quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Exu Tiriri: O Silêncio que se Tornou Poder nas Encruzilhadas Uma história de integridade, lealdade e sacrifício — contada apenas com os pés na terra e o coração no mundo dos vivos

Exu Tiriri: O Silêncio que se Tornou Poder nas Encruzilhadas
Uma história de integridade, lealdade e sacrifício — contada apenas com os pés na terra e o coração no mundo dos vivos

Exu Tiriri: O Silêncio que se Tornou Poder nas Encruzilhadas
Uma história de integridade, lealdade e sacrifício — contada apenas com os pés na terra e o coração no mundo dos vivos


O Homem que Não Sabia Falar em Vão

Em 1893, nas secas implacáveis do interior da Paraíba, nasceu Benedito Lopes — filho de Dona Marta, lavadeira de roupas de fazendeiros, e de Seu Zé Maria, um vaqueiro mudo desde o dia em que viu o irmão ser enforcado por roubar um bezerro para alimentar a família.

Benedito cresceu em silêncio. Não por misticismo, mas por necessidade. Naquele tempo, quem falava demais desaparecia. Aprendeu cedo que palavra solta era bala perdida — podia matar quem a disparou.

Trabalhou desde os oito anos: limpando estábulos, consertando cercas, carregando água de poço fundo. Tinha mãos calejadas, olhar baixo e nunca roubou um pão sequer, mesmo com o estômago roncando.


O Amigo que Guardou o Segredo até a Morte

Na juventude, fez amizade com Tomás, filho bastardo de um coronel da região. Apesar das diferenças, os dois se uniram por um amor comum: os livros. Tomás, com acesso à biblioteca do pai, trazia obras escondidas — poemas, mapas, jornais de fora. Benedito, analfabeto até os 20 anos, aprendeu a ler sozinho, com velas acesas após o trabalho.

Um dia, Tomás cometeu um erro: apaixonou-se pela noiva prometida do irmão mais velho, herdeiro da fazenda. Quando a moça engravidou, o irmão descobriu. Para protegê-la, Tomás fugiu — mas antes, deixou com Benedito uma carta confissão, provando que o irmão a assediara primeiro.

“Se algo me acontecer, queima essa carta. Mas se eu sumir sem justiça, entrega ao juiz de Campina.”

Benedito guardou o papel dentro do forro do chapéu de couro, onde ninguém procuraria.


A Morte que Veio Pelo Nome de Outro

O irmão do coronel, Dr. Alcides, não encontrou Tomás. Mas sabia que Benedito era seu único confidente. Mandou prendê-lo sob falsa acusação de roubo de gado. Na cadeia de madeira da cidade, chicotearam Benedito por dias, exigindo a carta.

“Cadê o papel, moleque? Cadê a prova?”

Benedito não falou. Nem sob dor, nem sob sede, nem sob promessa de liberdade. No terceiro dia, amarraram seus pés e mãos e o jogaram no fundo de um açude seco, deixando-o sob o sol escaldante do sertão, com escorpiões e cobras rastejando ao redor.

Antes de perder a consciência, Benedito tirou o chapéu do peito, onde escondera a carta, e engoliu o papel inteiro, pedaço por pedaço.
Morreu com o segredo dentro do corpo, não nas mãos de quem o usaria para destruir uma família.

Seu corpo foi encontrado dias depois, inchado e coberto de formigas. Enterrou-se sem nome na vala comum.
Ninguém soube que ele morrera por lealdade — não por crime.


O Nascimento de Exu Tiriri

após a morte, seu espírito, marcado pela fidelidade silenciosa, pela integridade inquebrantável e pelo sacrifício em nome da verdade não dita, foi chamado pelas forças das encruzilhadas.

Ogum, senhor da honra e da palavra dada, reconheceu nele a essência de um guardião do que não se vê: os juramentos não pronunciados, os segredos que protegem inocentes, os silêncios que valem mais que mil discursos.

Purificado nas sete encruzilhadas do além, Benedito renasceu como Exu Tiriri — nome dado pelos ancestrais da noite, derivado do antigo termo sertanejo “tirir”, que os vaqueiros usavam para o gesto de amarrar firme a carga no lombo do jumento, para que nada caísse pelo caminho.

Exu Tiriri é aquele que amarra a verdade. Que segura o que deve ser guardado. Que não entrega o sagrado às mãos sujas.


Linha, Regência e Atuação Espiritual

  • Linha: Exus da Lealdade / Exus dos Segredos Guardados
  • Regência: Ogum (especialmente Ogum Sete Espadas)
  • Comando direto: Exu Rei das Sete Encruzilhadas
  • Cores: Preto, marrom-terroso e cinza-poeira
  • Dia: Quarta-feira
  • Horário: 21h às 23h59 (hora do silêncio antes da meia-noite)

Exu Tiriri atua em:

  • Proteção de segredos necessários (como no testemunho de protegidos)
  • Fortalecimento de quem guarda a palavra em meio à pressão
  • Defesa de mensageiros, jornalistas, denunciantes
  • Trabalhos para manter a integridade em ambientes corruptos
  • Auxílio a quem sofre por não trair um juramento

Ele nunca age por vingança, mas nunca abandona quem cumpre o que prometeu.


Como Montar o Altar de Exu Tiriri

Local: Canto seco da casa, longe de umidade. Pode ser ao ar livre, sob uma árvore de sombra firme (como umburana ou baraúna).

Itens:

  • Imagem ou representação simples (chapéu de couro, facão, carta enrolada)
  • Vela preta e marrom
  • Taça com cachaça branca (símbolo da simplicidade e do fogo interno)
  • Pedaço de couro seco (simboliza o forro do chapéu)
  • Moedas de cobre antigas
  • Punhal de madeira com cabo de osso
  • Colar de contas: 7 pretas, 7 marrons
  • Papel em branco não escrito (símbolo do segredo guardado)

Oferecer sempre em silêncio. Exu Tiriri não gosta de orações em voz alta — prefere o pensamento firme.


Oferendas Simples

  • Para manter um segredo necessário:
    Acender vela preta sobre couro. Dizer mentalmente:
    “Tiriri, que engoliu a verdade para salvá-la, guarda também o que devo proteger.”
  • Para ter força em interrogatório ou pressão:
    Levar consigo um pedaço de couro pequeno (do altar) e um grão de sal grosso. Antes, pedir em pensamento:
    “Que minha língua seja pesada como pedra, se for para falar o que não devo.”

Conclusão: O Peso do Silêncio

Benedito Lopes foi um homem comum.
Mas escolheu ser leal quando seria mais fácil trair.
Escolheu morrer calado quando bastaria uma palavra para viver.

Por isso, nas encruzilhadas do além, seu nome foi apagado — e Exu Tiriri nasceu.
Não como herói, mas como testemunha.
Não como juiz, mas como guardião.

Pois há verdades que não precisam ser ditas para existirem.
Basta que alguém tenha morrido por elas.

E Exu Tiriri nunca esquece.


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