Quem tá falando sou eu ou é o guia?
Que atire a primeira pedra quem nunca fez essa pergunta! Essa questão está muito alinhada com outros temas como animismo, mistificação e mediunismo.
Vamos falar sobre? O que acham?
Manifestação Mediúnica, Anímica ou Mistificação?
Lá no livro Conhecendo a Umbanda: Dentro do Terreiro, eu trato sobre isso num tópico específico, pois sei que é algo que atormenta todo mundo que começa a desenvolver a mediunidade.
Primeiro deixo aqui as considerações dos mentores que me auxiliam sempre:
- O médium nunca está desenvolvido. Sempre está em desenvolvimento. – Caboclo Rompe-Mato
- Acertou? Sou eu. Errou? É você! Reconhece, peça desculpas e corrija. – Baiano Severino.
- Não importa quem fala, mas o resultado ao qual se chega. – Vovô Francisco do Congo.
Eu uso essas três frases como regra e orientação para seguir com a mediunidade e vou explorar mais esse assunto mais a frente no texto. Primeiro precismos contextualizar algumas definições.
O que é Mediunidade?
Mediunidade é a capacidade de se comunicar com o plano sutil (espiritual) de alguma forma. Temos segundo alguns estudiosos 213 tipos de mediunidade, porém as mais comuns são: Clariaudiência, Clarividência, Vidência, Psicografia, Psicofonia, Intuitiva e Inspiração.
- Vidência é a capacidade de prever certos acontecimentos.
- Clarividência é a capacidade de enxergar o plano espiritual e seus habitantes. Pode se manifestar de diversas formas e um médium pode ver algo completamente diferente de outro. Também não se vê espíritos ou o plano espiritual a todo momento, isso se chama dupla-vista. Outra faculdade mediúnica e de manifestação raríssima.
- Clariaudiência é a capacidade de ouvir os espíritos de forma “física” e também “mental”. Às vezes é apenas um pensamento, outras vezes é uma voz mesmo. Assim como a clarividência existem diversos graus e formas. Ao contrário da clarividência, é possível ouvir espíritos sem a sua vontade e a toda hora, geralmente quando a mediunidade está em desequilíbrio.
- Psicografia é capacidade de transmitir, através da escrita, as mensagens dos espíritos. Pode ser de forma mecânica, sem o concurso direto do médium; Inspirada, o médium “ouve”, “vê” ou “sente” as palavras e as vai escrevendo e a semi-mecânica, que é um misto das duas. É a mais comum no espiritismo.
- Psicofonia é capacidade de transmitir, através da fala, as mensagens dos espíritos. Pode conter a entonação e os trejeitos do espírito comunicante ou não. Falar em línguas é outra faculdade mediúnica, chamada Xenoglossia (essa por sua vez só se manifesta com línguas existentes).
- Intuitiva é a faculdade mediúnica mais comum de todas e também aquela que Kardec disse que todos possuem em maior ou menor grau. Essa mediunidade se manifesta no médium sendo intuído pelos espíritos, através de pensamentos, sensações e as intuições corriqueiras. É mais forte do que uma simples intuição, às vezes há até uma certa urgência ou compulsão naquilo.
- Inspirativa: É aquela que se manifesta como um desejo ou um dom repentino que não sabíamos possuir.
Animismo
Toda comunicação é anímica, então podemos dizer que não existem médiuns puros, apenas pessoas com dons medianímicos (mediúnico + anímico). Ramatís fala bastante sobre isso em seus livros e principalmente na obra Mediunismo.
Ao contrário do que popularmente se divulga, mesmo o médium inconsciente deixa passar as suas impressões na comunicação. Claro que de uma forma muito sutil. De qualquer maneira o espírito comunicante tem que usar o duplo-etéreo do médium e seu arcabouço de conhecimentos. Em um grande esforço, consegue se valer de sua própria mente, porém nem sempre possuímos um dínamo de força ectoplasmática a disposição.
Em algumas mediunidades tidas como inconsciente, acontece que durante o transe o médium está presente, lembrando e participando do fato. Porém ao desligar ou voltar do transe, tudo é apagado da sua mente. Então dá aquela sensação de inconsciência. Não há como saber ao certo se o médium inconsciente possui essa forma de “esquecimento” ou se é de fato inconsciente por completo. Pois só o fato de estar presente não implica em “atrapalhar” a entidade. O Médium inconsciente pode presencias, mas não tem controle sobre seus atos.
