domingo, 4 de junho de 2017

Cap. 13 – PSICOGRAFIA

PSICOGRAFIA INDIRETA: CESTAS E PRANCHETAS
PSICOGRAFIA DIRETA OU MANUAL

152. A Ciência Espírita progrediu como todas as outras e mais rapidamente que as outras. Porque apenas alguns anos nos separam dos meios primitivos e incompletos que chamávamos, trivialmente, de mesas falantes e já podemos comunicar-nos com os Espíritos tão fáceis e rapidamente como os homens entre si. E isso pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. (1)
A escrita tem sobretudo a vantagem de demonstrar de maneira mais material a intervenção de uma potência oculta, deixando traços que podemos conservar, como fazemos com a nossa própria correspondência. O primeiro meio empregado foi o das pranchetas e das cestas munidas de lápis. Eis como eram preparadas:
153. Segundo dissemos, uma pessoa dotada de aptidão especial pode imprimir movimento de rotação a uma mesa ou a qualquer objeto. Tomemos, em vez da mesa, uma cestinha de quinze a vinte centímetros de diâmetro (de madeira ou de vime, pouco importa a substância). Se agora enfiarmos um lápis através do fundo da cestinha e o firmarmos bem, com a ponta de fora e voltada para baixo, e a mantivermos em equilíbrio sobre a ponta, numa folha de papel, e pusermos os dedos na borda da cesta, ela se movimentará. Mas, em vez de girar, ela conduzirá o lápis em diversos sentidos, riscando o papel com simples traços ou escrevendo. Se um Espírito for evocado e quiser atender, poderá responder, não por pancada, mas pela escrita.
O movimento da cesta não é automático como o das mesas girantes, pois se torna inteligente. Com o dispositivo acima, o lápis não volta para começar outra linha,quando chega ao fim do papel, mas continua e escrever em círculo. A linha escrita forma assim uma espiral, que obriga a girar o papel nas mãos para a leitura. A escrita obtida dessa maneira nem sempre é muito legível, pois as palavras não ficam separadas, mas o médium, por uma espécie de intuição, facilmente a decifra. Por economia, podemos substituir papel e lápis pela lousa e o lápis de pedra. Designaremos essa cestinha pelo nome de cesta-pião. A própria cesta é às vezes, substituída por uma caixa de papelão, semelhante às caixinhas de pastilhas, sendo o lápis colocado em forma de eixo, como no brinquedo chamado “rapa”
154. Muitos outros dispositivos foram imaginados para atingir o mesmo fim. O mais cômodo é o que chamaremos de cesta de bico e que consiste na adaptação à cesta de uma haste de madeira em posição inclinada, saindo dez a quinze centímetros fora da cesta, com o mastro de grupes de um navio. Fazendo-se um furo na ponta dessa haste (ou bico) introduz-se nele um lápis bastante comprido para poder descansar a ponta no papel. O médium pondo os dedos na borda da cesta todo o aparelho se agita e o lápis escreve como no caso anterior, com a diferença de produzir uma escrita mais legível, separando as palavras e em linhas paralelas como geralmente se escreve, porque o médium pode facilmente voltar o lápis no fim de cada linha. Dessa maneira obtemos dissertações de muitas páginas,tão rapidamente como se escrevêssemos à mão.
155. A inteligência manifestante se revela muitas vezes por outros sinais inequívocos. Por exemplo: chegando o lápis ao fim da página, volta espontaneamente; se quer se reportar a uma passagem precedente, na mesma página ou em outra, procura-a com a ponta do lápis, como faríamos com o dedo, e a sublinha. Se o Espírito quiser dirigir-se a um dos assistentes a ponta do lápis se volta para ele. Para abreviar, freqüentemente faz os sinais de sim e não, para afirmar ou negar, como fazemos com a cabeça. Se quer demonstrar cólera ou impaciência, dá repetidas pancadas com lápis, quase sempre quebrando-lhe a ponta.
156. Algumas pessoas substituem a cesta por uma espécie de mesa em miniatura, feita especialmente, de doze a quinze centímetros de comprido por cinco a seis de alto, com três, sendo um deles o lápis. Os outros dois são arredondados ou munidos de uma bolinha de marfim, para deslizarem facilmente sobre o papel. Outras se servem simplesmente de uma tabuinha de quinze a vinte centímetros quadrados, em forma triangular, oval ou retangular, tendo numa da bordas um furo oblíquo para se enfiar o lápis. Posta no papel para escrever,ela fica apoiada num dos lados. O lado que pousa no papel é às vezes guamecido de duas bolinhas rolantes para facilitar o movimento. Compreende-se, de resto, que todos esses dispositivos nada tem de absoluto. O mais cômodo é o melhor.
Com qualquer desses aparelhos os operadores devem ser dois, não sendo necessário que ambos sejam médiuns. Um deles serve apenas para ajudar o equilíbrio do aparelho e diminuir a fadiga do médium.
157. A escrita assim obtida chamamos psicografia indireta, em contraste coma psicografia direta ou manual feita pelo próprio médium. Para compreender este sistema é necessário saber como se verifica a operação. O Espírito comunicante age sobre o médium; este, assim influenciado, move maquinalmente o braço e a mão para escrever, não tendo (pelo menos no comum dos casos) a menor consciência do que escreve; a mão age sobre a cesta e esta movimenta o lápis. Assim, não é a cesta que se torna inteligente, mas apenas serve de instrumento a uma inteligência. A cesta nada mais é, praticamente, do que um porta-lápis, um apêndice da mão, um intermediário entre a mão e o lápis. Suprimindo o intermediário e pondo o lápis na mão, temos o mesmo resultado com um mecanismo muito mais simples, desde que o médium passa a escrever como se o fizesse em condições normais.(2)
Dessa maneira, toda pessoa que escreve com a cesta, a prancheta ou outro instrumento, pode também escrever diretamente. De todos os meios de comunicação, a escrita à mão, que alguns chamam de escrita involuntária é sem dúvida a mais simples, mais fácil e mais cômoda, porque não exige nenhuma preparação e se presta, como a escrita comum, às dissertações mais extensas. Voltaremos ao assunto, quando tratarmos dos médiuns.
158. No começo dessas manifestações, quando ainda não se tinham idéias precisas a respeito, muitas publicações foram feitas com indicações assim: Comunicação de uma cesta, de uma prancheta, de uma mesa, etc. Compreende-se hoje a insuficiência dessas expressões, o seu erro, sem considerar ainda o seu caráter pouco sério. Com efeito, como já vimos, as mesas, as pranchetas e as cestas não são instrumentos inteligentes, embora momentaneamente animados de uma vida factícia. Nada podem comunicar por si mesmas. Entender o contrário seria tomar o efeito pela causa, o instrumento pelo princípio. Seria o mesmo que um autor quisesse anotar, sobre o título de sua obra, que a escrevera com pena metálica ou pena de pato.
Esses instrumentos,aliás, não são únicos nem exclusivos. Conhecemos alguém que ao invés da cesta-pião usa um funil com um lápis no gargalo. Poderia, pois, haver comunicações de um funil, de uma caçarola ou de uma saladeira. Se elas se dão por meio de pancadas, não de mesa, mas de uma cadeira ou de uma bengala, teríamos cadeira e bengala falantes. Como se vê, o que importa conhecer não é o instrumento, mas a maneira de obtenção das comunicações. Se as obtemos pela escrita, seja qual for o suporte do lápis, trata-se de psicografia; se pelas pancadas, de tiptologia. O Espiritismo, tomando as proporções de uma Ciência, necessita de uma linguagem científica.(3)

