As oferendas são das mais clássicas atividades de magia dentro da Umbanda. Tradição que vem da cultura africana, principalmente a Bantu, mas que também sofreu influências Nagô.
Mas o ato de oferendar uma entidade ou divindade é bem antigo. Encontramos o holocausto feito para YHVH dentro das escrituras do Velho Testamento. Encontramos também na mitologia grega, na romana e em diversas outras culturas.
O oferenda está longe de ser uma forma de dar comida ao “santo” como muitos se referem. De fato, é um ato simbólico que possui, sim, uma contraparte energética no fundo.
O correto da oferenda é fazê-la para se dividir com a comunidade. Logo as partes consideradas nobres nas antigas oferendas africanas (e em algumas indígenas também) eram retiradas e dadas para as divindades. Geralmente, essas partes nobres eram os miúdos e vísceras. O restante era preparado e distribuído na comunidade, ou seja, todos comiam da mesa do santo. A Santa Ceia é uma forma de oferenda compartilhada. Cristo dá seu sangue em forma de vinho e sua carne em forma de pão e distribuí entre seus apóstolos. Com esse ato, Jesus, distribuí seus dons para todos, ou em palavras de terreiro, dá seu Axé (Mojo) para os apóstolos.
Desde o surgimento da Umbanda, a forma de preparar e ofertar algo é bem diferente do que costumava-se ver nos rituais africanos. Não se usa nenhum tipo de elemento animal para as oferendas. Raramente vemos alguma oferenda com ovos ou leite. O elemento mais presente é realmente o Mel (de origem animal, de alguma forma) e a carne-seca para os exus (por estar seca, supostamente não possui sangue).
O Caboclo das 7 Encruzilhadas, na formação da Umbanda, proíbe o sacrifício de animais com intuitos ofertatórios. Logo, se há corte na sua casa, tenha consciência que apesar de fazer parte da ritualística da sua casa, essa não é uma prática da origem da Umbanda. Eu particularmente não me sinto confortável com oferenda com animais ou com sangue.
Nos livros mais antigos de Oferendas e Comidas de Santo, podemos nos deparar com algumas receitas de padês (Farofa de Exu) em que se pede também outras coisas. Geralmente a oferenda de Exu é composta de Farofa de Milho Amarelo, regado no dendê, com pimenta-vermelha e cebolas refogadas no azeite de dendê. Ainda se pedem para complementar a oferenda algumas garrafas de marafo (na ordem de 3, 5 ou 7), charutos (seguindo o mesmo número de marafo), caixas de palito de fósforo (em mesmo número), velas pretas, brancas ou vermelhas e também um Galo Preto Amarrado com fitas preto-e-vermelha. Mas atenção, o galo está vivo! Quando me deparei com essa informação em um livro antiquíssimo, imediatamente torci o nariz, pois achei que o sacrifício seria feito, mas me surpreendi quando mais a frente o autor manda cortar as fitas do galo e liberar o mesmo, dizendo: “Assim como desamarro esse galo, desamarre minha vida”.
Existem duas formas de oferendas que podemos fazer: Voto e Promessa.
O Voto é quando fazemos a oferenda antes de obter o favor que desejamos. Então preparamos a “comida de santo*” e a arriamos¹ pedindo o que precisamos em nossas vidas. Estamos dando um “voto de confiança” para a entidade ou orixá (força) que estamos oferendando.
Já a Promessa, é o ato de oferendar ou “pagar a promessa” depois de uma causa obtida. Dizemos que você peça em pensamento ou em oração que algo ocorra na sua vida, por exemplo, um novo emprego. Quando conseguir o emprego, faz-se necessário pagar a promessa, ou seja, oferendar a força que te concedeu (ajudou a obter) o novo emprego.
Eu, particularmente, acredito que devemos fazer a Promessa. Mas caso opte por fazer o Voto, também acho que é correto depois de obter o favor, fazer um outro pagamento de promessa, dessa vez com caráter de agradecimento. Apesar de acharmos que a oferenda é um ato corriqueiro e que fazemos isso todo dia no terreiro, a verdade não é bem essa. A oferenda é o último ato a ser executado quando se quer algo. Eu mesmo fiz pouquíssimas durante a minha vida, e as que fiz geralmente eram de obrigações junto aos meus mentores, para um propósito específico de melhorar minha própria energia pessoal.
