quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A História da Erê Aninha Estrelinha do Mar




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    Nas ondas do mar eu vi ela chegar,
com as forças de Ogum e as bençãos de Iemanjá,
sobre as águas do Oceano ela assim vai reinar,
abençoada pela luz divina de Pai Oxalá.

    Uma linda criança sublime de luz,
que encanta todos em nosso Gongá,
trabalhando em nome do Menino Jesus,
a linda menina Aninha Estrelinha do Mar.
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    Aninha Estrelinha do Mar é uma Erê que trabalha na Umbanda na linha
das Ibeijadas, fazendo a caridade a quem necessita, principalmente às
crianças carentes e necessitadas.

    Ela busca fazer seus trabalhinhos voltados a saúde do corpo
físico, mental, psicológico. Tem grande conhecimento de rezinhas que
encantam a todos, principalmente os pequeninos.

    Sua história na vida encarnada se iniciou nos meados do século XIX,
onde ela veio iluminar esse mundo com seu sorriso cativante e lindo.
Nasceu na região Nordeste do Brasil, em uma ilha nas proximidades da
Baía de Todos os Santos, e lá ela viveu até seu desencarne com apenas
7 anos de idade.

    Aninha já era diferenciada mesmo no ventre de sua mãe, uma
camponesa da região que se matrimoniara com um imigrante espanhol,
e com todo amor aguardavam a chegada de um filho. E essa diferenciação
era constatada pelo próprio pai de Aninha, quando a sua esposa já
grávida era acompanhada por três luzes muito brilhantes, sendo uma
azulada estando sempre a frente da futura mãe, e duas embranquecidas,
ficando uma de cada lado da mulher.

    A jovem camponesa era muito fiel a sua fé, e sempre dizia ao esposo
que ela não estava apenas gerando um filho, mas sim um Anjo de Deus, e
a prova estaria nas luzes irradiantes que ela via em torno de si
mesma.

    O tempo passou e, certa manhã, quando o casal estava em um pesqueiro
buscando seu alimento, a jovem futura mãe sentiu as dores do parto, e
rapidamente seu esposo buscou retornar ao cais, porém o mar de um
instante para outro se tornou violento, grandes ondas se formaram,
fazendo assim com que o pesqueiro ficasse a deriva.

    O jovem espanhol entra em desespero, tinha muito medo de que
acontecesse algo de ruim a sua esposa e ao filho que estava para
chegar.

    Ele tentava desesperadamente conduzir o velho pesqueiro para fora
da tormenta, pedia auxílio a seus companheiros de pesca, clamava a
algumas mulheres a bordo que levassem a sua esposa a local seguro pois
ainda se encontrava no convés. E assim foi feito, enquanto o grupo de
pescadores sobre supervisão do jovem espanhol continuavam tentando
retirar o pesqueiro da tormenta, tentando salvar as vidas de todos
ali.

    Não sabendo mais como conduzir o barco, o espanhol se joga de
joelhos ao chão, clama a Deus que os salvem, principalmente sua esposa
e o filho que estava para nascer.

    Enquanto isso a jovem futura mãe se encontrava em uma cabine,
deitada ao chão, em lágrimas, não pelas dores, mas com medo de algo
acontecer e seu bebê não pudesse sequer nascer.

    Em sua volta algumas mulheres de pescadores rezavam em murmúrio,
pedindo proteção a todos e principalmente a criança que estava a vir
ao mundo naquela situação desesperadora.

    Lá fora a tormenta aumentava, muitas ondas batiam no casco do
pesqueiro fazendo com que ele balançasse, rodopiasse, deixando todos
sem direção.

    A jovem mãe sentia mais dores, e com o balançar do pesqueiro tudo
ficava pior. Mulheres ajoelhadas rezavam, uma velha senhora mestiça
auxiliava a mulher em seu parto.

    Os ventos não davam trégua. O mar revoltoso lambia todo o convés
do pesqueiro de uma forma violenta, as velas se rasgavam, a correria
por salvação estava grandiosa, enquanto o espanhol continuava suas
orações.

    Na cabine abaixo do convés, o sofrimento da futura mãe era de
cortar os corações das mulheres presentes, ela clamava a Deus e pedia
que salvasse a sua criança. E a criança começa a nascer com auxilio da
velha senhora pescadora.

