Exu Veludo: O Nobre das Encruzilhadas da Justiça e do Amor
Uma lenda de honra, redenção e fidelidade eterna nas sombras da Quimbanda
Exu Veludo: O Nobre das Encruzilhadas da Justiça e do Amor
Uma lenda de honra, redenção e fidelidade eterna nas sombras da Quimbanda
O Nascimento Sob o Manto da Lua Cheia
No coração do século XIX, nas ruas de pedra de Salvador, Bahia, nasceu Damião Alves de Oliveira — um menino de pele clara como o luar e olhos que brilhavam como brasas sob a noite. Filho de Dona Catarina, uma costureira de vestidos para as filhas de senhores da elite, e de Seu Leôncio, um ex-escravo alforriado que se tornara alfaiate de renome, Damião cresceu entre sedas, linhas douradas e sussurros de orações a Oxóssi e Xangô.
Desde cedo, Damião era diferente. Enquanto outras crianças brincavam de roda, ele sentava-se nas encruzilhadas à noite, conversando com “os amigos invisíveis”, como chamava os espíritos das almas penadas. Sua mãe, temendo pela alma do filho, o levou a uma Tenda de Umbanda, onde uma Pai-de-Santo declarou:
— “Esse menino não é do mundo. Seu caminho é das trevas, mas sua alma é de luz. Um dia, será um guardião.”
O Amor que Vestiu seu Coração de Veludo
Aos 22 anos, Damião conheceu Isaura, uma moça mestiça, filha de uma quituteira e de um marinheiro português. Ela vendia acarajés nas feiras livres, com as mãos firmes e o coração aberto. Enquanto todos viam em Damião um homem misterioso e distante, Isaura enxergou sua ternura escondida — aquela que ele só revelava ao consertar roupas para os pobres, ou ao deixar flores nos túmulos abandonados.
O apelido “Veludo” surgiu de um gesto simples: certa vez, Isaura se cortou com uma agulha, e Damião usou um retalho de veludo vermelho — tecido mais caro da loja — para enfaixar seu dedo. Ela riu e disse:
— “Seu coração é feito de veludo, Damião. Macio por dentro, mesmo com esse mundo tão áspero.”
Eles se casaram em segredo, numa cerimônia simples sob a figueira da Ladeira do Pelourinho, com a bênção de um Caboclo das Matas. Prometeram lealdade até a morte... e além dela.
A Conspiração nas Sombras
Damião, com seu talento, abriu sua própria alfaiataria — "Veludo & Linha". Costurava ternos para juízes, generais e até membros da elite política. Sua fama cresceu, mas com ela veio a inveja.
Coronel Raimundo Borges, um homem cruel e corrupto, queria os segredos que Damião ouvia por acaso: confissões feitas pelos clientes enquanto experimentavam roupas. Quando Damião se recusou a entregar informações que comprometiam inocentes, o Coronel tramou sua ruína.
Numa noite de São Cosme e Damião, enquanto Isaura esperava o marido voltar da loja, homens mascarados invadiram a casa. Damião foi acusado de falsificação de documentos — crime grave na época. Sem julgamento justo, foi arrastado para a cadeia. Isaura, grávida de sete meses, implorou por misericórdia, mas o Coronel ordenou que ela fosse expulsa da cidade.
Desesperada, Isaura caminhou dias a fio até encontrar um terreiro onde uma Mãe de Santo a acolheu. Mas o parto veio prematuro, sob a dor e a angústia. Ela deu à luz um menino morto — e morreu segurando o veludo vermelho que Damião lhe dera.
Na prisão, Damião sentiu a alma da esposa se despedir. Desesperado, clamou aos céus:
— “Se existe justiça além desta terra, que eu seja seu instrumento! Que minhas mãos, que costuraram ternos, agora desfiem as mentiras dos falsos!”
Na madrugada seguinte, foi encontrado enforcado na cela, com os punhos cerrados e os olhos abertos. Dizem que, antes de morrer, riscou com sangue no chão: “Veludo”.
A Ascensão como Exu Veludo
Seu espírito, marcado pela injustiça, lealdade e amor puro, não encontrou repouso. Foi conduzido por Xangô, Orixá da Justiça, que viu em Damião a essência de um executor divino. Mas como sua alma ainda tinha traços humanos — compaixão, dor, saudade —, foi entregue à Falange dos Exus da Lei, sob a regência de Exu Rei das Sete Encruzilhadas.
