magia negra, aí tem magia astrológica, magia Celta, magia rúnica, magia Egípcia, magia Maia, magia Asteca, magia deste povo, magia daquele povo, magia dessa cultura, magia daquela cultura e aí também essas formas de magia vão assumindo nomes.

Por exemplo, hoje em dia a prática da magia Celta é chamada de wicca.

Se o Judaísmo tem a Cabala Hebraica e o Islã tem o sufismo, a wicca está para a religiosidade Celta assim como essas práticas estão para outras formas de religiosidade. A wicca é trazer, reviver a magia daquela cultura, daquele  povo Celta.

E em todas as práticas mágicas de diversas culturas a gente vê a manipulação de elementos, então, dentro da tradição da Cabala você tem a utilização de nomes sagrados, de palavras sagradas, de letras sagradas, de símbolos, de signos, o uso dos elementos, da vela, da verbalização, da vocalização de sons sagrados, da chamada de forças e poderes.

A Cabala Hebraica influenciou fortissimamente o que é chamado de magia europeia ou ala magica europeia onde, nessa cultura, na alta magia, há uma distinção entre teurgia e goécia, nessa cultura europeia mágica se diferencia magia branca como teurgia e magia negra como goécia, é dito que na teurgia se trabalha com Anjos e na goécia se trabalha com demônios.

E há um tipo de magia em que você trabalha com teurgia e goécia ao mesmo tempo em que se formam signos pantáculos, signos cabalísticos, estruturas simbólicas de magia onde você evoca o poder de um demônio cercado por um poder de um Anjo, então, isso é chamado também de uma forma de alta magia.

Por que trabalhar com Anjos e demônios?

 Acredita-se que a força dos Anjos é manipulada por meio da magia ou trabalhada por meio da magia para atingir objetivos espirituais e divinos, e a força dos demônios é para atingir objetivos materiais ou profanos.

Para trabalhar a força de um demônio nesse tipo de magia, você trabalha com a força de um anjo e aprisiona a força do demônio construindo um pantáculo, um círculo mágico com outros círculos dentro - como uma cebola - nos círculos de dentro estão as forças dos demônios e ao redor as forças dos Anjos, no centro fica o praticante de magia que evoca o Anjo e evoca um demônio, o demônio é obrigado a obedecer a sua ordem sob a força e a presença do Anjo.

Muita gente, na Umbanda, já estudou sobre teurgia e goécia, e trouxe para a Umbanda como Aluísio Fontenele em 1950 quando começou a aplicar isso na Umbanda considerando a linha da Esquerda como goécia e linha da Direita como teurgia, ele comparou os Exus aos demônios e os Orixás aos Anjos e ele considerava que o trabalho mágico de Umbanda devia ser feito dessa forma, evocando Exus como demônios e invocando Orixás como Anjos numa magia Cabalística imitada, copiada ou inspirada pela alta magia que mistura Anjos com demônios, teurgia com goécia, no entanto, nossos Exus não são demônios e a nossa magia não é magia europeia, então, é bom estudar outras tradições, mas nem sempre o fundamento de outra tradição pode fundamentar a nossa religião, existe uma magia que é a Magia de Umbanda que se auto explica, é uma magia divina, é uma forma de teurgia, mas os Orixás são divindades, são muito semelhantes aos Anjos, mas não são tratados na Umbanda da mesma forma que os Anjos são tratados no Catolicismo ou da forma como os Anjos são tratados na Cabala Hebraica.

Nossos Exus não são demônios, eles lidam sim com os aspectos mais materiais da vida também, não apenas, mas, a maneira de tratar um Exu não é à maneira da goécia ou da magia negra tratar um demônio. Exu não é escravo do Orixá, não se coloca Exu para trabalhar por obrigação, forçado pelo poder incisivo de um Orixá que o obriga a trabalhar, não, Exu trabalha comigo porque é minha entidade e o Orixá Exu não é um demônio, Orixá Exu é uma divindade, é um Orixá assim como Oxalá.

