Esse Cavaleiro de Ogun viveu no Brasil Colônia do século XVI. Sua função era servir ao Rei e a Rainha de Portugal. O Brasil ainda era uma terra de muitos índios e muita natureza. Seu nome era Jorge, em homenagem ao Santo de devoção de sua mãe. Ao chegar ao Brasil acompanhando o cortejo real, sentiu-se atraído pelo lugar. Era especialista em abrir novos caminhos nas matas virgens e descobrir novas civilizações, por isso seus serviços foram solicitados. Comandava um grupo de 200 soldados, como capitão da guarda. Buscavam os melhores lugares para construir os aposentos reais e retirar as riquezas da terra. Haviam lhe falado que os índios eram selvagens cruéis.
Na primeira aldeia que ele conquistou percebeu temor nos olhos indígenas. E nas próximas aldeias, apesar das resistências e das lutas, foi percebendo que os índios apenas se defendiam e tentavam manter suas terras. Em uma das aldeias capturaram muitos índios para fazê-los escravos. Entre eles havia uma índia potiguara de beleza única, por quem se apaixonou. Retirou-a do meio dos escravos, chamou um intérprete e foi conversar com ela. Essa índia chamava-se Guaraci, para homenagear o Sol. Guaraci tentou mostrar a Jorge o que os brancos estavam fazendo, através de gestos e palavras. Jorge, apesar de seguir as ordens reais tinha bom coração. A índia convidou-o a ir com ela até a Aldeia Portiguara e aprender os costumes indígenas. Propôs a ele levá-lo e devolvê-lo em segurança, desde que aceitasse conviver 10 dias nas terras indígenas.
Jorge aceitou a prosposta da índia. Chamou o sargento da guarda e pediu-lhe que assumisse seu posto. Avisou aos demais que se ausentaria por um tempo, pois queria estudar os costumes indígenas e procurar os melhores lugares para extrair as riquezas da terra. E assim foi que a índia portiguara Guaraci chegou à sua Aldeia sã e salva carregando um homem branco. Isso foi motivo de grande orgulho para o Chefe da Tribo, que era seu pai. Explicou ao Cacique que Jorge permaneceria com eles por um período de 10 dias para aprender os costumes e tentar uma negociação. O cacique aceitou e assim Jorge começou seu período de aprendizagem. Ele se despiu de seu uniforme e aceitou um saiote de penas para se cobrir. No período em que conviveu com os índios começou a aprender o tupi-guarani. Também lhe ensinaram a usar o arco e a flecha e a entender os sinais da natureza. Essa vida simples tocou alguma coisa dentro de Jorge, que passou a admirar os nativos potiguaras.
Quando os 10 dias findaram, Guaraci levou Jorge novamente aos brancos. Ele não era mais o mesmo. Percebeu que não poderia mais lutar contra um povo que passou a admirar e também não poderia renunciar ao seu cargo, pois seria considerado desertor. Esse dia foi decisivo na vida de Jorge. Ele esperou todos irem dormir, arrumou suas tralhas e penetrou na floresta. Foi até o acampamento portiguara. Procurou por Guaraci e lhe propôs fugirem juntos. A índia falou que não poderia abandonar seu povo, mas Jorge sabia que a tribo estava com os dias contados e que em breve seriam atacados. Sem saber o que fazer, capturou a índia e embrenhou-se na mata com ela. Tentava explicar-lhe que não poderiam ficar por ali pois a tribo seria atacada. Guaraci não aceitou e falou que deviam voltar, pois para os potiguaras covardia era uma desonra! Então, ele voltou com Guaraci e entregou-se ao Chefe. Ele foi aprisionado na Oca e seu futuro seria decidido em breve.
Os índios potiguaras já haviam tido contato com o homem branco, quando os franceses se aproximaram tentando uma negociação. Os portugueses retomaram as terras e agora imporiam sua vontade aos índios de qualquer maneira. A raça potiguara ocupava todo o litoral nordestino e eram muito numerosos, mas os portugueses possuíam armas que cospiam fogo e explodiam como trovões! Por isso, a derrota dos índios era visível. A sobreviência deles ocorreu pelo acordo firmado entre os portugueses e os índios.
Jorge e Guaraci nunca ficaram juntos. Jorge foi morto durante o combate. Seu espírito vagou por anos nas matas litorâneas e muitos contavam a história de um cavaleiro das matas que rompia a floresta com seu galope e emitia um grito de guerra. Quando Jorge foi recolhido à Aruanda, ele estudou, evoluiu e passou a trabalhar nas Linhas de Ogun e de Oxóssi, como Ogun Rompe Mato.