quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Em que momento a alma se une ao corpo?

 

Em que momento a alma se une ao corpo?


A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. Tal informação nos foi trazida pela Espiritualidade Superior em questões de O Livro dos Espíritos.

Esse laço, com o desenvolvimento do corpo, vai se estreitando mais e mais. A partir desse momento, o Espírito reencarnante começa a sentir uma perturbação que cresce sempre. Quando se aproxima o nascimento, a perturbação é total e o Espírito perde a consciência de si mesmo. Suas ideias serão recobradas aos poucos, sendo a união completa a partir do momento em que a criança começa a respirar.

Allan Kardec, em A Gênese, abordando o tema Encarnação dos Espíritos e, portanto, da união da alma ao corpo, ensina que quando o Espírito precisa encarnar num corpo material que está em vias de formação, um laço fluídico, verdadeira expansão do seu perispírito, liga-se ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. A medida em que esse gérmen cresce e se desenvolve, o laço que os une encurta, e o perispírito une-se molécula por molécula ao corpo em formação, razão pela qual se pode dizer que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, enraíza-se nesse gérmen como uma planta na terra. No momento em que o gérmen chega ao pleno desenvolvimento, completa está a união, nascendo o ser para a vida exterior.

Diz-se completa e definitiva a união porque outro Espírito não poderia substituir o que está designado para aquele corpo. Contudo, os laços que ao corpo o prendem ainda são muito fracos, podendo ser facilmente rompidos pela vontade do próprio Espírito, hipótese em que este recua diante das provas que escolheu, quando então a criança não vinga.

Durante a perturbação que acompanha o Espírito até o seu nascimento, seu estado é muito similar ao de um Espírito encarnado durante o sono. Desta feita, quando vai se aproximando a hora do nascimento, as ideias apagam-se, assim como a lembrança do passado. Essa lembrança, porém, volta pouco a pouco ao retornar ao estado de Espírito, no plano espiritual.

Por tais informações, observamos que o Espírito jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o espírito a relembrar faculdades, que irão se desenvolver com a formação e a consolidação dos órgãos que lhe servirão às manifestações. Interessante destacar que, conquanto o Espírito recobre a consciência de si mesmo e perca a lembrança do seu passado, não perde as faculdades, as qualidades e as aptidões adquiridas em vidas pretéritas. Elas ficam temporariamente em estado de latência e, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes.

Portanto, o Espírito apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser útil à nova existência material. Se “às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem por mais antigo que seja como Espírito”.

No livro Missionários da Luz, o Espírito André Luiz traz elucidativas informações sobre a reencarnação de Segismundo como filho do casal Adelino-Raquel, representando fontes de conhecimentos sobre o assunto. Em uma encarnação precedente do casal, após uma paixão desvairada, Segismundo assassinou Adelino e Raquel foi parar no prostíbulo. Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio. No plano espiritual, o casal prometeu receber Segismundo como filho.

A Espiritualidade cuidadosamente auxilia todo o processo de retorno à matéria de Segismundo, desde o encontro dos três Espíritos em desdobramento pelo sono, para reafirmarem o compromisso assumido na espiritualidade, passando pela redução do corpo perispiritual do reencarnante, pela magnetização do espermatozoide escolhido para fecundar o óvulo, até o ajustamento da forma reduzida de Segismundo ao útero materno.


Sinteticamente, o autor espiritual informa que os processos de reencarnação estão subordinados à evolução do Espírito reencarnante, havendo Espíritos evoluídos que, ao voltarem à Terra em apostolado de serviço e iluminação, praticamente dispensam o concurso de outros Espíritos no processo de reencarnação. Entretanto, os Espíritos procedentes de zonas inferiores precisam de cooperação muito mais complexa que a exercida no caso de Segismundo.

No caso do livro, a reencarnação de Segismundo obedece às diretrizes mais comuns, traduzindo expressão simbólica da maioria dos casos vivenciados na Terra, porquanto ele pertencia à enorme classe média dos Espíritos que habitam a Crosta, nem altamente bons, nem conscientemente maus.

Como um estágio preparatório para a nova reencarnação, dá-se um processo de redução, miniaturização ou restringimento do perispírito, que ocorre no plano espiritual pela ação de Espíritos construtores. Eles têm como base os processos de magnetização e mentalização, desenvolvendo o Espírito submetido a esses processos uma palidez característica no perispírito e significativa diminuição da lucidez mental. De modo concomitante, o Espírito em vias de reencarnar é induzido a imaginar a forma pré-infantil, o retorno ao útero materno, a organização fetal e que precisa tornar-se criança. A tarefa em questão não é curta, nem simples, requisita esforço geral dos colaboradores para a redução necessária.

O Espírito André Luiz, agora na obra Entre a Terra e o Céu, informa que nos milhares de renascimentos na Terra, os princípios embriogênicos seguem automáticos, com base na Lei de causa e efeito, sem necessidade de fiscalização da Espiritualidade, bastando o magnetismo dos pais, aliado ao grande desejo do Espírito que regressa ao corpo material. A maioria das almas reencarna satisfazendo a vontade incessante de recomeçar, como numa grande floresta, onde a sementeira cresce estimulada pelo magnetismo do solo, a existência corpórea germina incentivada pelo magnetismo da carne.

Assim, o útero apresenta um elevado magnetismo que, ao sopro de Deus, oferece recursos ao desenvolvimento da vida, atraindo a alma necessitada de renascimento e, que lhe é afim, pois nada é por acaso. A maternidade é divino serviço espiritual em que a alma se demora séculos aperfeiçoando as qualidades do sentimento.

A mulher grávida, além de ceder seu organismo ao Espírito que reencarna, é constrangida a lhe suportar o contato espiritual, que constituirá sacrifício quando se trate de criatura com escuros débitos de consciência. Durante o período gestacional, a organização feminina sofre verdadeira enxertia mental, ou seja, os pensamentos da entidade envolvem-na totalmente, determinando significativas alterações no corpo e na mente da mãe. Deste modo, quando o filho é detentor de larga evolução e dono de elogiáveis qualidades morais, auxilia o campo materno, trazendo sublimes emoções e convertendo a maternidade em estação de esperanças e alegrias intraduzíveis.

Constata-se, então, que a troca existente entre mãe e filho não se circunscreve à alimentação de natureza material, indo muito além, as mentes de um e de outro como que se justapõem, em plena comunhão, até que a Natureza complete o serviço que lhe cabe no tempo. Inclusive, certos estados íntimos da mulher alcançam, de alguma maneira, o feto, marcando-o para a existência inteira. O trabalho da maternidade, como se vê, assemelha-se a delicado processo de modelagem, requisitando muita cautela e harmonia para que a tarefa seja perfeita, para mãe e filho.