terça-feira, 10 de janeiro de 2023

É possível saber se um desencarnado está bem e pode se comunicar?

 

É possível saber se um desencarnado está bem e pode se comunicar?


Para responder esta pergunta, precisamos inicialmente relembrar as fases da desencarnação: desligamento do perispírito, perturbação espiritual e despertar do Espírito. Toda desencarnação passa por essas três etapas, mas o tempo de cada uma delas varia muito de Espírito para Espírito.

Se mais moralizado e evoluído era o Espírito desencarnado, mais rapidamente ocorre o desligamento espiritual, a fase de perturbação é curta e em pouco tempo percebe-se no plano espiritual, desperta e tem consciência de não mais se encontrar entre os encarnados. O tipo de morte também influencia no tempo necessário para a realização das fases sobreditas, de modo que as mortes menos bruscas e agressivas contribuem para o aceleramento de todo o processo a envolver a desencarnação.

Em função disso, embora não se possa afirmar categoricamente se determinado Espírito está bem e já recuperado da desencarnação, pode-se ter uma ideia da sua condição na espiritualidade. Pela forma como viveu e se comportou quando encarnado, é possível imaginar como estará na erraticidade, principalmente porque sabemos não haver mudanças bruscas na condição do Espírito. O fato de passar para o mundo dos desencarnados não transforma ninguém em anjo, somos o que somos em qualquer lugar que estejamos, pois depuração espiritual não vem sem esforço próprio.

Independente da condição do desencarne, contudo, sabemos não estar ninguém desemparado, sem o olhar amoroso e misericordioso do Pai. Assim, não podemos generalizar as situações, de modo a afirmar, por exemplo, que todo suicida passará pelos mesmos sofrimentos na erraticidade. Cada caso é um caso e somente Deus tem condições de avaliar, com segurança e imparcialidade, a condição e o merecimento de Seus filhos.


Adentremos, agora, na segunda parte da questão: temos como saber se um Espírito está em condições de se comunicar? Aqui também existem variáveis a serem consideradas. Em tese, todo Espírito pode se comunicar, mas não significa que irá. A comunicação do plano espiritual com o material não ocorre ao bel-prazer do desencarnado, principalmente se pouco evoluído, necessitando de autorização superior.

A espiritualidade vai avaliar certos aspectos antes de permitir uma comunicação, como por exemplo a sua utilidade para a família e os amigos, se os envolvidos, encarnados e o desencarnado, estão preparados emocionalmente e espiritualmente para um reencontro. Se, ao invés de ajudar, não trará mais dor, tristeza, sofrimento, revolta e irresignação à morte. Examinam, também, se há merecimento por parte do Espírito e da família para a comunicação ou, se pelo modo como viveram, o distanciamento lhes serve de prova.

Após análise criteriosa da espiritualidade superior e havendo autorização, a comunicação acontece. Uma das formas mais usuais a oportunizar esta comunicação dá-se por meio do desdobramento da alma durante o repouso do corpo físico, quando o Espírito se emancipa e vive parcialmente a vida de Espírito liberto, encontrando-se com amigos e familiares já desencarnados, nos chamados sonhos espirituais. Embora nem sempre recorde plenamente dos encontros espirituais ao acordar, guarda uma lembrança agradável, que pacifica o coração e a alma.


Considerando nem sempre recordarmos das experiências e dos encontros ocorridos durante o sono, alguns questionam a utilidade dos mesmos. Nesse ponto, dizem-nos os Espíritos que “pouco importa que comumente o Espírito as esqueça, quando unido ao corpo. Na ocasião oportuna, voltar-lhe-ão como inspiração de momento”. Assim, conquanto raramente o homem lembre-se das situações vivenciadas, permanecerá nele uma intuição, como resultado das conversas e experiências tidas com os amigos e familiares na erraticidade.

Na obra Entre a Terra e o Céu, a personagem Antônina tem a chance de ver seu filho Marcos, já desencarnado, no mundo espiritual, ficando maravilhada com a experiência e mais tranquila por encontrar a criança feliz, contudo, Clarêncio, o líder da equipe espiritual, informa não ser viável a lembrança do encontro ao acordar, trazendo a seguinte explicação: "Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra interior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela redundaria em saudade morta. [...] cada estágio na vida se caracteriza por finalidades especiais. O mel é saboroso néctar para a criança, mas não deve ser ministrado indiscriminadamente. Reclama dosagem para não vir a ser importuno laxativo. O contato com o reino espiritual, enquanto nos demoramos no envoltório terrestre, não pode ser dilatado em toda a extensão, para que nossa alma não afrouxe o interesse de lutar dignamente até o fim do corpo."


Outro mecanismo de comunicação é por via mediúnica, utilizando-se a figura de um médium ostensivo como intermediário. Esses casos são sempre mais restritos, até mesmo para se evitar uma dependência dos encarnados no tocante a essas manifestações mediúnicas. Quando ocorrem são, normalmente, pela mediunidade de psicofonia ou de psicografia.