segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Casa Branca do Engenho Velho

 da Casa Branca
(Ilê Axé Iyá Nassô Oká)
Vista interior do barracão
TipoTemplo
InauguraçãoNa Barroquinha: década de 1830[1][2]
No Engenho Velho: 1890[3]
PresidenteAltamira Cecília dos Santos[1]
ReligiãoCandomblé ketu
Regentes: XangôOxumObaluaê[1]
Património
Classificação nacionalIPHAN (1986)[4]
LocalSalvador, BA
 Brasil
terreiro da Casa Branca do Engenho Velho (em língua yorubaIlê Axé Iyá Nassô Oká), mantido pela Sociedade São Jorge do Engenho Velho, é um templo de candomblé do município de Salvador, no estado brasileiro da Bahia.[5]
Fundado na década de 1830, é o terreiro de culto afro-brasileiro mais antigo do qual se tem registros na capital baiana, e possivelmente o mais antigo em funcionamento no Brasil.[5][6] Constituído de uma área aproximada de 6.800 m², com as edificações, e áreas verdes, é o primeiro monumento da cultura negra considerado Patrimônio Histórico do Brasil, tombado pelo IPHAN em 1986.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Símbolos de Xangô no telhado
Bandeira branca
Terreiro é de Oxossi e o Templo principal é de Xangô. O Barracão que tem o nome de Casa Branca, é uma edificação alongada com várias divisões internas que encerram residências das principais pessoas do Terreiro, como também espaços reservados aos quartos de Orixás, quarto de Axé, Salão onde se realizam as festas públicas, bem como a cozinha onde se preparam as comidas sagradas.[7] Uma bandeira branca hasteada no Terreiro indica o carater sagrado deste espaço. No telhado do Barracão, símbolos de Xangô identificam o Patrono do Templo.
O terreno fica situado numa encosta que se estende até uma cota de 30,00 m com declividade de 30%, no lado direito da atual avenida Vasco da Gama, no sentido de progressão para o Rio Vermelho, entre as Ladeiras Manoel do Bonfim e do Bogun, na Unidade Espacial C-5 em Salvador. Ocupa uma área de 6.000 m². Em redor do Barracão existem várias casas de Orixás.

História[editar | editar código-fonte]

Vista da encosta do terreiro, em foto antiga
No período da escravidão no Brasil,[8] os negros formavam suas comunidades nos engenhos de cana. Na Bahia, princesas, na condição de escravas, vindas de Oyo e Ketu, fundaram um centro num engenho de cana. Depois se agruparam num local denominado Barroquinha, onde fundaram uma comunidade de Nagô Ilè Asé Airá Intilè também conhecida como Candomblé da Barroquinha, que segundo historiadores, remonta mais ou menos 300 anos de existência, dentro do perímetro urbano de Salvador.[9]]
Sabe-se que esta comunidade fora fundada por três negras africanas cujos nomes são: Adetá ou Iyá Detá, Iyá Kalá, Iyá Nassô e os babalawos Assiká e Bangboshê Obitikô[10]. Não se tem certeza de quem plantou o Axé, porém o Engenho Velho se chama Ilé Iya Nassô Oká. Os africanos que se encontravam ali, lugar deserto naquela época, porém próximo ao Palácio de sua Real Majestade, tiveram receio da intervenção das autoridades no seu Culto, daí, Iyá Nassô resolveu arrendar terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, no trecho chamado Joaquim dos Couros, lugar onde se encontra até hoje, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Culto Africano na Bahia.
Iyá Nassô, sucedeu Iya Marcelina da Silva. Após a morte desta, duas das suas filhas, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iya Kekeré) tomar a posse de Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois).
Substituiu Maria Júlia Figueiredo na direção do Engenho Velho, a Mãe Sussu (Ursulina de Figueiredo). Com a sua morte nova divergência foi criada entre suas filhas, Sinhá Antonia, substituta legal de Sussu, por motivos superiores não podia tomar a chefia do Candomblé, em consequência o lugar de Mãe foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).
Vencendo o partido da Ordem, dissidentes inconformados fundaram então uma outra Ilé Axé, o (Ilê Axé Opô Afonjá), casa onde foi confirmado como Ojúbonã de Sangò, o Babalawó Pierre Fatumbi Verger. Sendo assim a primeira casa no Brasil a dispor de ligação direta com a cultura yorubá, renascendo outro Fatumbi no Aye ao nascer um no Orun, no mesmo dia e mês, promessa de Olorum. Logo, no falecimento de Pierre Fatumbi Verger, em 11 de fevereiro de 1996, renasceu o Fatumbi Marcelo Lima, nascido em Salvador, Bahia.
Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi foi sucedida por Maria Deolinda, Mãe Oké. A direção sacerdotal do Engenho Velho foi posteriormente confiada à Marieta Vitória Cardoso, Oxum Niké, recentemente desaparecida.
Atualmente, assumiu a chefia da Casa, a Iya Lorixá Altamira Cecília dos Santos, filha legítima de Maria Deolinda dos Santos, carinhosamente chamada de "Papai Oké".