O sufismo tem práticas mágicas muito parecidas com a Umbanda, mas não é Umbanda, eu posso estudar a obra de Eliphas Levi, mas essa obra não explica a magia da Umbanda “Dogma e Ritual de Alta Magia” – Eliphas Levi publicado pela editora Madras é um livro excelente, mas esse livro não explica a Umbanda, os dogmas de Levi não são os dogmas da Umbanda, para Levi a mulher não pode praticar magia, na Umbanda a mulher pratica a magia, aí tem Umbandista que lê Levi, depois escreve livro de Umbanda dizendo que mulher não pode praticar magia, que bobagem é essa? Porque foi buscar um fundamento alheio, eis a resposta.

Você pode ler o livro magos de Francis Barret, um livro de 1801 que foi publicado pela editora Mercúrio, você pode ler, mas não é Umbanda. Você pode estudar o wicca, mas não é Umbanda. Você pode estudar muitas práticas diversas de magia, você pode estudar a Cabala Hebraica a fundo, mas não é Umbanda.

 A Umbanda possui uma magia que se auto explica. É certo que no passado não tinha por onde estudar a magia de Umbanda e todos aqueles que se interessaram pela magia de Umbanda, por falta de uma literatura mágica de Umbanda, buscaram estudar a magia em outras culturas, isso ajuda a entender a magia da Umbanda, mas também pode atrapalhar.

Quando você pega a dogmática de outra religião, os dogmas de outra prática de magia, aí traz pra dentro da Umbanda, que é uma religião mágica, mas que não possui dogmas – dogma é uma verdade que tem que ser aceita sem contestação. Então, tudo na Umbanda é passível de ser questionado e contestado por isso que não tem dogma, dogma é uma verdade que tem que ser aceita porque Deus quis e ponto final.

A Umbanda tem magia própria, desde o começo da religião se fala em magia, desde Zélio de Moraes, desde Leal de Souza – o primeiro autor de Umbanda – o primeiro livro de Umbanda publicado chama-se: O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, publicado em 1933, nele já está a magia.

Em 1944, vários autores defendem a Umbanda como magia branca, Lourenço Braga afirma no seu livro Umbanda e Quimbanda: “Umbanda é magia branca, Quimbanda é magia negra” – não vamos entrar no mérito da Quimbanda – mas, a questão é: a Umbanda sempre foi vista como uma prática de magia, magia religiosa e religião mágica pelos seus praticantes, mas houve aqueles que misturaram os fundamentos como os de Aluísio Fontenele, misturou o conhecimento da goécia europeia com a Esquerda da Umbanda e com a Quimbanda.

É algo que dá pra praticar?

 Dá para praticar, mas você buscou um fundamento alheio, hoje a magia de Umbanda é uma forma de teurgia quando trabalha com os Orixás, a magia da Umbanda é uma forma de alta magia quando apresenta uma ciência, a magia da Umbanda é uma magia natural quando busca as forças da natureza, a magia da Umbanda é uma magia autêntica e divina no momento em que ela tem fundamento próprio.

Hoje existe literatura de Magia Divina de Umbanda.

Há uma magia da Umbanda que é uma Magia Divina, a Magia Divina de Umbanda é a magia que dá acesso aos mistérios, mistérios relativos e pertinentes as forças e os poderes que se manifestam na Umbanda – poder é a manifestação de uma divindade, força é a manifestação de uma entidade –

Na Umbanda se trabalha com a magia das sete chamas sagradas que é o elemento fogo, com a magia do elemento água, magia do elemento terra, com a magia do elemento ar, com a magia do elemento cristalino, mineral e
vegetal.

Na Umbanda se trabalha com magia dos sete elementos. Na Umbanda se trabalha magia da Fé, do Amor, do Conhecimento, da Justiça, da Lei, da Evolução, da Geração.

 Na Umbanda se trabalha a magia de Oxalá, de Oxum, de Oxóssi, de Xangô, de Obaluayê, de Nanã. A magia do mistério do Caboclo, a magia do mistério do Preto Velho, a magia dos movimentos, a magia da dança, a magia do som, a música de Umbanda é uma verdadeira magia, a magia que há e é praticada por meio do fumo, por meio da bebida, dos símbolos, dos gestos, das palavras, das oferendas, magia de símbolos.

O Preto Velho está incorporado batendo o pé no chão, tremendo a perna e batendo-a no chão, é uma magia e um mistério. E tem o momento em que a entidade pega uma pemba risca um ponto no chão e aí ele coloca água, coloca erva, tem a magia das sete ervas sagradas, a magia das sete águas sagradas, a magia de cada elemento, força, símbolo, de cada signo.