    No mesmo instante que a criança vinha ao mundo, os ventos batiam e
quebravam os grandes mastros do pesqueiro, as ondas enormes quase
viravam a embarcação.

    E a criança nasceu, e como por um milagre ao dar seu primeiro
choro de recém nascido, o céu se cala, não havendo mais raios e
trovões, o mar se acalma, o vento vira uma pequena brisa, o mestre Sol
reaparece.

    Ao sentirem a calmaria novamente, os pescadores aos poucos
retornam ao convés, se reunindo em agradecimento a Deus. Nesse momento
a velha porta de madeira da cabine se abre e a velha senhora mestiça
com a criança ao colo, abre um largo sorriso dizendo a todos sobre o
nascimento da menina. O jovem espanhol se aproxima, pega a criança ao
colo, se ajoelha e em lágrimas agradece a Deus.

    Nesse momento, as três luzes que acompanhavam a jovem mãe em sua
gestação aparecem diante de todos, só que dessa vez em forma humana, e
se apresentaram assim: Uma linda mulher de manto azul e longos cabelos
negros com seu olhar carinhoso que encantou a todos, e dois homens
encorpados, de aparência serena, e olhar cativante, vestidos com
roupas azuladas, porém um com o tom de azul mais escuro e outro com
azul mais claro.



    A mulher com a voz doce e meiga, abre os braços e diz assim:

    "Abençoada seja essa criança, assim como abençoada seja seus pais.
Essa menina veio ao mundo para iluminar os caminhos de quem
necessitar, terá em suas mãos o poder de curar, de trazer paz, de
distribuir o amor.

    Essa será sua última missão nessa terra antes de partir para o
reino da caridade espiritual. Ela será protegida, encaminhada e amada
por mim, e pelos dois protetores que cá estão presentes.

    A luz de Oxalá deve fazer essa criança brilhar em sua missão, e
após ter a cumprido, retornará a seu lugar da mesma maneira que cá ela
chegou.

    Aos pais, rogo muita fé, entendimento e compreensão, pois será com
esse entendimento que fará essa menina ser mais uma divindade, com
essa fé que exaltará toda sua caminhada rumo ao infinito amor de Deus,
e essa compreensão que fará com que ela possa caminhar em seu destino
sem tristezas ou culpas.

    Aqui agora eu abençoo cada instante de vida desse ser de luz, e
que sua generosidade, seu amor, sua fé e sua caridade reinem acima de
tudo.

    Em meu nome, Iemanjá, em nome de Ogum Beira Mar, e em nome de Ogum
Iara, eu trago as forças das águas do mar e das cachoeiras a essa
menina de Deus."

    Ao falar isso, a linda Iemanjá segura uma bela estrela do mar nas
palmas das mãos, sobre ela também colocam as mãos espalmadas Ogum
Beira Mar e Ogum Iara, abençoando o objeto, que foi entregue ao pai e
a mãe da menina, que já se encontrava no convés.

    E assim Iemanjá disse:

    "Guardem essa estrela do mar, ela é o artefato que essa doce
menina usará para seus trabalhos de cura."

    E assim, as imagens iluminadas desapareceram diante de todos
presentes, que sem demora se jogaram de joelhos e se colocaram em
oração.

    Nesse instante a jovem mãe ainda fraca, com um fio de voz diz ao
esposo:

    "Ana, esse vai ser o nome de nossa filha, e será conhecida como
Aninha Estrelinha do Mar."

    E assim o tempo passou, e Aninha ficou muito conhecida na região,
todos comentavam o acontecido de seu nascimento, e muitas pessoas
faziam filas nas proximidades da casa de Aninha para poderem tocar na
menina e na estrela do mar que estava sempre a seu lado.

    Muitas curas foram feitas naquela região por intermédio de Aninha
e a fé de seus admiradores. E ela já com seus 3 anos andava por toda a
região em companhia de sua mãe para auxiliar a quem necessitava.

    Varias doenças da época disseminava muitos povos nas proximidades
da região onde residia Aninha e seus pais, e assim essas doenças
teimavam em atacar as pessoas do povoado de Aninha, porém, com muita fé
e o auxilio da menina, as pessoas decaíam sim, mas não chegavam ao
desencarne.

