quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

 O manto azul que a veste é o profundo oceano que embala seu grande corpo. O corpo do ventre de onde todas as criaturas surgiram. Não há mãos espalmadas e bondosas para cima, não há olhar benevolente e piedoso, não há pele branca inspirada em santas virgens. O que é, é tão maior que sentimentos caridosos, justamente por colocar o outro em seu próprio panteão.

Todos somos tão vulneráveis frente ao mar: humanos.
Todos somos tão infinitos quanto o mar: deuses.
Teus espelhos são magníficas águas vivas que refletem nossas imagens.
Da sua boca sai o ribombo de todas as ondas, que envolvem seus cabelos como adornos que Olodumare fabricou, aquáticos, pensando que a senhora era o Sol ou a Lua também. Desta boca, o céu repleto de estrelas marinhas revela que tudo que está submerso de nossas superfícies também brilha na hora certa. E podiam jurar os marinheiros: a voz que dali sai é de metade peixe, metade gente, mas indubitavelmente perfeita e sedutora.
Tudo que não conhecemos é assustador. Mas tudo que pensamos conhecer é sedutor.
A chamamos de rainha por governar um reino feito de si mesma. Teus corais coloridos são suas felicidades, os peixes que são teus filhos, teus frutos do mar, as revoltas e tempestades e a grande calunga que carrega repleta de histórias ancestrais, tua alma e memória. Seríamos nós reis e rainhas também, dignos desse título ao nos darmos conta do nosso oceano particular?
E eu, por isso, sempre vou louvá-la em fevereiros, janeiros, dezembros e todo espaço escondido dentro disso. Sua existência é composição espiritual e física de todos os corpos. O mar de gente existe, e quando me dou conta de que existo, lembro do teu perfeito exemplo: grande, potente, ciente de si e de seus tentáculos, que não precisa caber em estórias de pescador ou em uma imagem de cerâmica. Teus olhos me acompanham das gotas da chuva, das poças da rua, das lágrimas nos meus próprios olhos... Mas só quando entro no mar e sinto teu abraço, lembro que te louvo principalmente porque somos todos peixes fora d'água também, apenas querendo voltar pra casa e ver o rosto de nossa mãe.
Todo mundo é meio filho de Yemanja.
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Texto: @thaisdeoya
📸: @zanartss