terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Como se dá a formação dos mundos?

 

Como se dá a formação dos mundos?


O tema da formação dos mundos é sempre muito envolvente e instigante, aguçando a nossa curiosidade, pois envolve nossa origem e caminhada evolutiva. Foi um dos muitos assuntos abordados por Kardec em O Livro dos Espíritos, momento em que a espiritualidade superior esclareceu, inicialmente, abranger o Universo “a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o enchem”, não existindo de toda a eternidade, pois não pode ter feito a si mesmo, sendo obra de Deus. O começo de tudo remonta a Deus. Kardec, seguindo orientação dos Espíritos Superiores, esclarece:

"Existindo, naturalmente, desde toda a eternidade, Deus criou por toda esta eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que, por mais longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os supostos limites da Criação, haverá sempre, além desse limite, uma eternidade [...] durante a qual as divinas hipóstases, as volições infinitas teriam permanecido sepultadas em muda letargia inativa e infecunda, uma eternidade de morte aparente para o Pai eterno que dá vida aos seres; de mutismo indiferente para o Verbo que os governa; de esterilidade fria e egoísta para o Espírito de amor e vivificação."


No capítulo de O Livro dos Espíritos referente à criação, questiona-se como Deus teria criado o Universo, dizendo-nos os Espíritos ter decorrido da vontade do Criador, nada mais caracterizando Sua vontade onipotente do que as palavras de Gênesis “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.” Sobre o tema, esclarecem decorrer a formação dos mundos da condensação de matéria disseminada no Espaço, não podendo, no momento, dizerem mais, pois não teríamos capacidade de bem compreender.


A formação dos planetas decorre de massas de matéria condensada, ainda não solidificada, “destacadas da massa central pela ação da força centrífuga, e tornando, em virtude das leis do movimento, a forma esferoidal mais ou menos elíptica, segundo o grau de fluidez que conservaram”. A Terra, por exemplo, antes de estar resfriada e revestida de uma crosta sólida, originou a Lua pelo mesmo processo de sua criação.


Esclarecem, por exemplo, serem os cometas um começo de condensação da matéria, mundos em via de formação e que, conquanto os corpos celestes possam influenciar determinados fenômenos físicos, os cometas não exercem a influência normalmente lhes atribuída, decorrendo tal fato de superstição humana. No tocante ao tempo de duração da formação dos mundos, os Espíritos informam nada poderem dizer, pois tão somente Deus o sabe e louco será aquele que pretenda conhecer o número de séculos desta formação.


Em A Gênese, no capítulo referente à criação universal, temos outras considerações acerca do tema, esclarecendo ser a matéria cósmica primitiva a base de tudo, visto conter os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos, sendo a mãe fecunda de todas as coisas, a eterna geratriz. Elucida difundir-se a substância etérea, o fluido cósmico, mais ou menos rarefeito, pelos espaços interplanetários, enchendo o mundo nas regiões imensas, repletas de aglomerações de estrelas, sendo tal atuação contínua e incessante, dando sempre origem a novas criações e recebendo os princípios reconstituídos daqueles mundos que deixaram de existir.

O Codificador elucida não ter nascido o mundo pleno de vida e de virilidade, nascendo o Universo, como em tudo, criança. Revestido das leis do Criador e da impulsão inicial inerente à sua formação, a matéria cósmica primitiva foi aglomerando-se, fazendo nascer turbilhões de matéria nebulosa que foram divididas e transformadas, criando variados centros de criações simultâneas ou sucessivas. Esses centros primitivos transformaram-se em focos de vida, uns mais ricos em princípios e em forças atuantes deram logo início à vida; outros cresceram com grande lentidão ou se subdividiram em centros secundários.


Durante o processo de criação das estrelas, sempre muito violento, os restos de materiais lançados pelo espaço, por conta da grande explosão, formam uma enorme variedade de planetas e de sistemas planetários. Muito antes da criação da Terra, outros planetas habitados já davam vida e existência a uma infinidade de seres que viveram antes de nós, o que não limita a criação universal aos seres humanos.


Abordando sobre a formação da Terra, segundo o Espírito Emmanuel em A Caminho da Luz, Jesus recebeu o orbe terrestre desde quando se desprendia da massa solar e, agindo em conjunto com uma comunidade de seres angélicos, esteve à frente de tudo, incluindo a formação da lua, a solidificação do orbe, a formação dos oceanos, da atmosfera e da estruturação do globo em todos os seus aspectos básicos, tendo sido o amor de Jesus o verbo da criação do princípio.


Encontra-se em A Gênese outros esclarecimentos oportunos. A história da Terra está escrita, de modo mais confiável, nas camadas geológicas, visto não decorrer da imaginação dos homens. O estudo das referidas camadas geológicas demonstra formações sucessivas que foram mudando o aspecto do planeta, dividindo sua história em várias épocas, conhecidas como períodos geológicos. Kardec, ao abordar sobre o estado primitivo do globo, ensina ser a Terra, em sua origem, massa incandescente, acrescentando:

"Sob a influência da alta temperatura, a maior parte das substâncias que a compõem e que vemos sob a forma de líquidos ou de sólidos, de terras, de pedras, de metais e de cristais se achavam em estado muito diferente. Sofreram unicamente uma transformação. Em consequência do resfriamento, os elementos formaram novas combinações. O ar, enormemente dilatado, decerto se estendia a uma distância imensa; toda a água, forçosamente transformada em vapor, se encontrava misturada com o ar; todas as matérias suscetíveis de se volatilizarem, tais como os metais, o enxofre, o carbono, se achavam em estado de gás. O da atmosfera nada tinha, portanto, de comparável ao que é hoje; a densidade de todos esses vapores lhe dava uma opacidade que nenhum raio de sol podia atravessar."