Não acho correto oferendar tudo e todos a toda hora, não podemos banalizar essa atividade.
Então, vamos a prática! Abaixo deixo algumas sugestões de oferendas:
1. Oferenda para Oxalá – Pedindo Paz.
Você precisará de:
- Milho de Canjica Branca.
- Melão.
- Água Mineral ou de Fonte.
Faça a canjica branca. Parta o melão ao meio e retire parte da sua polpa, colocando a canjica em seu lugar. Bata a polpa do melão com a água mineral. Vá até um campo aberto ou mata e coloque o melão com a canjica no chão. Se puder forrar com uma folha de papel vegetal branco ou até mesmo folhas de bananeira ou taioba, melhor. Derrame a polpa de melão batida com água em torno da oferenda, completamente. Faça uma prece e o seu pedido, caso seja um voto. Caso seja uma promessa, agradeça a graça concedida. Como se trata de um tipo de oferenda natural, sem nenhum elemento que possa prejudicar a natureza, é permitido deixar lá a oferenda. Caso, não se sinta a vontade com isso, pode-se enterrar a oferenda ou levantá-la e jogá-la no lixo após pelos menos 2 horas.
2. Oferenda para Ogum – Pedindo Proteção contra Olho-Gordo.
Você precisará de:
- Um Inhame.
- Palitos de Churrasco (de Bambu).
- Velas Vermelhas e Azuis (7 no total)
- Cerveja Branca (pilsen).
Pegue o inhame e espete os palitos de churrasco pra deixá-lo semelhante a um porco-espinho. Vá até um local que seja de mata, de preferência uma trilha, um caminho ou uma estrada. Caso não encontre nenhum desses locais, uma rua de terra serve. Caso ainda não encontre, qualquer local que seja uma estrada, rua, etc, serve. Arrie a oferenda, sempre cobrindo o chão com papel vegetal (vermelho) ou uma folha de bananeira ou taioba. Despeje a cerveja em volta da oferenda, fechando um círculo. Coloque as velas em volta da oferenda e as acenda. Peça a Ogum proteção para você contra toda a maldade alheia, a inveja e o olho-gordo. Essa oferenda possuí elementos poluídores, logo a recomendação é levantá-la antes de ir embora. Espere no mínimo duas horas, FICANDO no local, e apague as velas que ainda não foram apagadas de forma natural. Levante o inhame, retire os espetos. Pode enterrar o inhame e as folhas, mas jogue fora as velas e os palitos.
3. Oferenda de Iemanjá – Pedindo as bençãos para novas idéias, novos rumos.
Você precisará de:
- Um Manjar Branco.
- Velas Azuis e Brancas (7 no total).
- Espumante Branco.
No beira-mar coloque o manjar na areia, acenda próximo do manjar (não precisa circular) as sete velas. Despeje o espumante em torno do manjar branco. Faça seus pedidos para Iemanjá e apague TODAS as velas aspergindo um pouco de água do mar nelas. Enterre o manjar branco no beira-mar. Jogue as velas no lixo comum.
ATENÇÃO: Apesar da presença das velas nas oferendas, TODAS podem ser feitas sem as mesmas. Então se não se sentir confortável usando velas, ou não quiser esperar o tempo necessário para retirá-las, não as use. Tome cuidado com incêndios também. Ser Umbandista é prezar pela natureza acima de tudo.
Existem vários outros tipos de oferendas que podem ser feitos, mas a mais importante é a oferenda de coração. Podem perceber que citei apenas três para Orixás e não para entidades e nem para Exu. Isso é melhor ser feito dentro da liturgia da sua casa e conforme seus próprios guias lhe pedirem. Caso tenham perguntas, deixem-nas nos comentários abaixo.
* Uso esse termo, por falta de um termo mais claro.
¹ Arriar uma oferenda é o ato de montar a oferenda no local certo, de dar a oferenda ou de ofertar propriamente.