RITUAIS E PREPARAÇÃO PARA RITUAIS
RITUAIS E PREPARAÇÃO PARA RITUAIS
(Fonte: “Guia essencial da Bruxa Solitária”, de Scott Cunnigham)
Defini ritual como "uma forma específica de movimento, manipulação de objetos ou séries de processos internos com o intuito de produzir efeitos desejados" (ver Glossário). Na Wicca, os rituais são cerimónias que celebram e fortalecem nosso relacionamento com a Deusa, o Deus e a Terra.
Tais rituais não precisam ser pré-planejados, ensaiados ou tradicionais, tampouco deter-se servilmente a um determinado formato ou padrão. Na verdade, os Wiccanos com quem falei sobre este tópico concordam que rituais criados espontaneamente tendem a ser os mais eficazes e poderosos.
Um rito Wiccano pode consistir em um celebrante solitário que acende uma fogueira, entoa nomes sagrados e observa o surgir da lua. Ou pode envolver dez ou mais pessoas, algumas das quais assumem diversos papéis em peças míticas, ou recitam longos trechos em honra aos Deuses. O rito pode ser antigo ou recém concebido. Sua forma externa não é importante, desde que consiga atingir a consciência das deidades dentro do Wiccano.
Rituais Wiccanos normalmente têm lugar nas noites de lua cheia e nos oito Dias de Poder, os antigos festivais sazonais e agriculturais da Europa. Rituais são em geral de natureza espiritual, mas podem também incluir trabalhos de magia.
Na Seção III encontra-se um livro completo de rituais, O Livro de Sombras das Pedras Erguidas. O melhor método para aprender Wicca é por meio de sua prática; deste modo, com o passar do tempo, ao praticar rituais como os presentes neste livro ou escritos por você mesmo, você obterá uma melhor compreensão acerca da verdadeira natureza da Wicca.
Muitas pessoas dizem que desejam praticar Wicca, mas permanecem inertes, convencendo a si próprias de que não podem honrar a Lua Cheia com um ritual por não serem iniciadas, não possuírem um instrutor ou não saberem o que fazer. Isto são meras desculpas. Se tiver interesse em praticar Wicca, simplesmente o faça.
Para o Wiccano solitário, a criação de novos rituais pode ser uma atividade estimulante. Noites são consumidas sobre textos de referência, unindo fragmentos de rituais e invocações, ou simplesmente permitindo que o espírito do momento e a sabedoria das Deidades nos preencham com sua inspiração. Não importa como sejam criados, todos os rituais devem ser concebidos do prazer, e não da obrigação.
Se desejar, ajuste seus rituais às estações, aos dias festivos do paganismo e às fases da lua ( ver: Dias de Poder). Se sente-se particularmente atraído a outros calendários sagrados, sinta-se à vontade para adaptá-los. Já houve adaptações altamente bem-sucedidas em Wicca do sistema religioso-mágico egípcio, indígena americano, havaiano, babilônico e outros. Apesar de a maior parte da Wicca ter tido, até recentemente, embasamento europeu e britânico, não precisamos limitar-nos a isso. Como Wiccanos solitários, estamos livres para fazer o que bem nos aprouver. Uma vez que os rituais sejam eficazes e satisfatórios, por que se preocupar?
O Capítulo 13 contém instruções para a criação de seus próprios rituais, mas algumas palavras acerca da preparação de rituais se fazem necessárias aqui.
Para começar, certifique-se de que não será interrompido durante seu rito religioso (ou mágico). Se estiver em casa, diga a sua família que estará ocupado e deseja não ser interrompido. Se estiver só, tire o fone do gancho, tranque as portas e feche as janelas, se assim desejar. É melhor assegurar-se de que estará só e sem distracções por algum tempo.
Um banho ritual é geralmente o próximo passo. Por algum tempo, praticamente não conseguia realizar um rito sem um rápido banho antes. Isto é em parte psicológico: se sente-se limpo e purificado das preocupações diárias, você se sentirá melhor para contactar a Deusa e o Deus.
A purificação ritual é uma característica comum a muitas religiões. Na Wicca, vemos a água como uma substância purificante que elimina as vibrações indesejadas das tensões rotineiras e nos permite contactar as deidades puros de corpo e mente.
Num nível mais profundo, a imersão em água nos remete à nossa mais primitiva memória. O ato de banhar-se numa banheira de água fresca e salgada é semelhante a caminhar nas ondas do sempre acolhedor oceano, o domínio da Deusa. Isso nos prepara física e espiritualmente (você nunca se sentiu diferente numa banheira?) para a experiência vindoura.