Antes da formação da Terra, seus elementos orgânicos encontravam-se em estado de fluido no Espaço, entre os Espíritos ou em outros planetas, aguardando o momento de criação da Terra para que pudessem iniciar sua existência em outro globo. Os mundos, assim como tudo que é matéria no Universo, podem desaparecer e se disseminarem novamente no Espaço, retornando à matéria que os compõem, pois Deus renova os mundos como renova os seres vivos.

Kardec, fazendo uma comparação da Gênese bíblica com os períodos geológicos e observando o conjunto, nota similaridades e algumas diferenças, mas destaca ser erro pensar que, para se tonar completa a analogia, bastaria substituir-se os seis dias de 24 horas da Criação por seis períodos indeterminados e, como tal, seria erro também o acreditar que, “afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a Ciência caminham lado a lado, sendo uma, como se vê, simples paráfrase da outra.” Destaca o mestre lionês:

"Notemos, em primeiro lugar, que, [...] é inteiramente arbitrário o número de seis períodos geológicos, pois que se eleva a mais de vinte e cinco o das formações bem caracterizadas, número que, ademais, apenas determina as grandes fases gerais. Ele só foi adotado, em começo, para encaixar as coisas, o mais possível, no texto bíblico, numa época, aliás, pouco distante, em que se entendia que a Ciência devia ser controlada pela Bíblia.[...] Doutro lado, a Geologia, tomando por ponto de partida unicamente a formação dos terrenos graníticos, não abrange, no cômputo de seus períodos, o estado primitivo da Terra. Tampouco se ocupa com o Sol, com a Lua e com as estrelas, nem com o conjunto do universo, assuntos esses que pertencem à Astronomia. Para enquadrar tudo na Gênese, cumpre se acrescente um primeiro período, que abarque essa ordem de fenômenos e ao qual se poderia chamar — período astronômico. Além disso, nem todos os geólogos consideram o diluviano como formando um período distinto, mas como um fato transitório e passageiro, que não mudou sensivelmente o estado climático do globo."


Feitas as considerações sobreditas, Kardec passa a seguinte comparação entre a ciência e a Gênese mosaica:


Primeiro dia: O Céu e a Terra; a luz. Período Astronômico, com a aglomeração da matéria cósmica universal em nebulosa, num ponto do espaço, que ao se condensar originou as estrelas, o Sol, a Terra, a Lua e a todos os planetas. Estado primitivo, fluídico e incandescente da Terra, com a atmosfera repleta de toda a água em vapor e de todas as matérias volatilizáveis.


Segundo dia: O Firmamento, com a separação das águas que lhe estão acima e debaixo. Período Primário, com o endurecimento da superfície da Terra decorrente de seu resfriamento; formação das camadas graníticas. A atmosfera, ainda espessa e ardente, não permitia a passagem dos raios solares. Precipitação gradual da água e das matérias sólidas volatilizadas no ar. Inexistência de qualquer vida orgânica.


Terceiro dia: As águas debaixo do Firmamento aglomeram-se. Surge o elemento árido, a terra, os mares e as plantas. Período de Transição, com as águas cobrindo toda a superfície do globo. Formaram-se os primeiros depósitos de sedimentos pelas águas. Calor úmido. O Sol começa a atravessar a atmosfera brumosa. Os primeiros seres organizados da mais rudimentar constituição surgem no planeta. Liquens, musgos, fetos, licopódios, plantas herbáceas. Vegetação colossal. Aparecem os primeiros animais marinhos: zoófitos, polipeiros, crustáceos. Depósitos de hulha.


Quarto dia: Surgimento do Sol, da Lua e das estrelas. Período Secundário, no qual a superfície da Terra é pouco acidentada, com águas pouco profundas e paludosas. Já se observa temperatura menos ardente e atmosfera mais depurada. Depósitos consideráveis de calcários pelas águas são observados, sendo a vegetação menos colossal. Surgimento de novas espécies, plantas lenhosas e as primeiras árvores. Aparecem os peixes, cetáceos, animais aquáticos e anfíbios.


Quinto dia: Surgimento dos peixes e dos pássaros. Período Terciário, com grandes intumescimentos da crosta sólida e formação dos continentes. As águas foram retiradas para os lugares baixos, formando-se os mares. Atmosfera já mais depurada, sendo a temperatura produzida pelo calor solar. Aparecem gigantescos animais terrestres, os vegetais e animais da atualidade, incluindo os pássaros. Após acontece o dilúvio universal.


Sexto dia: Aparecimento dos animais terrestres e do homem. Período quaternário ou pós-diluviano, com terrenos de aluvião. Surgimento do homem, dos vegetais e animais da atualidade.


Após realizar a comparação sobredita, Kardec vai analisando as relações existentes, mas destaca, essencialmente, não corresponder cada um dos seis dias, de maneira rigorosa, a cada um dos seis períodos geológicos, sendo a concordância mais notável verificada na sucessão dos seres orgânicos, com leve diferença, bem como no aparecimento do homem, por último.