Retomando nossa proposta de assuntos relacionados ao cotidiano umbandista, propomos relacionarmos os conceitos Espiritas Kardecistas com os da Umbanda, traçando um paralelo entre os dois e identificando aos leitores quais as diferenças existentes em suas práticas...
Faz-se necessário mais uma vez o esclarecimento, pois cotidianamente lemos debates e assuntos relacionados, seja pesquisando em blogs, sites especializados, grupos em redes sociais a até livros onde verificamos desde manifestações mais ortodoxas que rechaçam qualquer possibilidade de envolvimento entre as duas vertentes, até as mais confusas ao nosso olhar, misturando todo o contexto que as envolvem dificultando nossa visão sobre os pontos de vista expostos. Entendemos e respeitamos todas as manifestações, cada (casa/centro/tenda/terreiro) possui sua própria cultura religiosa, porém, trazemos nosso conhecimento e pesquisas sobre o assunto...
- Codificação de Allan Kardec e sua expansão no Brasil
A Doutrina Espírita surgiu na França, mas precisamente por volta do ano 1857, com o professor Denizard Hippolyte Leon Rivail conhecido como Allan Kardec publicando o primeiro de seus livros "O Livro dos Espíritos", ele havia começado a relacionar-se com os fenômenos anos antes e decidiu estudá-los por meios científicos minuciosos.
Além de professor e autor de diversos livros, Kardec foi levado também pela corrente Positivistamuito em evidência na época, essa corrente de pensamento compreendia que todos os aspectos da nossa vida deveriam ser comprovados por métodos rigorosos e/ou científicos, por isso atribuiu ao estudo a denominação de "Doutrina Filosófica"(unindo ciência e filosofia) indicando aos seguidores uma ideologia específica (neste caso comprovava a existência de um plano espiritual e inteligências extra-corpóreas, aliados ao estudo comparativo do evangelho), tendo em vista que as manifestações místicas,religiosas e de crenças em geral não eram aceitas pelo movimento positivista. A Codificação Espírita editada por Allan Kardec (Por isso nos referimos ao espiritismo como Kardecismo) então é composta pelos seguinte livros:
01- O Livro dos Espíritos, 1857.
02- O Livro dos Médiuns, 1861.
03- O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1864.
04- O Céu e o Inferno, 1865.
05- A Gênese, 1868.
Sua codificação trouxe a base para os conceitos dos Espíritos e suas dimensões, Médiuns e Mediunidade, também esclarece as Leis Naturais de Causa e Efeito, moralidade e reencarnação, entre tantos outros aspectos estudados.
O "Mito" ou a "Anunciação" de fundação da Umbanda, como alguns estudiosos e historiadores chamam, onde Zélio de Moraes incorporava pela primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas teve como cenário a sede da Federação Espírita de Niterói em 1908, e pela proibição das manifestações pelo seus ministro que acontecia, foi que a Umbanda tomou seu caminho e constituiu-se da maneira que conhecemos, uma Religião que expressa a miscigenação cultural existente no País de vertente espiritualista.
Apesar de não ser um consenso no meio umbandista atual, a denominação "espírita" aos adeptos, entendemos como normal o sujeito que diz ser Espírita de Umbanda, nós de um modo não tanto sistematizado como os "Kardecistas", cremos na reencarnação, cremos nos espíritos em outras dimensões ou planos espirituais, temos sobretudo concepções que não se encontram somente na codificação de Kardec, mas também no contato direto com os falangeiros da Umbanda representados pelas mais diversas culturas, entendemos também que espiritismo não é exclusivo dos seguidores do codificador! Para nós o interessante é que o sujeito sendo Umbandista, Kardecista, Espírita ou fraquentador de Mesa-Branca saiba identificar aquilo que segue, mesmo que seu ambiente seja um misto deles todos que é muito comum em Terreiros, Tendas e Centros por todo Brasil.
Conclusão...
Entendermos que Umbanda não é Espiritismo Kardecista e não possui uma codificação que balize suas ações é a principal proposta deste artigo. Buscarmos suas diferenciações pelos processos históricos, doutrinários e sociais delimitando seus conceitos e investigando suas relações, pode ser o caminho para o respeito mútuo entre as duas vertentes, que tanto tem em comum mas ao mesmo tempo vivem realidades e caminhos tão diferentes, pelo menos aos nossos olhos sobre um prisma puramente terreno, circunstancial e passageiro.