Após séculos de purificação nas encruzilhadas do além, Damião renasceu como Exu Veludo — um Exu de postura nobre, que veste capa de veludo vermelho e porta um cajado dourado com punho de ébano. Seus olhos ainda brilham com tristeza... mas também com poder inabalável.
Linha, Regência e Atuação Espiritual
- Linha: Exus da Lei / Exus da Justiça
- Regência: Xangô (Orixá da Justiça e da Ordem)
- Comando direto: Exu Rei das Sete Encruzilhadas
- Cor: Vermelho e preto (com toques dourados)
- Dia: Quarta-feira (dia de Xangô)
- Horário de força: Meia-noite a 3h da manhã
Exu Veludo trabalha com:
- Justiça divina em causas perdidas
- Proteção a inocentes acusados falsamente
- Vingança espiritual justa (nunca por ódio)
- Fortalecimento de advogados, juízes e defensores dos fracos
- Restauração de honra manchada
- Defesa de mulheres vítimas de traição ou abandono
Ele nunca atua por maldade, mas nunca perdoa a traição. É um Exu de palavra firme e juramento eterno.
Como Montar o Altar de Exu Veludo
Local ideal: Canto direito da casa (lado masculino), ou em um cômodo dedicado à Quimbanda. Pode ser ao ar livre, sob uma árvore de lei (como gameleira ou figueira).
Itens sagrados:
- Estátua ou imagem de Exu Veludo (de preferência com capa vermelha e cajado)
- Vela vermelha (justiça) e preta (proteção) — sempre acesas juntas
- Taça com vinho tinto (símbolo do sangue derramado pela verdade)
- Punhal de madeira ou metal (nunca usado para ferir, apenas simbólico)
- Moedas antigas (representam justiça terrena)
- Retalho de veludo vermelho (colocado sob os elementos)
- Cachimbo com fumo de corda
- Colar de contas: 7 pretas, 7 vermelhas, 1 dourada no centro
- Espelho pequeno (para refletir falsidades)
Evite: Ofertas doces, flores brancas, leite ou mel. Exu Veludo é um Exu de força seca, ligado à justiça implacável, não à doçura.
Oferendas para Situações Específicas
1. Para restaurar sua honra (quando caluniado)
- 7 velas vermelhas
- 1 punhado de sal grosso
- 1 folha de papel com o nome da pessoa que espalhou a mentira
- Vinho tinto
Ofereça em encruzilhada à meia-noite.
Diga:
“Exu Veludo, guardião da verdade, desfaça a mentira como se desfia linha podre. Que minha honra volte como tecido novo, costurado por tua justiça.”
2. Para apoio em processo judicial
- 1 vela vermelha e 1 preta
- 7 moedas
- 1 punhal simbólico com nome do juiz e do caso escrito
- Ofereça sob uma figueira ou em frente a um tribunal abandonado
Reze com firmeza, pedindo clareza, provas e equilíbrio.
3. Para proteger mulher traída
- 1 boneca de pano com vestido vermelho
- 7 alfinetes dourados
- 1 taça com vinho tinto
- Coloque tudo sobre o retalho de veludo e deixe 3 noites no altar
Peça:
“Exu Veludo, que amou e perdeu, protege esta mulher. Que o traidor sinta o peso da lei que ele quebrou.”
Ritual Simples para Invocar Sua Presença (com respeito)
Material:
- Vela vermelha e preta
- Vinho tinto
- Retalho de veludo
- Cachimbo com fumo
Passos:
- Acenda as velas em silêncio.
- Coloque o vinho e o fumo sobre o veludo.
- Diga com voz firme, mas respeitosa:
“Exu Veludo, nobre das encruzilhadas da justiça, eu te chamo não por vingança, mas por equilíbrio. Que tua mão justa guie meu caminho. Eu te ofereço vinho do meu coração e fumaça da minha verdade. Salve, Exu!”
- Deixe queimar até o fim. Enterre os restos com gratidão.
Conclusão: O Amor que Nunca Morreu
Exu Veludo não é um ser de caos. É um espírito de ordem, que usa as sombras para restaurar a luz. Ele representa o que há de mais humano nos Exus: a capacidade de amar profundamente, sofrer com dignidade e lutar pela justiça sem perder a alma.
Seu veludo não é só tecido — é a memória do toque suave que o mundo roubou dele. E agora, ele devolve esse toque a quem merece: aos injustiçados, aos leais, aos que ainda acreditam que amor e justiça podem caminhar juntos, mesmo nas encruzilhadas mais escuras.
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