O banho normalmente se torna um ritual por si só. Pode-se acender velas no banheiro, além de incenso. Óleos perfumados e sachês de ervas podem ser colocados na água. Meu sachê de banho purificador preferido consiste em partes iguais de alecrim, erva-doce, lavanda, manjericão, tomilho, hissopo, verbena, menta, com um toque de raiz de valeriana moída. (Esta fórmula foi retirada de A Chave de Salomão.) Ponha estes ingredientes num pano, até as extremidades, para prender as ervas e mergulhe-o na água.
Rituais ao ar livre nas proximidades do oceano ou de um lago ou regato podem ser antecedidos com um rápido mergulho. Obviamente, é impossível tomar um banho antes de rituais espontâneos. Até mesmo a necessidade de banhos rituais é questionada por alguns. Se sentir-se confortável ao tomar banho, faça-o. Se achar que não é necessário, então não faça.
Uma vez banhado, é hora de vestir-se para o ritual. Muitos Wiccanos hoje (em especial aqueles influenciados pelos textos e idéias de Gerald Gardner ou um de seus aprendizes – ver Bibliografia), a nudez é ideal para invocar as deidades da natureza. Certamente, é a condição mais natural em que o corpo humano pode ficar, mas a nudez ritual não é para qualquer um. A Igreja muito fez para criar sentimentos de culpa acerca de uma figura humana desnuda. Tais emoções distorcidas, não naturais, perduram até hoje.
Muitas razões são dadas para esta insistência na nudez ritual. Alguns Wiccanos declaram que um corpo vestido não consegue emitir o poder pessoal tão eficientemente quanto um corpo nu, para em seguida dizer que, quando necessário, rituais vestidos praticados em ambientes fechados são tão eficazes quanto rituais nus ao ar livre.
Mesmo vestidos, os Wiccanos produzem magia tão eficaz quanto a produzida por Wiccanos nus. As vestimentas não constituem barreira para a transferência de poder. Mas nudez é sempre preferível.
Uma explicação mais convincente sobre a nudez ritual na Wicca é a de que ela é usada por seu valor simbólico: a nudez mental, espiritual e física diante da Deusa e do Deus simboliza a sinceridade e a abertura do Wiccano. A nudez ritual era prática de muitas religiões antigas e pode ser encontrada em áreas distintas do globo, portanto não é uma idéia nova, apenas para alguns ocidentais.
Apesar de muitos covens insistirem na nudez ritual, não é preciso preocupar-se com isso. Como praticante solitário, a escolha é sua. Se não se sentir bem quanto à nudez ritual, mesmo que privadamente, não a pratique. Existem muitas opções.
Vestes especiais, como robes e tabardos, são razoavelmente populares entre alguns Wiccanos. Várias são as razões para o uso de robes, uma das quais é a de que vestir-se com trajes utilizados apenas para a prática de magia confere uma atmosfera mística a tais rituais e altera sua consciência para os procedimentos que se seguem, promovendo, assim, a consciência ritual.
As cores são também utilizadas por suas vibrações específicas. A lista a seguir é uma boa amostragem de cores para robes. Se estiver especialmente interessado em magia com ervas, ou praticar rituais concebidos para interromper a proliferação de usinas e armas nucleares, utilizo uma túnica verde para ligar meus rituais à energia da Terra. Robes específicos podem ser confeccionados e utilizados por pessoas habilidosas para certos encantamentos ou ciclos de encantamentos, de acordo com as descrições abaixo.
Amarelo é uma cor excelente para aqueles envolvidos em adivinhação.
Roxo é favorável aos que trabalham com o poder divino puro (magos) ou que desejam aprofundar sua consciência espiritual acerca da Deusa e do Deus.
Azul é indicado para curandeiros e para os que trabalham com sua consciência psíquica ou para sintonizar-se com a Deusa em Seu aspecto oceânico.
Verde fortalece os herbalistas e os ecologistas mágicos.
Marrom é usado por aqueles com ligações com os animais ou que lançam encantamentos por eles.
Branco simboliza a purificação e a espiritualidade pura, sendo também perfeito para a meditação e rituais de purificação. É utilizado ainda em rituais da Lua Cheia, ou para acessar a Deusa.
Laranja ou Vermelho podem ser utilizados em Sabbats, para ritos de protecção ou sintonizar-se com o Deus em seu aspecto Solar.
