quarta-feira, 2 de outubro de 2019

História da Cigana Sarita




    Os Ciganos são umas das mais belas Entidades de Luz da Umbanda.
São várias histórias e lendas, que nos encantam e nos leva a viver
intensamente essas histórias. Muitas delas vem recheadas de emoção, e
ensinamentos, que nos fazem refletir muito sobre a espiritualidade de
cada um de nós.

    Abaixo vamos acompanhar mais uma dessas histórias fantásticas, e
como a linda e doce Cigana Sarita teve sua entrada no mundo
espiritual.

Cigana Sarita e sua caminhada para a espiritualidade.

    A noite estava muito escura. Lara caminhava com dificuldade
pisando sobre pedras que não conseguia enxergar.
    Andando há mais de uma hora, vira a lua aparecer no céu, mas as
nuvens que insistiam em cobri-la não deixavam que o percurso fosse
iluminado e seu destino dava a impressão de estar cada vez mais
distante. Por sorte conhecia de cor os atalhos que tomara e tinha a
esperança de chegar antes que alguém desconfiasse que fora até a
cidade.

    Dissera à velha Mina que iria tomar banho em uma cachoeira pouco
distante do acampamento, mas que voltaria antes do cair da noite.

    Desconfiada, a velha ama insistiu em fazer-lhe companhia, mas foi
rechaçada de forma grosseira, coisa pouco usual na convivência entre
elas.

    No acampamento, Mina fechou-se na tenda que dividia com Lara em
profundo silêncio para que pensassem que ambas não estavam. Porém,
conforme as horas se passavam seu coração apertava de medo pelo que
poderia acontecer à querida sobrinha caso descobrissem o que ela fora
fazer.

    Lara não dissera uma palavra sequer, mas ela sabia, criara a
garota desde a mais tenra infância e conhecia seus pensamentos e
hábitos mais que ela própria. Percebera imediatamente os olhares
trocados entre a jovem e o belo cavalheiro que encontraram em uma de
suas idas à cidade. A beleza da cigana enfeitiçara o rapaz e Mina,
experiente nesses assuntos, vira claramente o fogo da paixão
imediatamente correspondida. Tentara por diversas vezes alertar a
sobrinha fazendo-a lembrar-se de seu compromisso com o cigano Juan,
filho do chefe, mas ela não lhe dera ouvidos e sempre gritava que não
havia nada e que a velhice da mulher é que inventava esses romances
absurdos.

    Contudo ela sabia que os encontros às escondidas estavam ficando
cada vez mais frequentes e se algo não fosse feito Lara seria
descoberta e acabaria, com certeza, expulsa ou morta, já que isso
jamais seria perdoado pelo conselho dos anciãos.

    Teve um estremecimento ao ouvir a voz de Juan chamando por Lara.

    O que fazer? Ficar quieta e não revelar que ali estava? Ou sair e
contar a história da cachoeira?

Resolveu sair.

- Lara foi tomar banho lá na cascata azul, filho! - Exclamou ela.

O rapaz olhou-a com ódio e gritou extremamente transtornado:

- Como ousa mentir para mim velha Mina? Fui informado que sua sobrinha
foi para a cidade deitar-se com um Gadjo, só vim até aqui para ter
certeza de não encontrá-la, mas vou atrás dela nesse instante e não me
chamarei Juan se a deixar viva. Minha honra foi maculada e não posso
deixar que essa desavergonhada, que foi prometida a mim, fique viva
para arrastar meu nome na lama!

    Ao ouvir essa ameaça a mulher esqueceu-se de suas dores e correu
em direção à saída do acampamento, tinha de achar Lara antes dele.

    Era tarde. A cigana calmamente caminhava em sua direção. Mina
gritou com voz rouca como que arrancada do fundo do peito:

- Corra minha filha!

    Lara avistou seu prometido logo atrás da tia e num segundo
entendeu tudo, virou-se e passou a correr por onde viera.

    O Cigano Juan, por ser muito respeitado no clã, estava com a
companhia de mais 3 ciganos, que estavam dispostos a se vingarem da
Cigana Lara, e manter a honra de todos os homens do acampamento.

    Com a vingança estampada nos olhos, o grupo de ciganos
encurralaram a desprotegida Lara, deixando-a frente a frente com o
Cigano sedento de vingança e com o coração cheio de ódio.

    Juan sem misericórdia, empunhou seu punhal de lâmina de aço e cabo
feito de ouro e lançou em direção de Lara.

    O punhal certeiro do cigano atingiu-lhe em cheio o centro do
coração, fazendo-a tombar de dor.


A velha Mina ajoelhou-se em desespero gritando sobre a bela cigana,
mas não havia mais nada a fazer. O espírito de Lara desprendeu-se e
entregou-se à natureza.

    A passagem de Lara pelos campos escuros das provações foi breve,
após muitos ensinamentos e preparos para a evolução necessária,
tornou-se a Cigana Sarita e hoje alegra muitos terreiros com sua
juventude e graça.

    Apesar de adorar a dança sempre atende aos que a procuram com
carinho e grande senso de justiça, agradece a oportunidade de poder
ajudar e sai dançando com um largo sorriso!

Saravá a Cigana Sarita!



Opchá povo Cigano!



Carlos de Ogum