Em nossos contatos com os falangeiros de Umbanda, aprendemos que as divisões de cultos e métodos, estão entre apenas para nos inserir de alguma maneira no ambiente religioso mais adequado aos nossos entendimentos, nos levando a pensar que a ajuda e colaboração mutuas existentes na espiritualidade ultrapassam qualquer barreira religiosa que possam existir na Terra...
Que Oxalá esteja conosco !
Livros Consultados:
História da Umbanda no Brasil
No mundo dos Espíritos
O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda
- Codificação de Allan Kardec e sua expansão no Brasil
A Doutrina Espírita surgiu na França, mas precisamente por volta do ano 1857, com o professor Denizard Hippolyte Leon Rivail conhecido como Allan Kardec publicando o primeiro de seus livros "O Livro dos Espíritos", ele havia começado a relacionar-se com os fenômenos anos antes e decidiu estudá-los por meios científicos minuciosos.
Além de professor e autor de diversos livros, Kardec foi levado também pela corrente Positivistamuito em evidência na época, essa corrente de pensamento compreendia que todos os aspectos da nossa vida deveriam ser comprovados por métodos rigorosos e/ou científicos, por isso atribuiu ao estudo a denominação de "Doutrina Filosófica"(unindo ciência e filosofia) indicando aos seguidores uma ideologia específica (neste caso comprovava a existência de um plano espiritual e inteligências extra-corpóreas, aliados ao estudo comparativo do evangelho), tendo em vista que as manifestações místicas,religiosas e de crenças em geral não eram aceitas pelo movimento positivista. A Codificação Espírita editada por Allan Kardec (Por isso nos referimos ao espiritismo como Kardecismo) então é composta pelos seguinte livros:
01- O Livro dos Espíritos, 1857.
02- O Livro dos Médiuns, 1861.
03- O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1864.
04- O Céu e o Inferno, 1865.
05- A Gênese, 1868.
Sua codificação trouxe a base para os conceitos dos Espíritos e suas dimensões, Médiuns e Mediunidade, também esclarece as Leis Naturais de Causa e Efeito, moralidade e reencarnação, entre tantos outros aspectos estudados.
No Brasil, foi criado o primeiro centro espírita em 1865 por Luiz Olympio Telles de Menezes, no estado da Bahia, após esse período o movimento espírita no pais se alastrou com uma velocidade muito grande, acompanhando as outras tendências sociais que se desenrolavam com influência dos costumes europeus. Tendo a partir de 1882 um dos mais famosos médicos anunciado sua "conversão" a Doutrina, era o então Dr. Bezerra de Menezes, que além de defender publicamente em periódicos impressos sua posição favorável a doutrina foi um dos maiores articuladores políticos na missão de reunir os centros e adeptos em Sociedades Civis, que originou na FEB em 1884 (Federação Espírita Brasileira) instituição sólida que principalmente durante o período republicano onde as práticas foram proibidas, defenderam a unificação e liberação do "culto". A consolidação do movimento veio através do médium "Chico Xavier"(1910-2002) como como comumente é conhecido, segundo observamos na matéria da Revista de História..."Eclodiu primeiro como fenômeno literário, com apoio da FEB, que desde o começo do século se dedicava à edição de livros somente no período de 1931 a 1941, a instituição publicou 1.411.400 exemplares de títulos espíritas. Parnaso d’Além Túmulo, primeira obra de Chico Xavier, lançada em 1932, é uma compilação de poesias atribuídas a autores brasileiros e portugueses – “recebidas” por um médium que mal completara o primário"...
Para que possamos entender as diferenciações dos procedimentos rito-litúrgicos em centros espíritas com os da Umbanda, ressaltamos que além das preces, orações e trabalhos caritativos através da mediunidade que são os pontos comuns, esse seguimento não produz rituais cantados, sonorizados por percussão, não utilizam elementos de magia e não usam velas, colares e adereços, imagens de Santos ou Orixás, sua prática sobretudo esta pautada no estudo da Codificação e na razão das ações praticadas pelos médiuns, ou seja na educação das mediunidades. Abrimos um parenteses e como umbandistas temos que registrar que apesar de não parecer aos olhos de alguns espíritas mais "fervorosos", nossas práticas também obedecem uma razão em existir, o estudo a muitos anos tem pautado a preparação dos que labutam nos terreiros e tendas. Não precisamos travar embates entre nós, verificando quem é o mais "letrado" e "iluminado" protegido de algum Mentor ou Guia mais sim, nos respeitarmos em nossas caminhadas...