Preto é uma cor popular. Ao contrário das crenças populares, o preto não simboliza o mal. É a ausência de cor. É uma matiz protetiva e simboliza a noite, o universo e a ausência de falsidade. Quando um Wiccano veste um robe preto, ele está vestindo a escuridão do espaço - simbolicamente, a fonte suprema de energia divina.
Se isto lhe parece muito complicado, simplesmente faça ou compre um robe e utilize-o em todos os rituais.
Podemos encontrar desde robes simples, como uma saída de banho, até alguns com gorros e bordados, como os de um monge, incluindo as mangas largas, o que garante que pegarão fogo se próximas demais a velas. Alguns Wiccanos vestem robes com gorros, para isolar interferências externas e controlar os estímulos sensoriais durante os rituais. É uma boa idéia para a magia e para a meditação, mas não para os ritos religiosos da Wicca, durante os quais devemos abrir-nos para a natureza, e não cortar nossas conexões com o mundo físico.
Se não desejar utilizar tais trajes, não é capaz de confeccionar um ou simplesmente não consegue encontrar ninguém que confeccione um para você, utilize apenas roupas limpas de fibras naturais, como algodão, lã ou seda. Desde que se sinta confortável com o que esteja (ou não) trajando, tudo bem. Por que não provar para ver o que lhe "cai" melhor?
Escolher e usar jóias rituais segue naturalmente a veste. Muitos Wiccanos têm colecções de peças exóticas com desenhos religiosos ou mágicos. Da mesma forma, amuletos e talismãs (objectos criados para afastar ou atrair poderes) costumam ser utilizados como joalheria ritual. Maravilhas como colares de âmbar e azeviche, braceletes de prata ou ouro, coroas de prata incrustadas com luas crescentes, anéis de esmeraldas e pérolas, até mesmo jarreteiras rituais, equipadas com pequenas fivelas de prata, normalmente fazem parte do aparato Wiccano.
Mas não é preciso adquirir ou confeccionar tais extravagâncias. Seja simples. Se sentir-se bem usando uma ou duas peças de joalheria durante rituais, tudo bem! Escolha desenhos com crescentes, ankhs, estrelas de cinco pontas (pentagramas) e assim por diante. Muitos fornecedores por correio vendem joalheria para ocultismo. Se desejar reservar seu uso para rituais, tudo bem. Muitos assim o fazem.
Sou constantemente perguntado se carrego sempre um bom amuleto, uma jóia ou outro objeto de poder comigo. A resposta é não.
Isto normalmente surpreende as pessoas, mas é parte de minha Filosofia em magia. Se determino que uma peça de joalheria (um anel, pingente, cristal etc.) é meu objecto de poder, meu elo com os Deuses, minha certeza de boa sorte, ficaria arrasado se me roubassem, se o perdesse, ou me separasse dele de algum modo.
Poderia dizer que o poder abandonou o objeto, que era uma bobagem ou que teria sido tomado por seres superiores, ou que não estava tão alerta quanto imaginava. Mesmo assim, ficaria arrasado.
Não é muito sábio depositar nossas esperanças, sonhos e energia em objectos físicos. Isto representa uma limitação, um produto direto do materialismo incutido em nós durante toda a nossa vida. É muito fácil dizer: "Não consigo fazer nada desde que perdi meu colar de selenita da sorte." É tentador pensar: "Nada mais deu certo desde que meu anel do Deus Cornudo desapareceu."
O que não é fácil de perceber é que todo o poder e sorte de que precisamos está no interior de nós mesmos. Não está contido em objetos externos, a não ser que assim o permitamos. Se fizermos isso, estaremos propensos a perder essa parte de nossa força pessoal e boa sorte, algo que não faria conscientemente.
Objectos de poder e jóias rituais podem sem dúvida simbolizar a Deusa e o Deus, assim como nossas próprias habilidades. Mas creio que não devemos deixar que sejam mais do que isso.
Ainda assim, eu possuo algumas peças (um pentagrama de prata, uma imagem da Deusa, uma ankh egípcia, um anzol havaiano que simboliza o deus Maui) que por vezes uso em rituais. A utilização de tais objectos activa nossa mente e produz o estado de consciência necessário para um ritual eficaz.
Não estou dizendo que o poder não deva ser enviado para objectos: na verdade, este é o modo pelo qual são feitos talismãs e amuletos com cargas mágicas. Simplesmente prefiro não fazer isso com jóias rituais e pessoais.
