Existe vidência no copo, na vela e na bola de cristal?
Sim, é o que Kardec denominou de fenômeno dos “espelhos mágicos, espirituais ou psíquicos”, sendo um meio de os médiuns obterem comunicações com o plano espiritual por intermédio de vidros, garrafas, copos vazios ou com água magnetizada, globos metálicos ou de cristal, velas etc. Ali conseguem os médiuns ver imagens representando acontecimentos passados, presentes ou futuros, tendo condições de responderem perguntas que sejam eventualmente a eles dirigidas.
Conquanto o Codificador tenha observado vários médiuns que apenas conseguiam ter a vidência por intermédio de tais objetos, não explicou completamente a teoria do fenômeno, mas deixou importantes considerações. No caso dos copos com água, verificou serem necessárias alguns procedimentos padrões para que a vidência ocorresse.
Primeiramente o copo deve ser enchido, até a metade de água, sendo essa magnetizada pela imposição das mãos e, essencialmente, das extremidades dos dedos sobre a boca do copo, seguido da forte ação do olhar e do pensamento. O tempo ideal para a primeira magnetização deve ser algo em torno de dez minutos, sendo necessário um tempo menor nas subsequentes. A magnetização não deve ser realizada pelo próprio médium vidente, mas por outro médium especial ou mesmo pela pessoa que deseja receber a vidência. Segundo Kardec, o médium vidente não deve magnetizar a água pois precisará do seu fluido para ver através do copo de água.
Após magnetizada a água, põe-se o médium vidente diante do copo e começa a olhá-lo fixamente, até que ali surjam imagens ou mensagens escritas vindas do plano espiritual. O tempo para que a vidência real comece varia de médium para médium, requerendo no início do desenvolvimento da faculdade uns trinta minutos, mas com a experimentação reduz-se o tempo para alguns poucos minutos. Normalmente a imagem é espontânea, cabendo ao médium após a realização de uma prece pedindo a assistência dos bons Espíritos aguardar e dizer as imagens que vão se formando. Entretanto, também pode provocar o fenômeno por evocação.
Para que o fenômeno dos espelhos psíquicos ocorra, é preciso recolhimento, sem o qual a faculdade não se desenvolve com facilidade, ficando perturbada. Aspecto interessante é precisar o médium manter os olhos abertos, podendo fechá-los apenas rapidamente para repousá-los, denotando uma variedade na mediunidade de vidência, quando normalmente o medianeiro visualiza estando com os olhos abertos ou fechados, já que é a sua alma que vê e não os olhos físicos. Tal mediunidade ocorre durante o dia ou à noite, mas neste último caso precisará de luz para que a vidência aconteça.
Nesta variação da mediunidade de vidência, assim como nas demais, o medianeiro precisa buscar a sintonia da Espiritualidade amiga, a prática do bem e da caridade, não se servindo da faculdade para coisas fúteis, para a satisfação da pura curiosidade, pois que cairá na perturbação de Espíritos inferiores e que se utilizarão de imagens ridículas ou mentirosas. Os videntes não veem quando querem e aquilo que desejam, mas tão somente o que os Espíritos querem fazê-los ver, ou têm permissão para mostrar, havendo um fim útil. Não se deve, deste modo, forçar nem a faculdade nos médiuns nem a vontade dos Espíritos.
Examinando a faculdade, Kardec identifica certa analogia com o fenômeno chamado de “segunda vista” ou “dupla vista”, já estudado no capítulo sobre “Emancipação da alma”, quando a alma do médium se emancipa em vigília e consegue ver coisas à distância. Acreditou Kardec tratar-se a vidência mediante os espelhos espirituais algo similar, no qual pudesse também ocorrer sem a presença de aparelho qualquer, pois seriam apenas acessórios para fixar o pensamento e os fluidos fluídicos do médium em desdobramento, concentrando-se ali a imagem. Perguntando aos Espíritos Superiores sobre a indispensabilidade ou não dos objetos para a vidência, obteve a seguinte resposta:
"Estando o seu olhar concentrado no fundo do copo, o reflexo brilhante a princípio age sobre os olhos, depois sobre o sistema nervoso, e provoca uma espécie de meio sonambulismo, ou, mais exatamente, sonambulismo desperto, no qual o Espírito, desprendido da matéria, adquire a clarividência, ou visão da alma, que chamais segunda vista. Existe uma certa relação entre a forma do fundo do copo e a forma exterior ou disposição de seus olhos. [...] Mesmo que aparentemente os copos sejam semelhantes, há no poder refletor e no modo de radiação, segundo a forma, a espessura e a qualidade, nuanças que não podeis apreciar, e que são adequadas ao seu organismo individual".
Após receber a sobredita orientação da Espiritualidade, Kardec deduziu três consequências: 1) quando a visão psíquica é espontânea ou permanente, não é necessária a utilização de objetos artificiais; 2) em sendo preciso superexcitar a faculdade não se pode dispensar o uso dos agentes externos; 3) os objetos são apropriados para cada organismo, aquele que tem ação sobre um médium, pode não ter qualquer influência sobre outro. Kardec conclui suas observações entendendo serem os espelhos psíquicos, na realidade, agentes hipnóticos para o despertar da lucidez espiritual, que podem variar em suas formas e efeitos segundo a natureza e o grau de aptidão de cada médium vidente.