A magia de Umbanda é uma ciência porque existe uma técnica para se trabalhar essa magia e isso acontece de uma forma muito natural.

Como preparar uma defumação?

A defumação é uma prática mágica, implica no conhecimento de uma ciência. O que faz a defumação? Faz a limpeza e a purificação do ambiente por meio da queima de ervas ou de resinas.

Quando a resina do incenso queima em cima de um carvão em brasa, aquela fumaça que exala vai carregada das propriedades aromáticas dessa resina, desse incenso que tem a capacidade de limpar, purificar a energia negativa no ar, é uma magia que trabalha no ar.


Há ainda a defumação pra acalmar o ambiente com camomila, capim limão, melissa ou uma defumação pra queimar e purificar energias de pensamentos viciados como casca de alho, casca de cebola e casca de limão juntos, isso é bom contra comportamentos viciados, formas de pensamento viciada, viciação em alguma coisa ou vício: casca de limão, casca de alho e casca de cebola.

A defumação para a espiritualidade é feita com ervas de Oxalá, para o amor ervas de Oxum, para o conhecimento de Oxóssi, para justiça de Xangô, o olíbano que é o incenso, tem propriedades que agem no sistema nervoso central e que ajudam a pessoa a entrar num comportamento reflexivo, a essência aromática do incenso age no cérebro, no mental, acalmando e ajudando a entrar num estado mais contemplativo, há uma ciência.

Quando você defuma, você deve defumar de dentro levando a fumaça pra rua, há uma técnica, isso é magia, uma defumação bem feita limpa totalmente uma casa, é magia.

Os nossos Guias trabalham com velas, a maneira como ele usam uma vela é uma magia, uma técnica, com uma vela na mão ele limpa, descarrega, corta, encaminha, tira uma demanda, chama uma força, encaminha uma força, isso é magia.

Em algumas culturas indígenas Americanas – Norte Americanas – o índio quando vai rezar ou praticar magia, ele se recolhe e leva o seu cachimbo. E aí quando ele vai rezar, ele diz assim: “Vou fumar”, fumar é um ato mágico, fumar é um ato religioso, sagrado.

Quando você profana isso o resultado é a dor e o vício, é um ato mágico na religião acender um charuto e fumá-lo, não é pra tragar, você não vai tragar essa fumaça, essa fumaça é uma defumação direcionada.

Na hora que o Caboclo sopra, ele está colocando ali a sua intenção de limpar, de curar, de encaminhar, de realizar algo com aquele sopro, há um poder no sopro, o sopro é o hálito divino, o poder, a intenção.

Quando o Guia sopra é Magia Divina porque ele pode soprar com a intenção do mistério da Fé, do Amor, do Conhecimento, da Justiça, da Lei, da Evolução, ele pode soprar um mistério desse ou daquele Orixá, ele pode soprar com a intenção de curar, de limpar e de purificar.

E quando ele coloca um elemento junto, que é o fumo, esse sopro está empoderado, elementalizado, o sopro está carregado de um elemento do fogo, da terra, da água, do ar, do vegetal, há poder nisso.

Não é a toa que uma entidade de Umbanda usa um charuto, ele usa, ele não deve ser viciado em fumar, quando usa bebida é a mesma coisa, a água ardente, o álcool tem um poder manifesto, é um fogo líquido, isso é incandescente, queima, é explosivo, tem uma energia, o álcool até bem pouco tempo é usado como elemento de limpeza e purificação, o álcool limpa e purifica por dentro e por fora.

Quantas entidades usam a bebida para limpar um machucado, pois antigamente era usado para esterilizar, isso faz parte da magia de Umbanda, são elementos da magia de Umbanda, assim como a oferenda, a firmeza.

Há uma técnica, uma ciência, isso é uma magia. Uma coisa é você rezar para Oxalá; outra coisa é você rezar e acender uma vela para Oxalá; outra coisa é você riscar uma cruz, colocar uma vela e rezar para Oxalá; uma terceira coisa é você escrever o seu nome no papel, colocar em cima da cruz, por a vela em cima, oferecer um prato de canjica para Oxalá e pedir para ele trazer de volta a esperança, a fé, a paz, a tranquilidade, é uma ação mágica, implica num conhecimento, numa técnica.