Certos objectos naturais, como cristais de quartzo, são usados para atrair sua energia para dentro de nós com a finalidade de efetuar mudanças específicas. Este tipo de "objeto de poder" é um bom auxílio à energia pessoal - mas é perigoso confiar exclusivamente nele.
Se o uso de certas peças cria um estado mágico, ou de uma imagem da Deusa ou um de Seus símbolos sagrados faz com que se sinta mais próximo d’Ela, tudo bem.
Seu objetivo, contudo, deverá ser a habilidade de sintonizar-se constantemente com o mundo oculto que nos rodeia e a realidade da Deusa e do Deus, mesmo em meio às mais devastadoras e aviltantes atitudes humanas.
Assim, agora já está banhado, vestido, enfeitado e pronto para o ritual. Mais alguma consideração? Sim, uma importante - companhia. Você deseja cultuar os Antigos Deuses da Wicca em particular, ou com outros? Se possuir amigos interessados, pode convidá-los para juntarem-se a você.
Em caso contrário, não há problema. Rituais solos são normais ao se iniciar nas tradições da Wicca. A presença de pessoas com idéias semelhantes é óptima, mas também pode ser inibitiva.
Há certos rituais nos quais não deve haver outras pessoas. Uma inesperada visão da lua cheia por entre as nuvens pede por alguns momentos de silêncio e sintonia, uma invocação ou meditação. Estes são rituais compartilhados com a Deusa e com o Deus apenas. As Deidades não permanecem em cerimónias; são tão imprevisíveis e voláteis quanto a própria Natureza.
Se desejar unir-se a amigos para seus rituais, faça-o apenas com aqueles realmente sintonizados com suas concepções sobre a Wicca. Penetras e pensamentos fugidios nada acrescentarão ao seu progresso dentro da Wicca.
Acautele-se também quanto ao interesse por amor - o namorado ou namorada, marido ou esposa, que se interessam apenas porque você está interessado. Podem parecer genuínos, mas após algum tempo você perceberá que não estão contribuindo para os rituais.
Há muitos aspectos maravilhosos em trabalhos de covens: já os experimentei. Grande parte do que a Wicca tem de melhor pode ser encontrado num bom coven (e o que há de pior, num mau coven), mas a maioria das pessoas não consegue contatar um coven. Podem também não possuir amigos com o mesmo interesse de praticar Wicca com eles. Este é o motivo pelo qual escrevi este livro para praticantes solitários. Se desejar, continue buscando um instrutor ou coven com o qual treinar enquanto trabalha este e outros guias de Wicca. Quando encontrar alguém, será capaz de abordá-lo com um conhecimento prático da Wicca obtido por meio de sua própria experiência, e não meramente de livros.
Apesar da ênfase dada às iniciações e ao trabalho em grupo na maioria dos livros sobre Wicca, praticantes solitários não devem ser vistos como artigos de Segunda categoria. Há muito mais indivíduos cultuando Os Antigos hoje do que membros de covens, e um número surpreendente destes trabalha só por opção. Com exceção de alguns encontros de grupo que frequento anualmente, sou um deles.
Nunca se sinta inferior por não trabalhar sob a orientação de um instrutor ou coven estabelecido. Não se preocupe quanto a não ser reconhecido como um verdadeiro Wiccano. Tal reconhecimento é importante apenas perante os olhos dos que o recebem ou que o fazem; fora isso, não vale nada. Você só precisa se preocupar em satisfazer a si próprio e desenvolver um relacionamento com a Deusa e com o Deus. Esteja à vontade para elaborar seus próprios rituais. Livre-se das algemas do conformismo rígido e da noção de "livros revelados" que devem ser seguidos à exaustão. A Wicca é uma religião em desenvolvimento. O amor pela natureza, pela Deusa e pelo Deus é sua essência, e não tradições eternas e ritos antigos.
Não estou dizendo que a Wicca tradicional não é boa. Longe disso. Na verdade, recebi iniciação em várias tradições Wiccanas, cada uma com seus próprios rituais de iniciação, Sabbats e Esbats (ver Capítulo 8. Dias de Poder), nomes para a Deusa e para o Deus, lendas e conhecimento de magia. Mas após receber tais "segredos" percebi que todos são iguais, e os maiores segredos de todos estavam à disposição de qualquer um que vê a natureza como uma manifestação da Deusa e do Deus.
Cada tradição (expressão) da Wicca, seja passada de mão em mão seja praticada intuitivamente, é semelhante à pétala de uma flor. Nenhuma pétala é a totalidade; todas são necessárias à existência da flor. A trilha solitária é tão parte da Wicca quanto qualquer outra.
