quarta-feira, 31 de maio de 2017

O Dinheiro e a Umbanda.

A Umbanda nasceu gratuita e deveria ser gratuita, então por que a cada dia vemos mais cobranças nos terreiros de Umbanda? E nem estamos falando sobre os “pais de poste”. Vamos entender essa relação promíscua entre a espiritualidade e a vida financeira.
Primeiramente não devemos colocar em cima do dinheiro a pecha de negativa, não é. O dinheiro é uma forma de energia como outra qualquer e serve apenas para qualificar a troca de bens de consumo por serviço direto. Temos que parar de demonizar o capital, para realmente entender que o mal não está no dinheiro, mas no seu uso de forma indevida.
A Umbanda sofre com as questões da cobrança desde, praticamente, o seu nascimento. A princípio o que era para ser uma manifestação do espírito para a caridade, com o advento das práticas do candomblé – onde cobrar é lícito e não estamos questionando as práticas candomblecistas, mas sim a sua inclusão na Umbanda – começaram a aparecer serviços de feitura de santo (que não faz parte da Umbanda) e até mesmo certos trabalhos de “despacho ou descarrego” a altos preços.
É muito claro saber que isso está errado, pois um dos pilares da Umbanda é a gratuidade dos atendimentos. Até aí, compreendo que está tudo muito óbvio e que todos sabem que quando se cobra, não está se praticando a Umbanda. Porém em um fenômeno mais moderno, tivemos uma nova avalanche de recursos financeiros atrelados a atividades da Umbanda, a princípio com cursos de magia, cursos de fundamentos, cursos de entidades, entre outros. A grande “licença poética” sobre isso é que um terreiro não se mantém sem a ajuda financeira vinda de fora, os cursos então seriam uma forma de manter a estrutura da casa. Concordo em partes, pois trabalho em uma casa com mais de 60 anos de existência que nunca cobrou sequer um centavo da sua assistência e se mantêm através das mensalidades (optativas e com o valor que caiba no orçamento de cada um) que são pagas pelos médiuns da casa.
Uma outra falácia promulgada é que os cursos são para que a casa possa sobreviver, mas de fato é uma forma de fazer com que o “sacerdote” possa sobreviver DA CASA. A maioria não tem um segundo trabalho e acaba usando do seu “sacerdócio” como um emprego.
Certa vez ouvi de um senhor o seguinte:
” – O que mais gosto na Umbanda é saber que cada um tem um trabalho de dia e à noite, mesmo cansados, fazem um trabalho de doação total de suas matérias para o bem de seus irmãos, de forma gratuita.”
O Espiritismo possui cursos que duram em média cinco anos, porém são todos gratuitos e ministrados por voluntários aos finais de semanas ou durante a semana, em horários que os voluntários possam abrir grupos. Já na NeoUmbanda, vemos cursos todos os dias, praticamente em todos os horários possíveis em todos os terreiros possíveis.
Mas vamos levar em consideração o seguinte pensamento:
Uma pessoa que tenha um desequilíbrio mediúnico e esteja sofrendo de perturbações espirituais, procura um terreiro de Umbanda para que possa encontrar a sua cura. Ele será orientado pela entidade e muita das vezes isso é um sintoma de uma mediunidade em estado descontrolado a se manifestar. O guia espiritual irá orientar a vítima (consulente) a educar a sua mediunidade através de um curso de desenvolvimento mediúnico. Pois bem, em um terreiro das antigas, o mesmo seria convidado a compor o grupo de trabalho como Cambone e depois iria nos dias específicos, para as giras de desenvolvimento mediúnico, de forma gratuita ou no máximo pagando a mensalidade de médium (geralmente optativa e desnecessária para quem não tem condições financeiras).
Mas na NeoUmbanda a pessoa é obrigada a pagar pelo curso de desenvolvimento que não tem previsão de término e nem te dá garantias que sua mediunidade será mesmo desenvolvida. Além disso é obrigado a fazer cursos sobre teologia daquela Umbanda específica e aprender sobre magias e também contribuir com a mensalidade do médium. Na última apuração que fiz, um terreiro “famoso” cobrava por volta de R$ 70,00 por aula, seja qual fosse e uma matrícula de R$ 50,00. Vamos desconsiderar a mensalidade e fazer uma conta simples:
Desenvolvimento Mediúnico (70,00) + Teologia (70,00) + Magia (70,00) + Mensalidade (70,00) = 280,00.
São duzentos e oitenta reais para uma pessoa só, agora se essa mesma pessoa for de origem mais simples, com recursos esparsos, recebendo um salário mínimo (R$ 880,00 na época), isso equivale a aproximadamente 32% do orçamento mensal daquela família, ou por volta de 1/3 dos recursos recebidos. Claro que ele não terá como manter isso, então como fará? Não fará.
Cobrar para que a pessoa tenha acesso a cura e ao atendimento que agora se veste de curso e informação é o mesmo que cobrar o atendimento. Agora vamos ainda evoluir esse pensamento para uma casa com 100 pessoas.
100 x 280 = 28.000 
São vinte e oito mil reais só com esses cursos, fora os demais, as vendas de livros e outras atividades que geram mais e mais dinheiro para os cofres do terreiro, ou melhor, para os bolsos dos “sacerdotes”.
Como um amigo disse: “Não vejo bazares sendo feitos, atividades sociais e nem nada disso! Vejo apenas sacerdotes que não trabalham, vivendo do trabalho do terreiro”. Ainda complemento, vivendo com o dinheiro dos outros, criticando o movimento evangélico pela cobrança do dízimo e fazendo o mesmo, só que de forma camuflada. Hipocrisia pura!
Ainda temos piores, que se utilizam do marketing “a la Bel Pesce” para criar um deslumbramento em seus seguidores, forçando-os a cada vez mais consumir seus produtos. Produtos esses de qualidade duvidosa e que sempre tem como gatilho um outro produto gratuito. Esse é um grátis que sai bem caro, pois logo depois vem outro e-mail fornecendo opções mais completas e que para você fazer parte daquele seleto grupo, você precisará desembolsar uma quantidade de dinheiro, mas como você é uma pessoa que faz parte do mailing e como “eles” são muito legais e bondosos, vão dar um desconto absurdo de 2000%, o que era para ser muitos milhares de reais acabam sendo reduzidos a poucas dezenas. Porém, será mesmo que o material é de qualidade? Será que isso não cria um gatilho para consumo desenfreado de um tipo de conhecimento raso e sem o devido cuidado?
Pois bem, tudo está sendo cobrado. Será que vale a pena pagar dezenas ou poucas centenas de reais em cursos rasos, ao invés de juntar a mesma quantia mensalmente para posteriormente fazer um curso em uma instituição realmente séria ou até mesmo um curso de nível superior, uma pós-graduação em ciências das religiões, antropologia, sociologia, história ou outras coisas como cursos de formação em oráculos, terapias e afins?! Cursos esses ministrados por profissionais sérios que não precisam esconder suas certificações. Profissionais que você em uma “googlada” ou uma pesquisa ao Lattes* irá encontrar informações sobre seu currículo e as instituições que deram a ele as certificações necessárias?
Então o que tenho para dizer é: Se é cobrado, não importa o tipo de oferta que você está recebendo, PESQUISE! Apure! Compare! Verifique! 
Mas na minha modesta opinião, se é religião não pode ser cobrado!
Se há cobrança, NÃO É UMBANDA!!!