segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Anjos e demônios existem?

 

Anjos e demônios existem?



Anjos e demônios, segundo podemos observar nas obras da Codificação, especialmente em O Livro dos Espíritos e em O Céu e o Inferno, não são seres criados à parte, na medida em que constituem a humanidade que povoa a terra e outras esferas habitadas e que, quando separados do corpo, constituem o mundo espiritual.

Ao nos referirmos aos anjos, não restam dúvidas de que existem seres dotados das qualidades a eles atribuídas, chamados de Espíritos puros, os quais alcançaram a perfeição moral e intelectual, encontrando-se no mais alto grau da escala evolutiva dos Espíritos, reunindo em si todas as perfeições.

Como já dito anteriormente, os Espíritos são criados simples e ignorantes, sem conhecimentos e sem consciência do bem e do mal, mas destinados à perfeição e à felicidade e, através do tempo, do uso do livre-arbítrio e do trabalho, percorrendo os diversos graus da evolução, em cumprimento à Lei do Progresso. Portanto, os anjos são Espíritos que já passaram por todos os graus da perfeição, uns aceitaram a missão sem murmúrios e lamentações, chegando à meta da perfeição mais rapidamente, outros, contudo, empregaram maior tempo para alcançá-la.

No tocante ao mal, é importante esclarecer inicialmente que a sua criação não foi obra de Deus, pois seria incompatível com Suas características de amor e bondade em grau infinito. Suas leis, conforme discutido anteriormente, foram criadas para o bem. Nesse sentido, o mal é uma criação do próprio homem, decorrente da infração das leis de Deus. Os demônios, por sua vez, são explicados pela Doutrina como Espíritos imperfeitos que ainda se encontram nas classes inferiores, possuindo indiferença, negligência, má vontade e muitas dificuldades em deixar o hábito de fazer e de praticar o mal. Quanto a isso, os Espíritos elucidam: "Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome."Kardec, comentando a observação acima, afirma que a primeira condição de toda doutrina é ser lógica, e que todos os povos atrasados, desconhecendo os atributos de Deus, acabaram por admitir divindades maléficas em suas crenças: os demônios. Todavia, é ilógico e contraditório para quem entende ser a bondade um dos atributos essenciais de Deus, supor a criação de seres destinados ao mal, equivalendo a Lhe negar a bondade. Lembra que os partidários dos demônios se baseiam nas palavras do Cristo, mas questiona se estão eles certos do sentido que Jesus dava ao vocábulo demônio, uma vez que isso poderia ser constituído como uma forma alegórica, um dos caracteres distintivos da linguagem do Mestre.

Os homens, por conta da sua limitação moral e intelectual, fizeram com os demônios o mesmo que com os anjos. Da mesma maneira que acreditam na existência de seres perfeitos desde toda a eternidade, tomaram também os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus, o que não se ajusta às leis de Deus. Portanto, a palavra demônio deve ser entendida como sinônimo de Espíritos, transitoriamente, impuros e imperfeitos, pois também chegarão à perfeição.


Observemos, por oportuno, o comentário de Kardec sobre Satanás, ao afirmar: "Satanás é evidentemente a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau a lutar, como de potência a potência, com a Divindade e cuja única preocupação consistisse em lhe contrariar os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imaginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. É assim que os antigos, querendo personificar o Tempo, o pintaram com a figura de um velho munido de uma foice e uma ampulheta. Representá-lo pela figura de um mancebo fora contra-senso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna, da verdade, etc.



Resulta dessas observações, então, existirem Espíritos em todos os graus de avanço moral e intelectual, segundo estejam no alto, no meio, ou na parte inferior da escala evolutiva. Nas posições inferiores, encontram-se os ainda profundamente inclinados ao mal e que nele se comprazem, os quais se podem chamar de demônios, se assim desejarmos, sendo capazes de todas as maldades atribuídas a estes últimos.

O Espiritismo não lhes dá esse nome, já que normalmente se vincula a ele a ideia de seres distintos da humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, devotados ao mal por toda a eternidade e incapazes de progredir no bem, afirmação não condizente com a verdade. Acerca dos anjos e demônios, trazemos ainda as palavras do Codificador em O Céu e o Inferno, asseverando: "A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas humanas, não admitindo a lei do progresso, e, vendo porem, seres em diferentes graus, concluiu daí que eles eram o produto de outras tantas criações especiais. Ela chega assim a fazer de Deus um pai parcial, dando tudo a alguns de seus filhos, ao passo que impõe aos outros o mais rude trabalho. Não é espantoso que durante muito tempo os homens não tenham achado nada de chocante nessas preferências, enquanto faziam o mesmo a respeito de seus próprios filhos, pelos direitos de primogenitura e os privilégios do nascimento; podiam eles crer fazer mais mal do que Deus? Mas hoje em dia o círculo das ideias se alargou; eles veem mais claro; têm noções mais nítidas da justiça; querem-na para eles, e se nem sempre a encontram na terra, esperam ao menos encontrá-la mais perfeita no céu; é por isso que toda doutrina em que a justiça divina não aparece ao homem em sua maior pureza, repugna à sua razão."

A destinação dos Espíritos que hoje praticam o mal, portanto, é o seu progresso conforme as leis divinas. A evolução, inerente a todos nós, um dia os fará compreender que seus interesses estão no bem, no amor e na fraternidade, ajudando-os a obter a felicidade verdadeira, livres dos infortúnios e sofrimentos outrora causados.