segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O que é sonambulismo, êxtase e dupla vista?

 

O que é sonambulismo, êxtase e dupla vista?



Os três são fenômenos de emancipação da alma, assim como os sonhos, a telepatia, catalepsia e a letargia, embora apresentando diferenças bem específicas.

O sonambulismo é um estado de independência do Espírito mais intenso que nos sonhos (os quais são considerados sonambulismos imperfeitos). Neste tipo de emancipação, o Espírito desdobrado, preocupado com algo, realiza uma ação qualquer para a qual acredita necessitar do corpo – o que justifica os sonâmbulos andarem e/ou falarem pela casa.

O sonambulismo pode ser natural, produzindo-se espontaneamente e sem qualquer causa exterior, ou provocado, quando então será designado de magnético. Durante o processo de sonambulismo, estando a alma mais livre, entra facilmente em contato com o plano espiritual, acessando outros encarnados – em estado de desdobramento pelo sono – ou desencarnados, vivendo parcialmente a vida de Espírito.

Um dos fenômenos muito comuns durante o sonambulismo é a clarividência – capacidade de ver com os olhos da alma – vendo em todos os lugares onde possa se transportar, independentemente da distância que se encontra do corpo físico. Essa clarividência sonambúlica não é universal, nem infalível, não se podendo acreditar em tudo o que é dito nesse estado de emancipação.

Durante a lucidez sonambúlica a alma acessa informações e conhecimentos adquiridos em vidas passadas, podendo mesmo revelar conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Desta feita, verifica-se que da incapacidade intelectual e científica do sonâmbulo, quando em vigília, nada se pode deduzir sobre os conhecimentos eventualmente demonstrados durante o sonambulismo. Contudo, o poder de lucidez do sonâmbulo não é ilimitado, sofrendo variações nas faculdades apresentadas segundo o grau de perfeição alcançado.



Caso interessante foi trazido por Gabriel Delanne. Diz que um farmacêutico, durante o sono, levantava-se todas as noites e preparava receitas. Um médico, querendo verificar se havia algum discernimento no sonâmbulo ou apenas movimentos automáticos, deixou no balcão receita errada, de forma proposital. O farmacêutico, em estado de sonambulismo, não apenas deixou de preparar a receita, como ainda escreveu bilhete informando do equívoco, o que comprova estar ele pensando e raciocinando durante o processo.

Pode a pessoa, enquanto neste estado, revelar fatos oriundos do seu próprio conhecimento – os chamados anímicos, da própria alma – ou de conhecimento de outro Espírito, quando então se tem o sonambulismo mediúnico. Nesta situação, o sonâmbulo passa informações transmitidas por um Espírito desencarnado.

O êxtase é considerado um estado de sonambulismo mais apurado, ficando a alma do extático ainda mais independente. Aqui o aniquilamento do corpo é quase completo. No sonho e no sonambulismo, o Espírito permanece “passeando” pelos mundos terrestres, já no êxtase consegue acessar um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, entrando com eles em comunicação. Ao entrar em contato com harmonias e paisagens desconhecidas na Terra, sente um fulgor inebriante, um bem-estar indescritível, gozando antecipadamente da alegria celeste. Durante o êxtase, mesmo tendo a alma mais independência, há certos limites, impedindo o rompimento dos laços que ligam o Espírito ao corpo material, sem os quais viria a desencarnar.

Por ter a oportunidade de acessar regiões felizes, o extático apresenta um sentimento mais apurado, passando a ver a vida apenas como algo momentâneo. Em decorrência da exaltação que experimenta, sua lucidez pode ficar relativamente comprometida, razão pela qual suas revelações apresentam, não raro, uma mistura de verdades e de mentiras, sendo preciso examinar tudo com frieza e muito bom senso.

Inclusive, segundo nos orientam os Espíritos Superiores, não se deve deixar o extático entregue a si mesmo, pois pode não querer retornar ao corpo físico, querendo permanecer nas regiões resplandecentes. Faz-se necessário, desta feita, apelar para tudo aquilo que o prende ao mundo material, como amores e família, tentando fazê-lo compreender que o abandono do corpo físico significa suicídio, impedindo-o exatamente de permanecer naquelas regiões de felicidade.



Um caso de êxtase consta da Revista Espírita de 1869, num texto intitulado Visão de Pergolèse. Conta a história de Giovanni Battista Pergolèsi (1710 – 1736), músico italiano que, numa sexta-feira santa, ao entrar na igreja, sentiu-se em êxtase, viu os traços de uma virgem luminosa que pousava os dedos sobre os teclados de um órgão, dando início a um lindo concerto. Enquanto Pergolèse ouvia o magnífico concerto, suas mãos se agitavam no espaço, traçando as notas musicais dos sons que ouvia. Ao despertar, viu escrito no mármore do templo a música que ficaria conhecida como Stabat Mater, bem utilizada nas igrejas do cristianismo.

A dupla vista ou segunda vista, assim como os fenômenos anteriores, é resultado da libertação do Espírito, mas aqui o corpo não está adormecido e sim em vigília. Na dupla vista, a pessoa vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos do corpo físico, captando tudo o que pode ser percebido pela sua alma, até onde essa se estender. O portador de dupla vista enxerga como por uma espécie de miragem, ficando num estado físico relativamente modificado, com um olhar meio vago. A visão permanece, ainda que os olhos estejam fechados.

Tal fenômeno é muito comum com os médiuns, pois durante o processo de comunicação mediúnica conseguem emancipar e acessar outros lugares, pessoas e informações, num desdobramento completamente lúcido. Normalmente após o período de visão temporária, segue-se um esquecimento, ficando a recordação mais vaga até desaparecer por completo. O poder da vista dupla varia de indivíduo para indivíduo, podendo ser uma sensação confusa ou mesmo uma percepção clara e nítida dos fatos.

Quando a dupla vista é rudimentar, tem a pessoa uma perspicácia das coisas, se ela apresenta-se um pouco mais desenvolvida, têm-se os pressentimentos e, em caso de pleno desenvolvimento, vê o indivíduo os acontecimentos passados ou futuros. Os tempos de crise e de calamidades, as grandes emoções, podem provocar o desenvolvimento da dupla vista, como se na presença do perigo a Providência Divina desse a humanidade um meio de evitá-lo. Conforme nos ensina a espiritualidade, a dupla vista é suscetível de desenvolver-se pelo exercício, pois “o trabalho sempre conduz ao progresso, e o véu que encobre as coisas se torna transparente”.

Como exemplo dessa faculdade podemos citar Emmanuel Swedenborg, considerado um dos precursores do Espiritismo, tendo ele pela dupla vista assistido e descrito, com precisão de detalhes, um incêndio que acontecia em sua cidade, Estocolmo, a distância de trezentas milhas, o qual foi posteriormente confirmado.