Os Guias de Umbanda quando estão incorporados estão praticando magia, o benzimento. O benzimento é uma forma de magia popular. O que é um benzimento? O benzimento consiste de uma oração em que a pessoa vai repetindo a oração e vai fazendo o sinal da cruz, por exemplo.

Tem benzedor que benze com arruda, com copo de água, benzedor que benze com uma faca, uma faquinha, um facão, com um cajado, benzedor que benze com um ovo, com uma chave na mão.

Com uma chave para abrir os caminhos, com uma arruda para tirar olho gordo, com um ovo para puxar toda carga negativa, benze você com uma faca, com um facão para afastar os inimigos, benze você com uma cruz para fechar o seu corpo. Isso é uma magia popular, cada forma de benzimento está usando um elemento diferente, está usando uma técnica diferente e a oração tem um verbo, então, tem a magia do verbo.

Todo verbo implica numa ação e está fundamentado na força desse ou daquele Orixá porque magnetizar e congregar pertence a Oxalá, cristalizar e descristalizar a Logunan, agregar a Oxum, conceber pertence a Oxum, diluir, renovar a Oxumaré, expandir a Oxóssi, concentrar a Obá, equilibrar pertence a Xangô, purificar pertence a Egunitá, ordenar pertence a Ogum, direcionar pertence a Yansã, transmutar a Obaluayê, decantar a Nanã, gerar pertence a Yemanjá, paralisar ou estabilizar pertence a Omulu.

Voce está fazendo uma reza para abrir o caminho. Quem abre? É Ogum. Pra fechar o corpo. Quem abre, fecha. Ogum abre o seu caminho, fecha o seu corpo. Você tem oração, oração de São Jorge em que diz: “Jorge sentou praça na cavalaria e eu estou feliz porque também sou da sua companhia. Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge”. Quais são as roupas e as armas de Jorge?

São principalmente as suas qualidades, pois você está fazendo uma oração de proteção, faça uma oração de proteção e vá fazendo o sinal da cruz – estou fazendo uma oração para São Jorge, para Ogum – então, pegue uma espada na mão ou uma faca na mão, um ferro e eu vou rezando e vou pedindo e dizendo “Que eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge”, a força dele, a presença dele está em mim, isso é uma oração mágica. “...estou vestido com as roupas e as armas de Jorge”, para quê? “...para que os meus inimigos tenham pés e não me alcancem”, “...para que os meus inimigos tenham mãos e não me toquem, para que os meus inimigos tenham olhos, mas não me vejam e nem pensamentos eles possam ter para me fazer mal”, tem verbos aqui, cada verbo está ligado a uma divindade diferente.

 Os órgãos, os olhos, os pés, as mãos, a ação de tocar, de correr, de ir atrás, eu estou evocando, estou chamando e estou pedindo que “...armas de fogo não me alcancem, cordas e correntes arrebentem sem me amarrar, facas e espadas se quebrem sem me tocar porque eu estou vestido com as roupas e com as armas de Jorge”, então, eu estou pedindo isso para mim, eu estou determinando, é um ato mágico, é uma magia popular, a oração é ritual.

Se eu pego um elemento, faço um símbolo, risco um ponto de Ogum, entro dentro, rezo dentro desse ponto, eu estou dando poder, estou empodeirando, estou dando ciência e técnica para minha magia.

 Para os benzimentos de “olho gordo”, você pode pegar um galho de arruda, mergulhando na água e vai rezando, por exemplo, dizendo que: “Com dois te deram, com três te tiro; com dois te deram com três te tiro; com dois te deram com três te tiro, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”. “Com dois te deram, com três te tiro; com dois te deram com três te tiro; com dois te deram com três te tiro”, “com dois” com dois olhos te deram olho gordo pra você, em cima de você, “com três” com os meus dois olhos e a minha arruda tiro: “com dois te deram e com três eu te tiro, com dois te deram e com três eu te tiro, com dois te deram e com três eu tiro”, esse é um benzimento, se parece com um mantra.