    As crianças que naturalmente eram mais enfraquecidas fisicamente,
eram as principais vitimas desses males da época, e assim todas eram
levadas ao encontro da menina que com carinho e dedicação, pegava sua
estrelinha do mar, fechava seus olhos e clamava pela cura dessas
crianças, que milagrosamente iam se restabelecendo dia após dia com a
fé da menina Aninha, e as bençãos da doce Mãe Iemanjá, de Ogum Beira
Mar e Ogum Iara..


    Assim ficou conhecido por toda a região os milagres e as bençãos
da Aninha Estrelinha do Mar.

    Os anos passavam rapidamente, e assim ano após ano a legião de
seguidores e admiradores da menina de Iemanjá, como já era conhecida,
foi aumentando. Ela sempre bem disposta e sorridente era incansável,
fazia sua caridade a todos que a procuravam, brincando, dançando ou
pulando, com seu ar infantil.

    Muitas pessoas lhe traziam presentes, porém ela insistia em não
aceitar, pois assim tinha aprendido com sua Mãe divina, a linda
Iemanjá, e seus protetores Ogum Beira Mar e Ogum Iara, que a caridade
deve ser entregue as pessoas sem interesses ou trocas, e assim ela o
fazia.

    Quando Aninha completou sete anos, teve um belo encontro com a sua
Mãe Iemanjá e seus protetores. Na mesma noite que ela tinha feito mais
essa primavera, estando em seu quartinho, deitada em sua cama, ela
ouve uma linda voz suave pedindo que ela acompanhasse uma pomba branca
que arrulhava na pequena janela de seu quarto. E assim ela fez,
seguindo a pomba branca pelo caminho que daria nas areias brancas da
linda praia onde ela tanto se ajoelhava para fazer suas preces a
Iemanjá e os Oguns Iara e Beira Mar, seus protetores.

    Lá chegando, sentou-se na areia, contemplou o brilho de uma bela
Lua cheia que a protegia de tudo e de todos. Sentiu a brisa vinda do
mar, o som sem igual das ondas se quebrando na orla, a força do mar
que a fazia ter esperanças em tudo que sonhava, o cheiro da maresia
inconfundível. Ali ela permaneceu sentada por alguns minutos até que
sua percepção mostra a chegada de alguém em sua retaguarda, ela se
vira e se depara com uma linda mulher de cabelos negros e sorriso
materno, mas atrás dois fortes guerreiros com largo sorriso sereno.
Ela já sabia de quem se tratava, ali estava diante de seus olhos de
menina a poderosa Rainha do Mar e os guerreiros da falange de Ogum na
linha dos Oceanos.

    Iemanjá se aproxima da menina enquanto os protetores ficavam um
pouco mais afastados. A Senhora das Sereias estende as mãos a pequena
Aninha, afaga seus cabelos longos, acaricia seu rosto infantil e
abrindo um sorriso lhe diz:

    "Minha menina de luz, sua missão está chegando ao final. Você
nasceu para servir a caridade, cresceu para curar seus semelhantes, e
agora vai partir para salvar a vida de dezenas e dezenas dos filhos de
Deus.

    Peço que não tenha medo, peço que não guarde mágoas, peço que
compreenda o homem e suas ganâncias, pois esse ainda é imperfeito.

    No momento de decisão, use seu coração e sua bondade para com seus
semelhantes. Muitas crianças dependerão disso para continuar a
caminhada, e só você pode fazê-las prosseguir.

    De hoje a sete dias, quando você tiver sete anos e sete dias,
Deus vai colocar a prova a sua caridade e seu amor pelos seus
semelhantes. Seu retorno a sua casa pode lhe trazer medos, porém sua
coragem e sua fé devem vencer esse medo, para que assim você parta
para os braços de Oxalá, e após isso sua missão retorna, porém na luz
espiritual. Seja corajosa, eu e seus protetores estaremos lhe
aguardando, e você será avisada no momento crucial o que deverá fazer.

    Fique com as bençãos de Deus!"


    E assim, as três imagens iluminadas partiram, deixando a menina
Aninha reflexiva sobre tudo aquilo que escutara.

    Dali ela retorna a seu lar, em meios de pensamentos que não sabia
muito bem como agir, as vezes sentindo receios, as vezes felicidade,
porém nunca deixava a sua fé se abalar.