#magiasdebruxa
(Fonte: “Guia essencial da Bruxa Solitária”, de Scott Cunnigham)
Defini ritual como "uma forma específica de movimento, manipulação de objetos ou séries de processos internos com o intuito de produzir efeitos desejados" (ver Glossário). Na Wicca, os rituais são cerimónias que celebram e fortalecem nosso relacionamento com a Deusa, o Deus e a Terra.
Tais rituais não precisam ser pré-planejados, ensaiados ou tradicionais, tampouco deter-se servilmente a um determinado formato ou padrão. Na verdade, os Wiccanos com quem falei sobre este tópico concordam que rituais criados espontaneamente tendem a ser os mais eficazes e poderosos.
Um rito Wiccano pode consistir em um celebrante solitário que acende uma fogueira, entoa nomes sagrados e observa o surgir da lua. Ou pode envolver dez ou mais pessoas, algumas das quais assumem diversos papéis em peças míticas, ou recitam longos trechos em honra aos Deuses. O rito pode ser antigo ou recém concebido. Sua forma externa não é importante, desde que consiga atingir a consciência das deidades dentro do Wiccano.
Rituais Wiccanos normalmente têm lugar nas noites de lua cheia e nos oito Dias de Poder, os antigos festivais sazonais e agriculturais da Europa. Rituais são em geral de natureza espiritual, mas podem também incluir trabalhos de magia.
Na Seção III encontra-se um livro completo de rituais, O Livro de Sombras das Pedras Erguidas. O melhor método para aprender Wicca é por meio de sua prática; deste modo, com o passar do tempo, ao praticar rituais como os presentes neste livro ou escritos por você mesmo, você obterá uma melhor compreensão acerca da verdadeira natureza da Wicca.
Muitas pessoas dizem que desejam praticar Wicca, mas permanecem inertes, convencendo a si próprias de que não podem honrar a Lua Cheia com um ritual por não serem iniciadas, não possuírem um instrutor ou não saberem o que fazer. Isto são meras desculpas. Se tiver interesse em praticar Wicca, simplesmente o faça.
Para o Wiccano solitário, a criação de novos rituais pode ser uma atividade estimulante. Noites são consumidas sobre textos de referência, unindo fragmentos de rituais e invocações, ou simplesmente permitindo que o espírito do momento e a sabedoria das Deidades nos preencham com sua inspiração. Não importa como sejam criados, todos os rituais devem ser concebidos do prazer, e não da obrigação.
Se desejar, ajuste seus rituais às estações, aos dias festivos do paganismo e às fases da lua ( ver: Dias de Poder). Se sente-se particularmente atraído a outros calendários sagrados, sinta-se à vontade para adaptá-los. Já houve adaptações altamente bem-sucedidas em Wicca do sistema religioso-mágico egípcio, indígena americano, havaiano, babilônico e outros. Apesar de a maior parte da Wicca ter tido, até recentemente, embasamento europeu e britânico, não precisamos limitar-nos a isso. Como Wiccanos solitários, estamos livres para fazer o que bem nos aprouver. Uma vez que os rituais sejam eficazes e satisfatórios, por que se preocupar?
O Capítulo 13 contém instruções para a criação de seus próprios rituais, mas algumas palavras acerca da preparação de rituais se fazem necessárias aqui.
Para começar, certifique-se de que não será interrompido durante seu rito religioso (ou mágico). Se estiver em casa, diga a sua família que estará ocupado e deseja não ser interrompido. Se estiver só, tire o fone do gancho, tranque as portas e feche as janelas, se assim desejar. É melhor assegurar-se de que estará só e sem distracções por algum tempo.
Um banho ritual é geralmente o próximo passo. Por algum tempo, praticamente não conseguia realizar um rito sem um rápido banho antes. Isto é em parte psicológico: se sente-se limpo e purificado das preocupações diárias, você se sentirá melhor para contactar a Deusa e o Deus.
A purificação ritual é uma característica comum a muitas religiões. Na Wicca, vemos a água como uma substância purificante que elimina as vibrações indesejadas das tensões rotineiras e nos permite contactar as deidades puros de corpo e mente.
Num nível mais profundo, a imersão em água nos remete à nossa mais primitiva memória. O ato de banhar-se numa banheira de água fresca e salgada é semelhante a caminhar nas ondas do sempre acolhedor oceano, o domínio da Deusa. Isso nos prepara física e espiritualmente (você nunca se sentiu diferente numa banheira?) para a experiência vindoura.