Situação atual[editar | editar código-fonte]

Coroa de Xangô, no interior do barracão
No iníco, as atividades do Ilé Axé sofreram perseguições da Sociedade e por parte da Polícia. Já no período da República, o candomblé fora proibido de exercer as suas atividades e os Terreiros ficaram subjugados à Delegacia de Jogos, Entorpecentes e Lenocínio.
Hoje porém a situação é diferente. Existe na Prefeitura de Salvador, o Projeto Mamnba da Pro-Memória, sob a direção do Antropólogo Ordep José Trindade Serra, cujo objetivo é proceder o Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros na Bahia.
Em 14 de junho de 1986, o Ministério da Cultura, a Prefeitura Municipal de Salvador e o Ministério da Relações Exteriores, em conjunto lançaram oito postais sobre a Ilé Axé Iya Nassô Oká e a revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional publicou - A Coroa de Xangô no Terreiro da Casa Branca - em separata do número 21/1986. Chegou então a hora da proteção a todos os Terreiros de Candomblé do Estado. Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º graus.
Diante da solicitação da Socidade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, conforme fundamentação e comprovação firmada pelo presidente, Sr. Antonio Agnelo Pereira, cultor de etnografia afro e diplomado em Língua Yorubá pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, o Conselho Estadual de Educação aprovou introdução da Língua yorubá nos Currículos de 1º e 2º Graus nos Colégios de Rede de Ensino do Estado.
O Ilé Axé Iya Nassô é o 1º Templo de Culto Religioso Negro no Brasil - Casa Branca do Engenho Velho.
É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984 (Tombamento do Terreiro do Engenho Velho):
  • Tombamento Terreiro Casa Branca, foi realizado em 14 de Agosto de 1986 pelo IPHAN.[11][12]
  • Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico Inscrição:093
  • Livro Histórico, Inscrição:504, Nº Processo:1067-T-82
Antes disso, em 1982, o Terreiro já havia sido tombado como Patrimônio da Cidade do Salvador 1ª Capital do Brasil.
Em 1985 o Terreiro do Engenho Velho foi considerado Axé Especial de preservação Cultural do Município de Salvador.
A Sociedade São Jorge do Engenho Velho, representante legal da Comunidade do Ilé Axé Iya Nassô Oká foi considerada de utilidade pública Municipal e Estadual. É Membro do Conselho Geral do Memorial Zumbi dos Palmares.
Atualmente está feito o Plano de preservação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho e prepara-se o Projeto de Recuperação da área em convênio com o Ministério da Cultura e a Prefeitura Municipal do Salvador.
O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, mais antigo do Brasil, tem como Iyalorixá a Venerável Altamira Cecília dos Santos, secundada pelas veneráveis Iya Kekeré Juliana da Silva Baraúna e Otun Iya Kekeré Areonite da Conceição Chagas.
Possui um vasto Colégio Sacerdotal composto pelas Iya bomin, Ogans e Olossés, além de muitas Iyaôs e Abians. Deu origem a inúmeros Templos afro-brasileiros, e possui ligação e respeito a cultura Yorubá, representada na Bahia por Fatumbi e na África pelos Babalawós .

Sociedade São Jorge do Engenho Velho (1943)[editar | editar código-fonte]

A Sociedade Beneficente e Recreativa São Jorge do Engenho Velho que representa o candomblé da Casa Branca, foi fundada a 25 de julho de 1943, registrada no Cartório Especial de Títulos e Documentos em 2 de maio de 1945 sob nº 15.599, declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 759 de 31 de dezembro de 1956, é regida por Estatuto e tem personalidade jurídica.
Sua Diretoria é composta por um presidente, um vice, 1º e 2º secretário, 1º e 2º tesoureiro. Assembleia geral, com presidente, 1º e 2º secretários. Comissão fiscal, composta por três membros. Atualmente a Diretoria da Sociedade é exercida pelo Sr. Antônio Agnelo Pereira. Ministro de OxaláOxogum e Obalaxé do Ilé Iya Nassô Oká, Casa Branca. A Diretoria de Honra da Entidade é composta pela Trilogia Sacerdotal do Axé, atualmente representada nas pessoas da Iya Altamira Cecília dos Santos, Iya Juliana da Silva Baraúna e Iya Areonite da Conceição Chagas. Existe ainda a Diretoria do Patrimônio e uma Comissão de Defesa do Patrimônio.

Sacerdotisas[editar | editar código-fonte]

Casa dos Ancestrais

Calendário de festas[editar | editar código-fonte]

As obrigações religiosas da Ilé Axé começam no fim de maio ou princípio de junho com a Festa de Oxossi. No dia de Corpus Christi tem a tradicional Missa de Oxóssi
A Festa de Ayrà tem lugar a 29 de junho.
Na última sexta-feira de agosto, realiza-se a Cerimônia da As Águas de Oxalá, seguindo-se os três domingos consecutivos, nos quais se festeja Odudwa no primeiro, Oxalufan no segundo e a Festa do Pilão em homenagem a Oxaguian, no último domingo.
Na segunda-feira imediata, festeja-se Ogum e na seguinte Omolú.
Havendo no entanto, um espaço para iniciação de novas filhas, prossegue as festas em louvor a YansãXangôFesta das Iabás e Oxum, terminando o ciclo festivo no final de novembro.
O X Alaiandê Xirê Ipade Lomin - Encontro das Águas na Avenida Vasco da Gama, aconteceu de 15 a 18 de novembro de 2007 na Casa Branca do Engenho Velho, devendo retornar ao referido terreiro na 12ª edição, em 2009