(1) O progresso acentuado por Kardec foi realmente rápido. Mas depois se verificou um retardamento. Na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, que abre O Livro dos Espíritos, Kardec aponta “a leviandade do Espírito humano” como causa do desinteresse e até mesmo da reação contra os estudos espíritas. “A dança das mesas” foi considerada indigna da atenção dos homens que se julgam sábios, o mesmo acontecendo com a cestinha escrevente. A tola vaidade humana e também os interesses feridos, as traições ameaçadas, a fascinação do imediatismo impediram que a Ciência Espírita prosseguisse em seu desenvolvimento rápido. Mas o próprio desenvolvimento das Ciências materiais está hoje forçando os homens a reencontrarem a verdade espírita. (N. do T.)
(2) A insistência de Kardec nesta explicação tem uma razão especial. É que havia surgido em Paris e era amplamente divulgada na imprensa uma estranha teoria dos médiuns inertes, segundo a qual os objetos eram médiuns. Ver este curioso episódio na Revista Espírita. A psicografia direta foi estudada na Psicologia com escrita automática, e as interpretações anímicas que Pierre Janet e outros lhe deram não invalidam a realidade do fenômeno. Na Parapsicologia, como na Metapsíquica, tem sido utilizada para experiências telepáticas eficazes. (N. do T.)
(3) Esta observação final de Kardec é de grande importância metodológica. A terminologia espírita deve ser empregada com precisão, evitando-se a mistura de termos referentes a escolas espiritualistas diversas. É uma exigência de clareza e eficiência de todas as disciplinas científicas e da qual a Ciência Espírita não prescinde. (N. do T.)