Ô.. Cosme e Damião, Daaamião cadê Doun?
Quem são?
Por serem seres de outro plano e nunca terem encarnado, (saiba mais em: De onde vêm os ERÊS? são crianças ou seres de outros planos?) não têm a compreensão dos dilemas humanos e também por isso não respondem a grandes questionamentos das pessoas que passam pelo atendimento. Como resposta normalmente trazem à brincadeira, oferecem doces e contam histórias.
Mas não duvide da força de um Erê! Como seres encantados, vivem em um plano anterior ao nosso, em dimensões em que os Orixás intermediários regem. As mães e os pais Orixás são visíveis aos Erês, eles têm contato direto com essas divindades!
Por esse motivo, o magnetismo que transpiram é a energia pura desses reinos e quando nós absorvemos a isso, percebemos uma forte mudança em nossa realidade emocional, psicológica e energética.
“Eles não vem pensando em como vão nos curar, lembre-se são seres infantis, mas na vontade e na forma descontraída de interagir transmitem a nós a forma mais pura do magnetismo dos Orixás”
Pai Rodrigo Queiroz no estudo em Entidades da Umbanda
Cada encantado vem de um reino, por isso manifestam o elemento ao qual esse reino se constitui. Por exemplo um Erê do fogo, manifesta em si a maneira mais densa e pura desse mistério e também por isso ele traz características marcantes desse elementos em sua incorporação.
No Erê do Fogo temos um ser mais inquieto, peralta e facilmente irritável, vocês lembram da personalidade do Zangado da Branca de Neve? Erê do Fogo beira à esse aspecto, já o Erê da Terra é mais quieto e sisudo, assim como o do Ar demonstra fortemente alegria, movimento e expansividade em seu modo de ser. Enfim, cada elemento e reino ao qual um erê pertence confere à ele uma particularidade que é notável no momento da incorporação. Lembrando que quanto mais permissivo for o médium mais fácil será de se identificar essas características e por conseguinte mais profundamente esse magnetismo vai atuar.
Erês e Crianças no Terreiro
A Linha das Crianças é sustentada pelo Orixá Oxumaré e também pelas Mães Orixás, cada reino irá ser regido por um Orixá intermediário, porém o mistério em si é sustentado por Oxumaré, pois nele encontramos a alegria divina, atributo que por excelência pertence as crianças. A manifestação dessa linha de trabalho está voltada para o atendimento, cura e interação com as crianças (encarnadas mesmo!) do terreiro, é como se eles tivessem uma “vocação” para se relacionar com esse segmento.
Erê é um ser puro e pureza é sinônimo de identidade infantil. Erê não conhece sentimentos ruins, não tem inveja, não guarda rancor, nem mágoa, eles não entendem isso porque o aspecto negativo do ser só vai acontecer no plano natural que é o que sucede o deles e o qual nós vivemos.
Nesse plano físico nós vamos nos deparar com o nosso lado negativo e com nossos sentimentos ruins, vivemos em contato com energias complexas, uma mistura de diversas vibrações e sentimos os 7 sentidos da vida, o Erê só tem contato com um desses sentidos, por exemplo se ele é do reino aquático, então só vai manifestar e sentir essa essência.
Fui no terreiro e o Erê me contou que foi criança na vida passada..
Pai Rodrigo Queiroz fala sobre essa questão em Entidades da Umbanda dizendo “isso foi uma ideia que se colocou dentro da religião [..] era impossível aos nossos antecessores imaginar uma dimensão paralela em que mediunicamente nós poderíamos interagir com isso”.
Ele continua explicando que quando nós criamos uma ideia forte sobre algo, eles (Erês) não vão confrontar, porque se é nisso que queremos acreditar, tudo bem. Quem precisa parar e fazer a reflexão somos nós que nos relacionamos com isso e assim, apurar em que pretendemos acreditar.
Sincretismo
Cosme e Damião, venerados dentro do catolicismo têm a história (mesmo que contada de diversas formas) fincada no que é praxe dos santos católicos, à busca pela conversão dos fiéis ao cristianismo e em seguida a morte como mártir. A relação dos santos com a Linha das Crianças está no valor simbólico que eles carregam, pois ambos eram médicos que cuidavam de crianças carentes e também porque ao longo dos tempos perpetuou-se a ideia de que eles carregavam uma aura pura, de simplicidade e ingenuidade. O sincretismo é tão forte que hoje, 27 de Setembro, dia de São Cosme e Damião a maioria dos terreiros de Umbanda dedica seus trabalhos a Linha das Crianças.
E Doun? É o irmão mais novo de Cosme e Damião?
A imagem que ilustra o texto é uma manifestação popular da Umbanda, na igreja católica nós não a encontramos, pois Doun não é cultuado nessa vertente. Pai Alexandre Cumino fala sobre essa questão no estudo em Orixás na Umbanda, “há muitas lendas sobre da onde veio Doun, mas independente das lendas há de se saber que na cultura Nagô Iorubá os gêmeos Ibeji têm um irmão chamado Doun”.
Ele continua explicando que Cosme e Damião – como sabemos – não são crianças, mas que, como eram associados as linhas das crianças nos terreiros então “não se sabe por quais caminhos, na Umbanda surgiu Doun que é o irmão (criança) de Cosme e Damião.”
Independente da representação, o que importa realmente é o que sentimos quando nos relacionamos com essa energia. Ibeji não está nas 7 Linhas de Umbanda porque ele está em todas as linhas, existem seres encantados de todos os Orixás.
Salve Ibejada! Salve as nossas Crianças!
Salve São Cosme e Damião! Salve Doun!
Texto:
Júlia Pereira
Imagem:
Pedro Belluomini
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