    Ao estar novamente com sua família, escuta seu pai em diálogo com
um velho pescador, e o assunto era justamente as curas feitas pela
pequena menina aos necessitados. Sem perceber a presença de Aninha
eles cogitavam a ida de um pesqueiro a uma ilha distante para resgatar
dezenas de pessoas adoentadas, fazendo com que Aninha as curassem com
seu dom. Diziam eles que males atacaram as pessoas dessa ilha e as
doenças se disseminaram por todas as partes, e a única saída daquele
povo seria trazer os adoentados para serem cuidados e observados
dentro da região onde a menina fazia moradia, pois na versão do pai da
pequena Aninha, só poderiam ser curados por ela os que com eles
viessem.

    O pai de Aninha e o pescador já tinham entrado em contato com os
líderes daquele povo, contando a versão deles, que naturalmente não
era verdadeira, e acertado que no dia seguinte, embarcariam as pessoas
e retornariam ao seu destino.

    E assim foi feito, pois no dia seguinte todos estavam preparados,
inclusive Aninha que fez questão de ir para acalentar as pessoas mais
necessitadas durante a viagem, isso mesmo a contra gosto de seu pai.

    Ao chegarem lá ela verificou que a maioria dos adoentados eram
crianças, que tinham ao seu lado os pais desesperados, e tinha certeza
que deveriam tratá-los o mais rápido possível, pois muitas dessas
crianças estavam entre a vida e a morte.

    Porém seu pai não autorizou a menina a tratá-los ali, dissera que
o ar estava impregnado pelos males, e poderia ser perigoso permanecer
ali por mais tempo.

    A menina pestanejou, mas sem sucesso, ela teve que obedecer o pai,
que a arrastou até o pesqueiro ancorado, e após esse gesto ele tomado
por uma fúria jamais vista por ela disse que iria retornar para buscar
os adoentados para serem levados até o arraial de moradia de Aninha.

    Ela mesmo sem entender o porque seu pai estava agindo daquela
forma, respeitou e se calou. E quando ele retornou, ela se pôs de
joelhos e orou pedindo forças para todos que se encontravam doentes na
pequena ilha. E nesse momento ela observa no céu azul as imagens de
Iemanjá, Ogum Beira Mar e Ogum Iara sorrindo para ela, que a acalmou
lhe trazendo paz.

    Após levarem todos os que foram atacados pelos males para o
pesqueiro, o pai de Aninha juntamente com o velho pescador, tomados
pela ganância, navegaram com o barco até certo ponto no mar, e lá
disseram que só poderiam levar aqueles que pagassem certa quantia a
eles, podendo ser em ouro, prata, ou qualquer bem que as pessoas
tivessem, caso contrário ficariam parados ali.

    Muitos se desesperaram em ver seus filhos inertes, rogaram pelo
amor e a caridade dos dois gananciosos, mas eles estavam irredutíveis.

    Desejosos de riquezas, independente como as conseguisse, ficaram
ancorados a fim dos pais desesperados retornassem a ilhota e pegassem
todos os bens que possuíssem, afim de pagarem aos dois pescadores a
viagem e a cura dos seus entes amados.

    Enquanto isso, Aninha Estrelinha do Mar sem saber do acontecido,
continuava a fazer seus trabalhinhos de cura escondida do pai.

    Ao retornarem com alguns bens, os pais desesperados entregaram
tudo aos dois gananciosos, que ao verem que não era muita coisa, pois
os moradores da pequena ilha eram paupérrimos, disseram que não
levariam os adoentados e nem a menina iria fazer a cura desejada.

    Nesse momento a menina Aninha sai ao convés, escuta seu pai
falando a um dos líderes do grupo sobre o pagamento. Ela o recrimina
pesadamente, lhe dizendo que não poderia cobrar nada aos irmãos
sofredores, e que ele deveria devolver o que já tinha pego. E ela não
necessitava sair da ilhota para tentar curar os adoentados.

    O pai de Aninha ficou furioso, e num gesto de ódio ameaçou a
estapear a menina. Ao levantar as mãos para agressão, o céu escureceu,
o dia virou noite, raios cortavam todo horizonte, a tempestade caiu de
uma forma torrencial, o mar se revoltava, os ventos uivantes vinham
de todas as partes. Todos se assustaram, a correria começou,
o pesqueiro rodopiava, balançava violentamente, alguns pescadores eram
atirados ao mar, outros gritavam desesperadamente, e alguns rezavam,
clamando a Deusa dos Mares que salvassem suas vidas.