O banho normalmente se torna um ritual por si só. Pode-se acender velas no banheiro, além de incenso. Óleos perfumados e sachês de ervas podem ser colocados na água. Meu sachê de banho purificador preferido consiste em partes iguais de alecrim, erva-doce, lavanda, manjericão, tomilho, hissopo, verbena, menta, com um toque de raiz de valeriana moída. (Esta fórmula foi retirada de A Chave de Salomão.) Ponha estes ingredientes num pano, até as extremidades, para prender as ervas e mergulhe-o na água.
Rituais ao ar livre nas proximidades do oceano ou de um lago ou regato podem ser antecedidos com um rápido mergulho. Obviamente, é impossível tomar um banho antes de rituais espontâneos. Até mesmo a necessidade de banhos rituais é questionada por alguns. Se sentir-se confortável ao tomar banho, faça-o. Se achar que não é necessário, então não faça.
Uma vez banhado, é hora de vestir-se para o ritual. Muitos Wiccanos hoje (em especial aqueles influenciados pelos textos e idéias de Gerald Gardner ou um de seus aprendizes – ver Bibliografia), a nudez é ideal para invocar as deidades da natureza. Certamente, é a condição mais natural em que o corpo humano pode ficar, mas a nudez ritual não é para qualquer um. A Igreja muito fez para criar sentimentos de culpa acerca de uma figura humana desnuda. Tais emoções distorcidas, não naturais, perduram até hoje.
Muitas razões são dadas para esta insistência na nudez ritual. Alguns Wiccanos declaram que um corpo vestido não consegue emitir o poder pessoal tão eficientemente quanto um corpo nu, para em seguida dizer que, quando necessário, rituais vestidos praticados em ambientes fechados são tão eficazes quanto rituais nus ao ar livre.
Mesmo vestidos, os Wiccanos produzem magia tão eficaz quanto a produzida por Wiccanos nus. As vestimentas não constituem barreira para a transferência de poder. Mas nudez é sempre preferível.
Uma explicação mais convincente sobre a nudez ritual na Wicca é a de que ela é usada por seu valor simbólico: a nudez mental, espiritual e física diante da Deusa e do Deus simboliza a sinceridade e a abertura do Wiccano. A nudez ritual era prática de muitas religiões antigas e pode ser encontrada em áreas distintas do globo, portanto não é uma idéia nova, apenas para alguns ocidentais.
Apesar de muitos covens insistirem na nudez ritual, não é preciso preocupar-se com isso. Como praticante solitário, a escolha é sua. Se não se sentir bem quanto à nudez ritual, mesmo que privadamente, não a pratique. Existem muitas opções.
Vestes especiais, como robes e tabardos, são razoavelmente populares entre alguns Wiccanos. Várias são as razões para o uso de robes, uma das quais é a de que vestir-se com trajes utilizados apenas para a prática de magia confere uma atmosfera mística a tais rituais e altera sua consciência para os procedimentos que se seguem, promovendo, assim, a consciência ritual.
As cores são também utilizadas por suas vibrações específicas. A lista a seguir é uma boa amostragem de cores para robes. Se estiver especialmente interessado em magia com ervas, ou praticar rituais concebidos para interromper a proliferação de usinas e armas nucleares, utilizo uma túnica verde para ligar meus rituais à energia da Terra. Robes específicos podem ser confeccionados e utilizados por pessoas habilidosas para certos encantamentos ou ciclos de encantamentos, de acordo com as descrições abaixo.
Amarelo é uma cor excelente para aqueles envolvidos em adivinhação.
Roxo é favorável aos que trabalham com o poder divino puro (magos) ou que desejam aprofundar sua consciência espiritual acerca da Deusa e do Deus.
Azul é indicado para curandeiros e para os que trabalham com sua consciência psíquica ou para sintonizar-se com a Deusa em Seu aspecto oceânico.
Verde fortalece os herbalistas e os ecologistas mágicos.
Marrom é usado por aqueles com ligações com os animais ou que lançam encantamentos por eles.
Branco simboliza a purificação e a espiritualidade pura, sendo também perfeito para a meditação e rituais de purificação. É utilizado ainda em rituais da Lua Cheia, ou para acessar a Deusa.
Laranja ou Vermelho podem ser utilizados em Sabbats, para ritos de protecção ou sintonizar-se com o Deus em seu aspecto Solar.
Preto é uma cor popular. Ao contrário das crenças populares, o preto não simboliza o mal. É a ausência de cor. É uma matiz protetiva e simboliza a noite, o universo e a ausência de falsidade. Quando um Wiccano veste um robe preto, ele está vestindo a escuridão do espaço - simbolicamente, a fonte suprema de energia divina.
Se isto lhe parece muito complicado, simplesmente faça ou compre um robe e utilize-o em todos os rituais.
Podemos encontrar desde robes simples, como uma saída de banho, até alguns com gorros e bordados, como os de um monge, incluindo as mangas largas, o que garante que pegarão fogo se próximas demais a velas. Alguns Wiccanos vestem robes com gorros, para isolar interferências externas e controlar os estímulos sensoriais durante os rituais. É uma boa idéia para a magia e para a meditação, mas não para os ritos religiosos da Wicca, durante os quais devemos abrir-nos para a natureza, e não cortar nossas conexões com o mundo físico.
Se não desejar utilizar tais trajes, não é capaz de confeccionar um ou simplesmente não consegue encontrar ninguém que confeccione um para você, utilize apenas roupas limpas de fibras naturais, como algodão, lã ou seda. Desde que se sinta confortável com o que esteja (ou não) trajando, tudo bem. Por que não provar para ver o que lhe "cai" melhor?
Escolher e usar jóias rituais segue naturalmente a veste. Muitos Wiccanos têm colecções de peças exóticas com desenhos religiosos ou mágicos. Da mesma forma, amuletos e talismãs (objectos criados para afastar ou atrair poderes) costumam ser utilizados como joalheria ritual. Maravilhas como colares de âmbar e azeviche, braceletes de prata ou ouro, coroas de prata incrustadas com luas crescentes, anéis de esmeraldas e pérolas, até mesmo jarreteiras rituais, equipadas com pequenas fivelas de prata, normalmente fazem parte do aparato Wiccano.
Mas não é preciso adquirir ou confeccionar tais extravagâncias. Seja simples. Se sentir-se bem usando uma ou duas peças de joalheria durante rituais, tudo bem! Escolha desenhos com crescentes, ankhs, estrelas de cinco pontas (pentagramas) e assim por diante. Muitos fornecedores por correio vendem joalheria para ocultismo. Se desejar reservar seu uso para rituais, tudo bem. Muitos assim o fazem.
Sou constantemente perguntado se carrego sempre um bom amuleto, uma jóia ou outro objeto de poder comigo. A resposta é não.
Isto normalmente surpreende as pessoas, mas é parte de minha Filosofia em magia. Se determino que uma peça de joalheria (um anel, pingente, cristal etc.) é meu objecto de poder, meu elo com os Deuses, minha certeza de boa sorte, ficaria arrasado se me roubassem, se o perdesse, ou me separasse dele de algum modo.
Poderia dizer que o poder abandonou o objeto, que era uma bobagem ou que teria sido tomado por seres superiores, ou que não estava tão alerta quanto imaginava. Mesmo assim, ficaria arrasado.
Não é muito sábio depositar nossas esperanças, sonhos e energia em objectos físicos. Isto representa uma limitação, um produto direto do materialismo incutido em nós durante toda a nossa vida. É muito fácil dizer: "Não consigo fazer nada desde que perdi meu colar de selenita da sorte." É tentador pensar: "Nada mais deu certo desde que meu anel do Deus Cornudo desapareceu."
O que não é fácil de perceber é que todo o poder e sorte de que precisamos está no interior de nós mesmos. Não está contido em objetos externos, a não ser que assim o permitamos. Se fizermos isso, estaremos propensos a perder essa parte de nossa força pessoal e boa sorte, algo que não faria conscientemente.
Objectos de poder e jóias rituais podem sem dúvida simbolizar a Deusa e o Deus, assim como nossas próprias habilidades. Mas creio que não devemos deixar que sejam mais do que isso.
Ainda assim, eu possuo algumas peças (um pentagrama de prata, uma imagem da Deusa, uma ankh egípcia, um anzol havaiano que simboliza o deus Maui) que por vezes uso em rituais. A utilização de tais objectos activa nossa mente e produz o estado de consciência necessário para um ritual eficaz.
Não estou dizendo que o poder não deva ser enviado para objectos: na verdade, este é o modo pelo qual são feitos talismãs e amuletos com cargas mágicas. Simplesmente prefiro não fazer isso com jóias rituais e pessoais.
Certos objectos naturais, como cristais de quartzo, são usados para atrair sua energia para dentro de nós com a finalidade de efetuar mudanças específicas. Este tipo de "objeto de poder" é um bom auxílio à energia pessoal - mas é perigoso confiar exclusivamente nele.
Se o uso de certas peças cria um estado mágico, ou de uma imagem da Deusa ou um de Seus símbolos sagrados faz com que se sinta mais próximo d’Ela, tudo bem.
Seu objetivo, contudo, deverá ser a habilidade de sintonizar-se constantemente com o mundo oculto que nos rodeia e a realidade da Deusa e do Deus, mesmo em meio às mais devastadoras e aviltantes atitudes humanas.
Assim, agora já está banhado, vestido, enfeitado e pronto para o ritual. Mais alguma consideração? Sim, uma importante - companhia. Você deseja cultuar os Antigos Deuses da Wicca em particular, ou com outros? Se possuir amigos interessados, pode convidá-los para juntarem-se a você.
Em caso contrário, não há problema. Rituais solos são normais ao se iniciar nas tradições da Wicca. A presença de pessoas com idéias semelhantes é óptima, mas também pode ser inibitiva.
Há certos rituais nos quais não deve haver outras pessoas. Uma inesperada visão da lua cheia por entre as nuvens pede por alguns momentos de silêncio e sintonia, uma invocação ou meditação. Estes são rituais compartilhados com a Deusa e com o Deus apenas. As Deidades não permanecem em cerimónias; são tão imprevisíveis e voláteis quanto a própria Natureza.
Se desejar unir-se a amigos para seus rituais, faça-o apenas com aqueles realmente sintonizados com suas concepções sobre a Wicca. Penetras e pensamentos fugidios nada acrescentarão ao seu progresso dentro da Wicca.
Acautele-se também quanto ao interesse por amor - o namorado ou namorada, marido ou esposa, que se interessam apenas porque você está interessado. Podem parecer genuínos, mas após algum tempo você perceberá que não estão contribuindo para os rituais.
Há muitos aspectos maravilhosos em trabalhos de covens: já os experimentei. Grande parte do que a Wicca tem de melhor pode ser encontrado num bom coven (e o que há de pior, num mau coven), mas a maioria das pessoas não consegue contatar um coven. Podem também não possuir amigos com o mesmo interesse de praticar Wicca com eles. Este é o motivo pelo qual escrevi este livro para praticantes solitários. Se desejar, continue buscando um instrutor ou coven com o qual treinar enquanto trabalha este e outros guias de Wicca. Quando encontrar alguém, será capaz de abordá-lo com um conhecimento prático da Wicca obtido por meio de sua própria experiência, e não meramente de livros.
Apesar da ênfase dada às iniciações e ao trabalho em grupo na maioria dos livros sobre Wicca, praticantes solitários não devem ser vistos como artigos de Segunda categoria. Há muito mais indivíduos cultuando Os Antigos hoje do que membros de covens, e um número surpreendente destes trabalha só por opção. Com exceção de alguns encontros de grupo que frequento anualmente, sou um deles.
Nunca se sinta inferior por não trabalhar sob a orientação de um instrutor ou coven estabelecido. Não se preocupe quanto a não ser reconhecido como um verdadeiro Wiccano. Tal reconhecimento é importante apenas perante os olhos dos que o recebem ou que o fazem; fora isso, não vale nada. Você só precisa se preocupar em satisfazer a si próprio e desenvolver um relacionamento com a Deusa e com o Deus. Esteja à vontade para elaborar seus próprios rituais. Livre-se das algemas do conformismo rígido e da noção de "livros revelados" que devem ser seguidos à exaustão. A Wicca é uma religião em desenvolvimento. O amor pela natureza, pela Deusa e pelo Deus é sua essência, e não tradições eternas e ritos antigos.
Não estou dizendo que a Wicca tradicional não é boa. Longe disso. Na verdade, recebi iniciação em várias tradições Wiccanas, cada uma com seus próprios rituais de iniciação, Sabbats e Esbats (ver Capítulo 8. Dias de Poder), nomes para a Deusa e para o Deus, lendas e conhecimento de magia. Mas após receber tais "segredos" percebi que todos são iguais, e os maiores segredos de todos estavam à disposição de qualquer um que vê a natureza como uma manifestação da Deusa e do Deus.
Cada tradição (expressão) da Wicca, seja passada de mão em mão seja praticada intuitivamente, é semelhante à pétala de uma flor. Nenhuma pétala é a totalidade; todas são necessárias à existência da flor. A trilha solitária é tão parte da Wicca quanto qualquer outra.
#magiasdebruxa
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