ESTÁ NA HORA DE PARAR…
Um chamado de Exu, uma lição de Maria Mulambo e o espelho que toda mulher precisa ver
ESTÁ NA HORA DE PARAR…
Um chamado de Exu, uma lição de Maria Mulambo e o espelho que toda mulher precisa ver
Numa noite densa, carregada do cheiro de defumação, cachaça derramada e velas crepitando, o terreiro pulsava com a força da gira. Tambores batiam como corações descompassados, e os Exus dançavam — não com graça, mas com verdade. Entre eles, Maria Mulambo, com seu vestido esfarrapado, olhos que viam além da carne e uma risada que cortava ilusões como navalha, observava.
Ela viu a moça.
Não pela primeira vez. Sempre no mesmo canto. Sempre com os ombros curvados, como se carregasse o peso de promessas vazias. Sempre com o rosto lavado de lágrimas que chorara antes de sair de casa, mas que tentava esconder com um sorriso frágil. Ela chegava à gira como quem chega à última esperança: não para pedir, mas para aguentar mais um pouco.
Maria Mulambo, que é Exu disfarçado de mulher, que é a sombra que abraça quando o mundo vira as costas, deixou o centro do terreiro. Parou a dança. Silenciou os tambores com um gesto. E caminhou — lenta, pesada, como a dor que carregamos em silêncio — até o canto onde a jovem tentava desaparecer.
Sentou-se no chão. Ofereceu um gole de cachaça. Um trago de cigarro. A moça recusou, não por orgulho, mas por cansaço de fingir que ainda tinha fôlego.
Os olhos dela brilhavam — não de alegria, mas de espera. Espera por uma palavra que já sabia, mas que ninguém ousava dizer.
Maria Mulambo, então, pediu silêncio. Não aos outros — a si mesma. Porque aquela noite não era de giras, nem de pontos cantados. Era de verdade nua, crua, sangrando.
E começou a falar. Não com raiva. Com dor de quem já passou por aquilo.
“Minha menina…
Quantas vezes você chorou por causa dele?
Quantas vezes ele te deixou esperando — e nunca apareceu?
Quantas vezes ele sumiu, e você foi atrás, como se o amor fosse um cachorro perdido?
Quantas vezes você saiu do quarto dele com um sorriso no rosto, porque ainda acreditava…
E ele, naquela mesma noite, rolava na cama com outra, no mesmo lençol que ainda cheirava a você?”
A jovem não respondeu. Não precisava. Seus olhos já diziam tudo. Cada pergunta era um soco no estômago. Cada palavra, um espelho.
Então Maria Mulambo pediu um cigarro. Colocou entre os dedos trêmulos da moça. Disse:
“Fuma. Vai.”
Ela hesitou. Tossiu no primeiro trago. Mas fumou.
E Maria falou, suave, como quem ensina uma criança a andar:
“Essa fumaça… é o seu amor.
Leve, invisível, mas sempre presente.
Ela viaja longe, tentando alcançar alguém que nem olha pra trás.
Mas veja… a fumaça só existe enquanto a brasa está acesa.
É a esperança que mantém o amor vivo.
Sem ela, tudo some… vira cinza.”
O cigarro começou a se apagar. A brasa fraquejava. Maria Mulambo insistiu:
“Continua. Traga. Segura a chama.”
Mas a jovem reclamava:
— “Queima… dói…”
“É claro que dói!”, Maria respondeu.
“Esperança mal colocada sempre queima.
Amor não correspondido sempre fere.
Mas você insiste… porque acha que, se segurar mais um pouco, talvez ele veja.”
A moça tentou. Mas a chama apagou. A fumaça sumiu. E com ela, a última desculpa.
Então, sem julgamento, sem piedade falsa, Maria Mulambo jogou o cigarro no chão, levantou a jovem com força e olhou fundo em seus olhos:
“Está na hora de parar, não é mesmo?”
A esperança já não existe.
O amor já não alcança ninguém além de você mesma.Está na hora de parar de se queimar por quem não sente o calor.
Está na hora de parar de se diminuir por quem não te vê inteira.
Está na hora de parar de oferecer seu coração a quem o trata como lixo.Está na hora.
Não de sofrer mais.
Mas de cuidar de si.
E naquele momento, algo quebrado dentro da jovem finalmente rachou de vez — não para desmoronar, mas para deixar sair a dor que já não servia.
Maria Mulambo abraçou-a. Não disse mais nada. Porque quem entendeu, já sabe o que fazer.
E os Exus, em volta, bateram palmas — não de alegria, mas de aprovação. Porque naquela noite, não houve magia de encruzilhada, nem trabalho com pimenta ou vela. Houve algo mais raro: a coragem de olhar para a verdade… e dizer “basta”.
Mulambo não veio para consolar. Ela veio para libertar.
Porque Exu não é o Diabo dos religiosos — é o espelho que não mente.
Maria Mulambo não é uma pombagira triste — é a voz que grita dentro de você quando você cala.
E se você, agora, ao ler isso, sentiu o peito apertar…
Se lembrou de um nome, de uma noite em claro, de uma promessa não cumprida…
Saiba: está na hora.
Não de esperar.
Não de justificar.
Não de se culpar.
Está na hora de parar.
E começar — finalmente — a amar a si mesma como quem merece ser amada.
#EstáNaHoraDeParar
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#ExuNãoMente
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#PombagiraLibertadora
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#VerdadeQueCura
#FilhaDeExuAcorda
#NãoÉFracassoÉLibertação
#SalveMariaMulambo
Laroyê, Exu!
Que toda mulher que se perdeu no amor dos outros
encontre, em si, o seu próprio terreiro sagrado.
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