No sentido do respeito mútuo que deve sempre existir, reproduzimos abaixo um pequeno trecho da entrevista concedida por Chico Xavier em 1976, para Revista Seleções de Umbanda, relatados pelo Livro História da Umbanda no Brasil, onde ele responde alguns questionamentos sobre a Umbanda...
No sentido do respeito mútuo que deve sempre existir, reproduzimos abaixo um pequeno trecho da entrevista concedida por Chico Xavier em 1976, para Revista Seleções de Umbanda, relatados pelo Livro História da Umbanda no Brasil, onde ele responde alguns questionamentos sobre a Umbanda...
"... Seleções de Umbanda: A seu ver como sente a Umbanda atual?
Chico Xavier: – Eu sempre compreendi a Umbanda como uma comunidade de corações profundamente veiculados a caridade com a benção de Jesus Cristo e nesta base eu sempre devotei ao movimento umbandista no Brasil o máximo de respeito e a maior admiração..."
Umbanda e Espiritismo, caminhos cruzados...
O "Mito" ou a "Anunciação" de fundação da Umbanda, como alguns estudiosos e historiadores chamam, onde Zélio de Moraes incorporava pela primeira vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas teve como cenário a sede da Federação Espírita de Niterói em 1908, e pela proibição das manifestações pelo seus ministro que acontecia, foi que a Umbanda tomou seu caminho e constituiu-se da maneira que conhecemos, uma Religião que expressa a miscigenação cultural existente no País de vertente espiritualista.
Outra questão importante de lembrarmos também, durante muitos anos a expressão "espírita de umbanda" para designar o umbandista ou "Espiritismo de Umbanda" referindo-se a religião, foi muito utilizada pelos adeptos, para entendermos essa prática devemos contextualizar suas épocas, seus complicadores sociais, como por exemplo os períodos de perseguições que os cultos umbandistas e outros que tinham matriz africana sofriam, utilizar essas expressões e batizar os terreiros sob os nomes de "Tenda Espírita...." eram uma das saídas para atenuar tais situações complicadas e vemos nos Livros de "Leal de Souza", essas denominações explicitamente, em "No Mundo dos Espíritos" já comentado por nós em postagem anterior(http://nomundodasumbandas.blogspot.com.br/2015/02/livro-no-mundo-dos-espiritos.html) ou "O Espiritismo , a Magia e as Sete Linhas de Umbanda" essas denominações se fazem presentes o tempo todo, no primeiro livro citado conseguimos também através dos relatos verificar as diferenças entre as religiões do ponto de vista prático ou seja, em seus rituais e procedimentos litúrgicos, desde aqueles tempos.
Apesar de não ser um consenso no meio umbandista atual, a denominação "espírita" aos adeptos, entendemos como normal o sujeito que diz ser Espírita de Umbanda, nós de um modo não tanto sistematizado como os "Kardecistas", cremos na reencarnação, cremos nos espíritos em outras dimensões ou planos espirituais, temos sobretudo concepções que não se encontram somente na codificação de Kardec, mas também no contato direto com os falangeiros da Umbanda representados pelas mais diversas culturas, entendemos também que espiritismo não é exclusivo dos seguidores do codificador! Para nós o interessante é que o sujeito sendo Umbandista, Kardecista, Espírita ou fraquentador de Mesa-Branca saiba identificar aquilo que segue, mesmo que seu ambiente seja um misto deles todos que é muito comum em Terreiros, Tendas e Centros por todo Brasil.
Conclusão...
Entendermos que Umbanda não é Espiritismo Kardecista e não possui uma codificação que balize suas ações é a principal proposta deste artigo. Buscarmos suas diferenciações pelos processos históricos, doutrinários e sociais delimitando seus conceitos e investigando suas relações, pode ser o caminho para o respeito mútuo entre as duas vertentes, que tanto tem em comum mas ao mesmo tempo vivem realidades e caminhos tão diferentes, pelo menos aos nossos olhos sobre um prisma puramente terreno, circunstancial e passageiro.
Em nossos contatos com os falangeiros de Umbanda, aprendemos que as divisões de cultos e métodos, estão entre apenas para nos inserir de alguma maneira no ambiente religioso mais adequado aos nossos entendimentos, nos levando a pensar que a ajuda e colaboração mutuas existentes na espiritualidade ultrapassam qualquer barreira religiosa que possam existir na Terra...
Que Oxalá esteja conosco !
Livros Consultados:
História da Umbanda no Brasil
No mundo dos Espíritos
O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda