Onde estão os Espíritos da Inquisição? Onde reencarnaram?
A Inquisição foi criada na Idade Média (século XIII) e era dirigida pela Igreja Católica Romana. Ela era composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados uma ameaça às doutrinas desta instituição. Todos os suspeitos eram perseguidos e julgados, e aqueles que eram condenados, cumpriam as penas que podiam variar desde prisão temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os condenados eram queimados vivos em plena praça pública. Os inquisidores questionavam os condenados e obtinham as confissões geralmente à custa da força, da tortura e da crueldade.
De acordo com Manoel Philomeno de Miranda, no livro Transição Planetária, somos nós mesmos, quando, no passado, nos autoproclamando “cristãos”, seguidores da Doutrina de Jesus, cometemos inumeráveis atrocidades contra o próximo, sob a acusação de hereges. Diz o autor Espiritual: "Em nome de Jesus, vinculamo-nos ao poder imperial, deixamos de ser perseguidos para nos tornarmos perseguidores, abandonamos a humildade, sob os mantos do orgulho e da soberba... Encontramos meios de afastar os inimigos aos quais deveríamos amar, os antipatizantes que pensávamos conquistar, os equivocados que nos cabia esclarecer, e demos início às aventuras da loucura, criando as Cruzadas, os Tribunais do Santo Ofício, as perseguições inclementes aos mouros e judeus, a todos aqueles que não compartilhavam das nossas idéias (sic.), afundando-nos no abismo das aberrações mais desastrosas."
E movidos por essas ideias egoístas e orgulhosas, martirizamos milhares de trabalhadores de Jesus, em variados ramos do pensamento, apenas porque não se submetiam à vontade das nossas equivocadas determinações. Na Península Ibérica, por exemplo, em nome de uma hegemonia católica e da fidelidade ao papa, vários recursos repugnantes e vis foram utilizados para a manutenção do domínio político, religioso e cultural da sociedade, expulsando das belas terras aqueles que chamávamos de hereges, tão somente por não aceitarem o nosso Jesus.
Muito provavelmente não O aceitavam em virtude de nossos baixos exemplos de anticristianismo e de perversidade com que nos intitulávamos representantes de Jesus, em total contradição ao Seu exemplo de amor, de compaixão, de misericórdia e de perdão.
Objetivando a obtenção das confissões dos considerados infiéis, eram usados todos os meios bárbaros imagináveis, como o empalamento, a roda, a tortura da polé, e todos os meios hediondos que a mente enlouquecida do homem pode conceber. O autor espiritual ainda destaca que as mulheres eram violadas, as crianças, quando não assassinadas, eram vendidas como escravas e para sempre separadas de sua família; os homens válidos eram igualmente vendidos, e os idosos e doentes, de modo repugnante, eram mortos após suplícios extenuantes.
Humberto de Campos, através da psicografia de Chico Xavier, conta-nos ter sido Tiradentes um inquisidor em sua encarnação anterior. Instantes antes do enforcamento, a falange de Ismael, que foi o Espírito selecionado por Jesus para auxiliar no progresso e desenvolvimento do Brasil, aproxima-se da alma leal e forte de Tiradentes, enche-a com benéficas consolações e, no momento que seu corpo balança, pendente das traves do cadafalso, Ismael recebe-o em seus braços carinhosos, exclamando: "Irmão querido, resgatas hoje os delitos cruéis que cometestes quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus."
Ismael informa a Tiradentes que ele passará a ser um símbolo para a posteridade, com o seu exemplo de heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Estimula o mártir a se regozijar no Senhor pelo desfecho dos sonhos de liberdade, pois que cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Neste momento, esclarecia ao Espírito Tiradentes que, ao morrer enforcado, a lei de “ação e reação” havia sido exercida, de acordo com os ensinamentos de Jesus, ao enunciar que “a cada um será dado segundo as suas próprias obras”. Afinal, Deus sempre dá ao Espírito culpado a oportunidade de reencarnar e reparar os erros cometidos em encarnações pretéritas.
Dona Aparecida, do Lar da Caridade e fundadora do Hospital do Fogo Selvagem, antigo Hospital do Pênfigo, de Uberaba/MG, afirma ser egressa da Inquisição e que, quando encarnada, tinha sonhos tormentosos com fogo, acordava com profunda consciência de culpa a respeito dos abusos cometidos contra os hereges no tempo da infeliz Santa Inquisição.
Após reencarnar, tomou consciência dos serviços noturnos intensos que fazia junto a outros que sofriam de fogo selvagem fora da matéria. Seus perispíritos queimavam em brasa e, quando a reconheciam, queriam vingança. Sob o amparo de Eurípedes Barsanulfo e do próprio Chico Xavier, ela conseguia fazer algo para encaminhar os Espíritos que havia prejudicado e retirá-los dos locais infernais em que viviam. Ela destaca: “O passado sempre nos acompanha e não temos como nos desconectar de sua atuação em nossa vida atual e nem no futuro”.
Dona Modesta, trabalhadora do Hospital Esperança, na oportunidade, também afirma ser egressa da Inquisição e brinca: “pelo menos eu parei com a velha mania de colocar fogo em quem não pensa igual a mim”. Ela foi Catarina de Médici, segundo narra no livro “Os Dragãos”.
O Dr. Inácio, que foi um velho almirante que colaborou com a fatídica Noite de São Bartolomeu, promove no referido livro uma reflexão acerca da razão pela qual Deus escolheu Uberaba, e todo o Triângulo Mineiro, para colocar tanta gente comprometida com a Inquisição e cita nomes como José Tadeu Silva, Dona Aparecida, Odilon Fernandes, Langerton Neves da Cunha, Manoel Roberto da Silva, além de padres e tantos outros que deixavam claros seus laços com esse tempo de desamor.
Lembra também do Padre Sebastião Carmelita, reencarnado no Triângulo Mineiro (1917-1981), padre dos velhos e dos doentes e que viveu sua reencarnação para servir. Contudo, esclarece ter sido o padre, em reencarnação pretérita, o Bispo Dom Antônio Palau Y Tenens, que mandou queimar trezentos livros espíritas em uma praça pública de Barcelona no ano de 1861, num episódio conhecido como Auto da Fé de Barcelona.
Dr. Inácio destaca: “O passado pode ser temporariamente abafado nas recordações durante a vida do Espírito encarnado, no entanto, ninguém escapa de seus efeitos no campo íntimo, nas profundezas da alma”. Na oportunidade, Dona Modesta destaca que essa foi a primeira reencarnação deles no Brasil e que, embora o esquecimento do passado tenha apagado parcialmente as personalidades europeias das suas mentes, foi um conflito terrível sair do Louvre para o Sanatório Espírita de Uberaba, largar os passeios na Champs-Élysées para as ruas empoeiradas do interior de Minas Gerais.
Completa Dona Modesta informando que o Brasil foi o berço preparado por Jesus para o recomeço de muitos Espíritos comprometidos com a Inquisição, pois esses precisavam ser afastados do astral do velho mundo. Destaca que fora do ambiente espiritual da Europa, as chances de amparo e melhoria aumentaram e, lamenta por aqueles que não conseguiram sair dos solos sangrentos do Louvre ou das prisões infectas como as da Conciergerie. Finaliza suas considerações lembrando que, mesmo passando tanto tempo longe do clima de Paris, hoje, quando lá retornam, continuam a sofrer o peso do passado em forma de angústia e lembranças amargas.