segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Espírito sente dor, frio e calor?

 

Espírito sente dor, frio e calor?



Para a compreensão das sensações e dos sofrimentos que os Espíritos podem sentir após a morte, como no caso da dor, continuemos o nosso estudo e compreensão sobre o perispírito. Em O Livro dos Espíritos, após questionar se os Espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos, a resposta foi no sentido de que eles os conhecem, visto que os suportaram, mas não os sentem materialmente como nós, pois são Espíritos.

O Espírito Miramez, ao abordar sobre o sofrimento dos Espíritos após o desencarne, elucida que estes não os experimentam como os homens, havendo diferenças no estado de sentir, pois lhes falta o corpo material. Esclarece que o desligamento com as dores morais e espirituais é o processo necessário para o equilíbrio emocional, citando como exemplo os Espíritos superiores que, quando encarnados, viveram e sentiram todos os tipos de sofrimentos, mas que a consciência limpa de todas as mazelas inferiores ambientou seus corações para um ritmo de amor.

Verifica-se, assim, que todas as sensações e sofrimentos experimentados pelos Espíritos desencarnados têm sua causa na mente, sendo ela a sede de todas as sensações boas ou negativas que digam sentir os Espíritos. Dizem os Espíritos que isso é reminiscência do que padeceram durante a vida, sendo muitas vezes tão aflitiva quanto a própria realidade. Ao se lembrarem do corpo físico têm impressão igual a de uma pessoa que, retirando um manto que a envolvia, acredita após certo tempo ainda o trazer sobre os ombros.

No Ensaio teórico sobre a sensação dos Espíritos Kardec faz uma abordagem bem elucidativa da questão, auxiliando-nos na compreensão do tema. Vejamos: "O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta, é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que dá dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. [...] toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte."


Kardec, trazendo ainda outros esclarecimentos, informa que no corpo físico as sensações são localizadas, conforme os órgãos que lhes servem de canais. Entretanto, destruído o corpo material, as sensações, por conta do perispírito e da sua propriedade de sensibilidade global, ficam generalizadas, não se podendo confundir as sensações do perispírito, agora independente, com as do corpo.

Assim, liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas este sofrimento não é mais o do corpo, embora não seja estritamente moral, como o remorso, pois se queixa de frio, dor, calor etc. A dor não é física, “é um vago sentimento íntimo do qual o próprio Espírito não se dá sempre uma conta perfeita, precisamente porque a dor não está localizada e que não é produzida pelos agentes externos”.

A rigor, no momento da morte, dá-se a ruptura do perispírito e do corpo. Entretanto, o processo de desligamento ou de desprendimento do perispírito com o corpo ocorre com maior ou menor facilidade e rapidez, segundo o grau de elevação moral do indivíduo, na medida em que esteja mais ou menos apegado à matéria e às coisas do mundo material.

Nos primeiros momentos após a morte, o Espírito não compreende exatamente a sua situação, encontra-se num estado de perturbação, não sabe ou acredita que morreu, pois se sente vivo, vê seu corpo ao lado e não entende o porquê de estarem separados. Esse estado perdura pelo tempo que existir um liame entre o perispírito e o corpo e, enquanto a separação do corpo e do perispírito não é completa e definitiva, disso resulta uma espécie de repercussão moral que transmite ao Espírito a sensação do que acontece com o corpo físico.


Kardec relata que certa vez o Espírito de um suicida afirmava “estar vivo” e, no entanto, “sentia” os vermes que o roíam. Naturalmente, os vermes não roíam o seu perispírito, mas seu corpo em decomposição. Desta feita, não havendo a separação completa do perispírito e do corpo, o primeiro, como agente transmissor, comunica ao Espírito as sensações do que se passava no corpo, produzindo uma espécie de “repercussão emocional”. A visão do que acontecia no corpo, ao qual o perispírito continuava ligado, produzia a ilusão, entendida como real.

No artigo “Resposta a uma Pergunta Mental”, contido na Revista Espírita de outubro de 1862, o Espírito comunicante, ao descrever a sua condição no mundo espiritual, disse: "[...] posso dizer-vos que sofro. É uma dor geral em todos os membros, o que vos deve surpreender, pois com a morte o corpo apodrece na Terra. Mas nós temos um outro corpo espiritual que não morre. Isso nos faz sofrer tanto quanto se tivéssemos nosso corpo corporal. Sofro, mas espero não sofrer para sempre."

Em suma, quanto mais depurado o Espírito, mais eterizada se torna a essência do perispírito e menos sensação de dor terá, porque o perispírito, que lhe serve de intermediário, estando mais rarefeito, não permite que a dor lhe seja transmitida. Os Espíritos menos evoluídos, por conta da condensação mais grosseira do perispírito, transmitem mais facilmente as sensações de dor.

Assim, percebe-se o quão importante é a vivência do evangelho em nossas vidas, pois a prática da lei de amor e de caridade auxilia-nos na conquista das virtudes, depurando o nosso perispírito e nos aproximando de Deus.