Você está dizendo que houve uma ação de dar algo ruim e você está, não pedindo que Deus te tire, você está dizendo: “Eu te tiro”, a ação é incisiva, é ativa, é altiva: Eu tiro o olho gordo. É uma magia popular, por que uma magia popular? Porque não tem um estudo da ciência, da técnica, passa a ser magia propriamente dita quando você estuda o verbo, aí você tem a magia da palavra, magia do som, magia da ação, magia do fator: tirar.

A Umbanda é recheada de magia, o altar é um recurso mágico onde há um portal.

O Caboclo, Preto Velho, Baiano, Boiadeiro, no altar abrem um portal, abrir portal é um ato mágico, eles abrem portais para as realidades paralelas no altar.

O Guia está trabalhando e ele vira, estala o dedo e você fala: “Ah ele está estalando o dedo, não tem o que fazer, não é? Ele só está estalando dedo”. Não, ele abriu um portal, ele abriu um campo de atuação, ele abriu um círculo no ar, ele soltou a fumaça e dentro da fumaça ele abriu um portal absorvedor de energia negativa. Ele envolveu você numa nuvem de fumaça, purificadora, limpadora, esgotadora do seu negativo, imantadora, irradiadora, que tem a força congregadora, agregadora, expansora, te envolveu. Ele está te limpando, dando um passe, rezando e fazendo um ponto cantado, é uma magia acontecendo.

O Preto Velho incorporado, às vezes, está dando passe e está cantando um ponto e aí nesse ponto, que ele está cantando, está chamando uma força, determinando aquela força, aí passamos para a magia do verbo, do som, a magia da palavra e aí se abre outro campo que é muito forte na Umbanda, a magia da música, a magia do som.

Para falar dessa magia da oração, olhar o benzedor trabalhando ajuda a entender porque o benzedor está trabalhando com o verbo e ali ele está determinando que vai tirar um olho gordo, que vai tirar um quebranto, o benzedor está determinando que ele vai curar o mal olhado e ele sabe que isso funciona, que cura porque ele tem a oração contra o mal olhado, que tem as chaves de acesso pra cortar o mal olhado.

 Quando a gente assiste um trabalho da Jurema ou do Catimbó, vemos a importância do fumo como erva de poder, quando o índio utilizava o fumo, ele colhia as folhas na natureza saudando a divindade regente daquela folha, daquele fumo e ele pedia força para aquela divindade para que na hora que ele estivesse queimando o fumo, fumando, o poder da divindade e do fumo estivesse junto dele.

O fumo é uma erva de poder, além de ser uma defumação direcionada, o Xamã utilizava o fumo como erva de poder, existem tipos de fumo que induzem a um estado alterado de consciência – que não é a utilização que a gente dá na Umbanda – mas, o fumo tem um poder relacionado a uma divindade, há a divindade do fumo, assim como há a divindade da jurema, da espada de São Jorge, da melissa, da malva, da arruda, da guiné, porque há divindades maiores como gênios da natureza que estão ligadas a cada uma das folhas, há a divindade Ossain que é a divindade das folhas, de todas as folhas, uma das oferendas para Ossain é feita com fumo, então, há uma ligação do fumo com Ossain, há uma ligação de Ossain com todas as folhas, há um poder que se manifesta por meio das folhas, por meio do fumo, fumar é um ato sagrado, é uma magia.

Quando uma entidade trabalha com uma pedra, nós temos pedras de várias cores, se a pedra é azul clara está no campo de Yemanjá, se é azul escuro está no campo Ogum, se é vermelha pode estar no campo de Xangô, pode estar no campo Ogum, se é marrom está no campo de Xangô, se é amarela está no campo de Yansã, um quartzo transparente cristalino está no campo de Oxalá.

Trabalhar com pedras implica numa magia das pedras e aí a entidade, com uma pedra na mão, abre um portal da dimensão daquela divindade, com as pedras você faz um triângulo de pedras ou um círculo de pedras, ou ainda uma estrela de cinco pontas com pedras, uma estrela de seis pontas com pedras.

Cada pedra dá acesso a um reino, a uma dimensão elemental, a pedra tem uma estrutura de cristalização, as pedras têm sete tipos de estrutura de cristalização, cada estrutura de cristalização está relacionada a um sentido da vida, a uma estrutura de uma tela planetária de um dos sete Tronos maiores.

Por meio do fogo, você entra em contato com o reino do fogo, com a dimensão ígnea, com os elementais do fogo, as entidades trabalham com os elementais da água, com os elementais do ar, mas com uma linguagem própria ou sem linguagem nenhuma com os encantados, trabalham com essas realidades paralelas.

A magia do som, do verbo,  pode ser vista quando uma entidade, com uma maraca na mão, vai fazendo um toque, uma marcação que ajuda no transe, que induz o transe. O atabaque quando tocado, ele tem ritmo, tem frequência, tem intensidade de toque, isso altera as ondas, a nossa frequência mental, a gente pode recorrer muito ao Xamanismo pra explicar magia.

Na origem do Xamanismo é larga a utilização da música, do som, o tambor Xamânico induz aos estados alterados de consciência é considerada uma prática mágica, a ciência de tocar o tambor e induzir um estado alterado de consciência.

Na cabala, quando você quer evocar um anjo, você canta o nome dele ou você faz um mantra, a ciência que há por trás dos mantras, da vocalização, da sonorização, esta ou aquela vogal implica em uma força, uma energia, o poder do mantra de parar a mente, a repetição mântrica faz a mente parar e entra num estado de frequência mais baixo para que o poder se manifeste no seu inconsciente, para que o seu consciente se revele, o tambor Xamânico é chamado de veículo porque ele leva o Xamã aos mundos desconhecidos, o tambor Xamânico é chamado de arco porque o Xamã se torna a flecha quando o tambor está tocando, o tambor Xamânico é chamado de cavalo porque ele vai levar o cavaleiro para os lugares desconhecidos.

O tambor é um instrumento de transe, para que se entre em estado alterado de consciência, o canto traz o verbo como poder realizador da ação, a cadência da música, a estrutura cadenciada de uma música faz o seu cérebro funcionar numa frequência diferente.

Está tocando o atabaque e o seu cérebro vai acompanhando e de repente a mente para de pensar, está só acompanhando a música e aí quando o seu cérebro está na frequência diferente, entra um verbo: vamos cortar, vamos purificar, vamos chamar a força de Oxalá e a mente vai buscar isso dentro de você, isso é uma magia, é um poder e ajuda no desenvolvimento do médium para melhor incorporar, o transe é quase que induzido para ele começar a experiência do transe, é praticamente induzido ao transe e a música, o toque ajuda a induzir: “Caboclo lá da samambaia onde está que não vem cá, mas ele mora na boca da aldeia arreia, arreia, arreia...”, “Araribóia, sucuri, dendê, onde está esse Caboclo que não quer descer? Araribóia, sucuri, dendê, onde está esse Caboclo que não quer descer?...”, “Eh eh eh boca da mata, deixa esse Caboclo passar boca da mata...”, você está induzindo o transe, você está chamando, está dando força para o médium “...deixa o Caboclo passar, deixa ele vir, deixa ele manifestar, por que você não vem, por que você não chegou”, é o poder do verbo, quer dizer: se abra, se entregue.

 A mente fica entregue ali e a palavra de ordem é: se entregue, deixa vir, deixa passar e a música vai te conduzindo e você vai se perdendo e há um ambiente, você foi defumado, aquele cheiro de incenso, de olíbano, a música tocando, isso é uma magia.

 Você está dentro de um Templo, um lugar onde você se sente seguro, é uma magia e se diz: “Agora, Caboclo incorpora, mostra tua presença, dê sua chegada, meu Pai”, é o poder do verbo, o transe está sendo praticamente induzido porque o médium ainda está em desenvolvimento.

 Depois que esse médium já é desenvolvido, o transe será conduzido, apenas dizendo que esse é o momento de incorporar o Caboclo, não tem que “puxar com saca rolha”, não tem que arrancar ele lá de dentro, não tem que fazer força, desgaste, nem ficar nervoso.

O couro é uma ferramenta de magia, o tambor, que é o atabaque, toca a música numa frequência de Xangô, de Ogum, numa vibração de Yemanjá e você desagrega uma energia negativa, você corta uma demanda, encaminha um espírito, chama a força de cura.

 O Ogã é um praticante de magia, magia do som porque ele está determinando a presença de uma força, está determinando um descarrego isso tudo é magia.

Annapon


( Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino - )