ENTREVISTA com Pomba Gira Maria Padilha do Cabaré
- Boa noite Senhora, saravá sua banda!
- Salve moça! Pergunte o que veio perguntar, e escreva o que tem que escrever.
Disse ela de modo imperativo.
- Eu escrevo sobre as Senhoras Guardiãs – Eu sei, sei quem você é e sei quem é a Maria Mulambo, que te orienta, e por isso permite essa conversa.
- Bem, como eu ia dizendo, escrevo sobre as Senhoras Guardiãs, e fiquei sabendo, por alguns conhecidos, da sua fama em fazer “amarrações”. Me chamou a atenção, o fato de não cobrar por seus trabalhos, sendo que a maioria dos trabalhos de amarrações é cobrada, e a eficácia dos mesmos.
-Muito Bem! Meu cavalo não cobra, porque não precisa, e quanto à fama e eficácia, devo a “permissão” que tenho do Astral para executá-los.
- Explique melhor, por favor.
- A sua Maria Mulambo,sei que não faz amarração, e sei que não faz, porque a função que ela exerce no Astral é outra. Ela “Demanda e não Manda”, “Corta mas não Amarra”. E um das funções que ela exerce nos ensinamentos é o de esclarecer quanto aos riscos e consequências das amarrações, para quem pede, para quem faz e para quem é amarrado.
- A Senhora pelo que entendo, atua na contra-mão de Dona Maria Mulambo, e ainda tem “permissão para isso”!
- Vou lhe contar uma história: Uma mulher aparece em minha frente, dizendo que quer o amante amarrado e apaixonado e que fará o que for preciso para tê-lo para sempre junto dela. Ela não quer saber se a mulher dele vai sofrer, se os filhos deles vão sofrer, se ele tem uma missão à cumprir junto dessa família, etc,etc,etc. Ela está enlouquecida de paixão, desejo ou mero capricho, quer porque quer!
O que ela não sabe, é que o belo, sedutor, potente, e as vezes rico cavalheiro é um traste, cheio de kiumbas e que a Guardiã da mulher dele tá doida para livrar sua protegida dele. Então nós amarramos bem amarradinhos o novo casal de trastes. A mulher “abandonada” e os filhos, vão sofrer no início, mas com o tempo, ficarão melhor, porque o traste só iria piorar com a idade.
Nesse caso, fizemos um belo trabalho de execução e aplicação das leis.
-Mas a mulher dele não poderia se ver livre de uma outra forma, sem que fosse preciso, amarração… isso interfere no livre arbítrio de todos os envolvidos.
-Poderia, mas não iria ter coragem de romper e mudar, precisou, sem saber de nada, de uma ajudinha.Quanto ao livre arbítrio dos envolvidos na questão, não discuto com a hierarquia, minha função é executar e não legislar. AGORA NÃO VÃO FICAR ACHANDO QUE TODO VAGABUNDO E QUE TODA PIRANHA ESTÃO AMARRADOS. TAMBÉM NÃO VÃO FICAR ACHANDO QUE SOMOS DEFENSORAS DE TODAS AS INOCENTES ESPOSAS, E CARRASCAS DAS AMANTES, LOGO NÓS… (gargalhadas) TEM MUITA AMANTE QUE DÁ DE DEZ EM MUITA ESPOSA.
- Agora vou contar outra historinha: Outra mulher vem me procurar dizendo o mesmo da outra, quer o amante e fará de tudo para conseguí-lo. Acontece que esse cara tem qualidades e deve continuar com a família. Eu não posso fazer a amarração, mas se eu contar isso para ela, irá procurar outras entidades que façam, no caso, Pombas Giras Pagãs que estão em aprendizado e caem em cilada facilmente. Então eu vou conversando, um pouquinho hoje, um pouquinho amanhã, peço uma coisinha, digo, que vai demorar um pouquinho… Se essa fulana for bacana e estiver apenas desorientada, devagarinho vou mudando o pensamento dela, e lhe arrumo coisa ainda melhor. Mas se for uma F.D.P., eu também dou o que ela “merece”. (mais gargalhadas)
-Chega de ficar contando historinha, que eu não estou aqui pra fazer nenê dormir, já falei o que tinha que falar, e a sua Mulambo já irá te explicar mais como funciona a coisa toda. Cada caso é único, com todas as suas peculiaridades e eu não vou ficar desfiando rosário a noite inteira.
- Só mais uma coisa, conte-me um pouco mais sobre o que a Senhora.
- Tá querendo saber muito, e já está me cansando a beleza, já abri uma grande exceção para você, e não vá me colocar nessa prosa nossa, o nome do meu cavalo. Salve moça, salve Mulambo (gargalhadas) e até a próxima!
- Laroiê Senhora, estou ao seu dispor e das demais Guardiãs de Lei!
ENTREVISTA COM DONA MARIA PADILHA DO CABARÉ, POR CLAUDIA BAIBICH