    As crianças adoentadas choravam de pavor, os pais tentavam uma
proteção ineficaz; o pai de Aninha tentava colocar o pesqueiro sob seu
domínio, porém as forças das águas do mar não lhe permitia isso.

    Aninha extremamente preocupada com os doentes, chegou até a proa
do barco, abrindo os seus bracinhos disse:

    "Mãe amada Rainha do Mar, entendi agora suas palavras antes de
minha partida a essa viagem. Entendi a ganância dos homens, entendi a
quem não devo guardar rancor. Agora entendo que não devo ter medo, que
devo salvar a todos dessa embarcação. E a ti me entrego minha Mãe, a
ti entrego meu caminho, e assim rogo apenas que salve a todos dessa
tempestade que mostra que devemos ser caridosos, e caridade nunca deve
ser cobrada.

    Rogo também pelo perdão a meu pai e a seus comandados, e que eles
nunca mais usem da oportunidade de fazer o bem em troca de seus
próprios interesses."

    Nesse instante, o pesqueiro rodopiou e se inclinou, fazendo menção
de naufragar, e no mesmo instante, nas águas do mar apareceram três
filhas de Iemanjá. E essas três Iabás acenando para Aninha, a chamaram
para junto delas, e a menina sem pestanejar se joga nas águas
revoltosas e violentas do Oceano.

    Ao ver essa cena, o pai de Aninha solta um grande grito de
desespero e de dor, tenta se atirar junto, porém é detido por outros
pescadores.

    Como num passe de mágica, as águas do mar se tornam mansas, os
ventos se transformam em uma leve brisa. No céu não há mais raios,
nem nuvem escuras, o Sol volta a brilhar.

    O barco pesqueiro fica na posição de retorno a pequena ilha. Todos
se entreolham. O pai da menina Aninha chora copiosamente buscando com
os olhos a menina que se atirou ao mar.

    Quando ele ia se atirar no mar tentando buscar sua pequena filha,
uma luz brilhante pairou sobre a embarcação. Nessa luz estavam as
imagens de Iemanjá, Ogum Beira Mar, Ogum Iara e ao centro a imagem da
doce Aninha segurando sua estrelinha do mar.

    A menina com uma voz suave e infantil disse:

     "Meus irmãos, Deus está curando todos os adoentados, nenhum de
vocês sairão dessa embarcação carregando convosco males ou doenças.

    Meu pai, peço-te para refletir sobre a ganância que tivestes. Devemos fazer a caridade sem cobranças, devemos fazer o bem para
recebermos o bem, devemos ter fé para podermos distribuir esperanças.

    Hoje parto da vida encarnada, começo a minha jornada na vida
espiritual, tenho muitas coisas a aprender, porém tenho a minha
mãezinha e meus protetores para me mostrarem os caminhos de luz.

    Deixo-te para refletir sobre esse dia de muitas lições. Não guarde
culpas pois tu não as tens; tudo que aconteceu estava escrito, e só
assim eu poderia partir para essa nova caminhada. Feliz eu fiquei
nesses sete anos e sete dias de encarnada junto a ti e a mamãe, mas
agora tenho que realizar e concretizar a missão que me foi dada por
Deus. Fazer o bem na forma de Entidade de Luz.

    Que Oxalá e todos os Orixás abençoe a todos vós!

    Sua benção, meu pai!"

    E assim as imagens dos quatro vão desaparecendo no mesmo instante
que a linda luz brilhante vai se dissipando.

    O pai de Aninha chora desesperadamente, com os braços erguidos ao
céu, sentindo-se culpado por tudo aquilo. Ele abaixa as mãos deixa sua
cabeça cair, se vira junto ao líder do povo da pequena ilha, se joga a
seus pés e lhe pede perdão.

    Nesse instante, todas as crianças saem ao convés, além de todas as
pessoas que antes estavam adoentadas, só que agora completamente
curadas.

    Todos se abraçam, e um a um vão se colocando de joelhos, erguendo
as mãos ao céu, e assim iniciaram lindas orações a maravilhosa Erê
Aninha Estrelinha do Mar.


    E assim a doce menina virou a bela Entidade de Luz que é, fazendo
caridade, curando males, trabalhando em prol da caridade, paz, amor e
harmonia a quem necessita, e quem busca seu auxilio em terreiros de
Umbanda.

    Salve as crianças de Umbanda!

    Salve a linda e doce Aninha Estrelinha do Mar!

    Oni Ibeijada!