Josué - o Vaqueiro!
Algumas pessoas desconhecem que uma entidade ao se apresentar na Umbanda possui nome, sobrenome, ponto cantado, ponto riscado, agrupamento ou falange, Linha de trabalho e atuação, entre outras caracterísiticas. Assim, ele se preserva e comprova que é um verdadeiro trabalhador da Seara Umbandista. Um espírito sem treinamento (egun, quiumba ou obsessor) não possui esses predicativos e conhecimentos. Além de toda a apresentação que a entidade faz, ela também possui sua história particular de vida e pode relatar sua última existência e porque utiliza o nome com o qual se apresentou.
Relato agora a história de um boiadeiro que findou sua última existência como vaqueiro no sertão de Minas Gerais: "Josué nasceu em Volta Grande, no estado de Minas Gerais, no ano de 1986. Na época, o município era apenas uma vila com o nome de Além Paraíba. Seus pais trabalhavam em uma fazenda de gado e desde o seu nascimento ele foi muito festejado. O Senhor da Fazenda, que não tinha filhos homens, conheceu o menino e apadrinhou ele. Pediu permissão aos pais para criá-lo como seu protegido. E assim foi que Josué cresceu na sede da fazenda, cercado de atenção pelo patrão e tornando-se seu braço direito em todos os afazeres.
Ao tornar-se jovem já era o condutor do gado da fazenda e o responsável pelos negócios do patrão. Visitava seus pais quando podia, mas vivia bastante afastado deles. Josué também aprendeu a manejar armas e se tornou um jagunço implacável nas cobranças das dívidas da fazenda. Seus pais temiam pelo seu futuro, pois ele era odiado pelos demais fazendeiros e condutores de gado.
Josué apaixonou-se pela filha mais nova de um capataz da fazenda, de nome Maria Mercedes; mais conhecida por Mercedita. Casou-se com ela e teve três filhos. Porém, Maria Mercedes não resistiu ao parto do terceiro filho e morreu ao dar a luz. Josué, que já era impiedoso, tornou-se mais carrasco. Abandonou seus filhos aos cuidados dos avós e decidiu sumir pelo mundo. Sentiu-se perdido com a morte de esposa e sua solidão aumentou. Mercedita estava conseguindo torná-lo um homem melhor...
Quando saiu de Além Paraíba, Josué andou em direção ao norte de Minas Gerais, quase na divisa com o estado de Bahia e Goiás. Conseguiu emprego de vaquejador e conduzia o gado de uma fazenda até outra, nas proximidades das Serras de Janaúba e Januária. Ficou dez anos nessa lida. Costumava parar com o gado a beira do Rio São Francisco e demais rios da região. Andava muito também pelas cercanias de Pedras de Maria Cruz. Descansava embaixo de alguma árvore pelo caminho, fumava seu cigarro de palha e tocava sua gaita de sopro. Muitas vezes parecia sentir a presença de Mercedita lhe aconselhando. Uma vez por ano visitava seus filhos e lhes enviava dinheiro constantemente. Seus pais já estavam bem idosos, mas ele ainda os visitou algumas vezes. Seu antigo patrão já havia falecido e quem cuidava da fazenda agora era um de seus genros.
Nesse tempo Josué tornou-se uma pessoa melhor e até reaprendeu a rezar. A viagem com o gado mudou para os arredores do Povoado Espírito Santo da Forquilha, hoje conhecida como Delfinópolis, localizada mais ao sul de Minas Gerais. Uma terra de muitos rios, cachoeiras e vales. Josué gostava de apreciar as paisagens dos vales e serras: Serra do Caminho do Céu, Serra Preta, Serra Branca, Serra do Cemitério e Serra da Santa Maria de Pedras. Em suas paradas, mantinha o mesmo costume: deitava embaixo de uma árvore, descansava, pitava seu cigarro e tocava sua gaita.
Josué já estava há dois anos nessa região e em uma de suas paradas, amarrou o cavalo em sua bota embaixo da mesma árvore, para que pastasse junto a sombra e puxou um cochilo. Passado alguns minutos ouviu disparos de espingarda e conseguiu ver assaltantes de gado encurralando suas reses. O cavalo assustou-se e saiu em disparada, levando Josué preso ao estribo. Ele tentou pegar seu canivete para cortar a corda, mas não o alcançou. O cavalo arrastou-o por um longo tempo e Josué bateu com a cabeça em uma pedra, falecendo, assim, instantaneamente.
Os ladrões o encontraram e o sepultaram a beira do caminho, próximo ao rio, pois não eram matadores, apenas roubavam. Onde Josué foi enterrado era possível visualizar o Grupo de Pedras Pretas do Vale. Essa região era conhecida como Serra Preta. Foi assim que ele assumiu o nome de Boiadeiro Serra Preta de Minas Gerais.
Após sua morte, Josué foi recolhido ao Reino de Aruanda, onde estudou, melhorou e passou a atuar na Falange dos Boiadeiros, Vaqueiros e Cangaceiros. Hoje ele trabalha nas Linhas de Ogun e Oxóssi, auxiliando veterinários, técnicos em agropecuária e todos aqueles que cuidam dos animais."