A comunicação então mediúnica inconsciente é mais segura que a consciente? De forma alguma! O que define isso é a evolução moral do médium. Aliás, pode até ser extremamente perigosa, pois da mesma forma que um médium inconsciente “recebe” um guia-espiritual de luz, pode também receber – se ele estiver em desequilíbrio ou for maledicente – um espírito negativo, que terá ampla liberdade para praticar coisas negativas.
Inclusive, mesmo não ocorrendo mediunidade inconsciente ou de qualquer outro tipo, pode acontecer uma consulta totalmente anímica, mas de grande valor ético e moral. Pois somos espíritos, apesar de encarnados. Livres da matéria podemos ter acesso a conhecimentos e aprendizados esquecidos.
Ramatís diz que somos um amálgama de forças, ou seja, parecido com o Café-com-Leite, quando separados são duas substâncias diferentes, mas ao se unirem, toma outro aspecto. Conforme a quantidade de café ou de leite, muda-se o aspecto e o paladar. Assim se dá também com a comunicação medianímica.
Mistificação
A mistificação é o mais complicado dos fatores de desgaste em se tratando de mediunidade. Dito isso, vamos analisar o que ocorre.
Existe duas possibilidades de mistificação:
1 – O médium começa a ultrapassar o guia, dando seus palpites e sobrepondo sua vontade nas comunicações. Geralmente vemos isso em quem gosta de dar consultar particulares para amigos e parentes. Para mandar aqueles recados que não tem coragem de falar por conta própria. Ao passar do tempo o guia já não mais consegue se manifestar e se “afasta” (com bastante aspas, pois isso é algo pra tratar em um post a parte). Então o médium se sente sozinho e começa a FORÇAR uma manifestação espiritual, que não ocorre. Assim, ele assume os trejeitos da entidade e se finge passar por ela. Isso ocorre de forma consciente e muitos confundem com a mediunidade consciente. Para saber diferenciar, basta prestar atenção a mensagem que é passada. Quando é o médium, a mensagem é rasa e vazia, não atinge o coração.
2 – O médium, devido a algum desequilíbrio, como o caso do item 1, acaba se abrindo para entidades negativas. Essas se manifestam no próprio fingindo-se passar por entidades de umbanda. É mais comum se identificarem como Exus e Pombagira, por motivos óbvios. Quando ocorre isso, também podemos identificar a mistificação pela mensagem. Não há valor espiritual na mesma e muitas vezes elas são contraditórias e até agressivas. Pedem várias trocas e coisas, fazem qualquer negócio. Nem sempre o médium tem consciência de que está sendo dirigido por um ente negativo. São manifestações de Kiumbas e isso se chama obsessão espiritual. Dentro da obsessão temos as suas nuances: Obsessão simples, fascinação e subjugação. Dentro da linha de terreiro dizemos que o médium tá vexado ou possesso.
Para todos, a melhor forma de identificar é sempre seguir a recomendação de São João:
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, porém, avaliai com cuidado se os espíritos procedem de Deus, porquanto muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. “ 1 João 4
Para resolver isso, o médium precisa entrar em tratamento. Precisa se conscientizar do seu estado, ser retirado da gira de atendimento, ser reencaminhado para a assistência, passar por um tratamento energético-espiritual, com toda sorte de ferramentas que a Umbanda dispõe e também se reeducar moralmente. Tendo que recomeçar do zero, tudo…
Só assim, ele estará livre completamente da obsessão espiritual, mas terá que se manter vigilante, para que não recaia em nova obsessão. Os médiuns muitas vezes se acham imunes as obsessões e ao assédio das trevas, o que é totalmente contraditório. Se estamos fazendo um trabalho caritativo e de certo esclarecimento, afastando as pessoas das trevas, com certeza estamos cutucando entidades negativas que por possuírem um personalismo extremado e egoísta, se sentem “ofendidas” e injustiçadas. Claro que essas entidades tentaram de alguma forma atormentar o médium. A questão é que se o médium estiver seguindo a regra da Reforma Íntima, ele estará realmente criando “anticorpos” contra esses assédios e perturbações, porém não pode permitir que sua “imunidade diminua”, pois enquanto estivermos vivos – quiça também do outro lado – ainda poderemos sofrer com os assédios. Médium não é melhor do que ninguém e os espíritos trevosos sabem disso, inclusive sabem exatamente como explorar nossas falhas de caráter.
“Perguntaram-me se acredito no Diabo.
Respondi: – Não, ele é muito mentiroso.” – Adágio popular.